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Erotico-->32. GRAVE AMEAÇA AO PLANO -- 06/02/2003 - 07:05 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não poderiam os três safardanas obter sucesso o tempo todo. A primeira desilusão se deu quando pretenderam utilizar dinheiro na compra do prazer feminino. Precisaram entrar em ambiente por demais pernicioso, ensombrado por densa fumaça, cheio de carantonhas de viciados, onde a grosseria das expressões não poupava o aleijado:

— A “menininha” está necessitada? Então, por que não sai pulando atrás da primeira mundana e trepa com ela em cima da mesa?

Os ares eram terríveis e punham medo no coração dos jovenzinhos.

Houve uma garota de programa que se condoeu do coitado e o levou para o quarto. Percebeu o quanto era jovem e viu que, se não era a primeira vez que praticava o ato sexual, deveria ser sua iniciação com mulheres formadas. Suspeitou até que era, sim, a primeira vez, com mulheres, porque a juventude experimenta sempre com os do mesmo sexo.

Começou a fazer carícias e tocou em todo o corpo do rapazelho. Ao chegar a mão junto aos tocos das pernas, desencadeou forte reação contrária à libido, de modo que pôs fim a todo o entusiasmo que suas formas haviam despertado.

Quando se esperavam sorrisos e gozos, acharam-se lágrimas e sofrimento. Cléber sentiu-se nas mãos de uma estranha, com a qual não poderia manter nenhuma integração sentimental. Resolveu que a vergonha não deveria comentar-se e pagou o combinado, com mais um tanto, para que se calasse a meretriz.

De volta ao salão, na obscuridade propícia à bolinação e às preliminares do sexo, a moça deixou o rapaz diante de garrafa de mau conhaque e foi procurar outro. Não se esqueceria de como reagira o aleijadinho e punha em si mesma a culpa por tê-lo convidado. Entretanto, o dinheiro aplainava o bulício da consciência e satisfazia o princípio do perene tormento da desonra social.

Cléber aguardou os companheiros, embriagados e zonzos, que tinham saído da mesa com o objetivo determinado de concluírem o negócio a que tinham ido. Esperou pouco, pois logo se desincumbiram de suas tarefas, estimulados fortemente pelo “show” erótico-pornográfico a que haviam assistido, ainda mais que estiveram incentivando-se pelas fantasias do prazer e da conquista dos direitos masculinos.

Na rua, receberam a visita de dois indivíduos que haviam reparado neles, porque tudo tinham pago sem tugir nem mugir. Anunciaram o assalto e levaram o que havia de valioso nos pescoços e braços. Um brinquinho de ouro foi arrancado de Banguela, cortando o lóbulo da orelha. As muletas foram arremessadas longe, às gargalhadas e impropérios. Cléber foi jogado ao chão e teve os pés de madeira arrancados sem dó nem piedade. Juliano se encolheu no desvão de uma porta, chorando desesperado, temendo terminar ali mesmo, porque os dois perigosos elementos estavam dementados, dispostos a levar avante o que lhes desse na veneta.

Todavia, da mesma forma que começaram, terminaram, desaparecendo da vista dos três. Só Banguela percebeu que tinham voltado para a boate, se é que aquele antro podia ser assim chamado.

Quando se recuperaram um pouco do susto, foi Juliano quem censurou os outros:

— Viu no que deu vocês quererem vir neste “inferninho”?

Cléber precisou defender a iniciativa:

— Aqui até que tiveram comiseração...

— Você está brincando!...

— Noutro lugar, a polícia teria levado a gente pro Juizado de Menores.

— Mas não me venha dizer que valeu. Eu acho que não vou me lembrar de ter estado com uma mulher, sem ficar todo molhado pelo medo que senti.

Banguela estancava o sangue da orelha:

— Será que vou precisar ir ao médico?

Cléber quis examinar mas estava muito escuro:

— Vamos sair daqui. Vocês, catem as muletas e os pés.

Deu um jeito de se acomodar no carrinho, tendo notado que as rodas tinham sofrido com os pontapés dos assaltantes.

— Vou ter de mandar arrumar isto, porque o soldado pode querer cobrar a cadeira. Será que vai acreditar que fomos atacados sem motivo? Ou vai achar que brigamos?

Banguela não estava para hipóteses:

— Já está tudo aqui. Vamos embora.

Buscaram a avenida mais próxima, melhor iluminada, e Cléber pôde observar o que se passava com a orelha do amigo. Não gostou do que viu.

— Acho que vai precisar de uns pontos. Vamos ter de ir a um pronto-socorro.

— Não tem nenhum por aqui.

— Vamos pegar um táxi.

— Quem tem dinheiro?

Ninguém tinha tostão. Tudo fora levado pelos meliantes.

— E agora?

— Só se a gente ligar pra delegacia, pedindo ajuda. Não precisa de ficha.

— Mas não vamos acabar presos?

— Quem tem documentos?

Os três tinham recuperado os papéis mais as carteiras vazias. Resolveram arriscar. Foi Cléber quem teve a idéia salvadora:

— Qualquer coisa, a gente chama Antunes. Mas quem tiver bagulho, vai se livrando de tudo. ‘Tá?

Ninguém tinha, porque haviam consumido. O pouco que sobrara ficara nas mãos dos gatunos.

No primeiro orelhão, uma decepção: estava arrebentado. Precisaram andar quase dois quilômetros para encontrar um bar aberto. Quando disseram que era para chamar a polícia, o dono disse que não podia emprestar o telefone. Eles que procurassem um telefone público mais adiante.

Finalmente, conseguiram trazer uma viatura. Em vinte minutos, Banguela estava recebendo assistência médica. Mas havia um porém: tinham de apresentar queixa, registrar a ocorrência. Como dizer que estavam na boate? Tinham ido ao cinema e estavam voltando.

— Nome de cada um? Endereço? Documento de identidade? Telefones pra chamar os pais?

Cléber viu que iriam sair-se muito mal. Decidiu apelar:

— Eu tenho um amigo na Polícia: o Soldado Antunes, herói condecorado. Ele foi baleado pelo mesmo cara que me amputou as pernas.

— Endereço do soldado?

Não havia alternativa. Cléber teve de declinar o endereço da residência e local de prestação de serviço.

Enquanto os rapazes confabulavam, os guardas conversaram com os médicos, para confirmarem a impressão que tinham tido de que os acompanhantes do aleijado estavam drogados.

— Vamos levar os três pra delegacia. Lá o Doutor Delegado vai decidir o que fazer.

Não havia como se livrar da autoridade dos policiais militares.

Duas horas ficaram à espera da chegada do amigo. Durante esse tempo, cada qual ruminava os sucessos da noite. Juliano encostou-se na parede e adormeceu. Estava baqueado. Banguela tinha o estômago revirado, tendo vomitado diversas vezes. Não parava de passar a mão pelas bandagens que envolviam a orelha dilacerada. Levara cinco pontos e tomara uma injeção que lhe dava os enjôos. Cléber se perdia em pensamentos de frustração. Tinha imaginado que a noite seria o mais prazerosa possível. Não se conformava com o péssimo desempenho sexual. Tinha-se surpreendido com a pequenez de seu pênis na mão da prostituta, o que não levara em conta ao supor que o dinheiro faria a diferença. Até que ela havia sido gentil, carinhosa. Ele é que fora o culpado pela incompetência. O conhaque estava fazendo efeito ainda, mas não muito, dado que o impacto dos diversos acontecimentos desagradáveis o acordara para a realidade. O período de espera, porém, amolecia-lhe o ânimo, mesmo porque os policiais não tinham dado mostras de que iriam encaminhá-los ao Juizado de Menores.

Quando Antunes chegou, veio com Deodato e com as mães de Banguela e de Juliano. Experiente, sabia que precisava libertar os três, o que conseguiria com mais facilidade se os pais apoiassem os pequenos, demonstrando ansiedade e sofreguidão. No caminho, instruíra os outros para não brigarem com os filhos, prometendo surras, o que seria o mais comum à vista das informações que recebera de que estavam chumbados.

Aquela madrugada, os três passaram em suas casas, sob a promessa formal que os pais fizeram ao Delegado de que iriam cuidar dos filhos. Estes, por sua vez, guardaram absoluto segredo da aventura sexual, apoiando os depoimentos no fato de terem sido vilmente assaltados quando voltavam do cinema, tendo parado ali para comerem, momento em que foram arrastados pelos bandidos. Não souberam explicar as pupilas dilatadas e o terrível cheiro de bebida destilada. De qualquer jeito, ficaram devendo explicações.

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