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Artigos-->WAGNER E NIETZSCHE – A POLÊMICA CONTINUA! Parte V II-FINAL -- 23/03/2002 - 13:33 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WAGNER E NIETZSCHE – A POLÊMICA CONTINUA! Parte V II - FINAL

J.B.Xavier



No capítulo anterior, analisamos a maneira como se deu a formação psicológica de Nietzsche, bem como a gênese das idéias que levaram-no a ser reconhecido mundialmente.



Neste, analisaremos como se deu o fim da vida útil de Nietzsche e como nasceu o wagnerismo.



De 1880 a 1889, Nietzsche viveu como um nômade. Ele nunca adotou a cidadania suíça, embora tendo vivido no país por tantos anos. Quase anualmente ele visitava sua mãe, em Naumburg, e circulava por várias cidades da França, Suíça, Alemanha e Itália. Ia para Nice, nas costas do Mediterrâneo, durante o inverno e para os Alpes Suíços – para o vilarejo de Sils-Maria - durante o verão. Viajava constantemente por Leipzig, Turim, Gênova, Recoaro, Messina, Rapallo, Florença, Veneza e Roma.



Estes foram os anos nos quais sua criatividade chegou ao ápice, tendo, nesse período, publicado seus trabalhos de maior repercussão, como Assim Falou Zarathustra (1883-85), Para além da Bondade e da Maldade,(1886), Genealogia da Moral (1887). A Decadência dos Ídolos (Agosto-Setembro de 1888) O Anticristo (Setembro de 1888), Ecce Homo (Outubro-Novembro 1888) e outros.



Foi exatamente nessa série de trabalhos monumentais, escritos já ao fim de sua vida produtiva, que Nietzsche abriu fogo contra o autor de O ANEL DO NIBELUNGO, em dois panfletos que circularam como uma enxurrada nas encostas de uma montanha, entre a intelectualidade de Turim: O Caso Wagner, publicado entre Maio e Agosto de 1888, e Nietzsche Contra Wagner, em Dezembro do mesmo ano.



Em O Caso Wagner, Problemas De Um Músico – (Der Fall Wagner, Ein Musikanten) que, melhor traduzido, seria: A Queda de Wagner-Um Músico Problemático, Nietzsche repete a dose, como já fizera em 1873 com David Strauss em seu devastador e desenfreado ataque a uma figura cultural pública.



Neste ataque, Nietzsche "declara guerrra" contra Richard Wagner, afirmando que sua música é a versão acabada da mais completa decadência moral da sociedade.



Numa análise desapaixonada, entretanto, veremos - se conseguirmos escapar ilesos à influência que a retórica deste trabalho desperta - que Nietzsche era um talentoso crítico de arte, como atesta suas observações sobre o estilo do teatro wagneriano, as reflexões sobre a redenção por via da arte, sobre a “filosofia da arte” e suas respectivas virtudes associadas, como a ascensão e queda das energias da vida, motivadas pela música.



Nietzsche Contra Wagner (Nietzsche contra Wagner, Aktenstücke eines Psychologen), são passagens curtas de seleções extraídas de seus trabalhos publicados entre 1878-1887. Muitas delas se referem a Wagner, mas o centro de sua crítica neste trabalho, não é exatamente o músico, e sim a decadência geral que o filósofo julgava estar mergulhada a Alemanha.



Para esclarecer algumas de suas idéias, ele usava Wagner como paradigma dessa decadência. Em sua auto biografia, completada apenas alguns meses antes do fim de sua vida produtiva, Nietzsche caracteriza bem seus sentimentos anticristãos e clama que a verdadeira força corruptora é o Cristianismo. Paradoxalmente – talvez porque o intelectual falava mais alto que o moralista – ele descreve, neste trabalho, a grande admiração que nutria pela música de Wagner, à qual se referia como profunda e psicologicamente impossível de ser descrita satisfatoriamente.

Quis o Destino que o ataque ao ex-amigo fosse um de seus últimos trabalhos.



Numa das viagens que constantemente empreendia, na fatídica manhã de 3 de Janeiro de 1889, estando Nietzsche em Turim, o destino lhe pregou uma peça definitiva, que poria fim à sua vida de intelectual, e o reduziria a uma sombra do que fora. Neste dia ele sofreu um colapso mental que o incapacitou pelo resto de seus dias.



Nesta manhã, afirmam os que testemunharam o fato, passava pela praça Carlo Alberto, um coche, cujo cavalo estava sendo chicoteado pelo condutor. Nietzsche agarrou-se ao pescoço do animal e o domínio sobre a mente o abandonou. Nunca mais ele recobraria a sanidade.



Querem alguns analistas da vida de Nietzsche que o colapso tenha sido conseqüência de uma infecção por sífilis, que já havia sido diagnosticada em Basel e Jena, anos antes, e contraída quando ainda era estudante e servia em um hospital durante a guerra Franco-Prussiana. Outros alegam que a droga que ele tomava como sedativo acabou por deteriorar seus sistema nervoso, e outros ainda especulam que a doença mental que o incapacitou era hereditária, já que seu pai também morrera por distúrbios mentais. A única verdade conhecida e fartamente documentada, é que Nietzsche tinha constituição nervosa extremamente sensível, e tomava uma grande variedade de medicamentos.



Após uma breve hospitalização em Basel, e outra breve internação num sanatório em Jena, na clínica Binswanger, em Março de 1890, Nietzsche foi levado por sua mãe, para o lar de onde saíra, em Naumburg, onde viveu por sete anos sob seus cuidados. Depois da morte de sua mãe, em 1897, sua irmã Elisabeth, assumiu a responsabilidade por seus cuidados. Para isso, ela retornou do Paraguay, onde, juntamente com seu marido, estava fundando uma colônia alemã ariana anti-semita, chamada “Nova Alemanha”.



Num esforço para promover a filosofia de seu irmão, ela alugou uma grande casa nas colinas de Weimar, chamada “Villa Silberblick” e lá o instalou, juntamente com todos os seus manuscritos.



Num triste crepúsculo para uma mente tão brilhante, lá ele ficou exposto aos visitantes que desejavam observar o outrora grande filósofo, agora incapacitado.



Finalmente, onze anos depois de uma vida quase vegetativa, quando se aproximava dos 56 anos de idade, morria o homem e nascia o mito! Seu corpo foi transladado para o túmulo da família, em Röcken bei Lützen, onde tudo começou, e onde jaz até hoje ao lado dos restos mortais de sua mãe e irmã.



* * *



Após a morte de Nietzsche , teve início o tiroteio, entre seus discípulos e os de Wagner.

Há época, os seguidores do músico superavam em muito os do filósofo, pois, tendo se instalado em Bayereuth, Wagner só fez aumentar seu número.



Ali, ele viveu rodeado por uma corte de admiradores, discípulos e colaboradores que formavam à sua volta uma comunidade de crentes.



Para o escárnio final aos que o criticaram durante os anos difíceis, em 1876, Wagner inaugurou a FESTPIELHAUS, seu teatro, e o evento atraiu à pequena cidade bávara reis, príncipes, e – vitória das vitórias – veio também o Imperador Guilherme I, numa deferência impensada anos antes. E mais! Num acontecimento musical único – nem a Beethoven isso foi concedido – PARSIFAL, sua monumental obra, foi exclusiva de Bayereuth durante trinta anos! Esta exclusividade consolidou a fama do lugar como um local ecumênico, sagrado e de peregrinação.



Em verdade foi a consolidação dessa fama e messianismo que despertou a ira de seus inimigos, e de Nietzsche mais que a todos. Um deus músico! Ora essa!



Numa visão histórica, porém, talvez tenha sido esse o ponto mais alto do humanismo, pois nunca antes se pusera tanta fé nos homens e na sua capacidade de criação.



Quem tentar reduzir Wagner à condição de compositor de Óperas, cometerá o mesmo erro de quem tentar reduzir Nietzsche à condição de ateu empedernido, ou Beethoven à condição de compositor de sinfonias. Estes são homens grandes demais para caber em reduções.



Eles foram homens hercúleos, gigantes do pensamento e do sentir - artistas, na mais elevada concepção do termo. Homens que, por expandirem suas idéias, por lutarem por elas, acabaram por não mais caber no estreito cadinho das convenções sociais, e, através de suas obras, derreteram essas convenções e a despejaram sobre a humanidade, pelas bordas do caldeirão fervente da criatividade. Homens que sintetizaram em seus escritos as crises de uma sociedade burguesa, e, por serem eternas essas crises, eternas serão também suas idéias e as mensagens que nos legaram.

Vivemos num combate constante conosco mesmos, e a não ser que se encontre urgentemente uma válvula de segurança, aliviando a pressão dessa grande caldeira humana – o que eles fizeram através da sua arte – não haverá esperança para nós, pobres mortais.



Desejo que o presente trabalho auxilie no entendimento de uma questão primordial, e que compreendamos a lição última que esses gigantes do pensamento nos deixaram:



A verdadeira arte não pode ser imitada!



FIM



Em tempo:

Dentro em pouco estaremos publicando uma análise da obra de Nietzsche e Wagner.

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