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Artigos-->DROGAS ILEGAIS TRÁFICO NO BRASIL -- 21/05/2013 - 08:21 (edson pereira bueno leal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


DROGAS ILEGAIS TRÁFICO NO BRASIL



 



Edson Pereira Bueno Leal,  maio de 2013.



 



TRAFICO E PRISÕES NO BRASIL



 



Os presos por tráfico de drogas quadruplicaram em seis anos, para 117 mil, 40% deles em São Paulo. Segundo Pedro Abramovay, da FGV-RJ e Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, houve uma interpretação equivocada da Lei de Drogas de 2006, que livrou os usuários de prisão e estabeleceu uma pena mínima de cinco anos para traficantes, sem direito à liberdade provisória o que levou a “uma massa que fica na fronteira entre o tráfico e o uso” a lotar as cadeias. (F s P, 25.03.2012, p. C-3).



O tráfico é responsável por 24% das prisões no país em dezembro de 2011. Em 2005 eram 10%. Além da Lei de Drogas em 2006, o rigor do Judiciário e da polícia no combate ao tráfico e o elevado número de presos provisórios que não podem responder aos processos em liberdade explicam o aumento.



Pesquisa do Núcleo de Estudos de Violência da USP constatou que 88% dos detidos por tráfico entre novembro de 2010 e janeiro de 2011 na cidade de São Paulo, responderam aos seus processos encarcerados.



Para Romulado Calvo Filho, presidente da Academia Paulista de Direito Criminal, o aumento de traficantes presos ocorreu porque se ganha mais dinheiro traficando drogas do que roubando. Para Marco Antônio Paula Santos, ex-diretor do Denarc, “Ladrões de banco e seqüestradores acabam migrando para o tráfico porque ele é menos arriscado e muito mais vantajoso”.



Outro dado importante é que metade das mulheres que estão presas foi detida por tráfico. O principal motivo , segundo os policiais , é que elas são usadas pelos companheiros para transportarem drogas e acabam sendo presas. (F S P, 12.05.2012, p. C-1).



 



BRASIL ESTRATÉGIA REGIONAL ANTIDROGA



 



O Brasil tentará competir com os EUA pela liderança no combate à produção de cocaína na América do Sul. Para tal, o governo brasileiro em 13 de novembro de 2008 adiou para dezembro a assinatura de um acordo com a Bolívia e do qual também devem fazer parte Argentina, Peru e Chile. Foi criada uma comissão binacional para levantar todas as medidas e setores em que os dois países podem cooperar. (F s P, 14.11.2008, p. A-12).



Todavia, a proposta brasileira acolhe o lema do presidente Evo Morales, “cocaína zero, mas não coca zero”. Em vez da erradicação total das plantações, como é a política americana, a ordem será controlar a expansão das lavouras. Desde 1988, a Bolívia já permite, por lei, o cultivo da coca para mascar ou fazer infusões em 12 mil hectares. A parcela foi ampliada em 2004. O que ultrapassa a área deve ser erradicado.



A idéia de controlar o plantio, em vez de eliminá-lo contraria orientações da ONU. Em março de 2008, a Jife (Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes), exortou a Bolívia a abolir a mastigação de folhas e o consumo tradicional de chá de coca. A Jife diz que o consumo dos itens pode afetar a saúde e cita que desde 1961 a coca está entre as substâncias entorpecentes proibidas internacionalmente. (F s P, 13.11.2008, p. A-14).



 



 



 



OPERAÇÃO CARGA PESADA – POLÍCIA FEDERAL



 



Iniciada em julho de 2007 resultou até março de 2009 na prisão de 58 pessoas. Em 10 de março de 2009, 32 pessoas foram presas acusadas de burlar o sistema de vigilância do aeroporto internacional de Cumbica para levar cocaína à Europa e à África. O esquema , segundo a PF, funcionava no aeroporto desde 2007 e utilizava até os carros da Infraero para transportar a droga para dentro do aeroporto sem inspeção.



A estimativa é que os 58 acusados tenham mandado 1,3 tonelada de cocaína para países da Europa (principalmente Portugal, Holanda e Inglaterra) e África e acumularam um patrimônio de US$ 2 milhões com o tráfico internacional. (F S P, 11.03.2009, p. C-1)



 



 



JOVENS DE CLASSE MÉDIA TRAFICANDO NO BRASIL



 



Com as operações Nocaute e Trilha realizadas em 11 de fevereiro de 2009, a Polícia Federal prendeu  55 pessoas acusadas de tráfico, 40 delas no Rio de Janeiro, tendo como características a idade média de 26 anos, serem esportistas, moradores de bairros privilegiados e usarem a Internet para negociar as drogas.



As duas quadrilhas cariocas com ramificações em outros Estados diferem na estrutura, mas os presos têm o mesmo perfil. Eles movimentavam cerca de R$ 1 milhão por mês exportando cocaína e importando drogas sintéticas, mas em depoimentos não se definiram como traficantes.



Segundo a PF, os grupos enviavam “mulas” com cocaína trazida da Bolívia e do Paraguai para a Europa. Na volta essas pessoas traziam ecstasy e LSD. Cada viagem custava em torno de R$ 20 mil e o lucro com a venda dessas drogas chegava a R$ 250 mil. A maioria das “mulas” que ficavam com R$ 4.000 ou 10% da droga era de prostitutas e desempregados. (F S P, 12.02.2009, p. C-1).



O caso mais impressionante é o de Henrique D. F. de 25 anos que morava com os pais em um apartamento de cobertura na Lagoa Rodrigo de Freitas, região de classe média alta do Rio de Janeiro. Ele arrendou duas bocas-de-fumo em uma favela da Zona Norte da cidade. Pelo menos quatro noites por semana, dava expediente como bandido, gerenciando o comércio de entorpecentes em cima das lajes da favela. Gred, como é conhecido, também fornecia armas e granadas aos traficantes.



Segundo o delegado federal Enrico Zambrotti Pinto, todos os jovens de classe média monitorados em escutas telefônicas tinham uma vida dupla. “Nas conversas mantidas com os pais e familiares, mostravam-se carinhosos, meninos de família. Quando estão fazendo negócios, usam o linguajar agressivo dos bandidos. É como se tivessem dupla personalidade”. (Veja, 18.02.2009, 82). 



De acordo com o delegado Reinaldo Correia, do Departamento de Investigação sobre Narcóticos da Polícia Civil de São Paulo, quase 80% dos traficantes de drogas sintéticas presos pela policia de São Paulo em 2009 tem curso superior ou estão fazendo faculdade. Isso significa que não é preciso subir morros ou aventurar-se em favelas para comprar drogas, mas o traficante pode estar na carteira ao lado, como colega de classe ou participando da mesma balada. (Veja, 21.10.2009, p. 137).



 



INTERNOS DA FUNDAÇÃO CASA CRESCEM 100% DEVIDO AO TRÁFICO DE DROGAS.



 



Em 12 anos, o percentual de internos apreendidos por tráfico de drogas na Fundação Casa em São Paulo saltou de 4,76% para 42,1%.  A internação por roubo , no mesmo período, que representava 63,2% dos internos passou para 42,7%. Ou seja praticamente metade dos internos estão envolvidos com tráfico de drogas.



O tráfico foi responsável pelo aumento de 98% do número de internos desde 2.000 . Eram 4.197 jovens internados em 2000 e em 2012 passaram para 8.342, e 85% dos novos internos no período foram acusados de tráfico. Para uma comparação, na população carcerária os condenados por tráfico são 29% e por roubo 35%.



A maior presença de traficantes entre os menores se deve a três fatores: 1) a ilusão do “dinheiro fácil”, que seduz os menores de idade com maior facilidade; 2) usuários que vendem droga para sustentar o vício; 3) o maior rigor dos juízes. Segundo afirma a presidente da Fundação Casa, Berenice Gianella, “ o roubo é visto como atividade ilícita, o tráfico é visto como um emprego”.



A ilusão do dinheiro fácil decorre dos elevados ganhos com o tráfico . Para um salário mínimo de R$ 755, um traficante pode receber até R$ 100 por dia, dependendo da função .  Um menor gerente de “boca de fumo” internado na Fundação , declarou que chegava a ganhar , R$ 600 em dias de grande movimento.



  Porém, como assinala o advogado Ariel de Castro Alves, ex-membro da Comissão Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente :” É uma ascensão ilusória . O fim disso sabemos qual é : a cadeia, a internação , ou o cemitério”. ( F S P , 20.05.2013, p. C-1) .



 



TRÁFICO NA AMAZÔNIA



 



Os cartéis de drogas controlam municípios inteiros.  Abaetetuba, no Pará, foi apelidada de “Medellín brasileira”, em referência a uma das sedes da máfia colombiana. Do Suriname vem as embarcações com droga, contrabando de armas, bebidas, cigarros e animais silvestres.



Em Nova Mamoré, em Rondônia, um dos distritos, Jacinópolis, não recebe a polícia estadual, porque os bandidos recebem os visitantes à bala. (Veja Amazônia, setembro de 2009, p. 35).



 



 



 



TRÁFICO NO RIO DE JANEIRO



 



Os efeitos do tráfico de droga no Brasil passaram a apresentar impressionante visibilidade no Rio de Janeiro. Grande parte da cidade onde existem favelas nos morros tornou-se uma área onde virtualmente inexiste o aparato estatal e o controle passou para as mãos de quadrilhas de traficantes que impõem as suas próprias regras à população local.



O tráfico no Rio tem história. Nos anos 60 e 70 cada favela tinha o seu dono, envolvido em roubos e tráfico em pequena escala. Surge à primeira facção criminosa, a Falange Vermelha, origem do CV – Comando Vermelho. Em contraposição havia o Esquadrão da Morte, grupo de policiais que matava ladrões e traficantes. As armas usadas eram revólveres e espingardas.



Nos anos 80 o CV se consolidou e ocorreram as primeiras grandes “guerras: no morro Dona Marta (1987), entre quadrilhas e na Rocinha (1988) entre traficantes e policiais”. Nasce o Terceiro Comando, dissidência do CV. As armas usadas passam a serem pistolas, fuzis e submetralhadoras.



Nos anos 90, Terceiro Comando se consolida e começa o confronto pelo controle das “bocas”. Um traficante rompe com o CV e cria, no morro do Adeus, a facção ADA (Amigos dos Amigos). Nas cadeias o governo passa a separar os presos de acordo com sua facção. As armas usadas são pistolas, fuzis e granadas.



Na primeira década de 2000 a ADA se fortalece e passa a ser o principal oponente do CV. Aumenta o emprego dos “bondes”, grupos armados de traficantes que atacam favelas inimigas. Cresce a venda de drogas para os próprios moradores das favelas. O crack começa a ser vendido nos morros. As armas usadas são metralhadoras antiaéreas como. 30 e. 50 ( F S P , 25.10.2009 , p. C-3).



Tornaram-se comuns na bela cidade cenas vistas em países como o Afeganistão ou o Iraque com confrontos envolvendo de um lado a polícia e de outro lado traficantes fortemente armados. Em plena área urbana são disparados tiros com metralhadoras, AR-15 e outras armas de pesado calibre, como se estivesse ocorrendo uma guerra. Balas perdidas espalham-se, vitimando dezenas de inocentes.



Pesquisas mostram que 80% do que os traficantes arrecadam com a venda de drogas no Rio de Janeiro é reinvestido na organização criminosa. O dinheiro é proveniente da venda da droga a consumidores de Ipanema, Leblon, Copacabana, Barra da Tijuca e outros bairros nobres. (Veja, 21.4.2004, p. 41).



O crack passou a ser comercializado no Rio de Janeiro, onde os traficantes sempre mantiveram distância desta droga. Sua disseminação ocorreu pelo PCC, para aliviar uma dívida que o CV tinha para com ele, obrigou os traficantes do Rio a trabalhar com esta droga, o que é um sinal de que o PCC também está lutando pelo controle do tráfico no Rio de Janeiro.



Em São Paulo o tráfico é mais discreto, não há guerra entre quadrilhas ou destas com a polícia ou com as milícias e as chacinas são discretas e quase passam despercebidas da população.



Em setembro de 2005 a operação Caravelas da Polícia Federal apreendeu duas toneladas de cocaína escondidas em bucho bovino que seriam exportadas para a Europa e revelou uma nova rede de tráfico envolvendo pessoas de nível superior, bem inseridas na sociedade, usando empresas de fachada e investindo parte dos recursos obtidos com o tráfico em empresas legais para disfarçar a sua origem.



Segundo o italiano Giovanni Quaglia, representante do escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime no Brasil, trata-se da descoberta de um novo tipo de organização criminosa, muito mais sofisticada e próxima do que já existe em outras partes do mundo. É um crime feito por pessoas de elite e de classe média alta que se encarregam de enviar a droga da América do Sul para a Europa e EUA. Nesse tipo de crime a violência é péssimo negócio por que chama a atenção. Ele deve responder por 75 a 80% do dinheiro movimentado pelo crime organizado. Para ele, o crime que usa violência nas favelas é uma exceção, inexistente na Europa e encontrado em apenas alguns subúrbios dos EUA. .



Em um contexto com tal visibilidade é surpreendente verificar que o consumo continua a todo vapor. Se existe este impressionante aparato de traficantes, usando armas pesadas e caríssimas é evidente que existe um consumo de drogas que gera receita suficiente para sustentar tal aparato. Ou seja, os próprios cariocas, consumidores de drogas são os responsáveis pelo crescimento e consolidação deste fenomenal grupo criminoso.



Estudo feito pelo economista Marcelo Néri da FGV do Rio de Janeiro, chegou à conclusão que a maioria dos usuários de drogas brasileiros é composta de jovens ricos e de classe média. Segundo o estudo, 70% dos consumidores de drogas pertencem a famílias com renda superior a R$ 6.000,00. Famílias com esta renda representam 23% da população brasileira. Cerca de 50% tem entre 20 e 29 anos. Cerca de 43% possuem cartões de crédito e 35% tem cheque especial. (Veja, 24.10.2007, p. 52).



Por outro lado surpreende ao analista, que na sociedade contemporânea continue em crescimento o consumo de drogas afrontando a toda a lógica. Com o desenvolvimento da tecnologia, existem centenas de possibilidades para conseguir prazer e descargas de adrenalina sem destruir o próprio organismo. Voos de asa delta, paraquedismo, parapente, enduros, escaladas, entre outros e até passeios em parques de diversões high-tech com montanhas russas imensas permitem ao usuário experimentar situações de grande emoção, com risco controlado e sem danos ao organismo. Por outro lado a globalização colocou à  disposição do consumidor quantidades maiores de drogas variadas, inclusive sintéticas a baixos preços facilitando a manutenção da dependência. Mas ao mesmo tempo, os estudos científicos avançaram e demonstraram que a grande maioria das drogas utilizadas podem apresentar efeitos estruturais ao organismo, principalmente na química cerebral, efeitos inclusive que podem ser irreversíveis a partir de certo tempo de consumo.



Estes efeitos tornam-se tão ou mais graves considerando-se que boa parte dos consumidores começa o vício na fase da adolescência, período em que o organismo ainda está em formação, aumentando, portanto o risco dos danos serem de maior gravidade. O jovem consumidor, com ideias de contestação social, de crítica, na verdade está sendo apenas um pequeno peão, dando sua parcela de colaboração, em um jogo maior que sustenta um imenso aparato mundial de atividades ilegais. Jovens que estão colocando em risco seu futuro, seus ideais, seus sonhos, sua família, por um prazer ilusório e momentâneo. 



O poder do tráfico é exemplarmente demonstrado com o caso de Fernandinho Beira-Mar. Preso em 2001, na Colômbia, foi extraditado para o Brasil e desde então vive trancafiado em prisões de segurança máxima ou sob esquemas policiais implacáveis, sendo em tese o preso mais vigiado do país. Operações de transferência para assistir depoimentos no Rio de Janeiro chegam a custar R$ 200.000,00.



Porém mesmo assim ele comandou uma rebelião que terminou com quatro mortos, inclusive o líder de uma facção rival e ordenou uma série de ataques no Rio de Janeiro, em 2003, cujo saldo foram 55 ônibus incendiados e lojas fechadas em vinte bairros. Porém, em 2006 e 2007 ele foi monitorado pela inteligência policial e constatou-se que ele não apenas continuava a liderar sua quadrilha , como se articulou com traficantes de outros países e organizou uma associação com bandidos de outros estados e de diferentes facções , que a polícia chamou de “partidão do crime”. Isso foi possível por que Fernandinho atrás das grades continuou recebendo a visita de seus advogados, que chegaram a ser diárias.



Em Campo Grande, onde estava  preso em dezembro de 2007, os parentes e advogados o visitavam uma vez por semana, além de uma visita quinzenal da mulher. Na prática, a cada dois dias tinha alguém conversando com ele. A lei brasileira impede um controle mais rígido, como revista a advogados e monitoramento das visitas. Nos EUA isto seria impossível. Quando esteve na superintendência da Polícia Federal em Brasília, os policiais monitoraram a conversa do traficante por meio de um telefone celular. Com autorização judicial as conversas foram gravadas e ele dava ordens de um esquema que fornece 20% da droga vendida nos morros do Rio de Janeiro e abastece os principais centros de distribuição do Comando Vermelho, movimentando mensalmente R$ 500.000,00. Em 22 de novembro de 2007, a Operação Fênix, da Polícia Federal, resultou na prisão de onze pessoas envolvidas neste esquema, entre elas, Jacqueline, mulher do traficante, que se tornou chefe operacional da quadrilha.   (Revista Veja, 28.11.2007, p.58).



Em janeiro de 2008 a polícia carioca chegou ao alto do morro da Mangueira e encontrou uma fortaleza aberta, construída para proteger os traficantes dos ataques de grupos rivais e das incursões policiais. A construção demonstrou o domínio total do tráfico sobre a Mangueira, onde vivem 14.000 pessoas e é um dos símbolos do Rio de Janeiro, com sua escola de samba. Descobriu-se que o traficante Francisco Paulo Testas Monteiro, o “Tuchina”, além de ser um dos autores do samba que a escola irá defender no carnaval de 2008, transformou a escola de samba em extensão de seus negócios. Encontros eram marcados na quadra para acertar a venda de drogas. Traficantes armados chegaram a circular nos ensaios da Mangueira, um dos mais badalados entre as escolas cariocas. Do total arrecadado semanalmente pelo tráfico, cerca de um milhão de reais, mais de 60% correspondem ao movimento nos finais de semana, quando ocorrem os ensaios. Além da fortaleza, que foi destruída, policiais encontraram ossadas humanas em uma espécie de crematório clandestino, conhecido como “forno microondas” onde os inimigos dos bandidos são executados e tem o corpo incinerado.  (Veja, 16.01.2008, p. 55).



Em duas estações de trem do Rio de Janeiro, Manguinhos e Jacarezinho (na zona norte), parte dos moradores não pagava em 2007 passagens por pressão do tráfico. Em outras dez, há presença ostensiva de criminosos nas plataformas e nas margens da linha férrea. Em mais três paradas, partes dos muros que ficam ao longo da via foram derrubados, criando uma rota de fuga em caso de invasão rival ou operação policial. Os trens do Rio cruzam ao menos 27 favelas controladas por traficantes de diferentes facções. Estas informações constam de mapeamento da Comissão Nacional de Policiais Ferroviários entregue à Secretaria da Segurança Pública , em fevereiro de 2007, como contribuição ao plano de segurança para os jogos Pan-americanos. (F S p, 15.09.2007, p. C-9).



Dois pastores de Igreja Mundial do Poder de Deus foram flagrados pela Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso do Sul, rumo ao Rio de Janeiro, levado no carro, sete fuzis M15 escondidos nos vãos das portas e sob o banco traseiro. São armas empregadas pelas Forças Armadas, capazes de atingir um alvo a três quilômetros e perfurar coletes à prova de balas e tinha como destino uma favela de São Gonçalo, município da região metropolitana do Rio de Janeiro que funciona como entreposto de armas e drogas para a capital. A prisão confirma a suspeita da polícia de que certas igrejas evangélicas com filiais em favelas cariocas mantém relacionamento promíscuos com os traficantes de drogas, servindo como mera fachada para negócios escusos. (Veja, 17.03.2010, p. 96). 



 



AS ELEIÇÕES DE 2008 E O TRÁFICO NO RIO DE JANEIRO



 



Para as eleições municipais de 2.008, traficantes e milicianos estabeleceram tabelas de pedágio para candidatos que querem fazer campanha nas favelas que controla. O preço variou de R$ 10 mil (para pequenas comunidades) a R$ 30 mil (locais de médio porte). Sem pagar, os postulantes eram proibidos de entrar nas localidades para pedir votos e pregar cartazes nas casas. Outra exigência era que a mão de obra contratada para atuar na campanha, dentro e fora da favela, seja local. Segundo relatos à Folha de dois candidatos a vereador, a prática ocorria nas favelas de São Carlos (Estácio, centro), Turano e Borel (Tijuca, zona norte), Dendê (ilha do Governador, norte), e Terreirão, oeste, dominadas pelo tráfico; e Guaporé (Brás de Pina, norte) e Barbante (Campo Grande, oeste), dominadas por milícias. (F S P, 11.09.2008, p. A-13).



Cerca de 4.300 militares do Exército e da Marinha ocuparam 27 localidades escolhidas pelo TER do Rio de Janeiro para garantir a segurança do processo eleitoral contra a ação do tráfico e das milícias. As comunidades ocupadas terão ao menos 500 homens das Forças Armadas, que permanecerão durante três dias. Depois os efetivos irão para outras localidades.



Cada ocupação é acompanhada por um juiz e por fiscais do TRE, além de policiais militares. O inusitado é uma ocupação por apenas três dias que com certeza não vai resultar em nada, pois depois que os militares saírem tudo volta ao normal. No primeiro dia do “manto de segurança”, nenhum candidato a vereador ou prefeito apareceu nas áreas ocupadas por temer uma repercussão negativa junto aos moradores, pois é óbvio que todos os moradores sabem que os militares irão embora e poderão se sentir ameaçados. (F S P, 12.09.2008, p. A-7).



A operação de ocupação do Complexo do Alemão foi monitorada pelos traficantes. Em algumas conversas, ouvidas pela Folha, através de um rádio, o tom era de deboche com os militares. “O c... verde! O negócio de vocês é arrancar pauzinho [propaganda] pendurado em poste! Vocês estão aí no sol quente, cheios de peso nas costas, e a gente está aqui em cima com a mulherada”. (F S P. 2.10.2008, p. A-4).



Em três de outubro de 2008 o Exército e a Marinha terminaram a “Operação Guanabara”, no Complexo do Alemão. Foi a ação mais complexa e demandou detalhado planejamento com o emprego de 4.300 homens, além de mil na reserva, seis helicópteros e 20 blindados Urutus de transporte de tropas. Não houve registro de incidentes de violência. Durante três dias, os militares garantiram a segurança dos agentes de fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral e retiraram 42 barricadas armadas por traficantes em pontos estratégicos das comunidades do Alemão. Feitas com trilhos de trem, concreto, buracos ou entulhos, dispostos no meio das pistas, elas impediam a livre circulação de carros civis e veículos das polícias civil e militar. Segundo o coronel André Luís Novaes, “Deixamos o Complexo do Alemão sem nenhuma barricada. Retiramos 25 contenções do tráfico. A Rua Canitá era praticamente uma ‘plantação de barricadas’, uma a cada 20 metros. “(F S P, 4.10.2008, Especial p. 4). 



 



Em 13 de novembro de 2008 a polícia do Rio de Janeiro prendeu quatro supostos envolvidos em uma quadrilha que montou um esquema de vigilância da polícia. Segundo o delegado Carlos Oliveira, da Drae, um dos marginais tinha a tarefa de permanecer durante todo o dia próximo à sede da Coordenadoria Geral de Operações Aéreas, de onde partem os helicópteros da Polícia Civil e da Polícia Militar. Com um radiotransmissor, ele avisava sobre a partida dos aparelhos e indicava o possível destino. Na Avenida Brasil, de onde os helicópteros seriam avistados caso tomassem o rumo da zona oeste, outros dois que circulavam em carros, mantinham o restante da quadrilha alertado. Havia ainda na av. Brasil, a pé, um quarto “espião”, escalado para acompanhar a passagem de carros de polícia pelas imediações do conjunto habitacional do Amarelinho. As informações eram recebidas pela quadrilha do tráfico de drogas estabelecida na favela da Coréia, em Senador Câmara (zona oeste). Quando um radiotransmissor era apreendido pela polícia, a quadrilha recolhia todos os demais e mudava a freqüência, para que a polícia não monitorasse os contatos entre eles. (F s P, 15.11.2008, p. C-4).



Em outubro de 2009 um helicóptero da polícia foi derrubado durante invasão do Comando Vermelho, que tentou tomar a favela de Vila Izabel dos rivais do ADA (Amigos dos Amigos). As facções do tráfico nas favelas do Rio de Janeiro perderam nos últimos anos parte da clientela de classe média, e seus lucros dependem cada vez mais das próprias comunidades, o que provoca maior disputa territorial entre elas Com isso os traficantes procuram diversificar suas fontes de renda com a taxação ou “concessão” de serviços como transporte alternativo (vans), distribuição de botijões de gás e moto táxi.



O fato de parte de a classe média ter deixado de “subir o morro” para obter drogas tem três explicações: o aumento da violência, com incursões policiais mais freqüentes e traficantes mais truculentos; o aumento do uso de drogas sintéticas, como o ecstasy; e o tráfico operado pela própria classe média, com opção de pedir por telefone a entrega da droga. (F S P, 25.10.2009, p. C-1).



 



CIDADE DE DEUS



 



A favela foi ocupada permanentemente pela PM comunitária em 11 de novembro de 2008. Cidade de Deus nasceu nos anos 60 como conjunto habitacional para funcionários do Estado. O tráfico tomou conta nos anos 80. A partir de 2.000 a violência piorou. Traficantes, inclusive meninas abordavam carros, de arma em punho, para saber o destino. Mortos apareciam nos dois rios.



Com os 300 soldados da PM a população comemorou o fim dos bailes funk, com os “proibidões”, de apologia ao crime – promovidos pelo tráfico, que varavam as madrugadas de sexta a domingo e ninguém dormia, além do alto consumo de droga. Os traficantes sumiram. O inconveniente é que com menos Kombis, motos e sem moto táxis circulando, as ruas esvaziaram e o lucro dos comerciantes caiu. Acabou a Gato Net, subiram os valores de casas e aluguéis. (FS P, 15.03.2009, p. c-4).



O tráfico pesado acabou. Continua apenas o varejinho, o do consumidor local. Os traficantes se mudaram para a Chatuba, na Penha.



 



MORRO DE SANTA MARTA



 



Em dezembro de 2008 o Morro Dona Marta foi ocupado por uma operação policial de caráter permanente, que deverá ocorrer nas favelas da Babilônia, Chapéu Mangueira e Batan. Com isso, parte dos traficantes da comunidade mudou para as favelas de Fallet e do Fogueteiro, no Catumbi, zona norte, a 4 km de distância. (F S P, 19.12.2008, p. C-4).



 



 



TRÁFICO EM SÃO PAULO



 



Diferentemente do que ocorre no Rio de Janeiro, onde as quadrilhas dominam os morros e brigam entre si, em São Paulo isto não existe. O PCC exerce domínio completo.



“Segundo os promotores Sandra Reimberg e Roberto Wider Filho, do Gaeco de Santo André, o PCC montou um “tribunal do crime”  onde” eles julgam essas pessoas pelo cometimento de crimes comuns [homicídios, estupros, etc.], com a pena de morte aplicada muitas vezes”.



Os criminosos “julgam porque tem uma visão mercantilista, querem trazer tranquilidade para o local onde vendem drogas. A finalidade principal da facção criminosa,  apesar de eles praticarem roubos, homicídios e muita corrupção, é o tráfico de drogas, fonte de renda mais lucrativa da facção, o que eles chamam na quadrilha de ‘sintonia do progresso’, o que causa incremento financeiro dentro da organização. Eles podem progredir se tiverem mais dependentes das drogas e, para eles, isso é progredir”.



Portanto, por exemplo, “um homicídio em determinada área vai chamar a atenção de órgãos do Estado durante um dia inteiro e o comércio de drogas está parado. O homicídio é um crime que tem uma reação muito grande do PCC. Se ocorreu um homicídio, vai ser um prejuízo grande para o tráfico”.



“Qualquer distúrbio no local de venda de drogas reduz o comércio e causa um prejuízo para eles. E o que eles tentam? Limpar a área em torno do comércio de drogas para que assim possam desenvolver a atividade criminosa deles com mais eficiência, a atividade de comércio de drogas”.



Quem comete crime na área onde o PCC vende drogas vai atrair a polícia e vai ser julgado. “E vai ser julgado não porque cometeu um crime, mas sim, por ter provocado a ação policial e por atrapalhar o tráfico”. No caso de crimes, as pessoas são pressionadas a não chamar a polícia, com a promessa de que o PCC vai localizar e julgar o autor. (F S P, 4.10.2008, p. C-10). 



Em outubro de 2008 a Polícia Militar após diligência sobre denúncia de tráfico de drogas descobriu um sistema de monitoramento com câmeras no Jardim Nossa Senhora do Carmo em São Paulo.



Para venderem drogas tranquilamente nas ruas, traficantes ligados à facção criminosa PCC monitoravam a ação da polícia numa área de 500 m2 em um barraco por meio de dez televisores. Os monitores eram conectados  a micro câmeras instaladas estrategicamente no alto de postes de energia elétrica.



No imóvel, que funcionava como central de monitoramento e ponto de refino, ainda havia mais de 40 tijolos prensados de maconha e cocaína, balança e duas armas. Os traficantes que estavam no barraco fugiram ao perceber a aproximação da polícia pela TV. (F S P, 1.11.2008, p. C-1).



A Polícia Militar apreendeu em julho de 2010 oito supostos integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital), a facção criminosa que domina o tráfico no Estado de São Paulo e controla parte das prisões. Com eles foram apreendido R$ 570 mil em dinheiro, 4 quilos de cocaína e 4 tabletes de maconha. O volume de dinheiro apreendido demonstra o poderio desta organização. (F s P, 8.7.2010, p. C-5).



 



PARAISÓPOLIS



 



A favela foi ocupada por 400 PMs em quatro de fevereiro de 2009 após um confronto pela morte de um morador pela PM. Com a presença da PM os traficantes sumiram e a exemplo do Rio subiram preços de aluguéis e de casas. (F s P, 15.03.2009, p. C-4).



 



“BUNKER” COM ARMAS E DROGAS 2013



 



Policiais da Rota, grupo de elite da Polícia Militar de São Paulo, localizaram um depósito utilizado para guardar drogas e armas em um sítio em Juquitiba, na região do Grande São Paulo em 15 de março de 2013.



No imóvel foram encontrados 424 quilos de cocaína, 80 quilos de crack e seis quilos de maconha, além de 25 quilos de bicarbonato de sódio, três balanças de precisão, além de produtos utilizados para o refino de entorpecentes. Também foram apreendidos um verdadeiro arsenal:  oito fuzis, três carabinas, duas espingardas calibre 12, três submetralhadoras, nove revólveres e 11 pistolas, além de carregadores de projeteis e um silenciador.



O depósito só foi descoberto porque os policiais desconfiaram de um piso em uma área ao lado de uma casa em construção . Ali, os policiais descobriram que havia uma tampa de concreto. Por duas horas foi preciso utilizar uma escavadeira para levantar a tampa . Sob a tampa havia um elevador hidráulica usado para levantá-la e que dava acesso ao “bunker”, com paredes de 60 cm de espessura cobertas por placas de aço, área total de 30m2 e dois metros de altura e com um sistema de ventilação . Ninguém foi preso na operação . ( F S P , 16.03.2013, p.C-3) .

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