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Contos-->AMOR DE SOGRA -- 17/01/2003 - 13:26 (Paulo de Goes Andrade) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

AMOR DE SOGRA

Paulo de Góes Andrade

- O que você achou do filho do Honório? Não é uma graça de rapaz? Eudóxia quis saber da filha, logo que pegaram a rua, a caminho de casa, depois da festa.
Carlinda logo se enturmou com outras moças convidadas, que, alegres, tagarelavam em torno de Honorinho, irmão de Lúcia, a aniversariante. A mãe, extrovertida, esbanjava sorrisos e muita conversa, entre casais, que provavam da enorme variedade de salgadinhos, doces e bebidas, inclusive champanhe francês.
O tabelião José Honório, como havia prometido à mulher, nos seus últimos dias de vida, deu à filha uma esmerada festa de quinze anos. E convidou para o evento, como compromisso também, os amigos mais achegados. Eudóxia e o marido (quando vivo) faziam parte daqueles íntimos.
- Vamos dançar? Honorinho convidou Carlinda entre as outras.
A moçada, aos pares, já se balançava na sala ao ritmo molengo de uma música caribenha.
Dali para diante, Eudóxia não parou de martelar a cabeça da menina para se engraçar pelo moço. E namorá-lo. Assim, sempre que iam juntas ao centro da cidade, dia sim, dia não, passavam, a passos lentos, em frente ao Cartório, forçando a filha a certas insinuações, para chamar a atenção de Honorinho, que, mesmo envolvido com o seu trabalho, correspondia com olhares e sorrisos melosos também. Carlinda não era tão atraente como a mãe – uma quadragenária vaidosa, de quadris curvilíneos, ainda mais arredondados pelos espartilhos – Mas, a menina despertava o interesse dos rapazes pela meiguice de sua fala e dos seus gestos.
A estratégia de Eudóxia não falhou. Aliás, nunca falhou, quando desejava coisas até impossíveis como, por exemplo, apadrinhar a filha, no casamento, com o prefeito do município, que era um sujeito incomunicável e, já viu, não é? antipático. Em época de eleição, era outra coisa. Até sorria.
Eudóxia era uma mulher decidida. E, além disso, bonita; dona de um olhar aliciante. Muitos iam além: Ela tem um quê de sedutora. E ainda não experimentava a fase crítica do climatério. Podia até casar de novo e ter filhos, se esse fosse o desejo de um novo marido.
Aquele não era mais o seu desejo. Ela queria era sexo completo, na concepção mais límpida da palavra. Não estava mais ligando para conceitos sociais, nem religiosos. – Que a sociedade se dane, se vou ter o meu genro como meu amante! Desabafava consigo. Carregava, de longa data, a frustração de não ter como esposo, ou como amante – melhor ainda, dizia, alguém mais jovem do que ela. Casou com um homem mais velho só por respeito às tradições familiares da cidade. Sentia-se, assim, tolhida em suas pretensões sexuais, já que nenhuma outra maneira de fazer sexo partia do esposo. Preferia, assim, se masturbar às escondidas. Mas seu desejo podia se realizar tendo o filho do tabelião Honório como seu genro. As fantasias eróticas, que já imaginava com o rapaz, perturbavam-lhe demasiadamente, a ponto de ter orgasmos durante a noite. Com o falecido esposo não se realizou na cama. Uma barreira a impedia: a formação religiosa servia de entrave. Mais por parte do marido. Não se considerava nifômona. Era, sim, carente de carícias, de excitações, de manipulações em seu corpo por mãos masculinas. E no adolescente Honorinho, no fervor dos seus dezoito anos, estava certa que encontraria. E a ele podia retribuir, oferecendo-lhe tudo aquilo que desejava praticar como fêmea, como uma amante perfeita, submissa a todas as suas fantasias sexuais - coisas normais no pensamento dos adolescentes, imaginava.
Lia e relia, nos seus devaneios noturnos, trechos de “A Carne”, de Júlio Ribeiro, dos diálogos de Lenita e Barbosa, como:
- Não posso! Não posso! exclamou, ululou desatinado.
Deu-se uma inversão de papéis: em vista dessa frieza súbita, desse esmorecimento de carícias, cuja causa não podia compreender, nem sequer suspeitar; no furor do erotismo que a desnaturava, que a convertia em bacante impudica, em fêmea corrida, Lenita agarrou-se a Barbosa, cingiu-o, enlaçou-o com os braços, com as pernas, como um polvo que aferra a presa; com a boca aberta, arquejante, úmida, procurou-lhe a boca; refinada instintivamente em sensualidade, mordeu-lhe os lábios, beijou-lhe a superfície polida dos dentes, sugou-lhe a língua...
E o prazer que ela sentia revelava-o na respiração açodada; no hálito curto, quente; era um prazer intenso, frenético, mas... sempre incompleto, falho...
E terminava por se masturbar, fazendo uso de sua coleção de vibradores.
Empenhou-se em casar logo a filha, assim que enviuvou.
Tanto fez que arranjou o namoro da filha Carlinda com o filho do tabelião José Honório. O rapaz, Honorinho, bem afeiçoado, ainda não estava a fim de abandonar a vida de solteiro, pois levava uma vida mansa com a boa retirada mensal que lhe cabia. Tinha carro do ano. Só usava roupa de griffes renomadas e aproveitava bem os finais-de-semanas. Quando sem programa na cidade, mandava-se para as praias, na Capital.
Não tinham nem um ano ainda de namoro. A futura sogra botava uma lenha desmedida para atiçar o fogo do moço para atraí-lo ao seu redor. Queria sacramentar tão logo o casório. Porque, por um lado o futuro da filha estava garantido. Honorinho era o escrivão-substituto, herdeiro natural do lugar do pai. E, por outro, estaria ele ali, pertinho dela, aos seus pés, a seu dispor, como arquitetou o seu plano. Maior do que o da filha era o seu objetivo: trazer Honorinho para dentro de casa.
- Você não pode deixar escapar esse partido, menina! Esse rapaz é um amor de criatura! Você não concorda, filha?
- Ah, mãe...! Sei não! Tá bem! Você tem razão! Mas, o que é que faço, então?
- Deixe comigo... Seja só boazinha com ele! O resto eu dou um jeito.
Não tinha uma vez que o rapaz fosse à sua casa, para namorar ou pedir para sair com Carlinda, que Eudóxia não tivesse alguma coisa para lhe oferecer, afora palavras carinhosas, maternais. Era tanta gentileza, tanta insistência que ele acabava por provar, um pedacinho que fosse, de bolo ou de doce. No mínimo, tinha um cafezinho, feito na hora, quando faltavam aquelas guloseimas, para o futuro genro, que, naqueles meses de namoro, já não sabia o que dizer à mãe da menina para não provar “um pedacinho só” de novo agrado, feito especialmente para ele. Era uma bajulação exagerada, que deixava Carlinda sem jeito, encabulada, sem graça..
Eudóxia alcançara o seu objetivo. A filha, liberada, acompanhando Honorinho até nas suas idas às praias, na Capital, arranjou uma gravidez. Era aquilo que a mãe desejava para forçar o casamento. Conhecia a austeridade de José Honório, adepto que era dos bons costumes e da velha autoridade paternal. Sabia que jamais o velho tabelião permitiria ter um neto que fosse resultado espúrio de um concubinato, ou de um ato descabido de um adolescente irresponsável, como seria tachado o seu filho. Dito e feito.
E gritou com o filho:
- Você vai assumir essa paternidade, ouviu? E não é somente isso! Você vai casar com a menina! Estamos entendidos?
Honorinho baixou a crista, que nem ameaçou levantar.
Afinal, se casaram. Foi uma festa simples, mas bonita. Tudo aconteceu na casa da sogra, um imóvel grande, cheio de cômodos espaçosos, do jeito que gostava o falecido “doutor” Generoso, seu esposo, que fazia as vezes de médico com receitas desse ou daquele medicamento homeopático, na sua farmácia. Ali, então, ficaram vivendo, por insistência e incomensurável satisfação de Eudóxia. O velho Honório presenteou o jovem casal com um belíssimo conjunto de quarto: cama, armário-de-roupa, cômoda e tudo mais que coube no espaço em que os dois passaram a ocupar.
Não se opôs à mudança do filho para a casa da sogra. A filha logo casaria e, sem dúvida, ficaria vivendo em sua companhia.
A admiração e os cuidados de Eudóxia para com o genro eram gritantes. Então agora, sob o mesmo teto, nem imaginar... A menina sentia-se enciumada. Não entendia a atitude da mãe. Não herdou a sua sagacidade, coitadinha... Os enjôos da gravidez ainda contribuíam para aumentar a sua tristeza e, até, a sua desilusão pelo casamento, que a mãe tanto batalhou para que se concretizasse. Honorinho, fugidio, sem nenhum gesto de carinho, alheiava-se totalmente ao estado gestante da esposa. Estava envolvido pelo amor e pelas práticas sexuais da “boa” sogra..
Carlinda bem que não queria morar com a mãe, como dissera a Honorinho, quando namorados. Sempre ouviu dizer que sogra é “carne de pescoço”. Entendia que era sua mãe, mas seria “sogra”, nome indigesto, que sempre foi para genros e noras. No caso deles, contudo, aconteceu o inverso da medalha. Parecia-lhe ser ela a nora indesejável e Honorinho, o filho, muito querido por sinal. A cabeça da menina, cheia de dúvidas, rodopiava. O casal viveu relativa felicidade por poucos meses. Um dia, um bilhete anônimo caiu nas mãos de Carlinda. E dizia: “Cuidado, menina! Tua mãe está te passando a perna. Estás dormindo no ponto! Acorda, menina!”.
Trancou-se em seu quarto afogada em lágrimas. Ali ficou por um tempo emburrada e soluçando. Dava dó.
- Abra a porta, meu bem! Abra! Pá! Pá! Pá! Batia na madeira o marido aflito.
- Minha filha, abra esta porta! Pedia a mãe - consciente dos fatos, amante que era do próprio genro.
Carlinda, com sangramento, foi levada às pressas a uma maternidade da cidade, onde abortou.
Sem alternativa, Carlinda dobrou-se à impudência da mãe.
E o intolerante, austero e sectário tabelião, o velho José Honório morreu desconhecendo o triângulo amoroso.

Brasília (DF) – 22 / 08 / 2001






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