Não faz muito tempo, os presidentes Evo Morales (Bolívia) e Maduro (Venezuela), ao tentar defender o PT e Dilma Roussef, deram declarações ameaçadoras à soberania do Brasil. Sendo a mais grave aquela feita por Morales, ao afirmar que “…Se tiver golpe (impeachment) no Brasil vamos atacar com nossas forças armadas…”.

Inicialmente ridicularizado, em razão do aparentemente pequeno poderio militar boliviano, muitos se esquecem de que a Bolívia faz parte do chamado “grupo bolivariano”, que é composto por Venezuela, Equador, Nicarágua e Bolívia. Grupo que possuí suporte militar cubano e russo…

A Venezuela, por exemplo, tem larga vantagem em relação ao Brasil no que diz respeito a defesa terra-ar (aliás, o grande “calcanhar de aquiles” brasileiro). Enquanto a Venezuela possui até mesmo mísseis de longo alcance, como os S-300 russos (abate aviões a até 150km de distância), ou ainda os “S-125 Pechora” (cerca de 35km de alcance) o Brasil sequer possui um único míssil de médio  alcance para defender seus cerca de 16.000 km de fronteiras terrestres.

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S-125

Tudo o que temos se restringe a um punhado de MANPADS (pequenos mísseis disparados do ombro por soldados) como o IGLA (SA-18 e SA-24), que tem meros 5km de alcance e apenas 3,5km de altura (um SU-30MKK Venezuelano pode voar a 17,300 m de altura…) e, mais recentemente, a míseros 12 a 16 sistemas suecos RBS-70 (também de curto alcance). Em suma, nunca se pensou em defesa aérea em “multicamadas” no Brasil. E hoje, uma vez neutralizados nossos caças, ficaremos totalmente vulneráveis, uma vez que os poucos gepard existentes se destinam, também, a defesa de curto alcance.

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RBS 70

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Igla SA-24

 

Tenho visto muitos pilotos brasileiros comentarem, talvez por ingenuidade, que a “dobradinha” EMB R-99 + F-5M seria capaz de “segurar” os SU-30MKK venezuelanos. Pois os F-5M voariam “apagados” (radar desligado) e receberiam por datalink com o R-99 a posição dos SU-30 , podendo disparar seus mísseis BVR antes de serem detectados. Nada mais pueril. O voo de um ZDK-03 até a Venezuela demora menos de 1 dia (compra de urgência). Lembrando que a Venezuela já opera o Y-8 (no qual o ZDK-03 é baseado), de modo que adquirir um ZDK parece o natural, pois pulverizaria essa “vantagem” brasileira, uma vez que o radar do ZDK-03 é um AESA ainda mais potente que o Erieye usado no R-99 brasileiro.  Isso, claro, na hipótese do potentíssimo radar dos SU-30 (190 km de detecção aérea) realmente não conseguir “enxergar” um F-5M “apagado” a tempo e o abater com seus mísseis R77 (até 110km de alcance)…

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ZDK-03

No imaginário Venezuelano (segundo observei de vários fóruns de língua espanhola), uma eventual guerra com o Brasil se daria por ar, onde os Bolivarianos teriam larga vantagem pois, uma vez neutralizados nossos 43 caças F-5M, os modernos caças russos SU-30, bem como seus F-16 de origem americana, poderiam voar impunemente sobre os céus do Brasil, desde que a média ou alta altitude. Em contrapartida, suas baterias de mísseis S-300, S-125, bem como ainda os BUK tornariam “inviável” uma incursão aérea brasileira na Venezuela/Bolívia.

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Sistema de defesa antiaérea BUK

Isso porque, além de terem superioridade aérea, a distância de suas fronteiras para os grandes centros militares brasileiros (a região sul concentra a grande maioria de nossa força de blindados) inviabilizaria, teoricamente, um rápido contra-ataque por terra do Brasil. Seria como, numa comparação, atirar de estilingue num inimigo em campo aberto, enquanto se abriga atrás de um muro. O “estilingue” representaria a superioridade aérea e o “muro” a própria “defesa natural” que inviabilizaria um contra-ataque terrestre eficiente, por questões logísticas.

Logo, a “ameaça bolivariana” feita por Morales deve ser levada a sério. E foi.

Por coincidência (ou não), a resposta “diplomática” das FFAA brasileiras já estava a caminho. A estratégia do “estilingue atrás do muro” foi derrubada.

Sem alarde, o exército brasileiro pôs em campo duas operações militares: I- operação Bormann (10 e 23 de outubro de 2015), onde se realizou testes de grande deslocamento de blindados por via ferroviária de SC até o PR; II- uma segunda operação, finalizada em 29/09/2015, que sequer recebeu nome (chamei de “As portas abertas da Venezuela), onde, pela primeira vez na história, foi feito o deslocamento de um tanque pesado por rio até a fronteira da Venezuela (link do facebook do exército brasileiro).  E, como diz o popular, “…onde passa um boi, passa uma boiada…”.

Uma ilustração vale mais que mil palavras.

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Estas duas singelas operações criaram uma variável nova no tabuleiro das possibilidades Bolivarianas, pois as baterias de defesa antiaérea venezuelanas poderiam ser neutralizadas por um mix de ataque terrestre em conjunto com uso de mísseis MAR-1 brasileiros e baterias de ASTROS. Fato que, ainda, coloca Nicolás Maduro em “barbas de molho” com relação a suas ameaças de atacar a Guiana.

Mas a “diplomacia do aço” não parou por aí. Ainda na mesma época ocorreram as operações: I- operação de ataque “Formosa 2015”, com adestramento de fuzileiros navais e, coincidentemente, o uso do ASTROS em conjunto com o jato AF-1  e II- operação “Príncipe da Beira”, exatamente às portas da Bolívia… (links do exército brasileiro).

A inteligência e sutileza de nossas FFAA devem ser aplaudidas e o desenrolar dos fatos servem para mostrar que os moços não estão “dormindo”, ao contrário do que dizem alguns. Porém, serve mais uma vez para denunciar nosso “eterno calcanhar de aquiles” (defesa terra-ar), fato que vem sendo criticado por mim há anos, desde os tempos em que era redator do www.aestrategia.com (hoje defunto). Claro que os recursos são escassos e, pior que isso, inconstantes. Mas evitar a supremacia aérea (segundo a NATO, corresponde a”…degree of air superiority wherein the opposing air force is incapable of effective interference…”) ao inimigo é vital para qualquer país, mormente um de dimensões continentais.

Em que pese isso, ponto para os estrategistas nacionais.

IRAN PORÃ MOREIRA NECHO

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P.S: SOBRE O FILA- Alguns criticaram a ausência de comentários sobre o sistema de defesa aérea de ponto FILA EDT da Avibrás, porém o mesmo cai na mesma questão de ser um sistema de defesa de baixa altura. O sistema fila foi decorrente da compra, feita pela Avibrás, de um projeto da antiga Oerlikon Contraves (comprada pela Rheinmetal) para produção local. A EDT (estação diretora de tiro) usa de canhões AA Oerlikon do modelo GDF-001 (versão inicial, de 1959, com baixa qualidade de controle de tiro), do qual o Brasil possui cerca de 38 unidades com sistema ótico XABA (apenas operação diurna), bem como outras 24 unidades do canhão Bofors 40mm. A EDT possui cerca de 15km de alcance (mas o canhão GDF-001 em si, tem alcance teórico de 4.000m) e corresponde a um Super Fledermaus/Skyguard fabricado localmente.

 

Porém, apenas a título de comparação, a Venezuela possui cerca de 300 canhões ZU-23-2 para um território muitíssimo menor que o Brasil. A versão venzuelana corresponde à mais moderna:  “ZOM-1-4” de operação elétrica, que incorpora computador de tiro, sistema de mira atualizado com telêmetro laser, câmeras de TV e visor infravermelho.

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Canhão Zu-23-2

Existe um kit que permite fazer upgrade das Oerlikon para a verssao GDF-005 (com sistema autônomo de mira e outras melhorias), ou ainda, com mais investimentos, fazê-las usar munição AHEAD (Advanced Hit Efficiency And Destruction), porém o número ridículo de 38 unidades  é “o problema”.