agora que DEUS me eu silencio
cada palavra carrega consigo
todas as histórias, a HISTÓRIA
a humanidade inteirinha
todas as nossas misérias
( história que fim não tem,
fins terá?)
para caber num poema
uma palavra carece de bafo, sopro
carece de homem humano, saliva
poeta é quem se supõem travesso
avesso, bêbado de acasos
é quem se subpõem, se submete a viver
por grotas e desvãos, abismos, sendas
carne viva, fratura exposta
viscosidades, asperezas
excrementícios deleites
demências, azares, troças
milongas, o despautério
o não mais caber em si mesmo
silêncio-ciosamente abrazado
em estado interessante
estado de poesia
investimentos de riscos
um grande poema é soma de fracassos
por trás de tudo
um triste triz de trizteza
um mundo mudo e imundo
nos crê, nos lê, nos vê
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o chão por sob os pés / relar uma outra relva
arar outras searas / fazer outros serões
outras canções, outros poemas / outras estórias lérias / narrativas, prebendas / ciclos
miragens / sagas / lendas / mistérios
sal da saliva / constelações de fracassos
quedas / maravilhas / tropeços / palavras
mares de sargaços / imagens / ícones
centelhas / signos / palavras / silêncios
obra no breu / o oco no oco do mundo / o vazio
no sem-nome eu me estrebucho e me estremeço
precisa haver outro susto
é sempre precipício, sempre princípio, principio
é sempre um outro sim / outro cio-silêncio
agora que DEUS me eu silencio