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Contos-->Um Coronel Ensinando -- 17/01/2003 - 03:37 (Marcelino Rodriguez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM CORONEL ENSINANDO

O marinheiro aposentado dava ao enteado com autoridade lições de como matar baratas e ratazanas, explicando detalhadamente o remédio que inventara e as vendas que fizera. Sempre com o brilho no olhar de felicidade que nem a bengala provocada pelo derrame lhe tirara. Ele jamais admitiria qualquer tipo de derrota, nem morto.
— O principal da mistura é o acido borico. Pode-se também por um pouco de cerveja que atrai as baratas pelo cheiro. Cebola e queijo ralado. Não fica um. No restaurante da praça não ficou um rato, minimo que fosse. Quando eu ia la o Portugues me servia ate bacalhau com chopinho.
— O senhor que inventou? _ perguntava o jovem melancolico, imaginando com inveja como ele poderia estar feliz com atividade tao estranha, e sentindo-se pobre e inadequado de não saber como tirar daquilo uma razao metafísica.
— Eu tinha metade do macete, o resto eu criei. Mas não dou a formula a ninguém. Rato e ratazana não é a mesma coisa; as ratazanas podem ate´subir pelas janelas, certo? os ratos não, se escondem.
O jovem pensava como pode alguém enveredar a mente por um negocio daqueles, embora admitisse que ratos e baratas de fato deviam ser mortos; sequer entendia porque Deus os criara; assim como as cobras, sapos e outros bichos repugnantes. Achava a vida sórdida a maior parte das vezes.
O velho coronel parecia ficar gigantesco ao narrar sua habilidade para produzir veneno e vendê-lo sem nenhuma vergonha. A própria bengala que ele usava lhe parecia sublime, uma arma a mais no porte do padrasto, contando essas coisas num dia de Domingo.
Pensava se aquele surto de arrogância e felicidade era um blefe do coronel. Se so´ele carregava aquela insatisfação espiritual básica com a existência.
Sentia vontade de ser outro, ou de não ser. E ficou pensando, ao deixar a presença do velho, se alguem ao ve-lo caminhar admiraria nele o que quer que fosse e tambem sofreria algum tipo de impacto como aquele que o coronel lhe fizera sentir no Domingo nublado.
“Ninguem vive no mesmo mundo” – pensou, enquanto ligava o aparelho de televisao, talvez para esquecer o quanto sempre seria fraco diante do velho que o criara.


13/01/2003

O DEMÔNIO CRESCE LENTAMENTE

Marcelino Rodriguez

O Doutor Juiz de Direito Luiz Vaes olhava da janela de seu apartamento em Botafogo a filha
ir-se para a casa da mãe, com a qual o merítissimo se divorciara há três longos anos. Mas desde quando esse demônio de agora o atormentava? Era preciso voltar no tempo. Há vinte anos atrás sua Vizinha Vivian tinha apenas quinze anos; e vivia entre a Lagoa e o Arpoador, sempre em trajes mínimos. Luiz já ia fazendo sua carreira no direito, mas sempre se sobressaltava
com a Vivian, seja nos escassos encontros nos elevadores ou nas bancas de jornais e padarias do bairro. Anos depois viu que Vivian estava com
rapaz que chegava sempre num Gol Negro. Numa madrugada em que acordou inadvertido, percebeu
que Vivian estava deliciando o rapaz com intimidades.
_ "Vadia da madrugada" _ pensava com ódio o Doutor Luiz Vaes,
buscando com raiva o leite gelado na geladeira.
No dia seguinte, sentia-se traido e foi um inferno de mau humor
com o sócio e clientes.
"Cidade Suja de miseráveis" - pensava ao retornar a pé pelo centro
e constatar o caos urbanos com pastores anunciando o fim do mundo
e casas de massagens oferecendo serviços.
Depois Vivian ainda trocou de namorado umas outras três, quatro vezes.
E agora, há exato ano e meio ela passou a morar no seu andar de juiz divorciado. Três portas adiante estava ele de sua obsessão. O destino brincava com ele. Depois que divorciara não gostava mais de ninguém senão da filha. Desprezava os parentes, a pátria, sequer pensava em Deus, deixando distante da memória a origem católica da mãe peruana.
Do alto de seus quarenta e seis anos, sentia que caminhava para
um porto perdido no tempo.
Agora estava há meses tentando ver uma peça intima da vizinnha um
sutiã que fosse. Numa madrugada, chegou a escutar gemidos
e não sabia mais se delirava ou se era real. Por que não a matava?
Assustava-se, ele, um homem da lei com tais pensamentos.
E agora era todo dia que se esgueirava no vão da janela
que dava para as roupas lavadas da vizinha,
perigosas no Varal entre a àrea de Vivian e o abismo.
Quase foi pego pelo zelador certa feita, com a cara
no vidro que dava para o varal.
- Tudo bem Doutor?
- Ah? Sim. Sim. Tou pensando se esqueci algo.
"Que canalha eu sou, como posso julgar alguém"?
Dentro de si o ódio crescia, por si e por outros e por todos.
Mas o desejo de pegar uma peça intima que fosse de Vivian era mais
forte que qualquer lastro de razão. Meia dúzia de Chopps com o Romão, dono da Pizzaria , foi o suficiente para sua desgraça.
Olhou na Garagem que o carro do marido da vizinha não estava.
Olhou as horas: meia-noite e trinta e cinco. Apenas a luz da televisão do andar de cima ilumminava o Varal, onde se via uma toalha de banho, duas bermudas de homem, duas camisas, algo que lhe pareceu uma camisola e sim, uma calcinha vermelha, o que lhe fez subir o sangue. Agora sim. Cegou. Estava tomado.
Correu em casa e pegou o banco do escritório para escorar-se.
Subiu pela parede. Passou pelo Vidro. Mas quando pôs a mão
em apoiar-se no varal, sentiu-se despencar no vazio. Atrás de si ainda foram uma ou duas peças de roupas e a calcinha, caprichosa, a poucos metros de suas mãos. O corpo sob uma poça de sangue espesso do Doutor Luiz Vaes era uma incógnita as cinco da manhã, caído num pedaço de chão da garagem. Foi levantada várias hipóteses de sua morte: suicídio, assalto, drogas. Somente o demônio
e seus anjos, porém, sabiam do que a luxúria era capaz.
No dia seguinte os jornais, como quase sempre, anunciaram uma mentira:
mistério na morte de um homem exemplar, Doutor Luiz Vaes,
um dos mais promissores juristas do país.


Direitos Reservados.

Publicano no site Antenas
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