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Ensaios-->Terra Papagalli e a Carta de Caminha -- 03/04/2010 - 14:15 (Fabrício Sousa Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ensaio comparativo sobre o processo de aculturação existente entre as obras Terra Papagalli e a Carta de Caminha.


A invasão portuguesa no Brasil deixou de ter, neste estudo comparado, apenas importância histórica para adquirir valor artístico. A Carta de Carminha iniciou a vida literária desta ex-colônia de Portugal com a literatura de informação. De lá pra cá, ouve um acentuado interesse dos literatos em recontar o que de fato se supõe que ocorreu à época da invasão. Hoje, a história já analisa criticamente nossa origem histórica, logo as obras imbuídas de uma espécie de neohistoricismo, certamente, abordarão a narrativa daquela época com olhos independentes. Motivada por essa posição crítica da história, iniciei este ensaio entre duas obras tão distantes cronologicamente.
Em Terra Papagalli, os autores José Torero e Marcus Pimenta abordam a história do “descobrimento” do Brasil com uma narrativa que busca resgatar especulações científicas oriundas da pré-invasão, ainda em Portugal.

(...) Puseram-me num canto da embarcação juntamente com Lopo de Pina e outros vinte condenados que eu não conhecia (...). página 25

Nesse fragmento, percebe-se que os futuros habitantes da colônia são os degredados de Portugal – metrópole. Assaltantes, contraventores, golpistas e muitos outros fora-da-lei são condenados a morarem em uma possível terra a ser descoberta. Esse fragmento comprova, mesmo que literariamente, a especulação da história moderna a respeito dos primeiros habitantes europeus de nosso país.
O segundo momento do início da viagem exploradora apresenta as dificuldades encontradas pelos expedidores em chegar a terra desejada.

(...) Estou com uma tremenda caga-merdeira. Esse biscoito é, na verdade, uma porção de farelo com pêlos de rato e pernas de barata. São muito fedorentos, e como ficam em paióis pouco arejados, logo adquirem bolor (...). página 30

(...) Já há alguns doentes na nau e começam a sofrer delírios. Uns dizem que a peste vem do comer apenas biscoitos, outros que da água salobra e uns outros que isso é por causa da malícia dos ares pestíferos (...). página 34

Como a viagem durou mais de um mês, a alimentação se escasseava, deixando a aventura mais cansativa e longa. A descrição do percurso de Portugal até terras brasileiras foi feita com bastante cuidado, pois parece que a idéia era apresentar as condições, pelas quais a tripulação passava, a fim de que o leitor a comparasse com o “desconforto” do futuro transporte dos escravos – os navios tumbeiros. A viagem com tripulantes considerados ser humano já foi difícil, quanto mais seria a viagem de prisioneiros.
A chegada ao território brasileiro ocorreu, conforme já dito, demorou mais de um mês. Entretanto os tripulantes da nau demoraram mais de um dia para criarem a coragem suficiente para descerem da nau.

(...) Olhando então com mais cuidado para a praia, vi que havia umas criaturas que pareciam macacos, porque andavam muito eretos e apontavam para nós (...). página 38

(...) Chegando à praia, vimos que eram pardos, rijos, altos e estavam nus como na primeira inocência. Estavam muito alvoroçados e agitavam seus arcos (...). página 39


Percebe-se que houve um estranhamento de ambas as partes: portugueses e nativos. Os portugueses estranharam aquelas criaturas morenas, nuas, com aparência de macaco e armados de arco e flecha. A admiração recíproca evidencia que da mesma maneira que os europeus estranharam os índios no momento da invasão, os índios também estranharam os europeus. Fica clara a intenção de ressaltar a diversidade cultural existente entre os povos, principalmente, no momento do encontro. Diversidade é sinônimo de diferença. Não que uma seja superior a outra, mas que, um mundo tão grande, as culturas não poderiam ser iguais ou parecidas.
Em A Carta de Pero Vaz de Carminha, não há detalhes referentes ao preparo da viagem exploradora da expedição a terras desconhecidas. Entretanto o texto cita a presença dos degredados a bordo da nau.

(...) E mandou com eles, para lá ficar, um mancebo degredado (...). página 4

(...) Mas sim, para os de todo amansar e apaziguar, unicamente de deixar aqui os dois degredados quando daqui partíssemos (...). página 7

A referência aos degradados reforça a idéia levantada pela obra Terra Papagalli de que os degredados de Portugal foram obrigados a acompanhar as expedições rumo a terras novas. Caso fosse necessário colonizar as terras encontradas, os degredados seriam os desbravadores. Sabe-se que Carminha não faz comentários sobre os preparativos da viagem, porque sua carta possuía uma única missão: informar ao rei acontecimentos ocorridos na nova colônia.

(...) Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova (...). página 1

Carminha se ateve apenas aos detalhes referentes à invasão da terra de Vera Cruz, conforme fragmento acima, pois não comentou nem sobre os preparativos, tampouco sobre os calvários que surgiram durante a viagem. Quanto a esse assunto, o documento se apresenta raquítico de informações tão importantes, como os detalhes dos primeiros dias de encontro na terra. Todavia o rei não quereria saber da má viagem de seus súditos – um dos motivos que fizeram Carminha poupar-lhe o choramingo. Ao se comparar o documento redigido por Carminha com outros documentos históricos estudados por diversos historiadores, percebe-se a limitação de detalhes escritos na carta de informação redigidas pelo escrivão Carminha. Deve-se levar em consideração a intenção do autor ao escrevê-la; não queria escrever um estudo profundo dos detalhes vivenciados por sua comitiva ou por ele. Entretanto deve-se ter certeza de que a contribuição científica, que a carta apresenta, não é o nosso maior documento histórico.
O mesmo, felizmente, não pode ser dito em relação ao detalhe do encontro estabelecido entre os portugueses e os nativos da terra apresentados na obra. Nesse ponto, a obra apresenta um leque de riquezas, sobretudo, quando se refere ao primeiro contato, a receio de se aproximar tanto de um lado quanto do outro.

(...) Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas (...). página 2


O primeiro contato é narrado semelhantemente ao descrito em Terra Papagalli. Somente houve intenção de aproximação após o início do segundo dia da expedição portuguesa naquela terra. A admiração com o povo moreno, nu, com arcos e setas nas mãos, chamou a atenção do leitor atento aos detalhes levantados também na obra Terra Papagalli. Até o primeiro encontro com os nativos por meio da troca de chapéu está bem enfatizado nas duas obras.

(...) Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas (...). página 2

Infere-se que, na obra Terra Papagalli, os autores aproveitaram alguns detalhes escritos pelo escrivão oficial da expedição portuguesa no Brasil. E são esses pontos narrados que dão um respaldo historicamente confiável à Terra Papagalli.
Outro fator explicitado pelas duas obras foi o contato entre os portugueses e os índios. O primeiro encontro foi importante para ambos, pois possibilitou o conhecimento mútuo entre características das duas culturas. Após esse momento, percebe-se que a cultura européia assume um papel de superioridade. Os próprios nativos concedem aos portugueses esse estatus de grandeza – no citado momento, os índios expressaram um ar de ingenuidade sincera.
A obra Terra Papagalli aprofunda bem mais essa relação em suas páginas, sobretudo, quando narra a troca de objetos manufaturados para conseguir atenção dos nativos. Para os índios tudo aquilo era novidade, genuinamente, deixaram-se envolver por toda a curiosidade originada pelo contato com aquelas pessoas diferentes.

(...) Quando lá chegamos, vieram duzentos gentios até os batéis estendendo-nos a mão como a pedir presentes. Nicolau Coelho, que já ia muito confiado, dava-lhes carapuças e manilhas (...). página 40

Os portugueses utilizaram a estratégia de doar tais produtos para, além de ganhar a confiança dos nativos, introduzirem produtos pertencentes a sua cultura. Houve, nesse momento, uma mescla entre as duas culturas; porém a cultura que mais se abriu para receber influências da outra foi, sem dúvida, a indígena.
Outra marca de domínio cultural expressa na obra foi a primeira celebração eucarística no centro da praia, o porto seguro dos invasores.

(...) Neste domingo de Páscoa decidiu-se rezar missa em terra, e essa há de ter sido a primeira celebração do Deus verdadeiro e único naquela ilha. Trouxemos a maior cruz que havia a bordo e ela foi colocada no centro de uma clareira (...). página 41

A celebração eucarística foi expressão forte da intenção de se introduzir as marcas culturais lusitanas em território brasileiro. Há um episódio bastante curioso levantado pelo autor na obra: o frei Henrique se recusara a celebrar a missa por conta da nudez dos nativos.

(...) Ao ver tamanha quantidade de homens nus, frei Henrique teimou que não podia rezar missa (...). página 41

A religião, além de forma eficaz de domínio, possuía a função de fornecer respaldo divino, alívio de consciência, aos invasores que se julgavam representantes diretos de Deus na terra.
A celebração eucarística foi outro atrativo para os nativos que ficavam admirados com a festa dos brancos invasores. Os europeus acharam interessante a participação daquele povo bárbaro na missa celebrado na praia. Quiçá tenha partido daí a intenção de levar o evangelho àquele povo que, pensaram os portugueses, manifestou curiosidade em conhecer festa religiosa.
Há também na Carta de Carminha toda narrativa a respeito do primeiro contato com os índios. Carminha, em sua carta, retrata o grau acentuado de curiosidade expresso pelos nativos e pelos portugueses. Entretanto é se referindo a posição submissa a qual os nativos se colocaram que a narrativa engendra corpo e ganha efeito. A bestificação, na qual puseram o índio no momento do primeiro contato, evidencia uma narrativa viciada e condenada à parcialidade, embora narre também que os portugueses ficaram curiosos em querer conhecer bem os nativos.

(...) E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três (...). página 2

(...) A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma (...). página 3


A “troca” de produtos também marca o momento de pré-aculturação: pensavam que estavam levando a civilização àquele povo desprovido de modernidade e egoísmo europeus. O choque cultural proporcionado pelos portugueses foi inevitável, uma vez que a ignorância os fez cegos para absorver a existência da compreensão da cultura nativa. Em vez disso, impôs sua cultura como se fosse a única ou como se a verdade tivesse escolhido um país dentre vários para se estabelecer – qual seria o critério de escolha?
Em algumas passagens da Carta de Carminha, o índio é retratado como um ser alienável, portanto fácil de se convencer, domesticável como um animal.

(...) Levava Nicolau Coelho cascavéis e manilhas. E a uns dava um cascavel, e a outros uma manilha, de maneira que com aquela encarna quase que nos queriam dar a mão. Davam-nos daqueles arcos e setas em troca de sombreiros e carapuças de linho, e de qualquer coisa que a gente lhes queria dar (...). página 4

Em tão pouco tempo de contato, o índio deixou-se convencer a usar roupas, dormir no chão ou em rede. Aparentemente, ao leitor é transmitida a imagem de que o progresso chegou à terra encontrada à moda européia. Inconscientemente, usa-se gratuitamente a falsa imagem de que os nativos eram um povo ignorante, selvagem.
A celebração da santa missa foi o fato mais explícito do processo de aculturação. A missa foi o veículo mais eficiente para concretizar a intenção de convencer o outro de que sua verdade seria universal ou que apenas haveria uma imagem na qual eles se viam como representantes da verdade. A invasão a uma terra que não pertencesse ao invasor já seria motivo para lutas de defesa, quanto mais levantar um cruzeiro de madeira na beira da praia para celebrarem o Deus europeu, renegando de pronto a cultura religiosa dos nativos.

(...) Ao domingo de Pascoal pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado (...). página 6

Em Terra Papagalli, o autor narra a entrada dos degredados, que foram deixados pela expedição, na terra de uma maneira muito real. O grupo, antes de se encontrar com os nativos, passou mais de um mês tentando sobreviver com dificuldades e bastantes descobertas mútuas. No momento de encontro com os nativos, houve um grande pavor, pois o personagem Cosme Fernandez ficou ferido.

(...) E tendo passado quase um mês, estávamos mais contentes e resignados em viver naquela ilha (...). página 56

(...) Ìamos naquela sandice, senhor conde, e eu muito folgado nos ombros deles, quando, não se sabe de onde, veio uma seta agudíssima e feriu-me no braço (...). página 59


O alvoroço narrado pelo autor demonstra a fragilidade à qual era exposto o grupo de degredados em uma terra desconhecida. Nesse momento, percebe-se que a cultura dominante, ainda, era a nativa – domínio de força. Os portugueses eram as presas dos nativos. Talvez seja a marca mais intensa de submissão vivida pelos portugueses.
Uma estratégia que foi muito além da força conseguiu aos poucos fazer com que os portugueses mudassem de oprimidos para hóspedes de respeito. A estratégia referida foi justamente o poder de argumentação dos invasores apoiado na conquista por meio da troca de presentes. As novidades européias conquistaram os nativos. Estes, por receberem tais produtos, passaram inocentemente a ver os portugueses como amigos.

(...) Em troca desse serviço, dei-lhe um crucifixo, e ele ficou tão contente que, se lhe pedisse que fosse meu escravo até o fim da vida, aceitaria de bom coração (...). página 61

(...) Na Terra dos Papagaios é preciso saber dar presentes com generosidade e sem parcimônia, porque os gentios que lá vivem encantam-se com qualquer coisa, trocando sua amizade por um guizo e sua alma por umas contas (...). página 61



Levar os invasores para aldeia foi a maior demonstração da consideração indígena por eles. Esse foi o início da abertura pra o processo de aculturação pelo qual os nativos passaram.
Após o passar dos anos, os índios eram convidados a compartilhar de alguns costumes levados principalmente pelos portugueses degredados. A troca de objetos foi de fundamental importância para a mudança de comportamento dos nativos. Quanto mais recebiam influências, mais os invasores recebiam respeito e consideração da comunidade. Conseqüentemente, a liderança nativa passava, indiretamente, a se subordinar ou a minar diante da situação.

(...) Piquerobi estava orgulhoso da vitória e passeava muito altanado pela aldeia. Quando pôde falar comigo, disse ter gostado muito da nova forma de lutar que eu havia criado e gostaria de usá-la em outras guerras (...). página 83

(...) Seu entendimento lhe dizia que deviam ser todos comidos e desconsolava-se pensando que iria trair os costumes que o seu povo seguia há tão longo tempo (...). página 104

(...) Fez-se então o negócio, e Piquerobi recebeu em pagamento espadas, facas, facões alguns arcabuzes, vários enfeites e até uma dúzia de galinhas, mas mesmo assim não ficou contente (...). página 105


Quando a narrativa evoluiu, mostrou Cosme Fernandez como o líder da terra, que pertencia aos nativos, na mesma proporção que deixou de fazer alusão à liderança indígena. Embora houvesse uma parte do território dividido nas mãos da liderança indígena, a admiração se centrava no bacharel e sua próspera terra.
Percebe-se que ocorreu na obra a análise do processo de aculturação como naturalmente ocorreu e continuou no decorrer da história: invasão lenta, progressiva e intensa. Os portugueses chegaram à Terra Papagalli muito devagar, por vezes foram vítimas de diversas situações, entretanto, conseguiram vencer as adversidades e resistências, utilizando o poder de argumentação, em suas várias vertentes, sobretudo, na conquista da confiança por meio da imposição material.
O autor Carminha, em sua carta, acentua a importância de se infiltrar no meio nativo a fim de extrair o entendimento necessário para integração com os europeus. Conforme já fora dito neste presente ensaio, o início da integração entre portugueses e nativos foi tumultuada, visto que havia dois pensamentos distintos: o primeiro pertencia aos portugueses – entrar na terra a fim de explorá-la, na realidade era uma missão que deveria ser concluída -; o segundo pertencia aos nativos – defender sua terra da invasão estrangeira. Naturalmente, gerou-se um verdadeiro impasse entre os dois povos.

(...) E que portanto não cuidássemos de aqui por força tomar ninguém, nem fazer escândalo; mas sim, para os de todo amansar e apaziguar, unicamente de deixar aqui os dois degredados quando daqui partíssemos (...). página 7

Por um lado, o povo português mostrou-se amedrontado frente a um povo desconhecido e armado. Entretanto utilizaram uma estratégia bem próxima ao mundo ocidental “desenvolvido”: estabelecer o poder de argumentação. A estratégia de aproximação utilizada pelos portugueses foi bem narrada tanto na Carta de Carminha quanto na obra Terra Papagalli. Infere-se que esta última obra é construída com base na Carta de Carminha, visto que os pontos analisados neste ensaio são convergentes, possuindo uma seqüência idêntica à obra histórica da literatura de informação.
O poder de imposição cultural por parte dos invasores foi sem dúvida decisivo para inversão de papeis: os nativos deveriam defender o território dos invasores; passaram a admirá-los, contaminando-se com objetos pertencentes à cultura européia, além de levar alguns deles à aldeia. O poder de argumentação português se baseou na imposição cultural.

(...) Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós (...). página 13

(...) E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos (...). página 14


Há comprovação contundente do discurso citado acima em muitos fragmentos da obra, sobretudo, nos fragmentos referentes à mudança dos costumes indígenas, como se vestir ou participar da celebração eucarística, até usar no pescoço crucifixo.

(...) Entre todos estes que hoje vieram não se veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lhe em volta dela (...). página 14

Analisa-se que o processo de aculturação ocorre quando um povo abre mão de seus costumes para viver costumes de um outro povo mais expressivo socialmente ou economicamente. Nas duas obras analisadas neste ensaio, ficou evidente o processo de aculturação paulatino e intenso. A intenção dos autores de Terra Papagalli foi construir um texto com base na Carta de Carminha, a fim de recontar a história da colonização brasileira, buscando elementos emprestados pela crítica histórica moderna sobre alguns pontos ortodoxamente intocáveis até então. Terra Papagalli foi escrita por pessoas sem o compromisso de agradar a nenhum lado; ao passo que a Carta de Carminha foi escrita com a intenção de comunicar ao rei a invasão bem sucedida a uma terra por súditos reais. Percebe-se que Carminha, em seu discurso, mostra-se bastante submissão em suas palavras, portanto narra a invasão com a visão de um invasor elitista e ortodoxo religioso parcialmente inclinado a um lado da verdade.
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