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Contos-->Um Cego por testemunha - m.s. cardoso xavier -- 11/01/2003 - 02:51 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

CONTO: UM CEGO POR TESTEMUNHA
Autora: M.S. Cardoso Xavier

As dificuldades da grande cidade, levam muitas vezes as pessoas se utilizarem de várias estratégias, para sobreviverem.
Deraldo de origem rural, parte num caminhão “pau-de-arara” para o sul do país, em busca de emprego. Lá as dificuldades são tantas, que Deraldo ficava mais tempo desempregado do que empregado e até mesmo sub-empregado. Não queria voltar mais para o Nordeste, “sem eira nem beira”.
Deraldo arquiteta um plano soturno para conseguir sobreviver naquela cidade grande: - se fingir de cego, ir às ruas e mercados com uma bengala, uma bacia para colocar os trocados de esmolas e um óculo escuro. Assim executa o seu pessimista plano:
- Esmola para o ceguinho pelo amor de Deus! Mais tem Deus para lhe dar! Esta era a rotina e o refrão diários de Deraldo e no final do dia, estava com seus bons trocados, que lhe permitia sobreviver, talvez melhor do que quem vivia de aposentadoria rural.
Mudou-se de bairro, de uma periferia para outra, bem distante para não ser reconhecido, pelos comunitários de bairro. Deraldo passava cada aflição, para não se trair, no tocante a esconder o máximo seu segredo. Aprendeu a andar e se portar como cego. Muitos lhe perguntavam como tinham cegado; ele dizia que havia levado uma grande queda, seguida de uma congestão cerebral, - Outros mais curiosos diziam: - os olhos do Sr. Deraldo nem parece ser de cego, etc. Deraldo ficava aflito com estes tipos de perquirições, vendo a hora descobrirem seu segredo.
Deraldo era simpático e querido pelas pessoas que o conheciam. Costumava dar uns passeios em companhia de Rita, uma mulher que ficara sua amiga e colaboradora. Muitos até pensavam que Deraldo namorava com a mesma. Mas só era amizade, Rita tinha um coração humanitário!
Uma noite, ao voltar do mercado, onde costumava pedir trocados para o ceguinho... Deraldo ao passar próximo a uma estação ferroviária deserta e desativada, observou um automóvel com um senhor de aproximadamente 55-60 anos sendo assaltado e em seguida assassinado por um bandido, o qual jogou o corpo nos trilhos da locomotiva, fugindo em seguida com o carro.
Deraldo observou tudo escondido dentro da locomotiva velha, pois logo que viu o bandido, escondeu-se, tirou um lápis do bolso do paletó velho que andava pelas ruas a pedir esmolas e anotou a placa do carro. Fixou bem na mente a fisionomia do bandido que cometera aquele terrível homicídio. Não fora visto por ninguém, não passava por ali viva alma!
Deraldo ficou super nervoso, apressou os passos para chegar logo em casa para tomar um chá ou algum calmante. O pior é que não poderia dizer nada a ninguém do que acabara de presenciar. Tinha que calar.
- Deraldo! Deraldo! abra a porta! Era Rita sua amiga, que vinha lhe contar o que ouvira no rádio: - A polícia encontrou o corpo de um senhor na estação velha! Deraldo ficou super nervoso com a notícia, mas controlou-se e limitou-se a dizer: esta cidade está uma coisa séria em violência!
- Tenha cuidado Deraldo, você costuma andar a pé por estas zonas!... - É Rita, mas Deus tem me ajudado muito! Até os cegos, os marginais assaltam, para tomar-lhe os trocados afim de obterem drogas. - A vida está difícil, Rita no interior não há meio de vida e assim muitos como eu, vêm arriscar sobrevivência aqui nesta grande cidade. - Só Deraldo, que em nome desta busca pela sobrevivência, muitos perdem a própria vida. - É verdade, Rita.
- Temos que nos benzer todos os dias ao sair de casa, para Deus nos livrar do mal.
Ficou noticiando no rádio o homicídio presenciado por Deraldo. Ele via passar na sua mente, todo aquele quadro de violência, que por um acaso era testemunha ocular, sendo no entanto cego! Não poderia dar seu depoimento na delegacia, ajudando reconhecer o assassino, pois todos o tinham como cego. Aquele drama se instalou na consciência de Deraldo, sem poder ajudar a fazer justiça à família do senhor assassinado.
Deraldo tinha guardado em casa, um pequeno aparelho de T.V. portátil, que só ligava quando o mesmo encontrava-se sozinho em casa, para não despertar a curiosidade das pessoas, quanto a sua não cegueira. Rita vez por outra ia à casa de Deraldo e dava algumas notícias. - Hoje Deraldo, vai passar na T.V. uma reportagem sobre aquele assassinato da Estação Ferroviária. - Então Rita, depois me informe sobre aquele cruel acontecimento.
Assim que Rita saiu, Deraldo foi pegar o aparelho de TV que estava escondido, para acompanhar a reportagem e tentar identificar o assassino, dentre aqueles marginais que seriam apresentados pelo delegado, nos registros policiais, alguns suspeitos. Deraldo observou minuciosamente, mas nenhum deles era o verdadeiro assassino. E assim as notícias policiais foram sendo divulgadas para o levantamento do inquérito policial, até que um dia, passou no vídeo que haviam detido o verdadeiro assassino. Deraldo comprou o jornal na banca, dizendo ser para Rita ler para ele, sobre aquela notícia. Ao chegar em casa, tirou o óculos escuro de cego e para espanto e surpresa sua, o suspeito detido pelo assassinato não era o verdadeiro criminoso.
- E agora? O inquérito policial fora instaurado e dali para a justiça seria questão de poucos meses. Aquele marginal estaria preso condenado por um crime que não cometeu!
Deraldo ficou acompanhando atentamente os detalhes do processo judicial, através dos jornais, TV, rádio, etc. Foi anunciado o dia do julgamento daquele infeliz marginal, sendo inocente por aquele crime, era acusado e condenado. - Fora estampado em jornais e outros meios de comunicação.
O conflito, o drama de consciência de Deraldo agravou-se tanto, que mal dormia, nem se alimentava, angustiado, por ver que aquele pobre infeliz marginal iria amargar na prisão por um crime que não cometeu!
Revelar o verdadeiro assassino? Como se era cego? Não poderia dizer que foi testemunha ocular! Calar, deixando padecer no presídio aquele infeliz, porém inocente daquele crime!
Se descobrisse toda verdade, que não era cego, revelando ter presenciado tudo naquela fatídica noite - que tipo de punição teria Deraldo por ter ocultado seu estado de sanidade visual? Mil indagações, mil medos apavorava Deraldo. Mas tudo isso não seria maior do que a covardia e a falta de consciência que já se encontrava bem pesada em Deraldo, não revelando a verdade? Deraldo estava entre a cruz e a espada!
Nestas horas angustiantes, só os amigos para desabafar, àqueles nos quais pode-se confiar! Deraldo pensou em contar tudo à Rita, possuidora também de bons princípios morais e um coração bondoso. Sabia que poderia contar com o apoio e discreção da mesma.
Foi à casa de Rita e pediu-lhe que fosse a casa dele, para dizer-lhe algo muito sério. Rita ficou curiosa e foi logo ter com Deraldo. Ficou boquiaberta com a revelação daquele segredo, que Deraldo guardava há tanto tempo. - Mas disse: - pode contar comigo, Deraldo, iremos hoje mesmo falar com o advogado do réu, entraremos em contacto com o pessoal do Fórum para nos informar como procedermos, marcar audiência e tudo. - Oh. Rita, só você mesma para me ajudar! Não avalia como eu estava pesaroso com tudo isto! Tirei um peso de mil quilos das minhas costas, lhe contando toda verdade!
Assim o fizeram! Deraldo encorajado por Rita, foram falar com o advogado, contaram-lhe toda a verdade. Era advogado de ofício, pois o réu sem nenhuma condição financeira, não podia pagar honorários advogatícios particulares.
O advogado requereu, recorrendo da sentença do Juiz, foi marcado um novo júri e aí Deraldo deu seu emocionante depoimento, arrancando lágrimas do réu inocente. O cego Deraldo acabara de livrá-lo da pena! Fora absolvido e teria a partir dali uma indenização do Estado, por danos morais.
Os familiares da vítima, do senhor assassinado, parabenizaram Deraldo, pela sua coragem e só assim teriam uma pista mais certa para capturar o verdadeiro assassino, o qual Deraldo saberia reconhecer.
Os familiares da vítima prometeram a Deraldo, ajudá-lo no que fosse necessário. O réu inocente, libertado, graças ao ex-cego Deraldo, deu-lhe um grande abraço, nascendo ali uma grande amizade!
Dali por diante, Deraldo deixara de ser o pseudo “cego” para ser o justiceiro daquela comunidade!
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