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Ensaios-->O DIA QUE DUROU 21 ANOS -- 03/04/2017 - 10:47 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

“O DIA QUE DUROU 21 ANOS”

Sérgio Pinto Monteiro*

O filme exibido pela Globo News no dia 01 de abril e reexibido já no dia seguinte, tem um falso perfil de documentário. Trata-se de uma produção da PEQUI FILMES, exibido nos cinemas em março de 2013 e que teve uma versão anterior para televisão, dividida em três episódios de 26 minutos.

É notório o comprometimento ideológico da produção de 2012. Basta observar que o roteiro do filme foi escrito pelo jornalista Flávio Tavares que - ao lado do filho, o cineasta Camilo Tavares, mexicano de nascimento - produziu e dirigiu o “documentário”. Ora, Flávio Tavares é um jornalista e escritor que participou da luta armada contra os governos militares e foi um dos 15 presos políticos trocados pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, sequestrado em 1969 por um dos grupos armados da esquerda brasileira. Tal circunstância, evidentemente, não permite concluir que a “obra” cinematográfica, nem mesmo a literária, possua a isenção que dela se poderia - e deveria - esperar.

O filme defende a tese de que o governo dos Estados Unidos teve uma forte participação no planejamento do movimento revolucionário de 1964. O diretor teria se beneficiado de farta documentação cuja divulgação foi supostamente autorizada pelos americanos, face à lei local de publicidade de documentos confidenciais e secretos.

Nada de novo, portanto. Hoje tais informações estão disponíveis em variadas fontes. Historicamente, o “documentário” peca em múltiplos aspectos. O primeiro, e talvez o mais relevante, é não contextualizar as ações e procedimentos governamentais dos Estados Unidos. Em 1964 o mundo era politicamente bipolar. Americanos e soviéticos - e seus aliados - encontravam-se sob os efeitos da chamada guerra fria. Pouco antes, na crise dos mísseis soviéticos em Cuba, o mundo esteve muito próximo da terceira guerra mundial. A URSS havia fincado posição em Cuba e dava suporte a movimentos “nacionalistas” que pudessem fortalecer o comunismo em todo o mundo. Na America latina, o Brasil foi alvo prioritário dos soviéticos. Como era de se esperar, os agentes de inteligência, de ambos os lados, atuaram intensamente nessas áreas. Curiosamente, foram vistos, em certo momento, almoçando no mesmo restaurante em Foz do Iguaçu. Claro, em mesas diferentes e sempre de frente uns para os outros. E, obviamente, os seus respectivos governos acompanharam e procuraram intervir nas políticas locais, buscando, efetivamente, a tomada ou “manutenção” do poder.

Os documentos do governo americano divulgados no filme retratam exatamente tais ações e procedimentos. Nada, portanto, que possa ser classificado como algo “sobrenatural” ou incomum, como se procura “denunciar” no “documentário”. Os arquivos da antiga União Soviética, se permitidas as pesquisas, o que é improvável, certamente revelarão atividades semelhantes.

Outra colocação indevida na “obra” cinematográfica é a sutileza das sequências que procuram induzir o espectador a concluir que as preocupações e providências dos americanos para a possibilidade de uma comunização do Brasil, tenham encontrado guarida em nossas forças armadas, o que é falso e fantasioso. É preciso lembrar que a segunda guerra mundial havia nos aproximado fortemente dos Estados Unidos. Fomos aliados e lutamos juntos contra o nazi-fascismo. Era de se esperar, que nativos de países do chamado bloco ocidental, os militares brasileiros, em sua maioria, olhassem para os americanos como amigos. Mas daí a se concluir que os Estados Unidos participaram do “planejamento” da Contrarrevolução de 1964 há um fosso intransponível. E a suposta “Operação Brother Sam”, nada mais seria do que um plano para apoiar, logisticamente, as forças armadas brasileiras, em caso de solicitação.

Muitas outras críticas poderiam ser dirigidas ao filme. Uma delas, extremamente relevante, seria referente à total e completa OMISSÃO dos roteiristas aos ATENTADOS TERRORISTAS praticados pela esquerda rebelde que, em última análise, foram os responsáveis pelo endurecimento do regime e prolongamento do período dos governos militares.

A história dos idos de 64 está contada em vasta literatura e farta documentação. Basta uma criteriosa pesquisa em obras e autores isentos. Portanto, é impossível reescrevê-la à revelia dos fatos. A mídia brasileira precisa ser menos ideológica e mais responsável ao abordar fatos históricos recentes e que ainda produzem consequências no cenário atual. Vale lembrar que, em presença de situações institucionalmente atípicas, a imprensa estará sempre entre as primeiras vítimas.

 

 

*o autor é professor, oficial da reserva não remunerada do Exército Brasileiro, presidente do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva, titular da Cadeira Especial Major Apollo Miguel Rezk da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, membro da Academia Brasileira de Defesa, vice-presidente da Direção Central da Associação Nacional dos Veteranos da FEB e autor do livro “O Resgate do Tenente Apollo” (Ed. CNOR, 2005). O texto acima é pessoal e não necessariamente representa o pensamento das entidades mencionadas.

O DIA QUE DUROU 21 ANOS DOCUMENTÁRIO COMPLETO

https://www.youtube.com/watch?v=4ajnWz4d1P4

 

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