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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->WERNER HERZOG: -- 29/11/2003 - 05:05 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Para Mauro Guzzo, que lê e comenta os meus textos; que confere atentamente as minhas traduções e me envia sugestões precisas e preciosas; e que me alimenta com material como este que agora repasso, traduzido, aos demais leitores.

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Rico Pfirstinger entrevista Werner Herzog (www.spielfilme.de)
Trad.: ZPA

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Nascido em Munique em 1942, Werner Herzog é considerado, junto com Wim Wenders e Volker Schlöndorff, um dos três maiores diretores vivos do país.

Entre suas obras mais conhecidas, os cinco filmes que ele rodou com o famigerado Klaus Kinski no papel principal – “Aguirre, a ira de Deus" (1972), "Nosferatu" (1979), "Woyzeck" (1979), "Fitzcarraldo" (1982) e "Cobra Verde" (1987) – são o resultado de uma extraordinária relação de amor e ódio entre dois possessos, relação que Herzog documentou em "Meu inimigo preferido", lançado na Alemanha em 7 de outubro, trazendo cenas das filmagens que até aqui permaneciam inéditas.

Rico Pfirstinger esteve com o excepcional diretor por ocasião do Festival de Cinema de Munique (2003).

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spielfilm.de: Os aficionados dos seus filmes gostam de etiquetá-lo como poeta, filósofo e visionário. Saberia o que fazer com a etiqueta?

Werner Herzog: Pouco. Eu nunca olhei para mim mesmo. Nunca estive ligado a esse fenômeno pouco sadio, um fenômeno da moda, ser obrigado a analisar-me a mim mesmo. Eu não sei nem sequer a cor dos meus olhos. Até olho para o espelho toda manhã e fico atento, mas só para não me cortar ao fazer a barba. Porém prefiro não me olhar nos olhos. Eu não sei, e Deus é minha testemunha, a cor dos meus olhos.

spielfilm.de: Azul-claro, como se constata.

Herzog: Tudo bem. Você bem que poderia ter dito "verde", "castanho" ou "preto". (ri) De qualquer modo, não acredito em nada do que você diz. Mas: Vou desta vez vou ficar com o boato.

spielfilm.de: Essa dúvida é uma de suas qualidades fundamentais?

Herzog: Seja como for, não acreditaria em nada do que dissessem, a menos que eu próprio de alguma forma tivesse procedido a uma verificação. Eu não sou um desses que acredita com facilidade, não é assim tão fácil me derrubar do cavalo.

spielfilm.de: Mas não é uma sobrecarga terrível, viver com essa postura?

Herzog: Não, em absoluto. Não sou obrigado a saber e a verificar tudo. Por exemplo, que cara tem o meu umbigo, qual a cor dos meus olhos, não sou obrigado a saber todas essas coisas. Consigo supostamente viver muito melhor, assim, do que alguém interiormente dilacerado pela auto-observação e pela dúvida, pela insegurança e pelo excesso de psicologização.

spielfilm.de: Como caracterizaria o seu trabalho?

Herzog: De certo modo, é um trabalho atlético e não tem muito a ver com a atividade mental – no sentido da análise acadêmica. Esta nunca produziu bons realizadores para o cinema. Estranhamente, muitos cineastas importantes foram atléticos, algo que não vai encontrar entre pintores, músicos ou escritores.

spielfilm.de: Na juventude, aspirou a uma carreira na modalidade do salto com esqui.

Herzog: Eu queria ser campeão do mundo. Ser o melhor de todos, voar mais longe do que todos, lançar-me pelos ares e não parar mais de velejar, até que todos os outros tivessem ficado para trás. Depois de ter travado conhecimento com um sem-número de campeões mundiais da modalidade e de até mesmo ter rodado um filme com um deles, hoje sei que jamais teria sequer chegado perto daqueles que viriam a sê-lo. Sem qualquer esperança e sem qualquer perspectiva. Na melhor das hipóteses, talvez tivesse chegado à seleção nacional, que, em contraposição ao que hoje se vê, era formada por atletas bastante fracos.

spielfilm.de: O sonho de ser um campeão em salto com esqui acabou então bastante rápido.

Herzog: Antes de eu completar 16 anos, meu melhor amigo teve um acidente muito sério. Foi tão terrível que eu nunca mais tornei a me aproximar de um trampolim.

spielfilm.de: Acredita no destino?

Herzog: Não é uma questão de crença. É algo apreensível e passível de reconhecimento. Nunca tive nenhuma dúvida quanto ao fato de eu viver sob a asa de um certo destino. A questão, que eu já me colocava muito cedo na minha juventude, era: ou carregar isso nos ombros ou não? E já tomei essa decisão bem cedo, mesmo sabendo que não seria uma vida fácil e agradável.

spielfilm.de: Aos 13 anos de idade, vivendo com a mãe numa pensão em Schwabing, Munique, o destino irrompeu na sua vida na figura de um vizinho de quarto: Klaus Kinski.

Herzog: Foi um tornado que soprou por três meses ininterruptos. O engraçado é que eu fui o único – e ali viviam uns oito – a não ter medo dele. Antes, era com espanto que eu olhava para aquele fenômeno da natureza.

spielfilm.de: Um ano depois, já sabia que ia ser cineasta.

Herzog: Com inteira clareza. Aos 14 anos, várias coisas aconteceram na minha vida, coisas que até hoje me marcam: Na época, pela primeira vez eu empreendi uma viagem a pé, tendo passado ao longo da fronteira da Albânia. E foi exatamente lá que começou uma fase religiosa dramática, e ao mesmo tempo eu sabia: vou fazer filmes. Relativamente cedo, durante o meu tempo de escola, eu trabalhava à noite como soldador numa fábrica de aço, tendo juntado dinheiro para poder financiar o meu primeiro filme.

spielfilm.de: Nunca pôde usufruir de uma educação formal.

Herzog: Graças a Deus. Nas Escolas Superiores de Cinema não se aprende grande coisa. Sempre achei muito estranho aprender o ofício trabalhando dez anos como assistente. Essa idéia nunca me ocorreu, eu sempre fui meio feito em casa.

spielfilm.de: Você gosta de arriscar tudo.

Herzog: O que significa arriscar? Você vai perder o dinheiro talvez, mas ganhou um filme! Foi esse o meu princípio de trabalho, sempre, e pouco me importa que, até hoje, os meus primeiros curtas ainda não tenham sido vendidos. Mas, com eles, passei a ser notado. Com esse material, eu estive no festival em Oberhausen e até ganhei alguns prêmios. Aí as pessoas se tocaram: Esse é um deles!

spielfilm.de: Sua biografia é cheia de curiosidades: em 1964, você teria financiado uma estadia no México contrabandeando armas de fogo.

Herzog: Bem, de alguma forma eu ia ter de viver. A verdade é que, absolutamente, eu não tinha dinheiro nenhum, e estava para ser extraditado dos EUA. Assim, atravessei a fronteira em direção ao México e levei algumas coisas para alguns rancheros abastados; um colt prateado, por exemplo. Eu também fiz outras loucuras, como montar em rodeios. Mas essa foi mesmo uma carreira breve, pois um touro que eu montei quis me esfolar numa parede de pedra. Infelizmente, o meu pé acabou levando a pior. É algo que até hoje, às vezes, eu ainda sinto.

spielfilm.de: Muitos dos que trabalharam com Kinski se sentiram vítimas de suas pirações. Mas você não.

Herzog: Não, nunca. Era suportável, porque só contava o que depois se veria nas telas. Se foi estafante trabalhar com o canalha, isso não teve a menor importância. Eu havia me escudado sempre em filosofia suficiente para poder segurá-lo. O fato é que, de nós dois, eu era o mais perigoso, porque estava decidido ao extremo.

spielfilm.de: Em muitas circunstâncias, foi uma questão de vida ou morte.

Herzog: Eu o ameaçava, e o fazia tão seriamente, que ele acabava se tocando: Aquilo já não era mais uma brincadeira. Aí, ele tratava de recuar.

© Rico Pfirstinger

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