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Cronicas-->Forró sem tio -- 14/10/2002 - 21:43 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O verdadeiro limite de um homem é estabelecido pela sua incompetência cultural. Sou a prova irrefutável desse processo. Minha sobrinha sapeca, Nathália, resolveu comemorar seu aniversário, com toda a justeza, em um Forró.

"Santo Deus, um Forró!", exclamei de mim para mim mesmo quando recebi o convite por e-mail. "É muito para este pobre velhinho".

Mesmo assim, considerei a hipótese de ir, eu garanto. Salvo por contratempos, nunca faltei às festinhas da Natthy e da Bina. Sempre que pude, apareci. E festejei. A meu jeito, é claro. É importante destacar esse "a meu jeito".

Já nos tempos de festas-disco, aquelas em que a gente não consegue conversar por causa do putz-putz-putz-putz, eu ficava de fora, discretamente posicionado a distància segura das caixas de som. Mas estava lá.

Puxa, apesar do problema grave de disenteria musical em bailes, dancei valsa com a Natthy, vejam só. Eu, o glorioso pé de chumbo, valsei com ela feito componente do Hollyday On Ice de meias. Fui lá, em roupa de pinguim (smoking, acho) e cumpri a função de padrinho.

Um Forró não poderia me afastar da minha sobrinha. Quer dizer, pensei que não pudesse. Mas comparecer ao "Canto da Ema" onde, imagino, a Ema gemeu no canto do Juremá, no furunfunfo da Faria Lima, onde a idade média é de 15 anos, ah, não deu.

Puxa, Natthy, juro que pensei a sério antes de cometer essa desfeita. Mas Forró na Vila Olímpia eu não consigo. E não pense que é por causa do tipo de música, não. Eu adoro Forró. O que eu não consigo vencer é a absoluta timidez para estacionar o carro e entrar em um lugar onde me olhariam como a um fóssil.

Primeiro, porque com este modelito dono de mercearia, achariam que eu era um dos músicos. Pior, poderiam pensar que fui inspiração para algumas das músicas. Não, Assum Preto, não. Mas uma daquelas famosas sobre migrantes sofridos. "Quando eu vim do sertão seu moço, do meu bodocó, meu malote era um saco e o cadeado era o nó".

Affffffff. E a juventude olhando e apontando o velhinho. É ele, é ele, o pau de arara. Não, eu não ia suportar. Porque me falta a dignidade do trabalhador migrante. Nem tenho o visual interessante de tio dedicado que entra em forró lascado por causa de aniversariante. Não, meu Xodó, tenha dó desse pobre velhinho errante.

Podia ser como antigamente, bolo de chocolate, brigadeiro e presente, pão e carne-louca e guaraná quase quente? Ó, convite vespeiro, ó, convite danado! Em forró arretado, o tio-jegue empacado não sai do lugar. E prá vergonha não dar prá sobrinha querida, preferiu a desfeita de uma ida não ida.

Foi angu de cultura, timidez e burrice, deste tio com bichice que furou com a menina. Não me olhe de lado, não me deixe sem dengo. Porque até onde me lembro gosto tanto docê que ficar sem seu riso é viver sem viver.

Eu que ouço calado Gonzaga cantar: "Tá é danado de bom , tá danado de bom meu compade, tá é danado de bom , forrozinho bonitinho, gostosinho, safadinho, danado de bom...".

Só não tá danado de bom este tio Mau, que não foi no seu Forró porque é um bobo lascado.

Maurício Cintrão
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