OS BLAKS BOCS EM MEU PORTÃO
A impressão que tenho é que o último amor de qualidade que tive, faz tanto tempo, que os dinossauros ainda andavam pela terra. Pensava essas coisas, enquanto assistia pelo yutube um rapaz falar do processo
das idéias platônicas e da coisa que tem que ser cada vez mais sutil para ser entendida. Não se pode estudar um filósofo em apenas cinco minutos.
O rapaz ia falando do mito da divisão de almas, quando meia dúzia de mascarados chamavam ao portão. Faziam coro.
--- Escritor, vem pra luta, vem.
Parecia o PT antigo, todos sincronizados. Èticos e mascarados, como o Zorro. Coloquei a camisa e comecei a por meu cérebro de um quilo e meio para funcionar , de como pediria para ser incluido fora dessa.
-- Pois, não, amigos! Bom Dia.
-- Vem para luta, vem! - eles dançavam - O senhor que é o intelectual?
-- Bem, geralmente, na verdade não sou reconhecido. Mas creio que sou eu, sim, em que posso serví-lo?
-- Viemos convidá-lo para o protesto.
-- Contra o quê?
-- Não vai ter copa, não vai ter copa - começaram de novo, todos sincronizados.
-- Mas eu sou a favor da copa, amigos, quero ver a Fúria, o Iniesta, O Messi, o Neymar. os craques todos. Sempre vi a copa pela televisão, desde o tempo da ditadura.
-- Sim, mas não vai ter copa, vamos quebrar tudo. Ficou muita gente cevada com os estádios superfaturados. Os hospitais estão caindo aos pedaços, as escolas falidas. Os professores do Brasil não leram três livros de Machado de Assis.
-- Não vai ter o programa "Mais Professores" também, como "mais médicos"? Seria interessante educadores suecos , finlandeses, italianos, alemães, noruegueses e , claro, intérpretes. Até a copa deve ter o trem bala que foi prometido.
-- Não vai ter trem bala, seu escritor, vai ter é protesto. Protesto geral.
O trem bala nem saiu do trilho. Vamos quebrar tudo.
-- Mas, os senhores Blaks são de esquerda ou direita?
Nesse momento, meu amigo mascarado virou os olhos de ambos os lados. Ele não sabia de que lado era. Nunca lera Marx, ou Adam Smith.Esquerda ou direita eram categorias desconhecidas para ele.
Ficamos ali no portão, desamparados e perdidos, eu e aquela meia dúzia de revolucionários, mascarados e analfabetos, sem saber o que dizer, num silêncio dramático. Então, eu rompi o silêncio.
-- O amigo Ninja me aguarde um momento?
-- Sim.
Em casa, escrevi rapidamente com a pilot azul a frase na cartolina. "O País só precisa de leitores. Tudo o mais é desnecessário". Voltei com o cartaz e despedi-me do Ninja.
-- Amigo, no momento, estou revendo minhas idéias sobre Platão. Não posso, portanto, estar com as muldidões. Mas leve esse cartaz para suas reivindicações. Boa sorte e não esqueça o colete a prova de balas.
-- Adeus, escritor.
-- Adeus, ninja.
Quando voltei, o rapaz do yutube já estava falando em Tomas Morus.
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