Usina de Letras
Usina de Letras
152 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62264 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10378)

Erótico (13571)

Frases (50653)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cordel-->O LOUCO -- 14/07/2001 - 22:00 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

(Para saber mais sobre gêneros de cordel, visite
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=934&cat=Cartas)


O LOUCO
Por J.B.Xavier


Senhores tenham em mente,
Que nem de longe sou louco,
E nem há nenhum demônio
Vivendo dentro de mim.
De fato, este manicômio
Do qual eu gosto tão pouco,
E no qual eu vim parar
Tem é me deixado rouco,
Sem voz, de tanto gritar
Que embora a minha vida
Sendo um dia tão querida,
De repente desabou
Por causa de uma mulher.
Não, não foi o ciúme,
Também não foi outro cara,
Que aquela beleza rara
Tenha tentado ganhar...
Meus males vêm de outro lado,
Vêm da candeia sem luz,
Vêm do acaso arrebatado,
Que a natureza produz.

Pois saibam que viuvei
Em certa altura da vida
E que sozinho fiquei
Eu e um filho que eu tinha.
Ele era homem já feito,
E longe de ser perfeito,
Apaixonou-se um dia
Por uma linda coroa.
Muito mais velha em idade,
Mas gostosa a dar c’o pé,
Viu ela a oportunidade
De vir a ficar numa boa!
E tal como dois pombinhos
Começaram o namoro,
Mandando às favas, no bairro,
As regras do bom decoro.
Meses durou a paixão,
Da morena e meu rapaz,
Ela com o fogo da idade,
E ele cheio de gás!
E rodaram a baiana
Para todo mundo ver.
Dava orgulho ver meu filho
Dando conta da potranca,
Pois confesso que até eu
Olhava praquela anca...


Mas eu, que venho da estrada.
E do pó da existência
Sei que ela não é eterna,
Por isso nunca dei bola
Mesmo quando a insistência
Daquela cruzada de perna
Tirava-me a paciência.
E assim, tudo ajeitado,
Amor pra cá e pra lá,
Tudo foi se acalmando
Até quase aquietá.
Então, numa noite fria,
Recebemos a visita
Da filha da tal coroa.
Era uma linda guria,
Uma moça recatada,
De olhos de butiá,
Cabelos cor da graúna,
Pele e tez amorenada
Como a casca do araçá.
Mas o melhor que ela tinha
Estava mesmo no olhar.
Eram negros os danados,
E olhando sem parar,
Parecia que eu estava
À noite, à beira do mar...
Pois não é que a tal guria
Me olhou firme também?
E elogiou meu olhar!
Com as palmas das mãos frias,
Faltou foi o que dizer!
Naquele momento louco
Tudo pode acontecer!
E fiquei ali, parado,
Estúpido e aparvalhado
Estudando o “monumento”.
Senti-me como um jumento,
Não de burrice, é claro,
Mas por um certo renascer,
De algo que trago comigo,
Se entendem o que digo...

Vai daí que nos tornamos
Loucamente apaixonados,
Elétricos como um a pilha.
Meu filho, com a mãe dela,
E eu com a sua filha!
Então, amigo, imagine
Que a coisa foi complicando
E ao meu controle a danada
Aos poucos foi escapando...
Não! Nada que desabone
A conduta de ninguém,
Apenas depois de um tempo
A coroa quis casar,
Entramos todos naquela,
E então, para arrasar,
Ela casou com meu filho
E eu com a filha dela!
Daí pra frente minha vida
Perdeu toda a referência
E comecei o caminho
Que me trouxe ligeirinho
A isso que sou agora,
Mas que não é a demência!
Pois veja, a minha sogra,
Por ser mãe de minha mulher,
Era também minha nora
Nesse louco estribilho,
Já que também era esposa
Deste que era meu filho.
Já meu filho muito amado,
- acompanhe se puder -
Por ter casado com a mãe,
Veio mesmo a ser padrasto
De minha própria mulher!
Então minha companheira,
Por ter casado com o pai,
E só por um namorilho,
Acabou sendo madastra
Deste que ainda é meu filho!
Mas veja que esquisitice
Que até parece um logro,
Se você pensar melhor,
Meu filho é meu próprio sogro!
E eu, como sou casado
Com a sua enteada,
Não importa que em idade
Ele ainda seja tenro,
Porque mesmo sem querer
Acabei sendo seu genro!
E já que eu também sou pai
Do padrasto da esposa,
- Já nem sei bem o que sou! -
Só sei que, da minha mulher
Tornei-me também avô!
Já minha sogra, coitada,
Alegre como ela só,
Ficou tristonha ao saber
Que havia virado avó!
E você sabe de quem?
Do enteado de minha esposa,
Que virou, então meu neto,
Padrasto de minha mulher,
Já que esposou minha sogra.
Nesse jogo ensandecido,
A esposa virou avó!
E do seu próprio marido!


E novamente os acasos
Nossas vidas transtornaram,
Pois veja você, mãe e filha
Juntinhas engravidaram.
Felicidade geral!
Nasceu-me linda menina!
E nossa felicidade
Transbordava o coração!
Já meu filho andava rindo,
Pois a protranca lhe deu
Um bonito rapagão!
Fomos todos ao cartório
Registrar os nascimentos
Para depois batizar
Ambos os nossos rebentos.
Lá no cartório chegando,
A moça que nos atendeu
Olhou para os dois casais
Com um olhar enfadonho
São gêmeos? Que bonitinhos!
Pais e avós, eu suponho?
Olhamo-nos todos os quatro
Mas ninguém ousou dizer
A confusão que se armava
E que iria acontecer.
Bom, esse garotinho,
Falei então, finalmente,
É meu neto, na verdade.
Mas apesar da idade,
É irmão de minha mulher!
Acredite se quiser,
Não sou louco desvairado!
Esse garotinho, creia,
É também meu cunhado!
E disse então minha sogra:
Esse garoto, senhora,
É meu legítimo filho!
Por favor, deixe-me agora
Esclarecer esse ponto,
Disse então minha mulher!
Esse garoto é filho,
De meu padrasto, então,
Queira ou não queira a senhora
Ele é meu meio-irmão.
Mais que isso, entretanto,
O pai desse menininho
Por ser filho de meu marido,
É, pois, meu filho também!
E por casar com mamãe,
Mudou tudo bem na hora,
E hoje além de sua filha
Eu sou também sua nora!
E tem mais! Sou enteada
Do marido de mamãe,
Por isso chegue mais perto
E ouça: a minha filhinha,
É neta dele, por certo!
Mas o que complica um pouco,
Admito muito bem,
É que também sou madrasta
Do filho do meu marido
Que está ficando louco
Nessa grande confusão.
Mas o fato é que assim sendo,
Se sou madrasta do pai,
Que é marido de mamãe,
É fácil a senhora ir vendo
Que sou avó do pequeno!
E apesar de ser novinha,
E esse arzinho maroto,
Creia, sou a avozinha
Aí, desse lindo garoto!


A moça ficou me olhando
E com olhar de malícia
O livro ela foi fechando
E afastou-se gritando,
Saiam! Ou chamo a polícia!
E não era ameaça,
Porque pra minha desgraça
E pra danação perene,
Dentro de poucos instantes
Já ouvimos a sirene!
E assim, eu vim parar
Neste lugar assombrado
Em que se vive tão pouco,
Mesmo me reconhecendo
Que nada tenho de louco!
Mas, agora que o tempo
Pra mim nem faz sentido,
Eu acabei de lembrar
Que ainda sou marido
Daquela que é enteada
Desse que ainda é meu filho.
Sendo assim, que aflição!
Acredite quem quiser
Transformei-me no irmão
De minha própria mulher!
E se, enfim somos irmãos,
É que nosso pai é o mesmo!
Sendo assim, o meu garoto,
Queira ou não queira, ele vai,
Acabar se transformando,
Por força da lei, em meu pai!
Se assim for, meu amigo,
Se eu sou pai do meu pai,
- minha mente está fritando
E se tornando um torresmo -
Pois, se sou pai do meu pai,
Veja em que me transformei!
Eu sou avô de mim mesmo!!

* * *
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui