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Artigos-->Festival de MPB na Globo: um kit(sch) completo -- 20/08/2000 - 21:03 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Depois de muito relutar, assisti à primeira

eliminatória desse festival que a Globo insiste

em nos fazer crer que seja um acontecimento

no âmbito da Música Popular Brasileira.

A única novidade mesmo fica por conta dos

cenários: cada canção trazendo já o seu kit(sch)

completo. Numa delas, havia uns bonecos inflados,

balançando no alto, por entre

um não acabar mais de estrelinhas, miríades delas,

num céu improvável. Me fez lembrar aquele cenário

espantoso do show dos Rolling Stones, cuja

tournée inclui São Paulo e Rio de Janeiro pela

primeira vez em anos, cenário que a

auto-complacência de alguns deslumbrados queria

creditar à inspiração de Joãosinho Trinta. Aquela

velha história do gênio brasileiro pilhado pelos

donos do mundo. Em termos de cenografia,

houve de tudo, até um trenzinho caipira querendo

atropelar a platéia com recordações de

idos tempos, antes, muito antes da banda passar.

E, cá entre nós, aquele intérprete da música do

trenzinho, aquilo é coisa feita. O rapaz

parecia mesmo acreditar que ali começava uma

carreira das mais brilhantes ou, pelo menos,

de um certo sucesso. De chapéu ou depois de tirar

o chapéu, o moço passa uma impressão das mais

esquisitas. E o tal trenzinho foi tirado de cena,

ex abrupto, ainda enquanto o moço e seu gordo

parceiro entoavam o refrão que terá, por certo,

emocionado o júri. Xi, Pirituba...

E a lista dos jurados foi lida pelo tão nosso

Serginho Groismann, numa brecha qualquer do

extenso programa, sendo quase repetida antes

do anúncio das escolhidas. Mas o Serginho houve

por bem deter-se apenas no nome do poeta

e letrista Geraldinho Carneiro.

Bem, ganhou a bela interpretação

da Mônica Salmaso, "emoção pura", no dizer dela

mesma, mas todo festival precisa ter o seu

"Eu e a Brisa", não é mesmo?



Voltando ao Serginho Groismann, na Globo ele parece

fadado a aparições chiques como essa, não tendo

exatamente um papel sobre o palco. Nisso também,

a grande novidade, o apresentador e os

comentaristas têm o mesmo papel, ou seja,

quase nenhum. É só encher lingüiça, como se

dizia nos meus tempos de colégio. O espetáculo

não pode parar. Daí, a insistência com que

abordavam os espectadores presentes ao recinto de

onde a coisa era televisionada. Até o Sócrates

Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira,

o irmão do Raí, estava ali para conferir a

performance da conterrânea Simone Guimarães, que

se mostrava muito feliz e confiante, aliás, como

todos os outros concorrentes, nas coxias, depois

de sua interpretação, "luminosa", na expressão

também satisfeita da sorridente e sempre

sorridente, e insuportavelmente sorridente Maria

Paula, cujo entusiasmo parece querer dizer que

a vida não passa de um imenso "Casseta & Planeta".

Tudo muito pândego e engraçado.



E algum leitor poderia me jogar na cara esse

ressentimento-fel dos dinossauros, daqueles que

acreditam que festival mesmo só aqueles dos

áureos tempos, ou que a presença do Caetano

Veloso, para fazer o pocket-show do intervalo,

foi, como não poderia deixar de sê-lo, o momento

mais "bonito" da noite, mesmo com aquele vacilo

no momento em que deveria atacar de "Trilhos

Urbanos".



Bom mesmo, em termos de espontaneidade, talvez

o único momento de verdade mesmo nesse suposto

acontecimento musical, foi aquela senhora

da platéia, que precisou fuçar, mas fuçar

muito mesmo, o folhetinho com as letras das

músicas, para não encontrar a sua preferida.

Tê-la-á encontrado? (Ficamos sem saber, pois o

entrevistador seguiu em frente, para concluir,

quase sem sombra de dúvida, que "Taubaina" estaria

entre as classificadas.



Esse moço da "Taubaina", então! Alguma coisa

nele me faz lembrar o Maurício Mattar. Não

musicalmente, não é isso. Mas no semblante,

na expressão já prontinha para um estrelato rápido

e, talvez depois, uma pontinha em novela, ou, mais

depois ainda, alguma fase difícil, um namoro

tumultuado, que ele haverá de superar, é claro.

E tudo isso por ter vivido, com tal precocidade,

os seus 15 minutos de fama.



Ninguém se lembrou de avisar, mas algo me diz que,

para Walter Franco, a direção do festival havia

previsto uma reação, no mínimo, desfavorável.

Tampouco informaram que zen mesmo era o citarista

Alberto Marsicano, de tantos serviços prestados

à cena alternativa de São Paulo.



Mas também se esqueceram de dizer, depois,

que ali atrás, enquanto o mundo entoava "Sozinho"

do Peninha, estava o arranjador que já foi

de Jobim e que hoje é de Caetano, com o seu cello

indefectível e sua invisível batuta, o Jacquinho

(Morellenbaum, para os que não são íntimos).

Deu para se saber que o Brasil da Globo continua

uma terra de canários, neste momento em que

uma equipe de cientistas da UNICAMP,

da USP e da FUNDAÇÃO ROCKFELLER anuncia

o mapeamento completo, pasmem!, do

sistema nervoso dos beija-flores.



Mas volto ao assunto, já que isso não tem nada

a ver nem com festivais. É claro, estou voltando

ao assunto, havia torcidas. No título deste artigo

eu já adiantava: kit(sch) completo. Uma das mais

barulhentas, sem dúvida, era composta por três

garotas, maravilhadas com a energia que tinha

rolado durante a apresentação daquele rap não

sei das quantas. Uma coisa bem jovem, tá ligado?

é isso aí, mano. É a juventude se afirmando.

E o valoroso Serginho Groismann não perdeu a

oportunidade e fez uso daquele seu tom eivado de

credibilidade, informalmente informando que

o "rap" era, na verdade, uma palavra composta pelas

iniciais de "music & poetry" - vejam só quanta

coincidência, em plena música brasileira, aliás,

foi aqui que tudo começou com as emboladas,

Jackson do Pandeiro, e com o Jair Rodrigues

cantando "Deixe que digam, que pensem, que....".

Foi uma das intervenções culturais mais

informativas, sem dúvida, da noite de abertura,

e, não é tão difícil assim prevê-lo, talvez

de todo o festival.



O fato é que acabei assistindo a tudo isso,

depois de muito relutar, porque a campanha

massacrante realizada pela Globo foi para não

dar margem a qualquer dúvida, aquilo ia ser um

porre.



Mas Caetano Veloso também fez questão de incluir

"ALEGRIA ALEGRIA", porque também não ficaria bem

insistir na "injustamente" (diga-se, apenas

de passagem... fica chique!) vaiada "É PROIBIDO

PROIBIR". E deixou o palco exultante, mas também

humilde, se desculpando com o maestro Jacquinho

pela tropeçada, de resto compreensível numa

noite de tanta genialidade tropical e tão permeada

por recordações fagueiras.



Mas houve um grande momento, sim, um lampejo,

um instante de magia, daqueles que nos fazem

acreditar que o país não é essa palhaçada kitsch

que a Globo nos impinge como sendo a nossa

cultura: esse chiquê que já vem tão mal das pernas nos

domingões do Faustão e nas novelas, essa mania

da embalagem vistosa para encobrir o vazio, se

não a lavagem ideológica pura e simples.

Foi por ela, aliás, que consegui vencer a minha

resistência. Foi por ela que enfrentei

galhardamente a hora e meia de quase nada ou

muito pouca coisa. E ali estava, de novo,

o Caetano que dizia, discursando em meio às

vaias para "É proibido proibir", ter entrado

e saído de todas as estruturas, naqueles tempos

em que o viva e a vaia, acreditávamos, brotavam

espontaneamente das platéias.

Hoje se sabe que ele mais entrou do que saiu

das ditas estruturas, e que a sua presença,

ali, só fazia repetir o mesmo gesto ambíguo

tão nosso conhecido em tantos anos de íntima

e intensa convivência com o mito na mesma tela

da Globo. E ele também teve o seu momento,

e ter-se-á redimido, com certeza, perante

os rancorosos dinossauros, como coadjuvante

emocionado da presença negra e forte de

Virgínia Rodrigues, transformando em acalanto,

em mais um lance genial do próprio Caetano,

agora também produtor, uma das músicas

imortalizadas pelo grupo Olodum no carnaval

baiano. Foi num dos ensaios do Grupo

de Teatro do Olodum que ele vislumbrou um futuro,

ainda, para ela, para ele próprio, para nós

todos, para a nossa música. Virgínia Rodrigues

agora é do mundo. E não sei não... Pela reação

da platéia do festival da Globo, parece fadada

a não emplacar por estas bandas. Nem chique,

nem kitsch. Virgínia Rodrigues é puro

alumbramento.



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