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Ensaios-->Chapeuzinho vermelho e Fita verde no cabelo -- 03/04/2010 - 14:12 (Fabrício Sousa Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ensaio comprado entre o amadurecimento da protagonista dos contos Chapeuzinho Vermelho e Fita Verde no cabelo


A história de Chapeuzinho Vermelho possui várias versões. E por conta dessa variedade decorrente da primeira (versão de Perralilt) que a história da Chapeuzinho ganha várias interpretações. Este ensaio comparativo visa à abordagem e à análise das congruências existentes entre duas de suas versões.
Na versão tradicional da história, tem-se Chapeuzinho como um ser inocente.

(...) Era uma vez, uma menina tão doce e meiga que todos gostavam dela (...). página 1

Os adjetivos doce e meiga evidenciam a característica carismática da protagonista, ao mesmo tempo em que revela sua personalidade ingênua, inocente. Crê-se que essa característica é própria do ser que ainda não se confrontou com dificuldades diversas em sua vida ou que já defrontou, mas não absorveu ensinamentos necessários. É preciso que ela adquira a visão madura da vida.
O paparico que recebia dos familiares fez parte do processo de superproteção que bestifica a personagem, deixando com que ela não percebesse uma realidade fora da vivenciada por ela.

(...) A avó, então, a adorava, e não sabia mais que presente dar a criança para agradá-la (...). página 1

Quando o texto revela que a avó não sabe mais o que dar a ela de presente, marca com maior intensidade o quão era verdadeiramente querida pelos seus, pois associa-se que a troca de presentes significa a troca de carinhos, de expressão de boa querência. O apego da avó com a criança também revela o grau de intimidade presente na ralação das duas, embora isso esteja nas entrelinhas do texto. O mimo com o qual Chapeuzinho era tratada em casa a privou da malícia que ela poderia ter adquirido. A visão de mundo, expressa pelo protagonista, está recheada de encantos mágicos e bosques floridos – metaforicamente falando.
Já no conto Fita Verde no cabelo, a relação de amadurecimento é a mesma. A menina do lugarejo, como as demais crianças, é relatada com um ar de ternura e ingenuidade próprias de uma criança.

(...) Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita verde inventada no cabelo (...). página 81

Os velhos são descritos como realmente velhos. Os homens e mulheres são descritos com um ar próprio de pessoas dessa idade. As crianças como crianças. Fita Verde, na condição de criança, é descrita, no primeiro fragmento, como criança. Subentende-se que, para tal qualificação, as características de ingenuidade, pureza, agitação ou até mesmo impercepção da realidade do mundo. “Meninos e meninas cresciam”. Esse fragmento evidencia essas idéias de constante aprendizagem dessa faixa etária.
O fragmento “todos com juízo suficiente” se refere a todas as três etapas da vida situadas anteriormente: velhos, adultos e crianças. Ora, até as crianças estão envolvidas nessa observação. Apesar da pouca visão de mundo, as crianças também tinham juízo. Entende-se, por juízo, que poderiam ser obedientes, observadoras, curiosas, características próprias de pessoas dessa idade. Entretanto, no fragmento “menos uma menina, a que por enquanto”, Fita Verde no cabelo é excluída da condição natural dirigida a pessoas de sua idade. Se as crianças fossem caracterizadas pelos adjetivos citados acima, Fita Verde não estaria incluída. O texto não é claro com relação a isso, mas percebe-se que Fita Verde era diferente, especial.
A protagonista recebe, no texto, expressão de carinho, amabilidade, pelo menos o texto explicita o carinho da parte da avó.

(...) Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia (...). página 81

O encanto, sentido pela avó, aproxima esse texto do texto Chapeuzinho Vermelho clássico. Entretanto, a expressão do texto clássico é mais intenção do que o Fita Verde, visto que Chapeuzinho Vermelho, quiçá por ter um comportamento mais regular, recebe, segundo o texto, maior manifestação de afeto por parte dos seus.
No texto clássico, Chapeuzinho recebe a incumbência de sua mãe, precisa levar bolo e vinho para a reconstituição da saúde da avó.

(...) Um dia sua mãe lhe chamou e disse:
- Chapeuzinho, leve este pedaço de bolo e essa garrafa de vinho para sua avó. Ela está doente e fraca, e isto vai fazê-la ficar melhor.
Comporte-se no caminho, e de modo algum saia da estrada, ou você pode cair e quebrar a garrafa de vinho, e ele é muito importante para a recuperação de sua avó.
Chapeuzinho prometeu que obedeceria sua mãe e pegando a cesta com o bolo e o vinho, despediu-se e partiu (...). página 1

Como Chapeuzinho ainda era uma garota inocente, deveria ouvir as observações da mãe, assim como colocá-las em prática. A personagem principal diferentemente disso, deixa-se influenciar pelas palavras do lobo. A missão assumida por Chapeuzinho apresenta dois objetivos: o primeiro pertence ao senso comum, levar a cesta com bolo e vinho à vovó; o segundo está implícito ao texto, buscar um amadurecimento por meio da missão assumida – ao passar pela floresta sozinha, Chapeuzinho se depararia com contratempos indesejados ou com os encantos daquele lugar, além de se confrontar com a possibilidade de esquecer as observações da mãe.
A primeira como já foi dito é comum, ou seja, está na possibilidade de interpretação estendida a todos que lerem o texto apenas uma vez. A segunda passa a ser evidente para uma segunda ou terceira leitura ou quando o leitor já possui experiência em interpretação de texto. A idéia de amadurecimento dar-se-á no momento em que as pessoas passam por provações. É por meio de provas que se extrai a essência de algo vivenciado, após um momento de reflexão.
Chapeuzinho passa por provações no momento em que deixa de observar as recomendações da mãe.

(...) – Escute Chapeuzinho, você já viu que lindas flores há nessa floresta? Por queê você não dá uma olhada? Você não está ouvindo os pássaros cantando? Você é muito séria, só caminha olhando para a frente. Veja quanta beleza há na floresta.
Chapeuzinho então olhou a sua volta, e viu a luz do sol brilhando entre as árvores, e viu como o chão estava coberto com lindas e coloridas flores, e pensou:
“Se eu pegar um buquê de flores para minha avó, ela vai ficar muito contente. E como ainda é cedo, eu não vou me atrasar.”
E saindo do caminhou entro na mata. E sempre que apanhava uma flor, via outra mais bonita adiante, e ia atrás dela. Assim foi entrando na mata cada vez mais (...). página 1

Chapeuzinho deixa-se envolver com o lobo. Este apenas queria saboreá-la, no entanto ela não se deu conta disso, tampouco evitou dar atenção a um desconhecido. Fatos esses importantes para marcar os momentos de inobservância, além de julga-los como essenciais para ajudar no conhecimento de Chapeuzinho Vermelho.
Em Fita Verde no cabelo, a personagem também recebe uma incumbência de sua mãe. Ao contrário do conto tradicional de Chapeuzinho Vermelho, Fita Verde recebe um cesto vazio. Ora julga-se que o cesto vai vazio para buscar algo na casa da vovó.

(...) Fita Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto vazio, que para buscar framboesas (...). página 81

Porém, há uma conformidade com o texto do Chapeuzinho Vermelho, uma vez que, além da cesta vazia, Fita Verde levará à vovó um pote de calda. Há a incumbência de levar algo à vovó, e outra que seria buscar framboesas da casa da vovó. Então, pode-se inferir ao texto um caráter mais direto no sentido de se explicitar a intenção do conto de acentuar uma relação de crescimento da protagonista, pois vazio pode significar acrescentar.
No texto, Fita Verde foi a menina quem escolheu o caminho a ser seguido. Explicitamente não houve recomendação da mãe, exceto a incumbência de levar o pote de calda e buscar framboesas. Entretanto, implicitamente, pode-se marcar a ausência de recomendação pelo fato do texto, no primeiro parágrafo, atribuir a ela falta de juízo.

(...) E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vindo-lhe correndo, em pós. Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeiínhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto por elas passa. Vinha sobejadamente.
Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu (...). página 81

Fita Verde escolhera seu caminho, entretanto a escolha ocorreu diferentemente à qual a mãe poderia se referir – no primeiro parágrafo, o texto diz que todos tinham juízo, exceto Fita Verde. Ela escolhe o caminho mais longo, além de louco. Subentende-se que, e o texto nos evidencia, é o caminho mais propício a tentações. Por algum tempo a protagonista se esqueçe da missão de que recebera e intretém-se com as várias possibilidades de brincar na floresta.

(...) Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeiínhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto por elas passa. Vinha sobejadamente (...). página 81

O texto, como o fragmento citado expõe, ressalta que realmente Fita Verde se esquece da missão. Ficou explicitado com a palavra “demorou”.
O momento que Fita Verde investe em brincadeiras no bosque marca que para a menina sem juízo a vida era enxergada de uma maneira inocente. Somente alegria parecia que era o olhar com que ela mirava a vida.
Percebe-se que, de uma certa forma, o momento de brincadeira foi importante para, logo depois, Fita Verde extrair a verdadeira essência, por meio de confrontação. A dicotomia alegria e dor será a educadora da personagem. Formá-la-á com marcas eternas. A vida seria diferente para a menina.
De volta ao primeiro texto (Chapeuzinho Vermelho), analisa-se a figura da avó de fundamental relevância para a contribuição do crescimento da protagonista. Ao chegar à casa da vovó, Chapeuzinho percebe uma relação contrária a que sentia antes de estar naquele local.

(...) “Oh, céus, por quê será que estou com tanto medo? Normalmente eu me sinto tão bem na casa da vovó...” (...). página 2

Chapeuzinho não somente se sentiu estranha como se assustou com a aparência diferente da avó, supostamente, enferma e deitada na cama.

(...) – Oh, vovó, que orelhas grandes a senhora tem! – disse então Chapeuzinho.
- É pra te ouvir melhor.
- Oh, vovó, que olhos grandes a senhora tem!
- È pra te ver melhor.
- Oh, vovó, que mãos grandes a senhora tem!
- É para te abraçar melhor.
- Oh, vovó, que boca grande e horrível a senhora tem!
- È para te comer melhor – e dizendo esso o Lobo saltou sobre a indefesa menins, e a engoliu de um só bote (...). página 2

A marcação das diferenças faciais da avó demonstrou a confrontação com a realidade – a aparência que subsistia da sua avó em sua mente. O contraste é relevante para se iniciar a reflexão acerca de diversos fatos. Após o ocorrido, sem dúvida, Chapeuzinho associou a figura do lobo à de uma pessoa má que quer enganar as outras pessoas para lhes fazer mal. A passagem da inocência para a consciência ocorre justamente nesse ponto, conforme fragmento a seguir:

(...) Chapeuzinho disse para si mesma:
“Enquanto eu viver, nunca mais vou desobedecer minha mãe e desviar do caminho nem andar na floresta sozinha e por minha conta.” (...). página 2

Percebe-se que de fato Chapeuzinho adquire consciência por meio da provação pela qual passou. E que todas as ações vivenciadas por ela no texto foram importantes para haver uma mudança na pequena visão de mundo que tinha, além de perceber que, mesmo indiretamente, um ato de irresponsabilidade da parte de uma pessoa pode prejudicar outras inocentes na história.
No texto Fita Verde no cabelo, o encontro da menina com a avó também marcou o início da aquisição da consciência por parte da jovem. A avó representa, assim como no texto clássico, a confrontação com a realidade da menina até então. A observação dos detalhes característicos à avó foi o cume interpretativo do texto, visto que a cada detalhe falado por Fita Verde era uma constatação de uma nova realidade da qual não tinha contato.

(...) – Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão trementes!
- É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta... – a avó suspirou.
- Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados!
- É porque nunca mais vou poder te beijar, minha neta... – a avó suspirou.
- Vovozinha, e que olhos tão fundo e parados, nesse rosto encovado, pálido?
- É porque já não te estou vendo, nunca mais, minha netinha... – a avó ainda gemeu.
Fita Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez (...). página 82

O grito é a expressão concreta da tomada de juízo da menina, consoante explicitação do texto. O grito também figura a exteriorização do conteúdo armazenado em grande escala, como se fosse o derramamento de consciência adquirido pela menina.
A palavra “lobo”, expressa de um grito – (...) Gritou: - Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!(...), página 82 -, contribuiu para se obter uma interpretação mais próxima da intenção do autor do texto. Ao se comparar a palavra lobo – letra maiúscula – com a palavra lobo – letra minúscula, (...) viu só os lenhadores, que por lá lenhavam. Mas o lobo nenhum, desconhecido nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo (...)-, infere-se que a primeira se difere da segunda, visto que a palavra lobo do terceiro parágrafo se refere, indubitavelmente, ao animal selvagem; entretanto a palavra lobo presente no penúltimo parágrafo traz consigo a conotação de algo mais feroz que o animal, aquilo com que sua avó acabara de se encontrar: a morte. Até então Fita Verde não havia adquirido a compreensão mais próxima à realidade da vida.

(...) Vai, a avó, difícil disse: - “puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus te abençoe” (...). página 82

Fita Verde entrou na casa de sua avó. Foi essa ação que lhe trouxe uma novidade triste; nesse momento, a menina se abriu para uma outra realidade, a realidade da vida.
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