Post publicado no blog de meu amigo Augusto Nunes a 10 de abril de 2014
“Faz muitos anos que eu queria olhar nos olhos do senhor e fazer essas perguntas”, disse a deputada Mara Gabrilli em meio à interpelação que interrompeu a procissão de platitudes que o ministro Gilberto Carvalho desfiava, no fim da tarde da quarta-feira, 9 de abril, durante a sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado.
Por mais de seis minutos, a parlamentar do PSDB paulista acuou o secretário-geral da Presidência com a evocação de perturbadoras agravantes que envolvem o assassinato do prefeito Celso Daniel, ocorrido em janeiro de 2002.
Tentando controlar a emoção que em alguns momentos embargou a voz sempre suave, a deputada que um acidente de carro imobilizou na carreira de rodas abriu a ofensiva com a história do pai, dono de uma empresa de ônibus.
Vítima do esquema corrupto montado na prefeitura de Santo André para extorquir empresários do setor, e irrigar com boladas de bom tamanho as campanhas eleitorais do PT, ele era pressionado todos os meses “por uma gangue” &
9472; liderada, segundo Mara, por Klinger de Souza (subsecretário de Celso Daniel), Ronan Pinto (hoje proprietário do jornal Diário do Grande ABC) e Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, denunciado pelo Ministério Público como mandante do crime.
– O senhor sempre foi conhecido como o homem do carro preto — disse a deputada ao ministro. — Era a pessoa que realmente pegava essa coleta de dinheiro extorquido de empresários e levava para o capo, como era conhecido o José Dirceu. Isso eu não li. Isso eu vivenciei.
Depois de invocar os testemunhos dos irmãos de Celso Daniel e o depoimento do delegado de polícia aposentado Romeu Tuma Junior, ex-secretário nacional de Justiça, publicado no livro “Assassinato de Reputações”, a deputada seguiu alternando acusações e cobranças.
Quis saber se Carvalho também acha que os fins justificam os meios e estranhou o descaso do ministro pelo esclarecimento de um episódio que comoveu e continua intrigando o país inteiro.
– Por que o senhor não ajuda a apressar o julgamento do Sombra? –, perguntou, identificando pelo apelido o réu Sérgio Gomes da Silva, processado como mandante do assassinato. — O senhor não se incomoda com isso?
Desconcertado, Carvalho reprisou o palavrório que recita há mais de dez anos.
Alegou que “foi a Polícia Civil de São Paulo comandada pelo PSDB” que reduziu a crime comum uma execução encomendada.
Como fez há três meses, prometeu acionar judicialmente Romeu Tuma Junior. E jurou que ninguém sofreu tanto quanto ele com a morte do “amigo e mestre” Celso Daniel.
Caprichando na pose de quem acabou de chegar ao velório, declamou mais de uma vez o mantra predileto: “Isso dói”.
Certamente doeu mais a surra verbal que levou de Mara Gabrilli.