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Ensaios-->MARECHAL CÂNDIDO MARIANO RONDON "O GUERREIRO DA PAZ" -- 07/05/2015 - 18:17 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

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MARECHAL CÂNDIDO MARIANO RONDON

 

"O GUERREIRO DA PAZ"

Coronel Cláudio Moreira Bento

SUMÁRIO

Significação histórica

Naturalidade, filiação, família e primeiros tempos

Formação militar e a filosófica positivista

A carreira militar

O soldado Rondon e as revoluções

Principais funções exercidas por Rondon

A projeção da obra ciclópica de Rondon

A consagração de Rondon

Projeto Rondon – a consagração universitária de Rondon


 

Significação histórica

O Marechal Cândido Mariano Rondon, maior desbravador, civilizador, sertanista, bandeirante e inspetor militar de fronteiras mundiais, em terras e selvas tropicais, foi consagrado pelo Dec. 51.560, de 26 abr 1962, patrono da Arma de Comunicações, por haver chefiado a implantação, no Brasil ,de 8.000 Km de linhas telegráficas.

Por quase 40 anos, este foi um fator de integração, unidade e desenvolvimento, além de ser essencial ao exercício da soberania brasileira sobre a imensa faixa de fronteira e sobre os grandes vazios demográficos na Amazônia e no Centro Oeste.

A obra de Rondon foi também fundamental para apoiar a Marcha para Oeste e para o Norte, uma preocupação que vinha desde o Império para que os vazios demográficos do Centro Oeste e do Norte fossem a cada dia mais povoados ,explorados economicamente e por conseqüência conquistassem maior expressão política .Em virtude desse pensamento, surgiu o Projeto Rondon, que, sob a inspiração de sua vida e obra provocou, de 1968 a 1989 ,a marcha em especial para o Oeste e para o Norte, da Universidade através de seus alunos em férias ,que conhecerem por meio de estágios de serviços as realidades brasileiras ao vivo e não na teoria .

Linhas telegráficas que com seus picadões de 40 metros de largura prestariam serviços a circulação humana e de riquezas com maior capacidade que as primitivas e estreitas trilhas indígenas .Foram elas também fator de Paz Social por levarem em sua vanguarda Rondon – "O Pai Branco, " o "Apóstolo das Selvas " de nossa população indígena, por ele redimida, valorizada, protegida de massacres e explorações , compreendida e amada, fiel a seu lema – "Matar, nunca. Morrer se preciso for."

Rondon como soldado, no Paraná e em Santa Catarina, teve brilhante desempenho pacificador ao evitar mal maior. Perguntado ao General Gamelin, chefe da Missão Militar Francesa (MMF) , na hipótese de uma guerra qual general seu ex-aluno que indicaria para comandar o Exército Brasileiro? Respondeu - o General Cândido Mariano Rondon!

Ele soube bem conciliar a sua filosofia positivista – a Religião da Humanidade, com a profissão de Soldado do Brasil, do que deu cabal demonstração de conhecimentos como aluno da Missão Militar Francesa (MMF), nas Manobras de Saicã, em 1922; e em Pirassununga, em 1926; e na pacificação da Revolução de 1924, no Paraná e em Santa Catarina. E , como positivista , adepto da Religião da Humanidade, ao impor-se ao mundo por sua obra ciclópica, sem igual, de explorador de selvas tropicais e em favor do índio.

Foi o delegado do Ministro da Guerra Pandiá Calógeras para, como Diretor de Engenharia do Exército, semear modernos e confortáveis quartéis pelo Brasil, os quais, cuidados com desvelo por seus ocupantes, há mais de 76 anos prestam valiosos serviços ao Exército .

Este grande brasileiro, pelo conjunto de sua obra monumental, foi consagrado, de justiça, pelo Povo Brasileiro, como Marechal Honorário do Exército, por decisão do Congresso Brasileiro, traduzido na Lei nº 2.409 de 27 jan 1955, além de ser dado o seu nome ao Território e atual Estado de Rondônia que ele desbravara . Em seus quase 93 anos de vida, o Marechal foi fidelíssimo ao seu pensamento:

"Mais importante que a vida é o espírito com o qual a vivemos."

Seu nome foi imortalizado e consagrado internacionalmente na Sociedade Geográfica de Nova York quando foi inscrito em letras de ouro sólido ao lado de outras três grande sumidades internacionais :

Amundsen - O descobridor do Pólo Sul.

Peary – O descobridor do Pólo Norte.

Byrd – O explorador que mais fundo penetrou em terras árticas .

Rondon – O explorador que penetrou mais extensamente em terras

tropicais

Já o ex-presidente dos EUA Coronel Teodoro Roosevelt, depois de viajar pelo Mato Grosso e Amazonas guiado por Rondon, assim interpretou a sua obra em entrevista em jornal de New York :

"A América pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao Norte o Canal do Panamá ,ao Sul o trabalho do Coronel Rondon – científico, prático e humanitário."

A grande e nobre aventura de sua utilíssima vida, devotada à Humanidade e ao Brasil, ele a contou a sua amiga e vizinha, a escritora Esther de Viveiros, durante quase 8 meses de convívio diário e com apoio em consulta a seus diários. O resultado foi a citada escritora traduzir seu trabalho na obra Rondon conta a sua vida (Rio de Janeiro: Cooperativa Cultural dos Esperantistas ,1969, de 617 páginas) . Trabalho prefaciado pela acadêmica de Letras Raquel de Queiroz que escreveu:

"De Rondon o biografado, Esther de Viveiros conta. E verão como ela conta maravilhosamente bem !"

Rondon, por sua obra em prol da Paz, ideal que esteve sempre presente e perseguido em suas atuações ,foi proposto em 1957 por 15 nações para o Prêmio Nobel da Paz .

Naturalidade ,filiação , descendentes e primeiros tempos.

Cândido Mariano Rondon nasceu em Mimoso, antiga sesmaria de Morro Redondo, próximo de Cuiabá, em 5 mai 1865, depois de esta ter sido ameaçada de ser conquistada pelos paraguaios, o que não conseguiram por ter sido barrado o seu avanço pelo Almirante reformado Leverger , em Melgaço, posição que ocupara em 20 jan 1865 .

Assim, Rondon nasceu com parte de Mato Grosso invadido e sua população isolada e em pânico. Seu pai foi Cândido Mariano da Silva, falecido antes de ele nascer (no final de dezembro de 1864), quando teve lugar a invasão de Mato Grosso, ao tempo do ataque paraguaio ao Forte de Coimbra, em 29 nov 1864

Sua mãe, Claudina de Freitas Evangelista da Silva, faleceu quando Rondon tinha 2 anos. Órfão de pai antes de nascer e de mãe quando ainda não tinha percepção da perda, foi criado pelo avô paterno que o ensinou a ler. Aos 7 anos foi viver em Cuiabá com o tio, Manoel Rodrigues, que ficou viúvo quando Rondon tinha 9 anos. Freqüentou a escola do mestre Cruz e alternava estudos com as funções de ajudante na venda do tio .

A seguir ,em 1874, com 9 anos, foi cursar a Escola Pública. Concluiu o primário aos 13 anos. Daí foi para a Escola Normal que concluiu com distinção aos 16 anos em 1881

Foi nomeado professor, quando então decidiu ingressar no Exército, o que fez em 26 nov 1881, no 2 o Regimento de Artilharia a Cavalo e na qualidade de soldado com destino à Escola Militar da Praia Vermelha. Foi incluído na 4a Bateria então comandada pelo Capitão Hermes da Fonseca, futuro Ministro do Exército e Presidente da República e atual denominação histórica da 1a Região Militar, cujo processo tivemos a honra de sugerir e instruir historicamente .

Rondon casou em 1º fev 1992 com Francisca Xavier (Chiquita ) ,aos 27 anos. Serviram-lhe de padrinhos o Cel Ernesto Gomes Carneiro, futuro herói mártir do Cerco da Lapa no Paraná, em 1893, e atual denominação histórica do 7 o BI Mtz de Santa Maria – RS, e a viúva do General Benjamin Constant, seu antigo mestre e amigo na Escola Superior de Guerra, em São Cristóvão.

Deste feliz consórcio nasceram : Heloisa Aracy, em 13 nov 1892, nome homenagem à última filha de Benjamin Constant ; Bernardo Vito Benjamin ,em 28 abr 1894, também homenagem a Benjamim Constant, "O fundador da República "; Clotilde Teresa, homenagem a Clotilde Devaux, ligada ao Positivismo ; Marina Sylvia ; Beatriz Emília ; Maria de Molina e Branca Luiza. Em 1969 descendiam de Rondon 30 netos e 20 bisnetos

Ao retornar Letícia, em 1934, de sua missão pacificadora, mandou erguer com seus recursos próprios ,em Mimoso, a Escola Santa Claudina, em homenagem à mãe, e a Escola Rural Cândido Mariano da Silva, em homenagem ao pai de quem herdou o nome próprio . Da mãe herdara o sobrenome Rondon. A sua esposa Francisca assim a lembrou no Congresso, em cerimônia que o consagrou Marechal Honorário do Exército:

"Vida de amor foi a de Francisca, por isso eterna, pois eterno é o viver para outrem ."

Formação militar e a filosófica positivista

Cursou na Escola Militar da Praia Vermelha (1883-85) o Curso Preparatório em 1883, o de Infantaria, Cavalaria e Artilharia Por motivo de perturbações digestivas, repetiu o 2º ano em 1886 e fez o 3º ano em 1887. Em 1888 fez o Curso de Estado - Maior de 1ª Classe. Em 1889 cursou Matemática e Ciências Físicas e Naturais da Escola Superior de Guerra de onde saiu, em 8 jan 1890, com o título de Engenheiro Militar e com o diploma de Bacharel em Matemática e em Ciências Físicas e Naturais. Foi o 1º lugar do Curso em sua turma

Rondon foi um fiel seguidor do Mestre Benjamin Constant, na Filosofia Positivista – a Religião da Humanidade , pregada por Augusto Comte. E, em decorrência, a favor da Abolição e da República, em cuja conspiração tomou parte com Augusto Tasso Fragoso. Isto ao servirem de ligação ,a cavalo, do foco revolucionário concentrado em São Cristóvão e na madrugada de 15 nov 1889, com o Alte Wandenkolk no Clube Naval . Ao falecer, foram as últimas palavras de Rondon: "Viva a República !"

Aliás, Rondon e Tasso Fragoso foram coerentes com as suas carreiras destinadas à Defesa Militar do Brasil e com a Religião da Humanidade, valores que conciliaram. Ambos foram profissionais militares de escol, ao contrário de muitos companheiros, que usaram a profissão militar como escada de ascensão social, e não foram fiéis a sua destinação de defender o Brasil em nome da Religião da Humanidade. Atitudes que em grande parte foram responsáveis pelo grande equívoco do ensino do Exército de 1874 a 1905 sobre a égide do bacharelismo militar que atuava preconceituosamente contra os profissionais militares chamados depreciativamente de" tarimbeiros" e os cursos militares profissionais, de" cursos alfafa".

E sobre eles pesam as responsabilidades pelas tragédias da Guerra Civil (1893-95) na Região Sul, da Revolta na Armada (1893-94) e da Guerra de Canudos em 1897 , situação que Tasso Fragoso , positivista, conforme abordamos em artigo "General Augusto Tasso Fragoso " (Revista A Defesa Nacional nº 750 nov/dez 1990 p. 105/117), começaria a ajudar a reverter com sua estada na Europa para corrigir seqüelas de ferimento recebido no combate da Armação em 1893 para debelar a Revolta na Armada. Isto ao constatar o enorme fosso doutrinário entre os exércitos da Europa e o do Brasil, ocasião que em artigo na Revista do Brasil sugeriu a criação do Estado – Maior do Exército, o que seria concretizado pelo Ministro da Guerra General João Nepomuceno Medeiros Mallet . Iniciativa marco de uma virada de 180 graus no rumo do Ensino do Exército concretizado com o Regulamento de Ensino de 1905 ,ponto de inflexão do bacharelismo para profissionalismo militar que até hoje se sustenta e imposto em decorrência da Revolta da Vacina Obrigatória da Escola Militar da Praia Vermelha em 1904, seguida de seu fechamento e logo a seguir extinção, para ressurgir em 1906, em Porto Alegre de 1906-11, como Escola de Guerra , cujos alunos dela egressos iriam liderar a profissionalização do Exército. Constatar é obra de simples raciocínio e verificação de nosso artigo "A Esquecida Escola de Guerra de Porto Alegre no ensino acadêmico militar do Exército de 1792-Atualidade ." (Revista do IHGB ,155(383):423-427,jan/mart .1994)e de nosso álbum Escola de Formação de Oficiais das Forças Armadas do Brasil. ( Rio de Janeiro : FHE/POUPEx . 1989) .

.Tasso Fragoso analisou os desvios de falsos positivistas e suas conseqüências para o Exército, na apresentação do clássico: A batalha do Passo do Rosário (Rio de Janeiro: Imprensa Militar,1922). Obra que o elevou à condição, para alguns ,de "Pai da História Militar Crítica do Brasil". Vale a pena ser lida a sua apresentação!

Sobre Rondon, positivista, debatemos com o Cel João Marinônio Aveiro Carneiro e muito o auxiliamos em sua obra Filosofia e educação na obra de Rondon ( Rio de Janeiro : BIBLIEx ,1988) .Colaboração na interpretação e subsídios ao título - O Positivismo e as Forças Armadas e, em seus subtítulos: O positivismo e o Ensino Militar; A Reforma Militar; A Biblioteca do Exército e, a Formação positivista de alguns personagens brasileiros( p.38-54).

Subtítulos que merecem leitura atenta de parte de profissionais militares brasileiros .Obra em cujo Posfácio a professora de Filosofia da UFRJ-UERJ Creusa Capalbo assim se expressou :

"Com efeito Rondon procurou combinar o seu compromisso de militar com a Defesa da Pátria, com as idéias da Religião e da Humanidade ......

E que Rondon realizou a prática humanista pregada pelos positivistas: buscar a integração dos indígenas com o Brasil em seu processo de desenvolvimento civilizatório. "

A obra do Cel Carneiro ,como prefácio, reproduziu o Credo de Rondon de inspiração positivista:

"Eu Creio:

Que o homem e o mundo são governados por leis naturais.

Que a Ciência integrou o homem ao Universo, alargando a unidade constituída pela mulher, criando , assim , modesta e sublime simpatia para com todos os seres de quem , como poverello , se sente irmão .

Que a Ciência, estabelecendo a inateidade (sentimento nato) do amor , como a do egoísmo, deu ao homem a posse de si mesmo .e os meios de se transformar e de se aperfeiçoar .

Que a Ciência, a Arte e a Indústria hão de transformar a Terra em Paraíso, para todos os homens, sem distinção de raças, crenças, nações – banido os espectros da guerra, da miséria, da moléstia .

Que ao lado das forças egoístas – a serem reduzidas a meios de conservar o indivíduo e a espécie – existem no coração do homem tesouros de amor que a vida em sociedade sublimará cada vez mais .

Nas leis da Sociologia, fundada por Augusto Conte, e por que a missão dos intelectuais é, sobretudo, o preparo das massas humanas desfavorecidas, para que se elevem, para que se possam incorporar à Sociedade .

Que, sendo, incompatíveis às vezes os interesses da Ordem com os do Progresso, cumpre tudo ser resolvido à luz do Amor .

Que a ordem material deve ser mantida, sobretudo, por causa das mulheres, a melhor parte de todas as pátrias e das crianças, as pátrias do futuro.

Que no estado de ansiedade atual, a solução é deixando o pensamento livre como a respiração, promover a Liga Religiosa, convergindo todos para o Amor, o Bem Comum, postas de lado as divergências que ficarão em cada um como questões de foro íntimo, sem perturbar a esplêndida unidade – que é a verdadeira felicidade . "

Rondon ingressou na Igreja Positivista ao final de 1898, como major e como ardoroso membro na teoria e na prática positivista.

A carreira militar de Rondon

Praça em 26 nov 1881. Alferes - Aluno em 4 jul 1888. 2º Tenente em 4 jan 1890. 1º Ten, três dias depois, por serviços relevantes à Proclamação da República, no mesmo ato em que o Marechal Deodoro foi promovido a Generalíssimo e Benjamim Constant a general, em 7 jan 1890. Capitão graduado em 24 set 1892. Major, por merecimento ,em 8 jul 1903. Tenente -Coronel, por merecimento, em de 5 ago 1908. Coronel, por merecimento, em 3 abr 1912. General de Brigada, em 1º jul 1919. General de Dvisão graduado, em 17 dez 1923. General de Divisão efetivo, em 17 dez 1924, e reformado no mesmo posto, em 6 nov 1930, com quase 50 anos de efetivo serviço . Marechal Honorário (Lei nº 2.409, de 27/01/1955) em 5 mai 1955. Falecido em 19 jan de 1958, com 92 anos ,8 meses e 14 dias .

O soldado Rondon e as revoluções

Tendo feito curso brilhante de atualização com a Missão Militar Francesa e , tendo como instrutor o próprio General Gamelin e além bem sucedido no comando de uma das peças de manobras nas Manobras de Saicã de 1922, Rondon foi convidado para arbitrar a veracidade ou não "com a sua consciência de homem de bem", o incidente das Cartas Falsas atribuídas a Arthur Bernardes, mas ele declinou em carta ao Senador Raul Soares .

Em 1922 foi convidado inclusive pelo positivista Dr Borges de Medeiros para comandar a Revolução de 1922 , o que recusou sob o argumento:

"Somos positivistas e não podemos tomar parte em movimento subversivo, pois o Positivismo nos ensina que é preferível um governo retrógrado do que a mais progressista revolução. Aderir à Revolução é ir de encontro aos princípios que abraçamos que só visam ao bem da Pátria e da Humanidade. O Exército como o concebem os franceses deve ser o grande mudo, pronto a se sacrificar pelo bem da Nação, sem intervir em mesquinhas questões de politicagem ."

De 1º out 1824 a 12 jun 1925, por 8 meses e 12 dias, Rondon exerceu o comando das Forças em Operações contra os revolucionários do Gen Isidoro Dias Lopes e com o seu QG em Ponta Grossa. Foi para ele a missão mais difícil e um drama de consciência ter de combater irmãos. Drama para o qual encontrou solução junto com a esposa depois de ser avisado pelo Major Euclides Figueiredo que o Ministro da Guerra iria convidá-lo no outro dia para a missão, decidiu com a esposa :

" Que a missão era pacificadora em prol do Bem Comum e a serviço da Humanidade e assim da Pátria e da Família e que em conseqüência tinha obrigação de defender o Governo constituído . "

Foram seus oficiais de Estado Maior Eurico Gaspar Dutra, Aurélio Goes Monteiro que teriam grande projeção no cenárionacional e no Exército nas décadas de 30 a 50 e mais o pai do Gen Ex Jorge Correia .

Atuou procurando reduzir ao mínimo as conseqüências da luta fratricida usar regimentos policiais da Bahia e Rio Grande do Sul e, assim, evitar lançar integrantes do Exército, uns contra os outros.

A batalha maior foi em Catanduvas. Ali os revolucionários, ao comando do Capitão Nelson de Melo, foram cercados e aprisionados. Rondon forçou a Revolução a internar-se no Paraguai de onde passou para Mato Grosso ao comando do General Miguel Costa, dando origem à Coluna Miguel Costa /Prestes que passou à História, por manipulação política ,como Coluna Prestes, trabalho de reparação histórica a que tem se devotado o Cel Gay Cardoso Galvão em sua obra Coluna Prestes Por quê ? lançada em 1999 ,com prefáçios depoimentos do Gen Hélio Ibiapina Lima e do Cel Jarbas Passarinho e nosso comentário nas orelhas desta esclarecedora obra .

O Gen Rondon cuidou de enviar Nelson de Melo, o futuro comandante do 6º RI, que presidiu a rendição alemã à FEB em Fornovo ,e junto seus companheiros , por caminhos discretos para não serem desacatados e humilhados. Elogiou o Capitão Juarez Távora que recusou o reforço de tropas paraguaias para lutar contra o governo brasileiro.

Rondon, nesta missão, quase teve o mesmo destino, ali no Paraná, do seu primeiro chefe, o Cel Ernesto Gomes Carneiro, ferido mortalmente no Sítio da Lapa, em 1893, depois de haver cumprido a sua missão de retardar ali os federalistas, pelo tempo necessário ao governo para reforçar a frente defensiva em Itararé .

Os revolucionários no Paraná elaboraram um plano sinistro para matar Rondon em sua barraca. Plano a ser executado pelo célebre Ten Cabanas, da Polícia Militar de São Paulo. Ocorreu que quando Cabanas atingiu a barraca de Rondon, por obra da Providência Divina, ali não o encontrou. Foi assim que Rondon escapou ao trágico, mas heróico destino de seu amigo e padrinho de casamento e primeiro comandante na tropa, Gomes Carneiro.

Antes, Rondon, por pouco, não fora morto por setas venenosas dos nhambiquaras depois da descoberta do rio Juruema, em 7 set 1913, conforme contou mais tarde .

"Eu caminhava pela selva e de repente senti um vento junto ao meu rosto. Percebi que era uma seta. Uma segunda flecha roçou minha nuca.

Divisei, bem próximo, dois nhambiquaras com arcos retesados prestes a desferir novas flechadas.

Disparei duas vezes sem fazer pontaria e recebi uma terceira flechada.

A bandoleira de couro de minha espingarda impediu que a flecha me atingisse o peito. Tratava-se de uma flecha envenenada que figura, hoje, no Museu Nacional. Os estampidos espantaram os índios.

Meus companheiros queriam ir ao encalço dos nhambiquaras, mas, fiel ao meu programa de só penetrar no sertão com a paz e jamais com a guerra, não consenti na menor represália.

Resolvi, pondo de lado qualquer orgulho militar, bater em retirada.

Tive muita dificuldade em convencer o pessoal de que nossa missão devia ser fraternal e pacífica, nunca de guerra!

O regresso foi difícil. Gastara, na expedição, dois meses e vinte e sete dias. Percorrera 967 Km."

Fala do seu competente desempenho como soldado, no combate à Revolução de 1924, o seguinte aviso do Ministro da Guerra, o Gen Setembrino de Carvalho, no Boletim de 17 ago 1924 ,do Departamento da Guerra :

"O General Cândido Mariano Rondon, como Comandante em Chefe das Tropas de Operações contra os rebeldes no Paraná e em Santa Catarina, impôs - se a nossa franca admiração, pela capacidade de que deu provas do cabais desempenho das funções a que foi chamado a exercer, tendo realizado com inquebrantável energia cívica uma grande obra em benefício da civilização. Temos por isso de louvar, em nome do Presidente da República, esse general que acaba de enriquecer a sua fé de ofício com uma página brilhante de inteligência, cultura, iniciativa, ponderação, magnanimidade e tenacidade que o tornam incomparável Chefe Militar . "

O Gen Setembrino de Carvalho o considero o Pacificador do Século XX , por haver pacificado a Revolta do Padre Cícero, no Ceará, em 1910; o Contestado, no Paraná e em Santa Catarina, em 1916; e a Revolução de 1923 no Rio Grande do Sul. Chefe que escolheu a dedo Rondon para pacificar a Revolução de 1924 ,também no Paraná e em Santa Catarina que ele havia pacificado 8 anos atrás .

A Revolução de 30 foi encontrá-lo no olho do furacão — o Rio Grande do Sul. Foi preso em Marcelino Ramos pelo General Miguel Costa que comandara a Coluna Miguel Costa. Foi escoltado de Marcelino Ramos a Porto Alegre por juristas enviados por Getúlio Vargas. Pediu para ser preso em navio como o comandante deposto da 3a RM, mas foi-lhe recusado, sendo acomodado no Grande Hotel, tendo Porto Alegre por menagem. Ali se hospedavam Osvaldo Aranha e esposa que o procuraram e tudo fizeram para que aderisse à Revolução, o que ele se recusou com a mesma argumentação positivista usada em 1922.

Teve então um grande choque ao ouvir que Juarez Távora havia dito a jornalistas que considerava "Rondon dilapidador dos cofres públicos, a distribuir pelo sertão bruto linhas telegráficas aos índios, para lhes servir de brinquedo e que em qualquer país civilizado e policiado, um general como Rondon estaria na cadeia."

Mais tarde, em 29 mai 1956, passadas as paixões políticas, Juarez Távora se retratou em carta a Esther de Viveiros:

"Esclareço que o fato de haver oposto restrição quanto à oportunidade do empreendimento (linhas telegráficas) do Marechal Rondon, não significava desapreço pelo conjunto de sua obra sertanista - e aí incluo o nobre esforço de catequese leiga de nossos índios — Rondon foi sem dúvida um pioneiro."

Rondon viveu para conhecer esta retificação de Juarez Távora.

Mas isto contribuiu para o pedido irrevogável de Rondon a Getúlio Vargas de reforma do Exército, respondido este, com elogios aos seus serviços. Mas aceitou dado ser pedido irrevogável.

Getúlio lhe falou "que estava em dia com o Serviço Militar no Exército, mas não com o serviço da nação que muito precisa e muito espera deles ! "

Magoado, pediu que o submetessem a um Conselho de Guerra ou de Justiça para apurar quaisquer irregularidades. E aí terminou sua vida militar na Ativa.

No Rio cobrou do Ministro da Guerra, Gen General Leite de Castro, o não atendimento de seu pedido de Conselho de Justiça e recebeu como resposta:

"Não se constituirá nenhum tribunal, pois o mais alto tribunal da Nação que é a Opinião Pública, já o julgou general! "

Rondon era então um monumento ambulante da Humanidade e do Brasil e, como tal foi cercado de todas as considerações pela Revolução de 30.

E Rondon se tornaria um grande colaborador de Getúlio Vargas. Em 1942 em entrevista que solicitou ao Presidente pronunciou memorável discurso em apoio de Getúlio Vargas "por este conduzir a Bandeira política e administrativa da Marcha para o Oeste, visando ao alargamento do povoamento do sertão e de seu aproveitamento agro-pecuário com fundamentos econômicos mais sólidos e eficientes. Homenagem pela sua expressão de simpatia à raça indígena e disposição de ocupar o vazio do território que permanecia despovoado.

Fez um retrospecto histórico dos modos, tempos e intensidades da Marcha para o Oeste. Comparou as ações de Afonso Pena, na liderança da Marcha para o Nordeste e Norte, com as de Getúlio para o Centro Oeste.

E como sempre exaltou José Bonifácio, o Patriarca da Independência, como pioneiro da redenção do índio brasileiro, secularmente explorado e massacrado.

E, em certa altura, Rondon revelou o motivo principal da homenagem:

"Por o Governo atual haver praticado os seguintes atos que bem evidenciam a firme resolução de prosseguir na senda interrompida no começo de 1931:

1º - Forneceu recursos para o início da reorganização do Serviço de Proteção aos índios no corrente ano.

2º – Criou o Conselho Nacional de Proteção aos Índios, convergente à solução do dito problema e a esse Conselho assegurou o Presidente todo o seu concurso moral e material".

Principais funções exercidas por Rondon

- Membro da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas de Cuiabá ao Araguaia (1890–91), sob a Chefia do Cel Ernesto Gomes Carneiro. Foi quando este colocou sob a proteção do Exército, os índios Bororós ,marco inicial da saga rondoniana de proteção aos índios.

- Catedrático substituto de Astronomia e Mecânica Racional da Escola Militar da Praia Vermelha, indicado pelo Gen Benjamin Constant (jun 1891 - jun 1892).

- Chefe do 16o Distrito Telegráfico e Inspetor Permanente dos Destacamentos Militares ao longo da Linha Telegráfica Cuiabá - Araguaia (jun 1892-1893). Foi quando adotou o lema:

 "Morrer se necessário for! Matar nunca!"

- Construção da Estrada Estratégica trecho Cuiabá–Araguaia, dentro do contexto de litígio entre Brasil e Argentina, sobre o território das Missões. (1893- 98).

- Auxiliar Técnico da Intendência Geral da Guerra (jan–jun 1899), sob a chefia do Gen Francisco de Paula Argolo. o qual, como Ministro da Guerra, iria baixar o Regulamento de Ensino do Exército de 1905, de cunho profissional.

- Comissão Construtora de Linhas Telegráficas de Mato Grosso (1990-06). E quando foram estendidos cerca de 1747 km de linhas telegráficas, entre 17 estações.

- Chefe da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas Mato Grosso–Amazonas (1907–1909). Comissão esta que teve por núcleo principal o 5º Batalhão de Engenharia, com missões de Construção, Transporte e Vigilância. Foi escolhida como base de partida a vila Diamantino e a seguir, Tapirapoam, no rio Sepotuba, afluente do Paraguai. Foi depois de 237 dias que no dia de Natal de 1908 atingiram o rio Madeira, ocasião em que Rondon, exultante, mandou seu corneteiro dar o toque:- Viva o 5º Batalhão de Engenharia .

- Diretor do Serviço de Proteção dos Índios e Trabalhadores Nacionais (1910- 13), Serviço criado em 20 jun 1910.

- Comissão de Acompanhamento do Cel Teodoro Roosevelt, ex-presidente dos EUA, ao Centro Oeste e Amazonas (out 1913–30 abr) 1914. Viagem imortalizada nas obras do Cap Amílcar de Magalhães Pelos sertões do Brasil e Impressões da Comissão Rondon e da do Coronel Teodoro Roosevelt nos EUA – Nas selvas do Brasil.

- Construção da Linha Telegráfica Cuiabá a Santo Antônio do Madeira, em Rondônia atual (mai 1914–1º jan 1915), com 1490 Km e 20 estações, a qual ele executaria a conservação até 1930.

- Campanha sertanista (1915–19), acumulando a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas e o Serviço de Proteção aos Índios .

A partir desta Campanha, Rondon acumulou, por muitos anos, a Construção de Linhas Telegráficas com o Serviço de Proteção dos Índios

- Diretor de Engenharia do Exército e Chefe das Linhas Telegráficas (20 set 1919–1924). Neste espaço de tempo foi chamado ao Rio, atendendo a pedido do Rei Alberto da Bélgica e da rainha, interessados em conhecer sua obra. Rondon fez ao rei da Bélgica e esposa minucioso relato de sua atuação, sendo condecorado com a comenda da Ordem do Rei Leopoldo, a maior da Bélgica. Serviu na Missão Militar Francesa a partir de 30 set 1921 como estagiário, devotado e admirado, sendo apontado pelo General Gamelin chefe da Missão ,como um general a comandar o Exército em caso de um conflito.

- Inspetor das Obras Contra as Secas no Nordeste (25 out–30 nov 1922), quando produziu relatório em que assinalava, como uma das causas das secas, a desertificação promovida pelo homem através do desmatamento. Tese que era defendida nos anos 70 deste pelo Dr Vasconcelos Sobrinho, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, em obra específica. Ele dizia que o rio São Francisco, que atravessava uma região desertificada pelo desmatamento e pecuária, não podia servir a três senhores a um só tempo: a irrigação , a geração de energia e a navegação, se não fosse reflorestada a região por ele atravessada . Ação esta, pelo simples descanso temporário de suas terras de atividades pecuárias e, em especial, de muares e caprinos. A vegetação para ele abrigaria, no conjunto de suas raízes, verdadeiras represas a alimentar a perenidade dos afluentes do rio São Francisco, ao contrário das represas a céu aberto, no curso do rio , que possuíam elevado nível de evaporação .

- Comandante das Forças em Operações no Paraná e Santa Catarina, com QG em Ponta Grossa, para combater os revolucionários de São Paulo ao comando do Cel Isidoro Dias Lopes (out 1924–17 dez 1925).

- Inspetor de Linhas Telegráficas (1926), voltado para levantar a Carta de Mato Grosso, ocasião em que tomou parte ativa nas Manobras de Quadros do Estado – Maior do Exército em Pirassununga – SP.

- Inspetor de Fronteiras de 15.000 Km delas por 4 anos (1927–6 nov 1930), tarefa que lhe consumiu na 1a partida de 257 dias, sendo 10.702 Km por água; 1801 em lombo de cavalo; 2.917 em automóvel e 1816 em ferrovia, num total de 17.316 km . Foi esta a sua última missão no Serviço Ativo, pois a Revolução vitoriosa de 1930, como figura expressiva que ele fora da República Velha, causou-lhe sérios aborrecimentos, levando-o a pedir transferência para a Reserva. Foi reformado como general de Divisão, posto máximo no Exército de então, em 6 nov 1930.

- Inspetor de Fronteiras (mesmo já reformado), tendo elaborado muitos preciosos relatórios, e Chefe da Comissão Telegráfica (1931–jun 1934), por insistência de Getúlio Vargas.

- Presidente de Comissão Mista: Peru, Colômbia e Brasil (jun 1934 – 4 ago 1938 1935) com vistas ao cumprimento do Tratado de Paz entre o Peru e Bolívia. Desta missão retornou com a perda de uma vista pelo glaucoma e a outra com reduzida visão.

- Presidente do Conselho Nacional de Proteção ao Índios (1939–55), por cerca de 15 anos até falecer, cego e viúvo.

A projeção da obra ciclópica de Rondon

Rondon foi um profissional militar com relevante atuação no episódio de 15 de novembro de 1889. Foi aluno destacado da Missão Militar Francesa em 1921 ; o Comandante das Forças em Operações no Paraná e em Santa Catarina contra a Revolução de 1924; o semeador de linhas e estações telegráficas no Centro Oeste e na Amazônia, que integraram estas regiões entre si e ao restante do Brasil. Linhas de projeção estratégica na defesa da fronteira em Mato Grosso, ao ligar as localidades fronteiriças de Forte de Coimbra, Porto Murtinho, Bela Vista, Corumbá e Cáceres com o Rio de Janeiro.

Foi o implantador de modernas casernas e obras militares pelo Brasil afora, as quais somaram mais 86 concluídas em sua administração e 36 em vias de conclusão ao final de sua administração, além da aquisição de 25 imóveis .Entre as obras espalhadas pelo Brasil, sob a direção técnica de Rondon, registrem-se os prédios do atual 1o BPE, construído para ali funcionar a ECEME, o quartel da EsAO, o da ESA, o da antiga Escola de Veterinária e um sem número de quartéis tipo Calógeras, como os de Pouso Alegre e o do 4º BE Cmb em Itajubá, que tivemos a honra de comandar de 1981 a 1982 e cujos registros assinalam a visita de Rondon em 14 out e em 15 dez 1922, um domingo, e ambas para inspeção das obras executadas pela Companhia Construtora de Santos presidida por Roberto Simonsen . A última visita, para agradecer a colaboração do Batalhão que enviara elementos de Comunicações para o apoiar, no Paraná, no combate a Revolução de 1924, nas cabeceiras do rio Liso. Batalhão cujo comandante Major Volmir Augusto da Silveira registrou em Ordem do Dia de 7 set 1922 – Centenário da Independência.

"A situação do Exército do ponto de vista da eficiência é florescente. Aí estão : A sua organização, à moderna, para a paz e para a guerra ...o seu aquartelamento em casernas higiênicas, confortáveis e ricas de conforto..."

Esta situação de novos quartéis, iniciados pelo Ministro Marechal Hermes, teve grande impulso com o Ministro Pandiá Calógeras, ao entregar a direção técnica a Rondon .

Rondon, quando aluno da Missão Militar Francesa, teve como seu instrutor o próprio chefe da Missão, o Gen Gamelin, herói da 1 a Guerra Mundial. Foi quando surgiu uma amizade e admiração recíprocas, ao ponto de Rondon visitar Gamelin em sua casa e ver o seu retrato de consagrado sertanista na sala do mestre .Rondon foi um dos comandantes de uma das peças de manobra das célebres Manobras de Saicã de 1922 e nas de Pirassununga em 1926. Quando perguntado ao Gen Gamelin ,em caso de uma guerra, quem ele indicaria para comandar o Exército Brasileiro, ele respondeu que indicaria o General Rondon. E acreditamos que tenha seu dedo a indicação de Rondon ao Ministro da Guerra, para pacificar o Paraná e Santa Catarina, em 1924.

Rondon foi defensor e protetor dos índios, atuando como paladino da preservação de suas culturas, desde que o Coronel Gomes Carneiro, seu chefe, decidiu colocar os índios sobre a proteção do Exército, durante os trabalhos de construção da linha telegráfica, ocasião em que ameaçou com castigos quem praticasse atos hostis contra os índios. E isto, por insistência de Rondon que ficou muito triste, na medida que se internava no sertão, constatar o estado de abandono em que viviam os índios, isolados do resto do Brasil e vistos como inimigos, ou vivendo como escravos a serviço do branco dominador e cruel. Foi aí que decidiu, por volta de 1890, reverter esta situação e nela se empenhou a fundo por 68 anos, fazendo dela o norte de sua luta pela Humanidade e pelo Brasil.

Ao ser encarregado pelo Presidente Afonso Pena para ligar pelo telégrafo Mato Grosso ao Amazonas, impôs como condição para aceitar o desafio: autorização presidencial para que as populações indígenas encontradas ao longo da construção da ligação telegráfica fossem colocadas sob a sua proteção, o que foi aceito.

Rondon considerava os índios como pessoas humanas, com direitos de liberdade e prosperidade. Índios que por suas inteligências poderiam evoluir gradualmente para estágios mais adiantados, pela adaptação de seus costumes primitivos às vantagens da civilização de habitação, alimentação e uso de novas técnicas e ferramentas.

Sua teoria foi incorporada em 1910 com o então criado Serviço de Proteção dos Índios e dos Trabalhadores Nacionais, o SPI de que foi o 1º primeiro presidente e que fez a aproximação, a pacificação e a integração dos índios à sociedade brasileira. Serviço no qual, com o nome de SPI e CNPI esteve a frente de 1939 a 1955, até findar os seus dias. Serviço hoje com o nome de Fundação Nacional do Índio – FUNAI.

Como explorador e descobridor de milhares de inéditos exemplares botânicos, em mais de 40 anos percorrendo nosso sertões, a Rondon deve-se a descoberta inédita de 8.000 exemplares de vegetação, 6.000 exemplares zoológicos, bem como centenas de exemplares mineralógicos reunidos em precioso e bem cuidado acervo, espalhados em locais e enumerados em conferência do Dr Alípio de Miranda Ribeiro no Jornal do Comércio, (Rio de Janeiro 23 mar 1916), sob o título de "Trabalhos de Campo publicados sobre Mineralogia, Geologia, Botânica, Antropologia e Zoologia "conferência que proferiu no Museu Nacional ,em 26 mar 1916.

Rondon e seus comandados fizeram numa área de 50.000 Km quadrados completos levantamentos topográficos, geográficos, etnográficos, lingüísticos e zoológicos.

Como Inspetor e demarcador de nossas fronteiras, com a missão de nelas proceder minuciosa inspeção, para avaliar a suas condições de povoamento, de segurança e de soberania, plantaram, do Oiapoque ao Chuí, em 3 campanhas, marcos de afirmação da soberania do Brasil, complementando a obra dos desbravadores, fronteiros, militares e diplomatas brasileiros, durante mais de 3 séculos de Historia do Brasil.

Para se ter uma idéia, na 1 Campanha, ela consumiu 257 dias contínuos. Os inspetores e demarcadores percorreram 10.702 Km por água; 1801 Km a cavalo; 2.917 de automóvel e 1.896 por ferrovia, num total de 17.316 Km percorridos. Somente para reconhecimentos no Pará e Amazônia foram percorridos 12.140 Km. Rondon cumpriu fielmente a missão e dela deixou preciosos relatórios muito bem documentados, inclusive fotograficamente, os quais, em grande parte, os encontrei como adjunto da Comissão de História do Exército do Estado–Maior do Exército,(CHEB/EME) em Brasília, em 1971/74. Esta missão inspetora se transformou igualmente em instrumento de boa vizinhança com os países fronteiros do Brasil.

Como geógrafo, Rondon levantou a carta de Mato Grosso e a do extremo norte em território limítrofe com Guiana Francesa e Alto Rio Branco, na escala 1/500.000. Em relação a Mato Grosso pouco teve de realizar o Serviço Geográfico na Carta Geográfica do Brasil iniciada em 1903. Em todas as comissões construtoras de linhas telegráficas, Rondon, paralelamente, fazia levantamentos topográficos e geográficos com vistas a corrigir nas cartas locais locados com imprecisões .

Como acompanhante do Presidente dos EUA Cel Teodoro Roosevelt em viagem de estudos, através de Mato Grosso e Amazonas, de 12 dez 1913 a 30 abr 1914, Rondon foi secretariado pelo Cap Amilcar Botelho de Magalhães que escreveria três livros sobre o feito, como os já citados e, mais, A Obra Ciclópica do General Rondon (Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1956).

O grande objetivo fora o reconhecimento do rio de Dúvida, que Rondon batizou de rio Roosevelt e um afluente dele de Alfredo de Taunay.

Nesta penosa jornada gastaram 59 dias para percorrerem 686 Km.

Roosevelt emitiu o seguinte conceito sobre Rondon em seu livro citado:

"O Coronel Rondon tem, como homem, todas as virtudes de um sacerdote. É um puritano de uma perfeição inimaginável na época moderna.

Como profissional e cientista de escol, tão grande é o conjunto de seus conhecimentos que se pode considerar o Coronel Rondon um sábio...

Nunca vi, nem conheço obra igual. Os homens que junto com Rondon a estão realizando, são, pela sua abnegação e patriotismo, os maiores que existem...!

Olintho Pillar, em seu clássico Os Patronos das Forças Armadas ( Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1982), assim se referiu à obra de Rondon:

" Trinta anos em plena selva consolidaram a personalidade de Rondon, esse esclarecido soldado, geógrafo dinâmico, redentor do índio, bandeirante do século XX, apóstolo da paz, um dos filhos prediletos do Brasil, cujos sertões e florestas por ele desbravados servem hoje de pedestal a sua glória imperecível."

Usando a linguagem indígena corrente no Rio Grande Sul, o classificamos como o maior Tapejara de todos os tempos no Brasil. Tapejara no sentido de conhecedor de caminhos.

O conjunto de sua obra ciclópica Rondon a mandou publicar, como Presidente do Conselho Nacional de Proteção aos Índios (CNPI). Levantamento do resultado de pesquisa feita por seu secretário no CNPI Cel Amílcar Armando Botelho de Magalhães e do Cel Francisco Jaguaribe Gomes de Matos, Chefe do Serviço de conclusão da Carta de Mato Grosso Levantamento este, cujo original integra o acervo do Museu Histórico do Exército no Forte de Copacabana .

MINISTËRIO DA AGRICULTURA/CNPI. Catálogo geral

das Publicações da Comissão Rondon e do Conselho

Nacional de Proteção dos Índios . Rio de Janeiro :

Depar tamento de Imprensa Nacional ,1950

O Coronel João Marinônio Aveiro de Carneiro em Filosofia e Educação na obra de Rondon citado, relaciona e descreve, ao final, o conteúdo de 49 publicações relacionadas com a obra de Rondon

Com estas indicações pode o leitor e o pesquisador interessados resgatar os mais variados aspectos da obra de Rondon.

A consagração de Rondon

O Marechal Rondon foi agraciado pelo Exército com a Medalha Militar de Ouro passador de platina por mais de 40 anos de Bons Serviços e com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Militar.

Foi distinguido nacionalmente com a Medalha de Ouro Mérito da Sociedade Geográfica Brasileira e Medalha da Colônia de Mato Grosso no Rio de Janeiro.

Foi distinguido, fora do Brasil, com a Grã Cruz da Legião de Honra da França, da Ordem do Mérito da República da Itália e da Ordem Isabel a Redentora de Portugal. Grande Oficial da Ordem do Sol do Peru, da Ordem Boyacá da Colômbia. Comendador da Ordem La Couronne da Bélgica e medalhas Crevaux da Sociedade Geográfica de Paris e, de bronze do Clube de Exploradores dos EUA.

Hoje o nome de Rondon é reverenciado das mais diversas formas. Se constituiriam em livros numerosos as apreciações da vida e obra de Rondon. Delas selecionamos a do acadêmico Alcides Maya, filho de São Gabriel e a quem se deve, em grande parte, a denominação de São Gabriel a Atenas Brasileira ,como também de A Terra dos Marechais e autor do clássico Tapera de contos regionais gaúchos (Rio de Janeiro: Garnier ,1913).

"Na obra de Rondon tudo me comove. Não vejo apenas o deserto que ele devassa nas jornadas que empreende. Não me seduz o horizonte que desenha o seu arco. O que me fascina é o seu espírito, o seu princípio de amor, a sua violência de amor. Rondon é uma energia de coração. Rondon é um apóstolo. Que lhe importaria vencer o sertão deserto, se, com ele, não viessem para nós as almas rudes? Que importariam a árvore, a cachoeira, a flecha homicida, a febre se, depois de afrontar o ermo, ele não trouxesse para a civilização os extraviados da selva ? A medida de sua obra é a felicidade do homem ...."

Ainda do ex-presidente dos EUA Cel Teodoro Roosevelt:

"Rondon não é apenas um oficial e gentleman brasileiro, como os que mais o são, nos mais bem organizados exércitos do mundo. É também excepcional, audaz e competente explorador, ótimo naturalista, cientista, estudioso e filósofo. Com ele a conversa vai da caçada de onças e dos perigos da exploração do sertão à antropologia indígena. Dos perigos da civilização industrial, puramente materialista, à moralidade positivista. O Positivismo do Coronel Rondon é realmente a Religião da Humanidade. Doutrina que o impele a ser justo, bondoso e útil, a viver corajosamente a sua vida e, com igual bravura afrontar a morte ...."

O poeta Coelho Neto, sobre a obra de Rondon e de seus colaboradores, escreveu :

"Tudo lhes era adverso. Mas a voz enérgica do chefe, cada qual dava conta do que fizera. E desse herói Rondon que regressa do deserto, desse civilizador e pacificador, semeador de povos que serão cidades, plantador de roças que serão lavouras, dirão mais tarde as gerações brasileiras agradecidas repetindo o poeta:

Tu cantarás na voz dos sinos, nas charruas,

No esto da multidão, no tumultuar das ruas,

No clamor do trabalho e nos hinos da paz !

E subjugando olvido, através das idades,

Violador de sertões, plantador de cidades,

Dentro do coração do Brasil viverás..."

Projeto Rondon – a consagração universitária de Rondon

Em 28 jun 1968, por Decreto Presidencial nº 62.927, foi criado em caráter permanente o Grupo de Trabalho Projeto Rondon, subordinado ao Ministério do Interior, com a finalidade de promover estágios de serviço para estudantes universitários, objetivando conduzir a juventude a participar do processo de integração nacional .

E por mais de 20 anos, atuou , até a sua extinção, por Medida Provisória nº 28 de 1989, promulgada pelo Senado como Lei nº 7.732, em 14 fev 1989 já como Fundação Projeto Rondon .

E neste espaço de tempo, os universitários se interiorizaram no Brasil conhecendo as suas realidades e ajudando as populações de diversas formas Tivemos a oportunidade de idealizar o 1o Projeto Rondon na área cultural e coordenar pelo Exército o então Projeto Rondon dos Guararapes, em 1970, em que solicitamos estudantes de História, Biblioteconomia etc, recrutados em todo o Brasil, os quais, ao lado de 3 cadetes da AMAN, foram encarregados de fazer um levantamento histórico dirigido da Insurreição Pernambucana, com vista à construção do Parque Histórico Nacional dos Guararapes, cujo planejamento , construção e inauguração coordenamos. Parque que foi inaugurado em 19 abr 1971 pelo Presidente Emílio Garrastazu Médici. E tanto se aplicaram na pesquisa que conseguimos com a SUDENE que publicassem uma obra coletiva que foi chamada O Projeto Rondon nos Guararapes patrocinada pelo MINISTÉRIO DO INTERIOR e prefaciada pelo Gen Ex João Bina Machado, Comandante do VI Exército. Na inauguração do Parque, os estudantes retornaram cada um trazendo a bandeira de seu estado que foi hasteada ao lado das bandeiras do Brasil e de Portugal. A última hasteada por um cadete de Engenharia do Exército de Portugal mandado para este fim .

Coordenamos pelo Exército, como adjunto da Presidência da Comissão de História do Exército do EME, o Projeto Rondon Arquivos 1. Consistiu na formação de monitores preparados pelo Coronel Francisco Ruas Santos e vindos de todo Brasil. Ao retornarem, lideraram estagiários do Projeto Rondon para avaliarem os arquivos oficias em todo o Brasil, alertando da importância dos mesmos para a formação da consciência da identidade e da perspectiva histórica do Brasil, por integrarem o grande conjunto das fontes primárias da Memória Nacional.

Como homenagem a Rondon e seus bravos colaboradores, falta ser contada em filmes, pela TV, toda trajetória vivida por este ilustre brasileiro, Trajetória esta que a Humanidade deve ter conhecimento uma vez que ela servirá como lição preciosa às futuras gerações.

Filmes que resgatem e divulguem ," as ilíadas e odisséias cívicas , sepultadas nos relatórios da Comissão Rondon, nos quais a grandeza do Brasileiro apresenta fulgores incomparáveis, e tudo feito com a modéstia e a simplicidade de gente para quem o heroísmo e o sacrifício da vida em serviço da Pátria são ato banal e corriqueiro."


(x) Acadêmico presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e membro emérito do Instituto de geografia e História Militar do Brasil e titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

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