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Poesias-->28. LEMBRANDO A LEI MAIOR -- 20/03/2003 - 17:56 (wladimir olivier) |
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“Acostumei-me com a rima troncha
E já não boto fé nesta rotina:
Se alguma pérola tiver a concha,
Há de lembrar a lei da sã Doutrina.”
Alguma vez eu tive a pretensão
De vir trazer à luz uma obra-prima?
Não tenho como dar de mim, senão
Dizendo que é bem grande a minha estima.
Não sei como os leitores agirão,
Mas posso acreditar ser bom o clima,
Se não fizer acusação alguma,
Buscando que o evangelho se resuma.
Catitos, os versinhos mais acima,
Embora as rimas sejam bem comuns.
O tema, se bem dito, mais sublima:
Não há necessidade de jejuns,
Que a trova, quando “quente”, reanima,
Mostrando que se perdem só alguns,
Por não mais confiarem no poeta,
Que a forma deste agir é incompleta.
Saber que este meu verso é desperdício
Me põe entristecido desde já.
Quisera debelar o maior vício,
Sem escrever, porém, fica o que está.
Assim, vou começar, pois dar início
Alguma coisa boa mostrará.
Mesmo que esta trova esteja troncha,
Nem sempre está vazia a feia concha.
Não quero que se encante o meu leitor
Com algo muito acima do normal.
Nem eu serei capaz de aqui compor,
Que a minha inspiração é natural.
Se for p’ra traduzir meu interior,
Começarei tão logo a passar mal.
Assim, o melhor verso que farei
Somente irá trazer-lhes esta lei.
“Amai-vos uns aos outros”, diz a lei
“E ao Pai, que vos criou p’ra sua glória.”
Caso vos esquecerdes, já não sei
Se poderei cantar aqui vitória,
Que os lucros destes versos são p’ra grei:
Não vos posso pedir a moratória.
As trovas valerão, assim, por si,
Dizendo, em tom velado, o que senti.
Estando no velório, alguém explica
Que o morto lhe devia alguns reais.
A tal pessoa não é muito rica,
Mas teria, co’aquele, um pouco mais.
Não se lamenta, apenas justifica
Os pensamentos, que são sempre iguais.
Assim é que versejo, nesta hora,
Sabendo que o leitor já foi embora.
O tema se repete, eternamente,
E cansa o bom leitor já prevenido
De que se segue a rima que se sente,
Pois tudo quanto disse foi ouvido.
Mencionasse uma vez a lei, somente,
E tudo se teria resolvido.
Insiste este poeta com o verso:
Só pode ser chamado de perverso.
Até estas piadas vêm à toa,
Que aqui não há que piem bons poetas.
As aves já se foram, como voa
Bem longe a trova com as leis completas.
Eu quis trazer a rima simples, boa,
Mas tu, com grão rigor, sempre mas vetas.
Assim, o desperdício é muito grande,
Por mais que o meu mentor gentil comande.
Desprezo e desperdício andam juntos,
Embora a gente insista com denodo.
Os dons das minhas rimas não são muitos,
Por isso é que me arrisco neste lodo.
Depois que os tais mortais viram defuntos,
De que vale que os sons venham a rodo?
Os que devem rimar com “desperdício”,
Se desprezaram tudo, “precipício”...
Por isso é que esta hora é importante:
Para pensar no amor que se sonega.
O verso que hoje trago só garante
Que, como bom poeta, a gente prega
O amor para o Senhor e o semelhante,
Porque, caso contrário, o mau se esfrega
E vai contribuir com mais barulho,
Jogado, lá no inferno, como entulho.
Eu prometi não vir para acusar:
Apenas repeti o tom do escrito
Nas linhas do Evangelho, um bom lugar,
Para tascar nos vícios forte grito.
Aqui, o meu conselho é devagar,
Pois sei que, um certo dia, no infinito
Não há de mais valer este estribilho,
Porquanto há de ser outro o nosso brilho.
Palavras de esperança e não de medo,
Quiseram que eu dissesse, todavia,
Pensei ser bem melhor um arremedo
Do que Kardec aqui também diria.
Talvez eu tenha vindo um pouco cedo,
Sem burilar melhor minha poesia.
Capricha, então, na prece aqui do fim,
Ó tu, leitor, e pede a Deus por mim!
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