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Ensaios-->Pax et Concordia -- 20/07/2012 - 08:29 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

PAX ET CONCORDIA RECONCEBIDA EM NOSSA PÓS-MODERNIDADE

ou

a propaganda é a alma do negócio e a concorrência nos leva a alcançar metas insuspeitadas

Que é isso? Ora, pode uma anedota de extremo mau gosto ou um incipiente e diletante - mas talvez oportuno - “estudo comparado”.

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“A Instituição Armada será maculada, violentada e conspurcada diante da leniência de todos aqueles que não pensam, não questionam, não se importam e não se manifestam.”  - epígrafe do artigo do Gen Marco Antonio Felício da Silva que é transcrito abaixo (1)

“... análises, apesar de corretas e precisas, ficam inscritas apenas no primeiro plano da alegoria do quadro. Esbarram na superfície da literalidade da encomenda e aos objetivos da propaganda que Pedro Américo tanto se esforçou para atingir” - interpretação que se fez de “Pax et Concordia”, também abaixo (2).

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 “Pax et Concordia” é o título de um óleo sobre tela de Pedro Américo que se expõe no Museu Histórico e Diplomático no Palácio do Itamaraty – RJ:

 

 "PAX

Que o General do presente me perdoe a citação de suas palavras em produção tão desrespeitosa, que se deve a um vadio exercício praticado já há algum tempo ao embalo de uma rede armada na varanda: imaginar como Pedro Américo, se vivo hoje estivesse, estaria garantindo sua sobrevivência, uma vez que as alegorias épicas perderam por completo o interesse assim como as palavras perderam o seu sentido e estando as coisas tal como estão.

Se, porventura, fosse responsável ou contratado por uma agência de propaganda a serviço de nossos Governos, e supondo que fosse da vontade destes exaltar a histórica Academia Militar das Agulhas Negras na intenção de motivar nossos jovens a que nela ingressem e devidamente se profissionalizem como cidadãos que são, Pedro Américo deveria atentar ao objetivo principal da obra encomendada. É um objetivo muito simples: que ela estimule a que o Exercito Brasileiro queira destacar-se por suas virtudes e que os Cadetes tenham a certeza e o justificado orgulho de demonstrar, até bem antes que os argentinos o façam (essa pequena rivalidade sempre há de existir – é como a rivalidade entre comadres), que podem ter também não só abandonado “o pensamento binário” como também ter aprendido a “raciocinar sobre realidades complexas”, tal como preconiza a antropóloga Sabina Frederic da Universidade de Quilmes e La Kirchner providencia. “Em outras palavras, (...)abrir a cabeça dos novos militares e aproximá-los da vida real” (3).

Que, em espírito, o nosso grande Artista do passado também me perdoe a ousadia sem qualquer talento, pois me atrevi a esboçar como poderia ele ter executado a encomenda:

"NOVA

Não sei, não, mas creio que talvez fosse interessante ampliar esse estudo em capítulos outros, dedicados a comparar esculturas públicas, placas memoriais, poemas, canções... 

VaniaLCintra

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(2). 18/07/12 - Crítica malévola intencional e deliberada

Gen Marco Antonio Felício da Silva                                   

Tão logo a França foi liberdade pelas forças aliadas, após a longa ocupação alemã durante a II Grande Guerra Mundial, populares e integrantes da Resistência Francesa iniciaram a caça àqueles que haviam colaborado com os nazistas, isto é, àqueles que se despindo de qualquer dignidade, salvando a própria pele, serviram de “capacho” aos invasores, por vezes contribuindo, diretamente, para a prisão e morte de compatriotas. Entre tais “capachos”, principalmente na República de Vichy, havia um grande número de intelectuais, muitos dos quais eram jornalistas, todos levados à traição da Pátria pela covardia física e moral.

Lembro-me deste fato sempre que vejo jornalistas brasileiros, conspurcando a liberdade de que desfrutam, atrás de suas mesas, em ambiente refrigerado, sem responsabilidade com a verdade, produzindo artigos em que atacam os militares que, defendendo essa mesma liberdade, arriscando ou sacrificando a própria vida, combateram, nos anos 60 e 70, os terroristas da guerrilha marxista. Estes matavam, indiscriminadamente, pelo objetivo político de instauração de uma ditadura do proletariado em nosso País. Acusam, ainda, a esses militares, de não respeitarem os direitos humanos e os colocam como torturadores, propugnando pela mudança da formação do militar atual, formado em escolas, todas, em todos os níveis, de excelência comprovada. Desejam Forças Armadas refletindo a sociedade a que servem. Esquecem, porém, do quanto, hoje, grande parte  desta  sociedade se mostra corrompida moralmente, não servindo de espelho para quem quer que seja, muito menos para as Forças Armadas nas quais a Nação deposita a sua maior confiabilidade. Quanto aos guerrilheiros, ignoram os seus objetivos e crimes quando não os pintam, cinicamente, como defensores da democracia.

Assim, o responsável pela coluna “Panorama Político”, do jornal O Globo, de 12 de Julho de 2012, sob o título “O que é isso?!”, querendo parecer politicamente correto, noticia, escandalosamente, o fato de um grupo de soldados (dizendo-os do Exército, sem prévia averiguação), durante uma corrida, estar cantando algo que incita à agressividade. Intencionalmente, pelo fato ter acontecido próximo a uma Unidade do Exército, imputou a militares dessa Unidade o ocorrido e o correlacionou à “ditadura militar”.

Demagogicamente, no dia seguinte,integrante do PT e Presidente da Comissão de DH da Câmara Federal, Câmara esta permeada pela acusação de corrupção moral de inúmeros de seus membros, segundo o noticiário quase que diário da Imprensa,criticou o uso de cânticos de estímulo à violência e à brutalidade em treinamentos de soldados das Forças Armadas, pedindo explicações ao Ministério da Defesa e “que sejam abolidos tais costumes de apologia à barbárie”. O líder do PSOL, que abriga leninistas, trotskistas, marxistas libertários, uma grande parte dos estudiosos de Gramsci no Brasil, portanto, adeptos de ideologias que levaram, no século passado, milhões de pessoas à morte, genocídio inaceitável, manifestou “repúdio a esses procedimentos, reiterando que seu conteúdo confronta princípios da nossa Constituição.” O Ministro da Defesa, esquecendo-se que não mais está entre “punhos de renda” e parolagens, considerou inaceitável o canto de guerra.

 Esquecem, todos eles, talvez por conveniência e/ou ignorância, do quanto é cruel qualquer guerra, pois, a destruição e morte do oponente, coisa corriqueira no combate, é, na maioria das vezes, meio de sobrevivência e obtenção do sucesso.

A formação do soldado combatente, que o coloca, também, como amparo da população nas grandes calamidades, entre outras coisas, pois, holística, leva em consideração tal crueldade, incutindo no militar a agressividade necessária para que combata o inimigo, matando-o se preciso for. A agressividade que mata é a mesma necessária para salvar a vida do próprio combatente como a de seus companheiros e, em muitos casos, de seus compatriotas civis, separados da linha de frente por alguns quilômetros de terreno (Israel é um belo exemplo).

Há que se lamentar, mais uma vez, a crítica irresponsável ao Exército (não pelo canto de guerra), denegrindo, deliberada e de forma malévola, perante a opinião pública, a imagem da Força, contribuindo para a tentativa de desmoralizar e enfraquecer a Instituição, talvez com o objetivo, longamente acalentado pelos comunistas, de substituí-la por uma milícia popular.  

Ë necessário enfatizar que quem deseja a paz, se prepara para a guerra! País que não tem Forças Armadas capazes de defendê-lo e a sua respectiva Nação, terá, sem qualquer dúvida, Forças Armadas estrangeiras a ocupá-lo, principalmente quando se trata de um país com as riquezas que o nosso tem, escassas na maior parte do planeta e, por essa razão, cobiçadas pelas grandes potências militares da atualidade.

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(2). PINTO JUNIOR, Rafael Alves. Pax et Concordia: A arquitetura como caminho da alegoria. 19&20, Rio de Janeiro, v. V, n. 3, jul. 2010.

http://www.dezenovevinte.net/obras/obras_paxconcordia.htm

 

“Para Baxandall, a intenção existente em uma pintura pode ser traduzida como um interesse do artista em produzir uma determinada visualidade. Intenção que se transforma, particularmente em cada caso, numa diretriz compositiva que ele pode compreender como uma relação crítica com sua própria produção precedente: uma relação mental entre a obra e seu contexto. Nas palavras do autor:

A hipótese de fundo é que todo ator histórico e, mais ainda, todo objeto histórico tem um propósito - ou um intento ou, por assim dizer, uma “qualidade intencional”. Nessa acepção, a intencionalidade caracteriza tanto o ator quanto o objeto. A intenção é a peculiaridade que as coisas têm de se inclinar para o futuro (2006, p. 81).

(...) Pedro Américo colocou a “grande alegoria” Pax et Concordia no mesmo patamar de importância que a Batalha de Campo Grande (1871), a Batalha de Avai (1877) e a Proclamação da Independência (1888) [*]. Obras que o fizeram famoso e reconhecido internacionalmente. Conforme o salientado por Zaccara [], o registro das importantes batalhas e campanhas militares, aliado ao ufanismo da vitória brasileira na Guerra do Paraguai e ao agudo senso de oportunidade do artista haviam pavimentado seu caminho rumo ao reconhecimento.

Mas em 1902, a situação era bastante diferente. (...) Eleito deputado pela província da Parahyba do Norte da Assembléia Nacional constituinte em 1890, sabia que não havia desempenhado um papel destacado no cenário político da “nova e alta atmosfera” da República: apesar do esforço de sua oratória, estava mais preocupado com as artes do que com as “lutas partidárias”.

(...) Para um Doutor em ciências físicas pela Universidade de Bruxelas e artista laureado como ele, soava dissonante ter que se fazer “lembrar” a um político como o Barão do Rio Branco, também um alto representante do Império. Logo ele, que havia sobrevivido praticamente incólume ao naufrágio da monarquia e as implicações daí decorrentes na Academia Imperial de Belas Artes.

(...) em 1886 Pedro Américo aceitou a encomenda governamental de uma obra com a temática abolicionista, mas somente concluiria o estudo em 1889. Neste estudo, podemos identificar vários dos elementos presentes no Pax et Concordia. Fortemente teatralizada, a Escravidão está representada no Libertação dos Escravos pela figura do demônio morto atrás dos escravos libertos, ajoelhados diante da Liberdade que lhes rompem os grilhões: a escravidão não está nem vencida, nem subjugada, mas morta. Atrás dela, numa composição piramidal à esquerda do quadro, destaca-se a figura da Vitória alada, sustentada por figuras que representam a Música e o Amor. Ao fundo, a presença discreta da cristandade representada por uma cruz fulgurante sustentada por anjos. Como elemento delimitador, um muro curvo final que funciona como um limite visual para a composição da cena. Somado aos degraus em primeiro plano, o elemento da arquitetura formado pelo muro de fundo contribui para a caracterização cenográfica ao entender o espectador como inserido diante de um teatro de arena.

(...) Apesar das semelhanças e da (re)utilização de elementos de outras obras do artista, a composição alegórica de Pax et Concordia difere bastante da Libertação dos Escravos, e pode ser entendida, pelo menos, de duas maneiras bastante diferentes. Uma primeira abordagem poderia ser vista como literal, ou como expressão do conteúdo alegórico do encontro da Paz à direita do quadro, com a Concórdia, que a saúda com uma coroa de louros: como representação da República, a Paz encontra seu reconhecimento e legitimação com a Concórdia. Do lado da paz, estão os símbolos da cristandade, anjos translúcidos, uma cruz fulgurante e a maternidade. Aos seus pés, o demônio da guerra, morto com a espada na mão e flechado pelas costas: se em Libertação dos Escravos, o demônio morto representava a escravidão vencida, agora representa o fim das guerras. Da mesma maneira que havia feito em Libertação dos Escravos, o demônio - agora representando a guerra e as desgraças dela decorrentes - encontra-se morto. Representar a guerra rendida ou subjugada, abriria possibilidades de que ela rompesse as amarras e voltasse a incomodar. Com a “morte” da guerra, a mensagem de perenidade da República ganha um reforço quando colocada em primeiro plano.

Do lado da Concórdia estão representadas as artes, o amor e a vitória alada que legitima o evento. Seguem-na uma multidão de estrangeiros laureados de flores. Neste entendimento, a imagem pode ser entendida como uma alegoria pragmática, (...) sendo um meio para um fim e não um fim em si. Pedro Américo estaria atendendo os objetivos da encomenda: a figura da Paz representaria a figura da República e seu estabelecimento significando uma era de ouro para o Brasil.

Enquanto o artista estava envolvido com o quadro, o cenário à sua volta era bastante tumultuado. O governo de Prudente de Morais [**](1841-1902) não podia ser descrito como pacífico: além da feroz oposição dos partidários de Floriano Peixoto e da reorganização do Partido Monarquista, o governo lutava contra as pressões inflacionárias e as sucessivas quedas no preço do café no mercado internacional. Somando-se a isto, o governo teve que enfrentar grandes problemas como a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, as difíceis questões diplomáticas - como o da Ilha da Trinidade com a Inglaterra - e principalmente a Guerra de Canudos. Questões que fragilizaram enormemente a tênue ordem republicana.

Num cenário como este, uma imagem da paz triunfante sobre todas as adversidades tornou-se uma necessidade: se o equilíbrio político e a paz social ainda não haviam sido estabelecidas, a arte seria um importante veículo de propaganda ao seu estabelecimento. Mediante a alegoria, a República procurava uma legitimação, ainda que imagética rumo a uma estabilidade. E as fontes desta estabilidade encontravam-se no passado imperial, encontrando neste, um lastro de unidade enquanto nação.

(...) o quadro seria a expressão da consciência histórica da jovem república, ainda presa aos marcos tradicionais e à imagem de unidade e estabilidade do período imperial. Uma expressão do esforço do regime à construção de uma tradição republicana através da união entre o presente e passado, conforme observa Serpa. Para ele:

A criação de uma tradição histórica repousa, sobretudo, na necessidade de que a ordem social instituída alcance um tipo distinto de legitimidade fundado em um movimento de alargamento do tempo histórico. Além do tempo imediato é preciso detectar um tempo de maior duração, capaz de produzir um elo entre o presente e o passado (2007, p. 131).

(...) o quadro de Pedro Américo antecipa o uso dos elementos monárquicos como elementos para a construção de uma imagem de nação, como as comemorações do centenário da Independência em 1922 e do nascimento de Pedro II em 1925. Construção de uma imagem de nação através da fórmula do passado como fonte de tradição e matriz do presente:

A reabilitação do passado permite o estabelecimento de um laço de continuidade entre o Império e a República, cujo sentido ultrapassa o mero saudosismo ao tornar-se fonte legitimadora da própria identidade nacional e, conseqüentemente, assegurar ao país a estabilidade e a solidariedade necessárias ao enfrentamento dos problemas do presente (SERPA, 2007, p. 135).

(...) Se aplicadas à imagem, estas análises, apesar de corretas e precisas, ficam inscritas apenas no primeiro plano da alegoria do quadro. Esbarram na superfície da literalidade da encomenda e aos objetivos da propaganda que Pedro Américo tanto se esforçou para atingir. Mas a composição do quadro parece dizer mais.

(...) A representação da arquitetura torna-se, de qualquer maneira, o elemento responsável pela identidade visual da alegoria, uma vez que é ela que determina o “mundo” do acontecimento alegórico. Sem ela, o sentido da alegoria seria certamente bastante alterado. Em Pax et Concordia, a arquitetura não estabelece um fundo cenográfico, mas sim uma fronteira. Ao constituir numa abertura por onde passa a procissão cerimonial da Paz, o espaço arquitetônico é, a um só tempo, instrumento de representação e representação de um instrumento.

À este juízo, a imagem toma outra dimensão e pode ser entendida como uma alegoria dentro da alegoria: um segundo tipo de alegoria, entendido por Burke como metafísico[], ao assumir uma conexão velada entre conceitos bastante distintos como arquitetura e paz, ou arquitetura e república. O espaço arquitetônico aparece como definidor do caráter pictórico e lugar da alegoria:se por um lado o espaço indica a configuração tridimensional do lugar da representação da obra, por outro lado, o caráter denota a atmosfera geral do espaço público onde o sentido da obra pode encontrar sua expressão.”

 

[*]   as datas se referem ao término de cada uma das obras citadas de Pedro Américo

[**] as datas se referem ao nascimento e a morte de Prudente de Morais, Presidente da República de 1894 a 1898.

............................................................................................................................

 

(3) http://oglobo.globo.com/mundo/argentina-muda-curriculo-militar-inclui-textos-de-vitimas-da-ditadura-5480323

 

Argentina muda currículo militar e inclui textos de vítimas da ditadura

Ex-presos e ex-membros de guerrilhas passarão a ser lidos pelos futuros militares

Janaína Figueiredo - Correspondente

Publicado:14/07/12 - 23h10

BUENOS AIRES — O impulso dado às investigações e aos julgamentos de crimes cometidos pelos militares na última ditadura argentina (1976-1983) é o aspecto mais ruidoso e expressivo do relacionamento entre a Casa Rosada e as Forças Armadas desde que o casal Kirchner chegou ao poder, em 2003. Mas não é o único. Em paralelo e longe dos holofotes, o Ministério da Defesa elaborou, e neste ano começou a implementar, uma profunda reforma da carreira militar, modificando bibliografia, estrutura curricular e incorporando novas matérias e conceitos sobre História argentina, teoria do Estado e direitos humanos.

Entre os novos autores que passarão a ser lidos pelos futuros militares argentinos estão ex-presos políticos e até mesmo ex-membros de guerrilhas esquerdistas como os montoneros. Os antigos inimigos passaram a ser objeto de estudo.

Essa revolução quase silenciosa foi comandada pela ex-ministra da Defesa Nilda Garré, atualmente à frente da pasta de Segurança. Em sua juventude, em meados da década de 70, Garré foi a deputada peronista mais jovem da História do país e, durante a ditadura militar, militou na Juventude Peronista (JP). A ex-ministra desembarcou no Ministério da Defesa em 2005 e demorou alguns anos para conseguir o respaldo e a decisão política necessários para avançar numa mudança inédita e impensável em outros países da região, como o Chile, onde o poder civil não chegou tão longe no controle da estrutura militar.

A reforma começou a ser pensada alguns anos atrás e finalmente foi aprovada no ano passado, já pelo novo ministro Arturo Puricelli, de perfil bastante mais conservador, mas sem o apoio político necessário para desandar o que já fora feito por sua antecessora. A equipe encarregada de discutir e elaborar o conteúdo da reforma foi liderada pela antropóloga Sabina Frederic, da Universidade de Quilmes.

- Um de nossos principais objetivos é formar militares com mentalidade democrática e pensamento crítico - disse a antropóloga ao GLOBO.

Os militares, assegurou Sabina, devem abandonar o pensamento binário “e entrar em contato com outros pensamentos, que lhes permitam raciocinar sobre realidades complexas”. Todo conteúdo que apresentava uma visão favorável ao terrorismo de Estado dos anos 70 e, também, a políticas neoliberais, foi eliminado. Para Sabina, essa é “uma reforma integral que inclui matérias teóricas, exercícios de treinamento em campo e regras internas (os alunos passaram a ter mais tempo para ler, entre outras novidades)”, que buscou “fortalecer a formação profissional dos oficiais”, seguindo exemplos de países como Alemanha, França, Espanha e Estados Unidos. Na visão de Sabina e sua equipe, “a pobreza intelectual dos militares no passado impediu qualquer tipo de reflexão crítica”.

‘Instituição deve refletir sociedade’

- Era necessário democratizar o conhecimento e aproximar os militares do conhecimento que se ensina nas universidades públicas - assegurou a antropóloga.

Sua visão não é compartilhada por alguns professores do colégio militar, como Daniel Romano, que defende “a preservação do perfil militar da carreira”.

- Não podemos ser a Universidade Nacional de Buenos Aires. Muitos dos autores desta reforma acreditam que todo militar é antidemocrático, e isso não é verdade. Também existe autoritarismo nas universidades públicas - enfatizou Romano, que participou dos debates sobre a reforma, mas defendeu uma posição que terminou sendo minoritária, diante da ala que contava com o aval de Nilda Garré.

De fato, como promovia a equipe de Sabina, foram incorporados textos de autores que há muitos anos são estudados por alunos de universidades públicas de todo o país, como Beatriz Sarlo e Guillermo O’Donnell.

A antropóloga destacou, ainda, a importância de “promover o respeito pelos direitos humanos, a necessidade de protegê-los e de tolerar pensamentos diferentes”. Em outras palavras, a gestão Kirchner interferiu como nenhum outro governo civil o fez no âmbito das Forças Armadas, para abrir a cabeça dos novos militares e aproximá-los da vida real. Eles passarão a ler obras de cientistas políticos como Pilar Calveiro, uma ex-montonera que esteve sequestrada por um ano e foi torturada na sinistra Escola de Mecânica da Marinha (Esma, na sigla em espanhol), hoje transformada em museu dedicado à memória dos desaparecidos. “De onde provinha a pretensão dos torturadores de serem deuses? Sem dúvida, da convicção de serem amos da vida e da morte; de fato, eles tinham a capacidade de decidir a morte de muitas pessoas, quase de qualquer pessoa, no marco de uma sociedade na qual todos os direitos foram suprimidos”, diz Pilar, em um de seus trabalhos.

- Até pouco tempo, os militares estudavam a mesma versão da História que defendem ex-ditadores como Videla. A reforma era necessária - comentou Jorge Battaglino, professor da Universidade Di Tella e ex-diretor do mestrado de Defesa Nacional.

Para ele, “a ideia é que a instituição militar seja um reflexo da sociedade civil”.

- Hoje também temos mais judeus na carreira por que não existe mais um perfil antissemita, mais mulheres (13% do total) e até mesmo a homossexualidade deixou de ser proibida - enfatizou Battaglino.

De fato, dois militares gays, um tenente-coronel e um capitão, cujas identidades não foram reveladas, casaram-se recentemente num cartório portenho, após obterem autorização do Exército.

Nos chamados liceus militares, as escolas que funcionam no âmbito das Forças Armadas, o ensino de religião sumiu do mapa. Segundo Battaglino, a reforma foi bem recebida pela maioria dos militares, com exceção de setores pouco significativos, que não se conformam com a subordinação ao governo Kirchner e acompanham com angústia e preocupação o avanço dos julgamentos a ex-colegas acusados de terem violado os direitos humanos durante a ditadura. Para muitos, comentou uma fonte que conhece o clima nos quartéis argentinos, “o julgamento dos militares não terminará nunca, e essa situação mancha a imagem de todos, quando a maioria dos que estão na ativa nada teve a ver com as atrocidades cometidas”.

Na semana passada, Cristina anunciou um aumento de 21% dos salários dos militares, num jantar anual com a cúpula das Forças Armadas, um dos poucos eventos em que a presidente se encontra com os oficiais argentinos. Atualmente, a Casa Rosada destina apenas 0,8% de seu orçamento à Defesa, contra 6% injetados em Educação. Para Romano, “a reforma é importante, mas ainda falta na Argentina uma decisão política de recuperar nossas Forças Armadas”.

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