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Ensaios-->HISTÓRIA DOS BATISTAS EM IPUPIARA(ARIDES LEITE) -- 05/07/2009 - 14:48 (Mário Ribeiro Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
HISTÓRIA DOS
BATISTAS EM IPUPIARA
– A OBRA DAS MISSIONÁRIAS NO SERTÃO –

ARTE DA CAPA
Fernando Penteado

FOTO DA CAPA
Acervo pessoal do autor

ARIDES LEITE

HISTÓRIA DOS
BATISTAS EM IPUPIARA
– A OBRA DAS MISSIONÁRIAS NO SERTÃO –

Leite, Arides
História dos Batistas em Ipupiara : a obra das
missionárias no sertão / Arides Leite. --
São Paulo : Scortecci, 2009.
ISBN 978-85-366-1401-4
1. Batistas - Brasil 2. Batistas - História
3. Batistas - Ipupiara (BA) - História 4. Batistas -
Missões 5. Igreja Batista - Brasil - História
I. Título.

Copyright© Arides Leite Santos
4796/1 – 500 – 128 – 2009
Scortecci Editora
Caixa Postal 11481 - São Paulo - SP - CEP 05422-970
Telefax: (11) 3032-1179 e (11) 3032-6501
www.scortecci.com.br
editora@scortecci.com.br
09-00220 CDD-286.098142

Índices para catálogo sistemático:
1. Batistas : Ipupiara : Bahia : Estado :
História : Ação missionária e evangelizadora :
Cristianismo 286.098142

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Livraria e Loja Virtual Asabeça
www.asabeca.com.br

Grupo Editorial Scortecci
O conteúdo desta obra é de responsabilidade do(a) autor(a),
proprietário(a) do Direito Autoral.

À parteira que pegou meu corpo quente no momento em que cheguei ao mundo – missionária Maria Leoni Centeno Duarte – dedico este memorial.


Agradecimentos
Agradeço a minha esposa Vilma e a nossos filhos Letícia, André e Ester pela compreensão e tolerância enquanto dedicava-me a esta causa.

Agradeço a colaboração do Pr. Adelso Durães, Ruth Ribeiro Dantas Fagundes dos Santos, Salomão Ribeiro dos Santos, Rubens Ribeiro dos Santos, Milton Alves de Souza, Izilda Ferreira dos Santos, Pr. Sócrates Oliveira de Souza, Pr. Humberto Viegas Fernandes, Clarice Viegas, Pr. José Brito Barros e o Tiago Monteiro.

Agradeço em especial ao amigo Pr. Clóvis de Sousa Nogueira, que me fez o convite-desafio para escrever este livro e operou diligentemente para que tivéssemos êxito na pesquisa.

Agradeço a meu irmão Ascir Leite Santos, prefeito de Ipupiara, que tem plena consciência dos benefícios que as missionárias batistas proporcionaram à comunidade, e que me incentivou a compilar essa história, por considerá-la parte significativa do patrimônio histórico e cultural dos ipupiarenses.

Por último, mas não menos importante, agradeço a meus pais Emiliano Santos Cunha (in memorian) e Aurelice Leite Santos, que nos ensinaram a andar pelas veredas da justiça, sendo modelos para nós de integridade.


PREFÁCIO
Esta obra é a concretização de um sonho; um despertar no coração para fazer conhecidos os atos de Deus em beneficio de um povo. Ela resgata um dos capítulos mais importantes da nossa história, não somente como batistas, mas como ipupiarenses.

Sem dúvida, essa história não chegaria ao conhecimento das próximas gerações, ficaria relegada ao esquecimento, se não fosse documentada como temos agora. Aqui encontramos os esforços, a dedicação, o amor e até os erros de homens que, mesmo sendo falíveis, desejaram fazer o melhor para que o santo e poderoso Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo fosse pregado a todos com a finalidade de libertá-los da escuridão.

Penso que os atos que perfazem a história dos batistas em Ipupiara e os esforços das missionárias para amenizar o sofrimento de muitos dos nossos conterrâneos não se exaurem nas páginas de um livro. As alegrias e tristezas que envolveram os corações desses gigantes da fé evangélica batista custaram um preço muito alto que só será recompensado pelo Senhor de suas vidas a quem devotaram todos os seus labores.

É com imensa alegria e com a certeza da contribuição que dará a esta geração e às gerações futuras que apresento ao público, em especial ao povo de Ipupiara, o livro “História dos Batistas em Ipupiara e a Obra das Missionárias no Sertão”.

Louvamos a Deus pela instrumentalidade desses valorosos homens e mulheres denominados “batistas”, que mesmo diante das grandes dificuldades impostas pelo “príncipe deste mundo”, auxiliados pelo Espírito Santo, viveram e escreveram em nossos corações esta linda história que jamais será esquecida, pois ficará gravada nos corações de nossos filhos, netos e de todos que dela tomarem conhecimento.

Estou certo de que muitos ficarão surpresos ao tomarem conhecimento dos fatos aqui relatados, pois estes elucidarão dúvidas
e trarão respostas para muitos questionamentos que ficaram calados no âmago de muitos corações ao longo desses 75 anos de história.

Creio que a obra servirá também como fonte de pesquisa para aqueles que buscarem conhecimento sobre formação e emancipação do povo ipupiarense, que de uma pequena vila localizada no sertão baiano construiu uma linda e promissora cidade, eis que iluminada pela luz do Evangelho de Cristo.

Graças ao bom e eterno Deus pelas preciosas vidas que contribuíram para que este livro fosse uma realidade. Especialmente
o autor, o conterrâneo e irmão em Cristo, Arides Leite Santos, que abraçou esse projeto e empreendeu todos os esforços possíveis para que pudéssemos ter em nossas casas uma obra de tal magnitude.

Corroboro com o autor na dedicação dessa obra, à inesquecível Missionária Maria Leoni Centeno Duarte, que pelo poder do eterno Deus veio a Ipupiara abençoar a muitos com sua preciosa vida, dentre eles minha mãe, e outras dezenas de mães assistidas por ela no momento em que trouxeram seus filhos à luz.

Neste momento de gratidão, faço minhas as palavras inspiradas
e escritas aos romanos pelo apóstolo dos gentios: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!

Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém”.
Pr. Clóvis de Sousa Nogueira

SUMÁRIO

1ª Parte

Breve histórico sobre Ipupiara.................................................. 15
Antecedentes históricos dos batistas em Ipupiara ................ 23
Organização da congregação batista ....................................... 27
Guerra entre coronéis: Horácio e Militão .............................. 30
Apreensão e queima de Bíblias ................................................. 33
Aparição de um bode preto ...................................................... 35
Defunto protestante versus tronco de bananeira .................... 36
Proibição de sepultar os mortos no único cemitério ........... 37
Lei do sertão: palavra do padre e do delegado ..................... 40
Primeiro templo batista: aluguel e construção ...................... 43
Cartas demissórias concedidas pela igreja de Barra ............. 45
Organização da Igreja Batista da Vila de Jordão ................... 46
Homens e mulheres de fé
Adão Francisco Martins ........................................................ 50
Adelino Pereira de Novais.................................................... 53
Almerinda Ribeiro Sousa ...................................................... 56
Aristides Antônio dos Santos .............................................. 57
Artur Ribeiro dos Santos ...................................................... 61
Carlos Ribeiro Rocha ............................................................ 64
Gasparino Francisco Martins ............................................... 69
Laurentina Ribeiro Martins (Dona Lala) ........................... 71
Pedro Evangelista de Souza ................................................. 72
Pedro Pereira do Nascimento .............................................. 74
Saúde e educação na vila de Ipupiara: uma triste realidade ... 76

2ª Parte
A obra das missionárias no sertão baiano
Amália Ferreira Mota ............................................................ 79
Zênia Birzniek ......................................................................... 82
Maria Leoni Centeno Duarte ............................................... 92
Ruth Izabel Vieira de Souza ................................................. 93
Débora Pinto Barros ............................................................. 96
Divisão entre os batistas de Ipupiara ..................................... 100
Igreja move ação contra Artur Ribeiro ................................. 111
Evangélicos em Ipupiara e região........................................... 114
Os batistas de Ipupiara na atualidade
Igreja Batista Renovada ....................................................... 115
Primeira Igreja Batista ......................................................... 116
Ipupiara na atualidade ............................................................... 119
À guisa de conclusão ................................................................. 122
Referências bibliográficas ........................................................ 123

Anexo I
Quarenta irmãos que receberam cartas demissórias da
Igreja de Barra ............................................................................

1ª Parte

BREVE HISTÓRICO SOBRE IPUPIARA

Algumas notas sobre a origem, história e geografia de
Ipupiara, com seus 8.931 habitantes1, aos 50 anos de autonomia
político-administrativa em 2008.

Situada na Chapada Diamantina Meridional, região central
do Estado da Bahia, Ipupiara teve outros nomes antes de
sua emancipação: Fundão de Brotas (1865), Fortaleza de São João
(1906), Vila de Jordão (1911). A partir de 1º de junho de 1944,
por força do Decreto estadual n° 12.978, torna-se oficial o
topônimo Ipupiara, oriundo da língua tupi, cujo significado é
senhora ou deusa ou demônio das águas.

Erivelton Santos Costa tem algo a dizer sobre a origem
de Ipupiara:
“O Município de Ipupiara, como os demais circunvizinhos, deve
suas origens ao aparecimento das jazidas carboníferas [carbonado; diamante negro] e auríferas em seu território, quando das primeiras penetrações, em 1792, pelo português Romão Gramacho, procedente de São Salvador,
o qual denominou esse novo eldorado de Caiambola [...].
O Sr. Carlos Rodrigues de Araújo Barreto, por intermédio de Romão Gramacho, arrendou a Fazenda Fundão dos herdeiros do Conde da Ponte.
Nesta fazenda, onde foi edificada a Capela de São João Batista (1882), surgira por volta de 1847 o então povoado de Fundão. Em 1906, esse povoado, já como pequena Vila, passou a ser conhecido como Fortaleza de São João e nele foi criado o primeiro Distrito Policial; 5 anos depois, em 1911, recebe a denominação de Jordão e tem instalado o Juizado de Paz; no ano seguinte, em 1912, moderniza-se e tem inaugurada a Agência Postal e
Telégrafo, da qual o primeiro funcionário foi o Sr. José dos Santos; em 1935 denominou-se Vanique, e, finalmente, em 01/06/1944, por força do decreto estadual n° 12.978, recebe o nome de Ipupiara (...).
Em 1950, a população da Vila de Ipupiara não passava de 1.456
pessoas residindo na sua área urbana, e perto de 1000 pessoas residindo na Vila de Ibipetum, mais alguns poucos habitantes distribuíam-se ainda em diminutos povoados, e se abasteciam nos mercados e feiras de Ipupiara e de Ibipetum”.

Nesta microrregião a oferta de empregos sempre foi aquém
da demanda. A distância em relação às grandes cidades do Estado
passa de 500 quilômetros. Ali não existe indústria para absorver
a mão-de-obra disponível. Por isso o êxodo de pessoas jovens
em busca de colocação no mercado sempre foi alto.

Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano do Município de Ipupiara (IDH – M)3 foi de 0,670, o que o coloca na
posição de médio desenvolvimento humano. Os indicadores utilizados no cálculo do IDH são a esperança de vida ao nascer, o
nível educacional e a renda per capita. Considerando apenas a
renda per capita, a situação se revela mais crítica, pois a de Ipupiara
foi apenas R$ 712,434, naquele ano.

A base da economia local é a agricultura de subsistência,
destacando-se a cultura de mandioca para produção de farinha,
cujo consumo é alto na região; do feijão de corda, e, em
menor escala, do milho. A extração do cristal de rocha, sua
comercialização e transporte também constituem significativa
fonte de renda, que tem alavancado as vendas do comércio
local, graças, principalmente, à presença de compradores chineses
que fixaram residência em algumas cidades da região.

Com território de 1.180 Km, Ipupiara faz limite ao norte
com o município de Gentio do Ouro; ao sul e oeste com
Brotas de Macaúbas, e ao leste com Barra do Mendes.

Além do distrito-sede e do distrito de Ibipetum, o município é composto dos seguintes povoados: Riacho das Telhas, Lagoa da Boa Vista, Pintada, Bela Sombra, Quebra Machado, Sodrelândia, Poço de Areia, Pedra de Izídio, Capim, Poço do Cavalo, Platina, Fazenda Nova, Barro Branco, Umbaúba, Olho d’água, Olhodagüinha, Chiquita, Furado, Traçadal, Coxim, Lagoa do Barro, Santo Antônio, Mata de Veríssimo, Mata de Evaristo, Barreiro, Tanquinho, Ingazeira,
Lagoa de Prudente, Vanique, Brejão, Rio Verde e Churé.

O acesso rodoviário ocorre pela BR – 242 (Salvador –
Brasília), no local identificado como entroncamento de Brotas de
Macaúbas / Ipupiara, adentrando-se pela direita na rodovia BA –
156, que leva até as duas cidades.

As altitudes do município variam entre 600 e 1750 metros
acima do nível do mar. A sede de Ipupiara possui as seguintes
coordenadas geográficas: 11º 49’ de latitude sul e 42º 37’ de
longitude oeste.

A sede está situada sobre um vale, cuja altitude é de apenas
720 metros. Um vale rodeado de serras por quase todos os
lados. Serras de mata densa e pedras abundantes, morada de
cotia, teiú, mocó e tatu; também de cascavel, jaracuçu, coral e
jararaca. Serras de grotas que abrigam morcegos, e gruta que
ostenta sinais de pintura rupestre. Solo semi-árido, clima tropical,
vegetação de caatinga, composta de aroeira, angico, juazeiro,
jurema, imburana, surucucu, mandacaru, quiabento, etc.

Sua posição geográfica singular, de cidade-vale entre serras,
provavelmente é o que leva alguns idosos, sobretudo de
cidades vizinhas, a se referirem a Ipupiara pelo nome de Fundão,
ou Fundão de Brotas, ainda hoje, após décadas da mudança
do nome.

O rio Verde, que nasce na serra do Salitre, sendo engrossado
pelas águas do rio Itaquari e do Guaribas, é o único afluente
do São Francisco a banhar aquela terra, lá pelas bandas do
Brejão. A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, editada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2 de
julho de 1958, contabilizava o rio Verde, naquela época, como
“sendo único de regime permanente, nesta região”.

No entanto, infelizmente, a partir da década de 80, o rio Verde perdeu muito da sua vitalidade, ficando seco durante a estiagem, normalmente nos meses de junho a dezembro.

A emancipação de Ipupiara foi conquistada em face do
município de Brotas de Macaúbas, triunfo assegurado pela Lei nº
1.015, de 9 de agosto de 1958, sancionada pelo governador Antônio
Balbino. Sob a liderança do coronel Artur Ribeiro dos Santos,
vários ipupiarenses se empenharam na luta pela emancipação,
como Arlindo Alves de Almeida (Sinhozão), Adão Francisco
Martins, Miguel Barreto, José Antônio dos Santos, Osvaldo
Leite da Silva, José Avelino, Durval Sodré, dentre outros.

A primeira eleição do prefeito, vice-prefeito e vereadores foi simultanea com as eleições gerais de 3 de outubro de 1958. Já
a instalação do município e posse dos eleitos foram efetivadas a
7 de abril de 1959. No interregno entre a criação e a instalação
do município, este ficou sob administração de Brotas de
Macaúbas. O município é constituído de dois distritos: Ipupiara
(sede) e Ibipetum, distantes 5 km um do outro.

Vale registrar a histórica rivalidade cultivada na arena política
entre o distrito de Ibipetum e a sede de Ipupiara, embora
separados por apenas cinco quilômetros de distância. Esta rivalidade
parece deitar raízes nos embates travados entre o coronel
Militão Rodrigues Coelho, cuja base política era a vila de
Barra do Mendes, e o coronel Horácio de Matos, cuja base era
a sede do município de Brotas de Macaúbas.

Pela tradição oral dos ipupiarenses, sabe-se que nestes
embates (1916 a 1919), dos quais tratarei adiante, a então vila de Ipupiara sempre estivera ao lado de Militão, ao passo que o
distrito de Ibipetum, antagonicamente, ficava ao lado de
Horácio.

O fato é que resquícios dessa rivalidade eram claramente
perceptíveis, até os anos 90, durante as convenções para escolhas
dos candidatos e no desenrolar das campanhas eleitorais,
com as lideranças de Ibipetum suscitando sempre uma candidatura
em oposição àquela apresentada pelas lideranças da sede,
configurando uma espécie de dissenso que se repetia a cada
eleição, com Ibipetum firmando sua posição antagônica de
forma arraigadamente predefinida, fosse quem fosse o candidato
da sede.

Todavia, nos pleitos eleitorais recentes, tem-se observado
que este antagonismo vem perdendo força nos arranjos políticos
para a conquista da Prefeitura Municipal.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS
BATISTAS EM IPUPIARA

A Igreja Batista de Corrente, no Estado do Piauí, deu uma
contribuição significativa para a organização dos batistas em vila
de Jordão, no início do século XX. E o fez por intermédio do
evangelista Antônio Ascendino Viegas.

Este homem empreendeu várias viagens, “montado sobre lombo de animal”, para lançar a semente do Reino de Deus nos corações dos sertanejos que viviam naquela Vila. Seu trabalho não foi em vão, nem ficou adormecido nas atas da Congregação, como será visto adiante.

Em Itamar Souza Brito temos informações que lançam
luz sobre essa curiosa relação entre batistas de lugares tão distantes.
Naquela época (1924), os meios de transporte e comunicação
eram escassos e precários em todo o nosso imenso país,
quanto mais nos rincões do sertão baiano.

Em seu livro “História dos Batistas no Piauí – Um Século de Lutas e Vitórias”, Itamar registra fatos que marcaram a história dos batistas no Estado vizinho, notadamente a implantação do trabalho batista na cidade de Corrente (1904 – 1924).

Desse manancial extraímos as informações sobre os antecedentes históricos dos batistas em Ipupiara apresentadas a seguir.

Em 10 de janeiro de 1904, vinte e cinco membros da comunidade correntina, em companhia da professora norte-americana
Juliett Barlow, organizaram a Igreja Batista de Corrente, sob a presidência do missionário Ernest Jackson, sendo a primeira a se instalar em território piauiense. A partir de então, a Junta de Missões
Estrangeiras da Convenção Batista dos Estados Unidos (Junta de
Richmond) passa a atuar efetivamente no Estado do Piauí.

Em 1912, dá-se o deslocamento do missionário Jackson
para Salvador, onde foi substituir o missionário Salomão Ginsburg
no cargo de Secretário da Convenção Batista Baiana, mais
tarde denominada Convenção Batista Interestadual.

O Pr. Augusto Carlos Fernandes, bacharel em Teologia,
formado pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil,
em Recife, ordenado ao ministério pastoral em 14 de maio
de 1911, foi designado pela Comissão de Evangelização das
Igrejas Batistas da Bahia para substituir o missionário Ernest
Jackson no trabalho que este vinha desenvolvendo no Campo
Sertanejo, que compreendia parte dos Estados de Pernambuco,
Bahia, Goiás, Maranhão e o sul do Piauí.

O Pr. Augusto Carlos Fernandes casou-se com Celecina
Viegas Fernandes, irmã do Evangelista Antônio Ascendino
Viegas. O pastor e sua esposa empreenderam viagem de reconhecimento da área sob sua responsabilidade, visitando as cidades de Barra do Rio Grande, Pilão Arcado e Remanso, no Estado da Bahia e, em setembro de 1912, Corrente, no sul do Piauí.

Em 1917, o Pr. Augusto Carlos Fernandes transferiu-se
para Corrente, onde assumiu a direção do Colégio Benjamin
Nogueira, denominação dada então ao Colégio Correntino
Piauiense, passando a realizar o trabalho de pastor-evangelista,
estendendo sua ação não apenas a Corrente, mas a outros municípios
do sul do Piauí.

Antes de chegar a Corrente, o Pr. Augusto Fernandes
realizara trabalho evangelístico na fazenda esperança, de propriedade
de Clóvis Nogueira, membro da igreja de corrente, e
na fazenda sussuapara, de propriedade de José Joaquim de Oliveira,
pai do mais tarde missionário Oliveira Filho e avô paterno
do Pr. Dr. Zaqueu Moreira de Oliveira.

Após o nascimento da filha Edith Fernandes, o casal missionário transferiu-se para a cidade de Barra, na Bahia, onde,
além da evangelização, iniciou um trabalho educativo, instalando
uma escola denominada “Instituto Amor às Letras”.
“Após enfrentar sérias provocações do Bispo em Barra, o Pr.
Augusto... mudara-se para Santa Rita, entregando a direção do Instituto a seu cunhando Antônio Viegas”.

Posteriormente, com a visita do Bispo Dom Augusto
Álvares Silva a Santa Rita, o Pr. Augusto Fernandes enfrentou
um clima de animosidade da população católica e então
retornou à cidade de Barra (BA).

A partir de 1920, o trabalho batista ganhou novo alento
não só em Corrente, mas em toda a região sul do Piauí, com a
transferência da sede da Missão de Teresina para Corrente, por
influência do Dr. Joaquim Nogueira Paranaguá.

O Pr. Antônio Viegas foi admitido pela Junta de Missões
de Richmond para o desempenho de atividades evangelísticas.
Por algum tempo ele prestou assistência à Igreja
União, que se transferira do interior da Bahia para o sul do
Piauí, fixando-se depois na cidade de Avelino Lopes, hoje Primeira
Igreja Batista em Avelino Lopes.

A igreja de Corrente empreendeu no período de 1925 –
1938 um grande esforço evangelístico do qual resultou a organização
de várias congregações, dentre as quais a de Prata, Barro
Verde, Pedra Furada, Riacho Grande, Santa Maria, todas
estas organizadas sob a orientação do Pr. Antônio Viegas.

Segundo Mário Ribeiro Martins, por volta de 1920 Artur
Ribeiro dos Santos se convertera “ao Protestantismo”, aos 32
anos de idade, na cidade de Barra, onde fora batizado pelo Pr.
Augusto Carlos Fernandes, nas águas do Rio Grande, tornando-
se membro da Igreja Batista.

Mais tarde, em dezembro de 1924, Artur Ribeiro, juntamente com outros cinco membros daquela igreja, em sessão presidida pelo Pr. Antônio Ascendino Viegas, fundaram a Congregação Batista de Vila do Jordão.

(MARTINS, Mário Ribeiro. Quem foi Artur Ribeiro, publicado na internet no site http://www.usinadeletras.com.br. Acesso em 18/02/2008).

ORGANIZAÇÃO DA CONGREGAÇÃO
BATISTA

A história dos batistas em Ipupiara começa, de forma organizada, em 21 de dezembro de 1924. Naquele dia, após o culto da noite, dirigido por Antônio Ascendino Viegas, evangelista do campo sertanejo, seis crentes fundaram a Congregação Evangélica Batista do Jordão, filiada à Igreja Batista da Cidade da Barra.

Os crentes fundadores foram Artur Ribeiro dos Santos (eleito secretário), João Antônio Durães, João Ribeiro da Cruz (eleito diretor de culto), Artur Carvalho dos Santos (eleito tesoureiro), Solina Ribeiro e Dumercina Ribeiro, todos membros da Igreja Batista da Cidade da Barra. O registro consta da Acta nº 77 da Igreja-Mãe.

Artur Ribeiro dos Santos foi o homem de Deus que enfrentou
as enormes barreiras de seu tempo para implantar o trabalho
de pregação do Evangelho na vila de Jordão. Dele falarei,
adiante.

Do Pr. Antônio Ascendino Viegas sabem os batistas de
Ipupiara que era membro da Igreja Batista de Corrente – Piauí e
que fez várias viagens à Vila de Jordão, “montado em lombo de
animal”, para pregar o Evangelho, batizar os primeiros convertidos
e ministrar a ceia do Senhor aos crentes da congregação.

Antônio Ascendino Viegas nasceu em 1º de setembro de
1889 na vila de Saubara, interior da Bahia, filho de Antônio Lourenço
Viegas e Maria dos Anjos Viegas. Mudou-se para Barra
(BA), onde seu cunhado Augusto Carlos Fernandes exercia os
ministérios de pastor e professor.

Com a transferência do Pr. Augusto para Santa Rita (BA), o Pr. Antônio Viegas assumiu a direção do “Instituto Amor às Letras”, no qual estudavam apenas rapazes.

Por volta de 1923, foi convidado pelos missionários Elthon
e Elizabeth Johnson para atuar como pastor itinerante do campo
Piauí – Bahia, quando passou a morar em Corrente (PI). Fez
várias viagens montado em burro, um para ele e outro para o
cargueiro. Viagens que chegavam a durar até três meses, sendo
acometido de malária e outras doenças afins. Ele faleceu em 3 de
maio de 1976, aos 87 anos, e foi sepultado em Brasília.

Assim Antônio Viegas oferecia a sua vida em sacrifício a
Deus. Quem sabe atendendo à exortação do apóstolo Paulo,
viajava centenas de quilômetros sobre o lombo de um burro,
deixando o conforto de sua aldeia e avançando pelo sertão
adentro, para matar a fome espiritual do sertanejo, apresentando-
lhe Jesus Cristo, “o pão de Deus que desce do céu e dá vida
ao mundo”.

GUERRA ENTRE CORONÉIS: HORÁCIO E
MILITÃO

Entre os anos de 1916 e 1919, Brotas e suas vilas haviam
sido campos de batalhas sangrentas, travadas entre os coronéis
Horácio de Matos e Militão Rodrigues Coelho. Eles foram
à guerra mais de uma vez, no fundo, sempre pelo mesmo
motivo: controlar o provimento das funções e dos cargos
públicos pertencentes ao município de Brotas de
Macaúbas, cuja circunscrição abrangia as vilas de Jordão e
Barra do Mendes, entre outras.

Os jagunços de Horácio, conhecidos como mandiocas, e os de Militão, conhecidos como mosquitos, infernizaram a vida da população de Brotas, Jordão e Barra do Mendes, destruindo plantações de feijão e milho, lavouras de subsistência, causando escassez de alimento e fome generalizada, matando gente de lado a lado.

Dezenas de homens tombaram mortos, alguns viraram carniça, indo parar num cemitério desumano, o estômago de urubus.

Américo Chagas descreve em detalhe os morticínios
ali perpetrados, informando o que sucedeu na Campanha de
Brotas (1916), Cerco de Barra do Mendes, A Tomada da Barra, A
Volta de Militão (1919).

Chagas anotou que “A batalha do Pega [povoado situado
entre Brotas e Ipupiara] ficou celebrizada num ABC
[poesia de cordel], cujos versos revelam bem o morticínio
da refrega:
‘Urubu de lá do Pega
Escreveu ao Presidente
Que já está com o bico doce
De comer carne de gente”.

Carlos Araújo também registra fatos interessantes sobre
a batalha do Pega:
“A Batalha do Pega foi um embate de fogo cerrado entre as forças de Militão e Horácio, que durou nove dias, na Fazenda Pega, de propriedade do Coronel Antônio Custódio de Souza, a 12 km de Brotas, entre Fundão e Brotas de Macaúbas,
No nono dia, quando Militão se encontrava em Fundão de Brotas,
recebeu uma carta de seu amigo e compadre Eugênio Rodrigues de Araújo, dizendo que estava preso em Brotas e que Otaviano Serafim, outro grande amigo comum, tinha perdido a vida na Batalha do Pega. Implorava que Militão não marchasse com as tropas sobre Brotas porque, se o fizesse, Horácio de Matos o mataria. Dizem que, para poupar o amigo, Militão retirou seus jagunços dos combates e retornou para Barra do Mendes, naquele mesmo dia. Em face da quantidade de jagunços mortos, de ambos os lados, nos ferozes combates do Pega, esse triste e sangrento episódio entrou para o imaginário popular e foi retratado pela poesia de cordel (...).
Depois desses tristes acontecimentos, Militão retorna a Barra do
Mendes e consegue, através de sua influência junto ao governador do Estado da Bahia, Dr. Antonio Ferrão Muniz de Aragão, desmembrar os distritos de Barra do Mendes, Fundão e Morpará do município de Brotas de Macaúbas. Isso foi efetivado pela Lei n° 1.203, de 21 de julho de 1917, sendo criado um novo município, com sede em Barra do Mendes”.

Essas batalhas sangrentas aconteceram entre os anos de
1916 e 1919. Naquele tempo, Artur Ribeiro dos Santos já ostentava
a patente de coronel, estava na casa dos seus 28 a 31
anos de idade, e havia participado daqueles conflitos armados,
prestando apoio logístico e suprindo com armas e munição,
nos limites da vila de Jordão, à milícia do coronel Militão
Rodrigues Coelho, de quem fora um dos seus grandes aliados.

Por isso, pode-se imaginar que, tendo passado pelo vale
da sombra da morte, aquele povo anelava ouvir a genuína
mensagem do Evangelho, que transforma o homem interior e
o convence a seguir a Jesus Cristo, único que pode conduzi-lo
ao seu Criador.

Em dezembro de 1924, relembre-se, a congregação batista
foi organizada na vila de Jordão. Numa época em que o
espírito do povo ainda estava abalado com as perdas, os infortúnios,
a recessão, os horrores da guerra produzida pelos coronéis
Horácio de Matos e Militão Rodrigues Coelho.

O próprio coronel Artur Ribeiro, líder entre os seis fundadores da congregação, certamente ainda estava impressionado pela experiência vivida naqueles embates, notadamente pelas sucessivas derrotas sofridas pelo coronel Militão, de quem fora um
dos principais aliados.

Contudo, o trabalho batista estava em progresso. Muitas
vidas deram ouvidos à pregação do Evangelho, creram, confessaram
a Jesus Cristo como único Senhor e Salvador, reconheceram
as Escrituras como única regra de fé e conduta, foram
batizadas por imersão nas águas, tomaram assento na ekklesia, e
assim deixaram os ídolos para servir o Deus vivo e verdadeiro.

APREENSÃO E QUEIMA DE BÍBLIAS

No princípio, a congregação se reunia na residência de
Artur Ribeiro, situada atrás do templo católico, “a igreja matriz”.
Os primeiros batistas sofreram perseguição dos fiéis católicos.
Em várias ocasiões, homens católicos invadiram a reunião
dos crentes, como eram chamados, e os obrigaram a entregar suas
Bíblias para serem queimadas.

Conforme relatos de irmãos que vivenciaram os primórdios do trabalho batista em Ipupiara, houve, em duas ocasiões, na praça principal, em frente ao templo da igreja romana, a queima de Bíblias apreendidas dos crentes.

Uma protestante que viveu a revoltante experiência de ter
sua Bíblia apreendida e ver a queima de Bíblias em praça pública
foi Laurentina Ribeiro Martins, membro fundadora, em 1938,
da Igreja (evolução da congregação) Batista de Vila do Jordão.
Laurentina era bem conhecida como Dona Lala, uma senhora
que permaneceu viúva durante 54 anos e que se portava
com extraordinária discrição. De fino trato, ela granjeou respeito
e admiração de seus conterrâneos. Ela faleceu em 15/07/1997.

Mas em 1995, aos setenta e oito anos, havia feito o seguinte
relato para que dele tomasse nota o então evangelista Clóvis
Nogueira, atual pastor da Primeira Igreja Batista em Ipupiara:

“Numa noite, estávamos reunidos na residência do irmão Artur Ribeiro, que ficava aos fundos da igreja matriz, quando entraram alguns homens liderados pelo delegado de polícia da Vila,a mando do padre da época, com a ordem para que se encerrasse a reunião e que todas as Bíblias fossem recolhidas. Algumas Bíblias foram levadas, outras foram preservadas
porque alguns irmãos sentaram sobre elas. Dias depois, reunidas em frente à igreja matriz, dezenas de pessoas acenderam uma fogueira onde queimaram Bíblias, folhetos e outras literaturas que foram recolhidas em residências de pessoas amigas onde os irmãos haviam distribuído. Durante o
momento em que incinerava as Bíblias, a turba batia o sino da igreja e gritava: abaixo os protestantes, morram os batistas!”.

Na verdade, houve queima de Bíblias patrocinada pelos
padres romanos desde o início do trabalho batista no Brasil,
como registrou Asa Routh Crabtree:

“Vários outros casos de perseguição foram registrados durante o ano de 1897. Em Corrente, Piauí, dois padres romanos requereram que as Bíblias pertencentes aos batistas fossem queimadas. A oposição resultou em fortalecimento espiritual para a pequena congregação”.

Celso Aloísio Barbosa e Othon Ávila Amaral também
falam do ataque católico às “Bíblias falsas” dos batistas:

No início da jornada evangélica, os ataques aos pregadores vinham
dos púlpitos católicos e dos artigos em jornais. Era comum o ataque às ‘bíblias falsas’ utilizadas pelos batistas. O processo era intermitente e, por vezes, a perseguição descambava para a violência, até mesmo com ajuda de autoridades. Bagby, certa vez, caiu desacordado com uma pedrada na cabeça, quando retornava de um batismo no mar: Taylor, após outros batismos
que realizou, foi jogado em um rio, com muita lama. Esse foi o clima inicial do trabalho batista no Brasil, por mãos dos missionários americanos. A Igreja Católica era oficial no Brasil, no tempo do império e disso se prevaleceu para estimular perseguições contra os evangélicos”

APARIÇÃO DE UM BODE PRETO

Além de queimarem as bíblias apreendidas dos batistas,
os católicos espalhavam mentiras para afastar as pessoas que se
achegavam às reuniões. Diziam que aquele livro da capa preta –
a Bíblia – era o “livro do diabo”; que, quando os crentes fechavam
os olhos para orar, aparecia no meio deles um “bode preto”.

Alguns curiosos freqüentavam as reuniões, excitados pelo
desejo de ver o bicho, figura mítica que passou a ocupar o imaginário
coletivo durante mais de uma geração de sertanejos.

Em outros cantos pelo Brasil afora, os católicos já haviam
difundido essa história de aparição de um bode no culto dos
batistas. Animados pelo espírito dos tempos, os padres narravam
boatos em suas paróquias, tentando evitar a fuga de fiéis
católicos para os cultos dos batistas.

Zaqueu Moreira de Oliveira escreveu a respeito disso:
A verdade é que os padres espalhavam notícias a respeito dos
‘protestantes’, tachando-os de pessoas que tinham pacto com o diabo, além de narrarem boatos, como o de que um bode aparecia debaixo da mesa do pregador no momento em que os crentes fechavam os olhos, ou de que os pastores tinham um pé de pato. Outras invenções eram criadas pelos adversários dos evangélicos, com a finalidade de amedrontar os crédulos fiéis do romanismo. Mesmo sendo ridículas, tais histórias curiosas continuaram sendo veiculadas durante algumas décadas do século 20, iludindo os incautos, que pela ignorância se afastavam dos batistas como se fossem demônios”.

DEFUNTO PROTESTANTE VERSUS TRONCO
DE BANANEIRA

Os católicos também divulgavam para os moradores da
vila de Ipupiara a seguinte crendice: que ao morrer um batista
e ser colocado no caixão, o diabo vinha e levava o corpo para
o inferno. Para disfarçar a ausência do defunto, os crentes colocavam
em lugar dele um tronco de bananeira.
Muitas vezes, antes de sair o cortejo, foi necessário Artur Ribeiro abrir o caixão e convidar pessoas para ver, com os próprios olhos, o corpo do batista estirado lá dentro.

PROIBIÇÃO DE SEPULTAR OS MORTOS NO
ÚNICO CEMITÉRIO

Também é fato que os católicos impediam os batistas de
sepultar seus mortos no cemitério São João Batista, o único
então existente na vila de Ipupiara.

A oposição dos católicos ao sepultamento de pessoas
de fé protestante nos cemitérios foi uma desgraça generalizada
pelo Brasil afora.
“Em virtude da união entre Igreja e Estado, o casamento civil não
era reconhecido, e os cemitérios pertenciam à Igreja Católica Romana. Geralmente aqueles que não eram católicos não tinham um lugar apropriado para serem sepultados. Em algumas das grandes cidades, como Rio de Janeiro e Recife, entretanto, os protestantes da Inglaterra receberam permissão para ser enterrados em lugares especiais designados pelo governo. Tal privilégio
foi restrito a alguns lugares, e mesmo em 1888 pessoas não-católicas enfrentavam problemas para sepultar seus entes queridos. A secularização dos cemitérios só ocorreu em 1889”.

O problema para os evangélicos era muito grave porque
a Igreja Católica tratava os cemitérios, sobre os quais exercia
pleno domínio, como locais santos:

“Os padres ensinavam que o fato de alguém ser sepultado fora desse ‘terreno santo’, significava ser enterrado como uma besta fera. Assim, um corpo fora do lugar ‘sagrado’ excluía a pessoa da Igreja, e, conseqüentemente, do céu. Na Bahia, em 1885, a pequena Igreja Batista teve alguns problemas, porque não havia lugar para sepultar os crentes que faleciam. Os padres
negavam permissão para sepultamento fora dos muros do cemitério.
Uma família foi forçada a pagar uma quantia extorsiva para deixar seu morto ali. Também os padres ‘usavam todo esforço possível para colocar velas nas mãos do morto, traziam ídolos, e usavam todos os seus sinais supersticiosos’. Zacarias Taylor escreveu que a Igreja Batista estava tentando ter seu próprio cemitério, esperando ‘se livrar da extorsão e dos
insultos'.

Com a nossa primeira Constituição republicana, promulgada
em 24/02/1891, o Estado intentou extirpar essa chaga imposta aos cidadãos não-católicos, preconizando o caráter secular dos cemitérios, ou seja, proibiu a apropriação deles por qualquer religião, mirando na religião oficial do extintoImpério do Brasil, qual seja, “A Religião Catholica Apostólica Romana”. Também preconizou a liberdade de cultos e ritos como garantia constitucional do cidadão (artigo 72, § 5º).

Sérgio Buarque de Holanda, em sua análise sociológica
das “raízes do Brasil”, asseverou que a conquista da forma de
governo republicano pela sociedade brasileira não seria possível
se dependesse da religiosidade católica reinante no país, eis
que só apelava para os sentimentos e quase nunca para a razão
e a vontade: “Não admira pois, que nossa República tenha sido feita pelos positivistas, ou agnósticos, e nossa Independência fosse obra de maçons”.

Creio que Deus abençoou a nossa Pátria, por intermédio
dos agnósticos, homens que fizeram força para transformar
o Estado religioso em Estado laico, introduzindo na Constituição
a garantia da liberdade de cultos e do acesso aos cemitérios,
independente de religião.

No entanto, a vigência da Constituição de 1891 não seria
suficiente para desarraigar, no curto prazo, o preconceito
religioso incutido na mentalidade das criaturas de Deus que
viviam nas cidades e vilas pelo Brasil afora.

Na realidade, entre a letra vigente e o conteúdo efetivo havia larga discrepância.
Algumas décadas de vivência sob a égide do Estado
constitucional laico seriam necessárias para a conquista do
pleno acesso aos cemitérios pelos protestantes em face do
catolicismo dominante no país.

LEI DO SERTÃO: PALAVRA DO PADRE E DO
DELEGADO

Vila de Ipupiara. Município de Brotas de Macaúbas. Ano
de 1944. Lá e então, a palavra do padre vindo da cidade (a vila
não tinha paróquia), e a palavra do delegado de polícia, emitidas
de corpo presente, chegando aos ouvidos de viva voz, a palavra
dessas autoridades é que tinha força de lei.

As funções de padre e de delegado, por si mesmas, conferiam legitimidade às pessoas nelas investidas para dizer o direito diante do caso concreto, segundo os seus critérios de justiça. Dessa forma, resolvia-se a grande maioria dos conflitos de interesse instaurados no arraial.

Constituição, jurisdição, comarca, juiz, promotor, processo, direito de ação, tudo isso era algo muito distante e ausente das
relações humanas naquele campo sertanejo.

Em meio a esta sociedade orientada pelo preconceito religioso,
os batistas sofreram constrangimentos no momento de sepultar seus mortos na vila de Ipupiara.

Por isso que Adelino Pereira de Novais, exercendo o cargo de moderador da Igreja Batista da Vila de Jordão, na sessão realizada no dia 1º de janeiro de 1944, sugeriu aos membros a urgente construção do cemitério batista daquela vila, o que foi aprovado por unanimidade.

A Igreja Batista construiu seu cemitério naquele mesmo
ano, ao lado do cemitério São João Batista, então pertencente
à Igreja Católica, ficando separados por uma parede de adobe.

Até o final da década de 1990 foi assim. A separação espacial
subsistia no pós-morte aqui na Terra, católico à esquerda e
batista à direita do nascente, cada qual sendo enterrado no seu
lado, escolhido em vida, no momento em que fizera sua opção
religiosa, decisão gravosa, tomada em meio às contingências
deste mundo tenebroso.

Em 1998, a parede da separação foi removida, mas sobre
o erguimento e derrubada deste muro subsiste uma distorção histórica dos fatos ainda hoje (2008). Pois bem, costuma-se dizer que os brasileiros temos memória curta. Infelizmente, os fatos corroboram tal assertiva, senão vejamos.

Como já mencionado, em 1944, os batistas não tinham permissão para sepultar seus mortos no cemitério São João Batista, a não ser que aceitassem o ritual fúnebre imposto pela Igreja Católica
com suas superstições, e olhe lá!

Daí porque a Igreja Batista decidira construir o seu. Havia então a necessidade premente de construir um cemitério exclusivo, pois os batistas estavam envelhecendo e, naturalmente, morrendo mais. Em razão dessa necessidade, o cemitério próprio dos batistas fora construído naquele ano.

Ocorre que passados cinqüenta anos, no decurso dos anos
noventa, quando já estávamos a respirar a atmosfera das liberdades
democráticas, notadamente a liberdade de cultos e ritos, sob a égide da “Constituição Cidadã”, de 1988, eis que as más línguas, atiçadas pelo espírito da memória curta, não paravam de proclamar que os “crentes” se acham melhores que os outros, a ponto de não aceitarem ser enterrados junto com não crentes, no mesmo cemitério.

Por essa razão, a Primeira Igreja Batista decidiu comunicar à Prefeitura Municipal de Ipupiara a remoção do muro divisório entre os dois cemitérios, e o fez por meio de ofício, em maio de 1998, quando houve de fato a derrubada daquele marco divisório.
Mas o ritual no sepultar os mortos continua ainda hoje
inconfundível: os católicos batem o sino de um jeito especial
para anunciar a morte de um deles; rezam alguns pai-nossos,
ave-marias e outros tipos de reza, seguidas vezes, acendem velas
para a alma do morto, saem em cortejo para visita de sétimo
dia.
Diferentemente, sem badalação de sino anunciando morte,
os batistas entoam hinos fúnebres, pregam mensagens bíblicas
adequadas para o momento, e quase nada além disso.

PRIMEIRO TEMPLO BATISTA: ALUGUEL E
CONSTRUÇÃO

Voltemos ao ano de 1928. O número de novos convertidos
cresceu, levando os dirigentes a alugar uma casa na Rua Rui
Barbosa, onde passaram a realizar os cultos e a escola bíblica
dominical. Também deram início à construção do primeiro templo
batista da vila de Jordão, na mesma Rua Rui Barbosa.

A obra se estendeu por dez anos, ficando pronta em 1938.
Várias pessoas contribuíram financeiramente para pagar
as despesas de construção do templo, entre as quais estão:
Gasparino Francisco Martins, Jovina Ribeiro Martins, Nestor
Ribeiro dos Santos, Manoel Ribeiro Barreto, Alice Ribeiro,
Dioclides Alves, Artur Ribeiro dos Santos, Solina Ribeiro, Ana
Rita Barreto, João Lucas da Costa, Attanásio Santos, Isidoro
Ribeiro Sobrinho, Laurentina Ribeiro, Prudente Ribeiro Santos,
pastor Antônio Viegas (membro da Igreja Batista de Corrente
(PI), além de outras pessoas.

Terminada a construção do templo, e em virtude do número
significativo de batistas que se reuniam na congregação, Artur
Ribeiro dos Santos e os demais membros da Igreja Batista de Barra
do Rio Grande solicitaram cartas demissórias para se organizarem
em Igreja na vila de Jordão, no que foram atendidos.

Fonte: Livro nº 1, de 17/6/1928, da Congregação Evangélica Batista de Jordão– Contribuição para Construção do Templo, situado à Rua Rui Barbosa.

CARTAS DEMISSÓRIAS CONCEDIDAS PELA
IGREJA DE BARRA

Em 5 de junho de 1938, após a escola bíblica dominical,
a Igreja Batista de Barra do Rio Grande reuniu-se em sessão
extraordinária e decidiu conceder cartas demissórias aos irmãos
das congregações de Jordão e de Brumado (atual Ibitunane, distrito de Gentio do Ouro), para se constituírem em Igreja na vila de Jordão de Brotas.
Os quarenta irmãos que
receberam cartas estão relacionados no Anexo I, ao final deste
livro, na ordem em que constam da respectiva ata:
Fonte: ata n° 223, de 5/6/1938, da Igreja Batista da Cidade da Barra.

ORGANIZAÇÃO DA IGREJA BATISTA DA
VILA DE JORDÃO

Onze dias depois, em 16 de junho de 1938, 46 irmãos,
reunidos em sessão especial, presidida pelo pastor Antônio
Ascendino Viegas, organizaram a Igreja Batista da Vila de
Jordão.
A relação dos membros fundadores compõe-se de
quase todos aqueles egressos da Igreja Batista de Barra, identificados
no Anexo I, e ainda de outros irmãos que se juntaram
ao grupo. A relação completa dos 46 fundadores da Igreja
Batista da Vila de Jordão é a seguinte:
1 – Artur Ribeiro dos Santos
2 – Antônio Ribeiro dos Santos
3 – Antônia Ribeiro Santos Rosa
4 – Adão Francisco Martins
5 – Abelita Amorim Santos
6 – Abelita Ribeiro
7 – Arcanja Martins da Silva
8 – Ana Rita Barreto
9 – Adelino Pereira Novais
10 – Alice de Souza Ribeiro
11 – Alfredo Ribeiro dos Santos
12 – Ana Ribeiro
13 – Bevenuto Ribeiro dos Santos
14 – Carolina de Souza Ribeiro
15 – Carcelina Barreto
16 – Durvalina Cunha Ribeiro
17 – Djanira Ribeiro
18 – Dioclides Alves da Silva
19 – Donata de Souza Ribeiro
20 – Emília Ribeiro
21 – Filisbela Ribeiro
22 – Francolina Ribeiro Martins
23 – Gasparino Ribeiro dos Santos
24 – Gasparino Francisco Martins
25 – Genésio Ribeiro dos Santos
26 – Guiomar Ribeiro Barreto
27 – Isabel Ribeiro Barreto
28 – Isidora Maria da Cruz
29 – Jovina Martins
30 – Josué Martins de Almeida
31 – Jovina Ribeiro
32 – José Matias de Souza
33 – Jovelina da Cunha Ribeiro
34 – Lionarda Martins
35 – Laurentina Martins
36 – Lavínia Ribeiro
37 – Lindaura Ribeiro Santos
38 – Marcolina Pereira Novaes
39 – Maria Ribeiro Barreto
40 – Maria Ribeiro dos Santos
41 – Manoel Ribeiro Primo
42 – Mário Mariano Barreto
43 – Petronília Alves Almeida
44 – Solina Ribeiro Amorim
45 – Sofia Martins
46 – Solina Ribeiro Barreto

O trabalho batista crescia na Vila de Jordão. O crescimento
da obra está registrado na ata nº 80 da sessão realizada no dia 1º de janeiro de 1944, no salão de culto da igreja. Alguns fatos ali registrados serão transcritos a seguir.

Aquela sessão foi aberta pelo moderador Adelino Pereira
de Novais, após ter feito a leitura do Salmo 24 e dirigido
uma oração a Deus. O secretário da Escola Bíblica Dominical
– EBD leu o relatório da Escola do ano de 1943, que foi o
seguinte: alunos presentes: 2.220, ausentes: 1.850, visitantes:
245; bíblias: 1.282; coleta: Cr$ 752,90 (setecentos e cinqüenta
e dois cruzeiros e noventa centavos).

Também foi realizada a eleição da diretoria da igreja que
deveria reger os trabalhos e negócios espirituais e materiais da
igreja durante o ano de 1944.
O resultado foi o seguinte:
“Adelino Pereira de Novais – Moderador, reeleito. Adão Francisco
Martins – Primeiro Secretário, eleito. Getúlio Ribeiro Barreto – Segundo Secretário, eleito. Manoel Ribeiro Primo – Tesoureiro da Igreja, reeleito. Gasparino Ribeiro dos Santos – Diretor dos Cultos, reeleito. Adão Francisco Martins – Superintendente da Escola, reeleito e professor de adultos, eleito. Getúlio Ribeiro Barreto – Secretário da Escola Dominical, reeleito. Antônio Ribeiro Barreto – Tesoureiro da Escola, reeleito. Gasparino Ribeiro dos Santos – Professor dos Jovens, eleito. Carolina Pereira de Novais –Professora de Intermediários, reeleita. Abelita Amorim – Professora de Juniores, eleita. Guiomar Ribeiro Barreto – Professora de Crianças, eleita”.

A palavra foi franqueada a todos os membros “para trazerem
sugestões que servissem para aumento e progresso do Reino de Deus aqui na terra”.

Então Adelino Novais apresentou uma sugestão: “para
iniciarmos os trabalhos de construção do cemitério batista desta Vila, no mais curto espaço de tempo, o que posta em discussão, foi unanimemente aprovada”.

Na seqüência, Adão Martins apresentou a sugestão para que os crentes daquela igreja intensificassem a leitura da Bíblia, lendo diariamente pelo menos um capítulo do Novo Testamento, a começar do Evangelho de Mateus, e que o resultado fosse ouvido nas sessões regulares de cada mês, tendo sido posta em discussão, foi aprovada por unanimidade.

HOMENS E MULHERES DE FÉ

A implantação, desenvolvimento e consolidação do trabalho
batista em Ipupiara devem-se à coragem de homens e mulheres que decidiram assumir a identidade de membro da igreja militante neste mundo dominado pelo inimigo.
Alguns entre eles/elas serão apresentados a seguir.


ADÃO FRANCISCO MARTINS

Nasceu na vila de Jordão, em 21/05/1915, filho de
Gasparino Francisco Martins e Jovina Ribeiro Martins. Casou-se
com Francolina Ribeiro Martins, em 29/10/1937, com quem teve
oito filhos: Adão Martins Filho (06/02/1939 – 16/03/2006),
Eunice Ribeiro Martins (15/03/1941 – 17/07/2006), Mário Ribeiro
Martins (07/08/1943), Marli Ribeiro Martins(06.04.1945), Nina Ribeiro Martins (17/08/1947), Filemon Francisco Martins(17.01.1950), Gutemberg Ribeiro Martins(28.11.1954) e Manoel Martins Neto(12.12.1958).

Em 1934, na cidade de Brotas de Macaúbas, foi nomeado tabelião de notas e agente de estatística. Em 1937, já casado, em Brumado (atual Ibitunane, distrito de Gentio do Ouro),
tornou-se comerciante de diamantes. Em 1938, na gestão do
prefeito Nestor Rodrigues Coelho (filho do Coronel Militão
Rodrigues Coelho), foi secretário da Prefeitura Municipal de
Brotas de Macaúbas.

Em 1946, foi nomeado prefeito de Brotas de Macaúbas,
sucedendo ao prefeito Nestor Rodrigues Coelho, cuja gestão
havia se estendido de 1934 a 1945. Nomeado pelo interventor
na Bahia, general Cândido Caldas (1946 – 1947), exerceu o cargo
de prefeito até abril de 1947, quando cessou a intervenção no
Estado.

A partir de então, o governo estadual foi passado para
o governador eleito pelo povo, Otávio Mangabeira, e foram
realizadas as eleições municipais'.

Em maio de 1950, Adão Francisco Martins mudou-se para
Morpará (BA), onde se estabeleceu como comerciante de tecidos,
com a “Loja Primavera”, e também foi vereador. No mesmo
ano, vinculou-se à Loja Maçônica “Harmonia e Amor”, de
Juazeiro (BA), pertencente à Grande Loja do Estado da Bahia.

Em abril de 1957, retornou à vila de Ipupiara, sua terra natal,
como comerciante de tecidos e como pregador batista. Participou
da articulação política para emancipar Ipupiara de Brotas de Macaúbas, ao lado do chefe político da região, coronel Artur
Ribeiro dos Santos, o que fez escrevendo discursos e redigindo
documentos.

Membro fundador da Igreja Batista da Vila de Jordão (junho
de 1938), Adão Francisco Martins participou ativamente dos
principais trabalhos desenvolvidos pela igreja local: como primeiro
secretário, superintendente da EBD e professor de adultos, sendo
reeleito para tais cargos por vários anos. Ademais, exerceu o cargo
de moderador durante cinco anos ininterruptos, de 1959 a 1963.

Como secretário da igreja, lavrou a ata nº 105 da sessão
realizada no dia 04/11/1945. Consta que Artur Ribeiro dos
Santos renunciou ao cargo de Moderador, alegando a existência
de política dentro da igreja.

Em 07/01/1970, após ter feito um sermão evangélico, na
praça principal de Ipupiara, Adão Francisco Martins faleceu, repentinamente, com parada cardíaca, aos 55 anos. Passados 32
anos, sua esposa Francolina Ribeiro Martins – conhecida como
dona Nina –, que permaneceu viúva durante esses longos anos,
faleceu em 25/11/2002, com 81 anos.


ADELINO PEREIRA DE NOVAIS

Conhecido por Adelino Arrupiado, nasceu na Lagoa do
Barro, Fundão de Brotas (atual Ipupiara), em 09/02/1901. Casou-
se com Marcolina Pereira de Novais, com quem teve oito
filhos: Moisés, Timóteo, Arão, Agenor, Josué, João, Elísia e Carolina
(Loura), todos Pereira de Novais.

Adelino Pereira de Novais foi um dos fundadores da
Igreja Batista da Vila de Jordão. A conversão dele, segundo o
relato de seu filho Timóteo Pereira de Novais, ocorrera no
inicio dos trabalhos realizados pelos primeiros irmãos que
compunham a Congregação. Ele costumava falar sobre a sua
experiência de conversão e a de sua esposa para os filhos.

Dona Marcolina converteu-se primeiro. Quando ainda
moravam na Lagoa do Barro, certa noite ela estava rezando
para dormir, como de costume, de repente ouviu pessoas cantando;
logo percebeu que eram os crentes. Eles vinham de um
culto na Mata, povoado bem próximo à Vila de Jordão. A letra
do hino dizia: “Orações não salvam, Apesar do seu fervor petições
não tem valor, Pra salvar o pecador, Orações não salvam. Foi Jesus que padeceu, Sobre a cruz por mim morreu, Por seu sangue que verteu Pôde assim salvar-me”.

Esse hino tocou profundamente o coração de Dona Marcolina; despertou no seu íntimo o desejo de ser crente, pois assim que o ouviu, compreendeu que só Jesus pode salvar.

Adelino, por sua vez, converteu-se ao caminho da salvação
logo após a conversão de sua esposa, mas em circunstância
bem diferente.

Ele foi à Vila de Jordão para jogar baralho e tomar cachaça com os amigos. Em plena farra, um deles disse que os crentes estavam reunidos e acrescentou: “quando eles fecham os olhos para orar, aparece um bode preto no meio da reunião”. Ao ouvir isso, Adelino, tido e havido como homem destemido, valente forjado no sertão, disse que iria àquela reunião para ver o tal bode preto e pegá-lo, se ele aparecesse. E lá foi ele. Ficou de longe observando, esperando ansioso pelo momento em que os crentes fechariam os olhos para orar, pois desejava ver o bode. Evidentemente, o bicho não apareceu.

Após viver aquela experiência, tendo ouvido a leitura da
Bíblia, orações e hinos de louvor a Deus, voltou para o meio
da farra com os amigos. Disse não ter visto bode algum e ter
achado muito bonito o culto. Um dos amigos, em tom de ironia,
perguntou-lhe se não queria passar para o lado dos crentes,
ao que ele respondeu dizendo que assistiria mais reuniões e
que um dia seria um crente. Essa experiência marcou sua vida.
Naquela noite, ele voltou para casa tocado pelo poder do
Evangelho.

Adelino quis logo conseguir uma Bíblia. Foi à casa do
irmão Dioclides, marido da irmã Arcanja, pedir-lhe sua Bíblia
emprestada, para que pudesse ler um pouco. O dono do livro
sagrado negou-lhe o pedido, justificando que não o emprestava
a ninguém.

Certo dia, passando pelo Olho D’água, entrou na casa
de Seu Lió, pai de Liozinho, viu sobre a mesa da sala um embrulho,
com formato de um requeijão, e perguntou: – “Recebendo
requeijão de Santana, Seu Lió?”. Ao que este respondeu:
– “Antes fosse, veja você mesmo o que mandaram pra
mim: uma Bíblia”. Adelino foi logo pegando o pacote e disse:
– “Uma Bíblia?! Ora, eu estou procurando mesmo uma Bíblia”.
Então Seu Lió lhe disse: – “Pega pra você”.

Daquele dia em diante, Adelino, sua esposa Marcolina e seus primeiros filhos passaram a ler a Escritura Sagrada, à luz de uma lamparina, e compreenderam o plano de salvação. Tempos depois, converteram-se e foram batizados, passando a fazer parte da Congregação Batista da Vila de Jordão.

Da Bíblia, deram nomes aos filhos nascidos a partir de então, como Moisés, Josué, Arão e Timóteo.

Adelino exerceu o cargo de moderador da igreja nos anos
de 1944 (janeiro a junho), 1946, 1947 (alguns meses), 1948 a
1950.

Em janeiro de 1944, ele sugeriu à igreja a construção com
urgência do cemitério batista da então Vila de Jordão, o que foi discutido e aprovado por unanimidade. De fato, o cemitério
dos batistas foi construído naquele mesmo ano.

Seus filhos Timóteo e Moisés (falecido) foram membros
ativos da Igreja Batista em Ipupiara. Timóteo foi o moderador
em 1967 e 1982 e vice-moderador por vários anos. Atualmente é
membro da Igreja Batista em Xique-Xique. Moisés, juntamente
com sua esposa Miriam Ribeiro Martins de Novais – após a divisão
dos batistas em Ipupiara (1969), assunto do qual tratarei adiante
– decidiu seguir o diácono Artur Ribeiro dos Santos, formando
o corpo de membros da 1ª Igreja Batista Independente de
Ipupiara, na qual exerceu diversos cargos por muitos anos.

Adelino Pereira de Novais faleceu em 24/08/1967. Foi
sepultado em um pequeno cemitério ao sopé do Morro do
Cruzeiro.

ALMERINDA RIBEIRO SOUSA

Nasceu em Ibipeba (BA), em 07/08/1925, filha de
Manoel Ribeiro dos Santos e Maria Emília Ribeiro Martins.
Casou-se com Nelson Estevam de Sousa, nascido em São
Raimundo Nonato (PI), em 10/12/1921, com quem teve quatro
filhos: Cleonice (27/06/1953), Carmen (06/11/1954),
Ester (14/02/1957) e Carlito (12/03/1959), todos Ribeiro de
Sousa, nascidos em Ipupiara.
O Sr. Nelson, marido de Almerinda, era motorista de caminhão, desapareceu em 1958 e nunca mais deu notícia.

Almerinda é irmã de Carlos Ribeiro Rocha, Francolina
Ribeiro Martins, Jeremias Ribeiro dos Santos e Manoel Ribeiro
Filho. Embora tenha concluído apenas o 1º grau, ela ensinou
as primeiras letras ao notável dicionarista brasileiro, Mário
Ribeiro Martins, sobrinho dela.

Durante muitos anos, foi a segunda secretária da igreja e
como tal lavrou diversas atas das sessões realizadas. Aos 83
anos, continua a irmã Almerinda perseverante e fiel à profissão
de fé uma vez feita em outrora, congregando assiduamente
na Primeira Igreja Batista, em Ipupiara.

ARISTIDES ANTÔNIO DOS SANTOS

Nasceu na Lagoa do Barro, vila de Jordão, em 17/02/
1924. Casou-se no Morpará (BA), em 23/09/1953, com Luzia
Ferreira dos Santos, natural de Carolina (MA) (12/09/1939).
Este foi o casamento civil, pois o religioso – “no padre” –
ocorrera em data anterior.

Tiveram oito filhos: Izilda (16/07/1953), Aristides (31/01/1955 – falecido), Paulo (07/12/1956), Dalva (17/07/1959), Zênia (29/11/1961), Silas (06/04/1963), Sandra (13/10/1969) e Leila (20/01/1974), todos Ferreira dos Santos, exceto Aristides Antônio dos Santos Filho.

A conversão de Aristides e Luzia ocorreu pela dor. Durante
a quinta gravidez, ela teve problemas e quase perdeu o bebê. Não havia hospital nem médico em Ipupiara. Eles eram católicos, ela fervorosa, ele nem tanto, e não gostavam de “crentes”.

Mas tiveram que bater na porta do “Dispensário Batista”
que havia lá. Foram à procura da missionária enfermeira Zênia
Birzniek (na foto, à direita), então recém chegada à Vila, eis
que enviada pela Junta de Missões Nacionais – JMN, para trabalhar
com a Igreja Batista local na área da saúde. As consultas
e exames realizados pela enfermeira Zênia deram ótimos resultados,
de sorte que o bebê nasceu com vida, perfeito, e Zênia
Ferreira dos Santos é o seu nome.

Usada por Deus, a missionária aproveitou as idas e vindas do casal para evangelizá-lo, o que fez dando folhetos, ministrando estudos bíblicos e oração. Assim, a missionária Zênia conquistou a amizade do casal.

Aristides e Luzia passaram a freqüentar a Escola Bíblica
Dominical, os cultos de quarta-feira e domingo à noite. A decisão
de receber a Jesus Cristo como único Senhor e Salvador de
suas vidas foi tomada durante uma semana de conferências proferidas
pelo pastor missionário José Brito Barros, no primeiro
semestre de 1958, quando Ipupiara estava prestes a deixar de
ser vila para ser cidade. Na foto abaixo, o Pr. Brito aparece ao
lado do piloto americano Robert Fielden e da missionária
Zênia, à frente do avião que o levou a Ipupiara.
Robert Fielden, Pr. José Brito Barros e Mis. Zênia Birzniek – 1958

Cerca de um ano após a decisão de receber a Jesus Cristo
como único Salvador, Aristides e Luzia foram batizados pelo
pastor missionário Pedro Pereira do Nascimento, no dia 16/
06/1959, tornando-se membros ativos da Igreja Evangélica
Batista de Ipupiara.

Aristides e Luzia procuraram criar os filhos nos caminhos
do Senhor, ensinando-lhes as Sagradas Escrituras. Também
se dedicaram a evangelizar parentes, vizinhos, amigos e as
pessoas ao seu alcance, aproveitando as oportunidades adequadas
para fazê-lo.

Aristides foi comerciante bem-sucedido do ramo de tecidos,
sendo proprietário de uma das maiores lojas de Ipupiara.
Tendo ingressado na igreja bem no final dos anos cinqüenta,
Aristides fez parte de uma, digamos assim, “nova geração de
membros”, crentes que passaram a não mais assimilar passivamente
a hegemonia exercida pelo líder Artur Ribeiro, então
consolidada ao longo de quatro décadas, hegemonia que se
materializava, notadamente, na ocupação dos diversos cargos
da organização.

Este homem de fé exerceu o cargo de moderador da
igreja por cerca de nove anos: em 1964 (por alguns meses),
1968 a 1970, 1972, 1975, 1979, 1980 e 1986.

Havia uma tensão crescente entre o grupo de Aristides e
o grupo de Artur Ribeiro; a ruptura da unidade na Igreja Evangélica
Batista de Ipupiara parecia inevitável.

No dia 3 de dezembro de 1969, fatalmente a discórdia veio à tona, e um cisma gravíssimo aconteceu, causando a divisão da denominação batista entre dois grupos, assunto do qual tratarei adiante em capítulo próprio.

Em março de 1990, Aristides foi a São Paulo para tratar
da saúde, quando faleceu, inesperadamente, em 14/03/1990, com 66 anos de idade. Passados ano e mês, sua esposa também faleceu, com parada cardíaca, em 20/04/1991.

ARTUR RIBEIRO DOS SANTOS

Nasceu no povoado de Mata do Evaristo, Fundão de Brotas
(atual Ipupiara), em 14/03/1888, filho de Evaristo Ribeiro
dos Santos e Maria Rosa Cunha [que passou a se chamar Ribeiro
dos Santos].
Foi nomeado pelo presidente da República Afonso
Pena, em 21/03/1907, para o posto de tenente-coronel do
298º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional, na vila de Brotas,
comarca de Macaúbas (BA), cidade esta onde tomou posse
em 1º de maio daquele ano.

Casou-se em 29/11/1913, com Solina Amorim Barreto. O casal não gerou filhos, mas adotou mais de uma dezena, entre os quais estão Salomão Ribeiro dos Santos, Rubem Ribeiro Barreto, Emília Ribeiro, Adelita Ribeiro, Abigail Ribeiro, Nilza Ribeiro, Denize Amorim, Maria Ribeiro.

Por volta de 1920, converteu-se a Cristo, aos 32 anos de
idade, em Barra (BA), sendo batizado pelo Pr. Augusto Carlos
Fernandes, nas águas do Rio Grande, tornando-se membro da
Igreja Batista de Barra.

Em dezembro de 1924, juntamente com outros cinco crentes, em sessão realizada sob a presidência do Pr. Antônio Ascendino Viegas, organizou a Congregação Batista de Vila do Jordão.

Em 16 de junho de 1938, liderando um grupo de
46 irmãos, organizou a Igreja Batista da Vila de Jordão, em sessão
especial também presidida pelo Pr. Antônio Ascendino Viegas.

Em novembro de 1945, renunciou ao cargo de moderador
da Igreja Evangélica Batista de Jordão, alegando que o fazia
por motivo de política dentro da igreja, conforme registrado na
Ata nº 105 da sessão regular realizada no dia 4/11/1945, lavrada
e assinada pelo secretário Adão Francisco Martins.

Não obstante sua fé protestante, professada no seio de
uma sociedade super católica, obteve consecutivas vitórias para
vereador do município de Brotas de Macaúbas: foi eleito pela
União Democrática Nacional (UDN), com 221 votos, para o
período de 1946 – 1951. Foi nomeado prefeito do referido
município, em 1946. Nas eleições de 13 de outubro de 1950,
foi eleito vereador pela UDN com 460 votos, para o período
de 1951 – 1955. Presidente do diretório municipal da UDN,
em Brotas, de 1946 a 1958. Em 3 de outubro de 1954, foi novamente
eleito vereador pela UDN, com 283 votos, para o período de 1955 – 1959.

Ademais, lutou tenazmente pela criação do município de Ipupiara, no que foi plenamente vitorioso. Foi delegado de polícia de Ipupiara, em 1958. Presidente do diretório municipal da UDN, em Ipupiara, de 1958 a 1966.

Membro do diretório municipal da Aliança Renovadora Nacional (Arena) em Ipupiara, de 1966 a 1976. Secretário da Prefeitura Municipal de Ipupiara, de 1969 a 1971.

Exerceu funções de liderança na igreja batista, antes e depois
da divisão, por mais de cinqüenta anos. Ocupou o cargo de
moderador no primeiro ano de existência da igreja, 1938, e, provavelmente, nos anos que se seguiram até 1943 (não existem informações acessíveis desse período). Também o exerceu em 1944
(junho a dezembro), 1945, 1951 a 1958 (neste último ano, por
alguns meses).

Em dezembro de 1969, houve um desentendimento com
as missionárias da JMN Débora Teixeira Pinto e Maria Leoni
Centeno Duarte, o que ocasionou a divisão entre os batistas de
Ipupiara, assunto tratado em capítulo próprio, adiante.
Artur não tinha ambição por riquezas. Morreu sem deixar bens a inventariar.

Artur Ribeiro dos Santos faleceu às duas horas da manhã
do dia 22 de setembro de 1979, aos 91 anos, 6 meses e 15 dias.

Estudantes, crianças e jovens de Ipupiara realizaram um desfile
pelas ruas da cidade, em homenagem ao líder municipal que
havia lutado tenazmente pela autonomia de seu povo e que partia
naquele dia para a morada eterna.

Como estudante da 7ª série do Centro Educacional
Cenecista de Ipupiara, participei daquele memorável desfile,
cujo percurso incluía a passagem em volta do caixão, exposto
à visitação no templo da Primeira Igreja Batista Independente
de Ipupiara, atual Igreja Batista Renovada. Ele foi sepultado
num jazigo construído ao lado do templo, onde sua esposa
posteriormente também o foi.
(MARTINS, Mário Ribeiro. Quem foi Artur Ribeiro dos Santos. Obtido pela internet. http://www.usinadeletras.com.br, 18/02/2008.)


CARLOS RIBEIRO ROCHA

Nasceu no Olhodaguinha, vila de Jordão, em 04/11/1923,
filho de Manoel Ribeiro dos Santos e Maria Emília Ribeiro
Martins. Seus pais de criação foram Herculano Rocha (daí o
sobrenome Rocha, que antes era dos Santos) e “Dona Bibi”.

Casou-se com Maria Pires Ribeiro, união da qual nasceram treze filhos: Jacy, Maria Luíza, Carlos Ribeiro Júnior (falecido),
Agenor Eduardo, Célia, Samuel, Eunice, Helenice, Carlene,
Washington Gutemberg, Claudice, Carlos Omar e Julimar.

A ata nº 211 da sessão extraordinária realizada pelos
membros da Igreja Batista da Vila de Ipupiara, em 14 de junho
de 1953 contém o registro do batismo de Carlos Ribeiro Rocha
e de Joana Araújo Barreto, além de outros fatos conexos.

Permito-me qualificar essa ata como uma preciosidade,
não só pela riqueza do conteúdo, mas também pela linguagem
escorreita, objetiva e precisa. Lavrada pelas mãos da irmã Almerinda Ribeiro Sousa, nela se destaca o soneto “Profissão de Fé”, declamado pelo poeta e então candidato ao batismo Carlos Ribeiro Rocha, e também o registro de que durante o exame feito pelo Pr. Paulo da Rocha Sias, “os candidatos mostraram-se plenamente convictos de que é Jesus o único Salvador de nossas almas, e que o seu sacrifício vicário foi suficiente e perfeito para redimir os pecadores”.

Outra passagem que me chama à atenção é esta: “O candidato
Carlos Ribeiro Rocha recitou o versículo 12 do capítulo 2 de Colossenses como sendo a base de sua convicção sôbre o verdadeiro símbolo do batismo”.

Meditar neste manuscrito vale a pena porque nos leva a
refletir sobre identidade e destino do sujeito que escolhe a religião
cristã evangélica batista no Brasil, motivo pelo qual o apresento
na forma original, a seguir.

Almerinda Ribeiro Sousa, que lavrou a presente ata, é irmã
de sangue de Carlos Ribeiro Rocha. Embora tenha concluído
apenas o 1º grau, ela tem o dom do ensino e foi professora primária
do notável dicionarista brasileiro, Mário Ribeiro Martins,
sobrinho dela. Aos 83 anos, Almerinda continua congregando
assiduamente na Primeira Igreja Batista, em Ipupiara.

Carlos Ribeiro Rocha foi Secretário ad hoc da Igreja em 1953.
Como tal, lavrou e assinou a ata nº 214 da sessão realizada em 06/
09/1953, na qual “o irmão Artur Ribeiro dos Santos tratou da criação da‘Escola dos Descalços’, cujo objetivo é levar a luz da instrução e do Evangelho às crianças pobres de nossa Vila”.


GASPARINO FRANCISCO MARTINS

Nasceu no Fundão de Brotas (atual Ipupiara), em 25/05/
1888, filho de Alvino Francisco Martins e Angélica Alves Barreto.

Casou-se com Jovina Ribeiro Martins, com quem teve seis filhos: Adão (21/05/1915 – 07/01/1970), Laurentina, conhecida
como Dona Lala (22/11/1917 – 15/07/1997), Oscarino (18/
10/1919 – 05/01/2003), Guiomar (17/10/1930 – 30/03/
2002), Miriam (11/08/1933 – 14/09/1999) e Ester (20/03/
1936 – 13/09/2006). Os filhos homens tinham o mesmo sobrenome
do pai, e as mulheres, da mãe: Francisco Martins e Ribeiro
Martins, respectivamente.

Gasparino (“velho Doutor”) e sua esposa Jovina foram
membros fundadores da Igreja Batista da Vila de Jordão, em
16 de junho de 1938. Estão arrolados entre aqueles que contribuíram
financeiramente para a construção do Templo Batista
situado na atual Rua Rui Barbosa, centro de Ipupiara. É notória
a forte presença das famílias Ribeiro, Francisco e Martins
na história dos batistas desta cidade. Gasparino faleceu em 19/
05/1966, com 78 anos, e Jovina, em 22/10/1977, com 85 anos.

A irmã Lídia Leite Oliveira, conhecida por “Dona
Nininha”, que durante certo tempo foi contemporânea de Jovina
Ribeiro, escreveu de próprio punho um relato sobre a adversidade
enfrentada pelos crentes no início do trabalho de pregação
do Evangelho na vila do Jordão.

Ela descreve uma atitude corajosa de Jovina durante a invasão da residência do irmão Artur Ribeiro por policiais vindos de Brotas a pedido do povo da vila do Jordão para tomar as bíblias e os cantores dos crentes. “A irmã Jovina Ribeiro (avó de Guiomar Mota) abraçou a bíblia e o cantor e disse: – só tira das minhas mãos se me matarem”. O manuscrito data de 2 de novembro de 2006. A irmã Lídia faleceu em Ipupiara aos 83 anos em novembro de 2008.

LAURENTINA RIBEIRO MARTINS (DONA LALA)

Nasceu na vila de Jordão, em 22/11/1917, filha de
Gasparino Francisco Martins e Jovina Ribeiro Martins. Foi casada
com Mário Mariano Barreto, com quem teve um filho,
em 09/11/1940, que viveu poucos dias. Seu esposo faleceu
em 24/05/1943. Ambos, pai e filho cada um a seu tempo,
foram sepultados no sopé do Morro do Cruzeiro.

Laurentina era bem conhecida como Dona Lala, uma senhora que permaneceu viúva durante 54 anos e que se portava com extraordinária discrição. De fino trato, ela granjeou respeito e admiração de seus conterrâneos.

Membro fundadora da Igreja Batista de Vila do Jordão,
em 1938, Dona Lala sofreu as agruras da perseguição comandada
pela liderança católica durante a implantação do trabalho batista
na vila sertaneja.

Ela viveu a revoltante experiência de ter sua Bíblia
apreendida e vê-la sendo queimada em praça pública.
Ela está arrolada entre aqueles que contribuíram financeiramente
para a construção do Templo Batista situado na atual Rua
Laurentina faleceu em Brasília, com quase 80 anos, em 15/
07/1997, e foi sepultada no cemitério batista de Ipupiara (antes
da unificação).
(MARTINS, Mário Ribeiro e MARTINS, Filemon Francisco. Dicionário Genealógico da Família Ribeiro Martins. GOIANIA/GO: Ed. Kelps, 2007, p. 37).

PEDRO EVANGELISTA DE SOUZA

Entrou para o quadro de missionários da Junta de Missões
Nacionais na década de 60. Era casado com Adelaide Oliveira
de Souza, com quem teve cinco filhos, entre eles o pastor
Sócrates Oliveira de Souza, diretor executivo da Convenção
Batista Brasileira desde 2002.

Falando da vivência nos campos missionários com seus pais, o Pr. Sócrates fez este relato:

“O pai foi para Barra do Rio Grande – cidade às margens do rio
Grande e São Francisco – em janeiro de 1961 e eu tinha seis anos. Foi o primeiro campo missionário, onde permanecemos cerca de três anos. Lá minha mãe veio a falecer. Ela e o pai foram fazer evangelização numa área de brejo chamada Santeiro. Muito picada por mosquitos, ela teve uma febre, estava grávida e acabou falecendo em decorrência de um choque anafilático. Hoje
acredito que tenha sido malária. Ainda em Barra, meu pai casou-se de novo, com uma missionária da JMN – Ruth Izabel Vieira de Souza – minha mãe Ruth, como eu a chamo até hoje. É nossa mãe mesmo, pois eu era o mais velho e ia fazer nove anos, a menor dos cinco irmãos tinha 2 anos. Ela foi quem cuidou da gente.
Quando o pai foi secretário executivo da então Convenção Batista Sertaneja, chegou a pastorear sete igrejas ao mesmo tempo. Nós até brincávamos lá em casa, dizendo que eram as sete igrejas da Ásia. Ele passava em casa para lavar e mudar de roupa e continuar as viagens, muitas delas sobre lombo de burro ou sobre cargas de caminhões. Ele ia às igrejas para celebrar a ceia,
batizar e para dirigir sessões. No período de Campanha Nacional de Evangelização, em 1965, ele foi nomeado o secretário da Campanha para aquela região do sertão da Bahia. Chegávamos a viajar 110 km, de um dia para o outro. Viajávamos durante todo o dia para chegarmos no dia seguinte para trabalhar, no lombo do burro. Nos meus períodos de férias, sempre
viajava com eles”.

O Pr. Pedro Evangelista de Souza foi moderador da Igreja
Batista de Ipupiara nos anos de 1964 (parte), 1965 e 1966 (parte).

PEDRO PEREIRA DO NASCIMENTO

Nasceu em Cabrobó, Estado de Pernambuco, em 18/
09/1922. Convidado pela missionária Zênia, o Pr. Pedro Pereira
do Nascimento foi a Ipupiara para visitar, dar assistência
e fazer batismos. Quando chegou, conheceu Ester Ribeiro
Martins e se casaram. Ele continuou dando assistência à igreja.
Tiveram cinco filhos: Ester (09/02/1959), Pedro – “Pereirinha”
(01/09/1960), Valdimary (25/03/1964), Jeruza (03/10/
1966) e Paulo (28/10/1968).

O Pr. Pedro Pereira do Nascimento exerceu o cargo de
moderador da Primeira Igreja Batista nos anos de 1971, 1973 a
1975 (este último, por alguns meses).

Em julho de 1973, integrou a comissão de seis pastores que
se reuniram com Artur Ribeiro dos Santos para convencê-lo a
devolver o imóvel da igreja que estava em seu poder, mas não
logrou êxito. Era o representante legal da Primeira Igreja Batista
de Ipupiara quando esta moveu a ação de reintegração de posse
contra o referido senhor, assunto tratado em capítulo próprio,
adiante.


ESTER RIBEIRO MARTINS

Nasceu na Vila de Jordão, em 20/03/1936. Professora e Poetisa. Com o Pastor Pedro, teve os filhos:

1)Estherzinha (Esther Pereira Martins de Aragão), nascida em Bom Jesus da Lapa, Bahia, no dia 9 de fevereiro de 1959, no Hospital Carmelia Dutra, às 3h e 30 min. Casada com o Pastor Josias Fernandes de Aragão. Têm três filhos, Josias Júnior, 31 anos, Kleber, 29 anos e Kleuber(JOSYANDERSON KLEUBER PEREIRA MARTINS DE ARAGÃO(KEU), 26 anos (até 24/06/2009). Ela(Estherzinha) faz o curso de Filosofia e é professora do Estado da Bahia.

2)Pedro Pereira Martins do Nascimento (pra distinguir do pai, é conhecido como Pereirinha). Nascido em 01 de setembro de 1960, no Hospital São Vicente de Paula, cidade de Viradouro, São Paulo, às 4h e 15min. Sua esposa é Dejaci Marquers Figueiredo, têm uma filha de 16 anos chamada Sara Figueiredo do Nascimento. Licenciado em Ciências Sociais e, incompleto, o Bacharelado em Ciência Política, ambos pela UFBA. Funcionário da ECT – DR BA em Salvador.

3) Valdimary Pereira do Nascimento Soares, nascida em 25 de março de 1964, na cidade de Carinhanha, Bahia, às 3h e 30min. Casada com Domingos Carlos Soares, Pastor. Têm três filhos, Wesley, 23 anos, Keise, 21 anos e Priscila, 16 anos.

4)Jeruza Jovina Martins Borges nascida em 3 de outubro de 1966, às 15h e 30min, na cidade de Capela, Sergipe. Casada com Luiz Carlos Borges. Têm um filho, Paulo, 15 anos. Ela estudou na Faculdade Teológica Batista de Brasília fazendo música; trabalha na Receita Federal em Brasília, Distrito Federal. O esposo também estudou na mesma faculdade, fez pedagogia na Universidade Católica de Brasília, cursa psicologia no IESB – Instituto de Ensino Superior de Brasília, trabalha no Tribunal de Contas da União e é Pastor em Brasília.

5)Paulo Gasparino, nascido em 29 de outubro de 1968, era uma terça-feira, na cidade de Capela, Sergipe. Só durou 10 meses. Morreu de desidratação na cidade de Lagarto, Sergipe, para onde o Pastor Pedro foi transferido.

Ester Ribeiro Martins faleceu em Brasília, em 13/09/2006, com 70 anos e foi sepultada no cemitério municipal de Ipupiara (unificado).

SAÚDE E EDUCAÇÃO NA VILA DE IPUPIARA:
UMA TRISTE REALIDADE

O acesso à educação na vila de Ipupiara na década de
quarenta era quase inexistente. Estudar numa das duas escolas
que lá existiam era privilégio de pouquíssimas crianças cujos
pais tinham condição de comprar os sapatos exigidos para
freqüentá-las. Infelizmente, não há informações acessíveis sobre
o funcionamento de tais escolas.

Sabe-se que no ano de 1949 a professora Miriam Ribeiro Barreto lecionava por lá. Filha de Arthur Ribeiro Sobrinho, ela foi professora primária de Mário Ribeiro Martins.

Pela tradição oral, sabe-se que havia outras pessoas que, a pesar da pouca instrução, tinham o dom do ensino e se colocavam à disposição para ensinar, cobrando certa quantia mensal de cada aluno, entre as quais costumam ser citados João Capote, Alfredinho Ribeiro, José Martins de Sousa, Almerinda Ribeiro Sousa, Cornélio Reis Santos (Neza).

A população da vila de Ipupiara estava aumentando, mas
sobrevivia à míngua de assistência médica, e os pais, de um modo
geral, não tinham a mínima condição de colocar seus filhos na
escola.

Em dezembro de 1944, o moderador Artur Ribeiro dos
Santos propôs à Primeira Igreja Batista a construção de um “departamento”contíguo ao templo, destinado ao funcionamento
de uma escola e das classes da Escola Bíblica Dominical, o que
foi aprovado por unanimidade (Ata 92, Livro 2 da Primeira
Igreja Batista).

Em 1952, o missionário Lewis Malen Bratcher, na condição
de Secretário – Correspondente e Tesoureiro da Junta de Missões Nacionais – JMN, órgão executivo da Convenção Batista
Brasileira, empreendeu viagem pelas cidades do Vale do
São Francisco, o que lhe permitiu conhecer bem de perto as
necessidades prementes daquelas comunidades.

Em 1953, após a viagem do Secretário Bratcher pela região,
a Igreja solicitou-lhe o envio de uma missionária educadora
para fundar e dirigir uma Escola Batista em Ipupiara, em nome
da JMN. “Estava sendo providenciado o envio duma professora, quandoDeus chamou seu servo para descansar na glória [O missionário L. M. Bratcher faleceu no dia 16 de dezembro de 1953, no Hospital dos Estrangeiros, Rio de Janeiro, com 65 anos de idade], e o assunto ficou em compasso de espera de nova oportunidade”.

Vale registrar que desde a sua organização, em 1938, a Igreja
aderiu ao Plano Cooperativo da Convenção Batista Brasileira.

No dia 6 de setembro de 1953, Artur Ribeiro dos Santos
propôs à Igreja a criação da “Escola dos Descalços”, nome dado
em razão do grande número de crianças pobres da vila de
Ipupiara que não podiam estudar em qualquer das duas escolas
existentes, por não possuírem sapatos.

Na mesma sessão, a irmã Durvalina Ribeiro Cunha foi escolhida para ser a professora da “Escola dos Descalços”, com salário de Cr$ 350,00 (trezentos e cinqüenta cruzeiros).

Sensibilizado, o irmão Adelino Pereira de Novais comprometeu-se a ajudar no pagamento do salário da professora,
contribuindo mensalmente com Cr$ 50,00.

Para o exercício desse magistério, a irmã Durvalina contava com o auxilio de sua filha Lóide Ribeiro Cunha. A irmã Lóide casou-se com Frederico Francisco Martins– o mecânico – e tiveram sete filhos: Almira Neta, Frederico Filho (Babi), Lídia Sobrinha, Leonir, Paulo, Leonice (falecida) e Francolino Neto.

A “Escola dos Descalços” funcionava no prédio construído aos fundos do Templo, situado na Rua Rui Barbosa. O Evangelho de São João era usado para a abertura das aulas (Ata 214, Livro 2).

Em 1954, o Pr. David Gomes, então Secretário-Correspondente
e Tesoureiro da Junta de Missões Nacionais, esteve visitando a vila de Ipupiara, quando ficou muito sensibilizado ao ver o sofrimento da população, que padecia sem o mínimo de atenção à saúde.

Para receber atendimento médico, as pessoas doentes da vila de Ipupiara precisavam viajar cerca de 200 Km, até a cidade de Barra do Rio Grande, sendo que automóvel praticamente não havia, nem estradas adequadas.

Diante deste quadro, o Pr. David Gomes comprometeu-
se a enviar uma missionária enfermeira, a fim de auxiliar a
igreja no trabalho de evangelização e prestar atendimento básico
à comunidade, com instalação de um ambulatório.

A partir de 1954, a JMN passou a enviar missionárias
enfermeiras e educadoras ao campo de Ipupiara, nosso próximo
assunto.

Antes, porém, vale ressaltar a natureza jurídica da JMN,
que é de órgão executivo da Convenção Batista Brasileira, entidade
com sede no Rio de Janeiro que possui seis princípios
fundamentais:
(1) A Bíblia como única regra de fé e prática;
(2) Sacerdócio de cada crente;
(3) A igreja local é autônoma;
(4) A igreja é composta por crentes batizados;
(5) Separação entre a igreja e o Estado;
(6) Liberdade de expressão e consciência.


2ª PARTE

A OBRA DAS MISSIONÁRIAS NO SERTÃO
BAIANO

AMÁLIA FERREIRA MOTA

Antes de partir para a missão nos confins da terra – o sertão
baiano –, Amália trabalhou no Hospital dos Estrangeiros e também
na Policlínica, ambos no Estado do Rio de Janeiro. Enfermeira
experiente, após os 50 anos de idade, quando muitos requerem
aposentadoria, ela pediu para ser missionária e como tal foi
admitida pela Junta de Missões Nacionais.

Após uma longa viagem, aquela senhora de cabelos brancos chegou à vila de Ipupiara, em 1954, levando remédios, equipamentos, e lá montou um modesto ambulatório – o DISPENSÁRIO BATISTA.

No início, o Dispensário Batista funcionava em uma casa
na Praça Getúlio Vargas, de frente para o lado esquerdo da Igreja
São João Batista (católica), no lote ocupado atualmente por
uma loja de material de construção.

Posteriormente, foi transferido para um casarão na Rua Rui Barbosa. Por último, funcionou em um casarão de esquina, situado na Rua Miguel Calmon, onde hoje existe uma casa residencial.

A missionária Amália costumava enviar cartas para a Junta
no Rio de Janeiro, relatando fatos do seu dia-a-dia. Algumas foram
comentadas por Myrthes Mathias, no jornal dos batistas brasileiros
A Pátria Para Cristo. Ela teve confirmação do chamado
missionário, pois no início de sua jornada escreveu: “... Jesus está
com a minha mão, tenho obtido muitas curas...”.

Em outra carta, ao pedir instrumentos para o trabalho, Amália justificou:
“Estou sozinha na cidade. Sou dentista, otorrino, oculista e trato
das vias urinárias... é grande o número de flagelados em virtude da seca, o ambulatório sempre repleto de doentes e nós vamos atendendo a todos ao mesmo tempo que lhes falamos do evangelho. Não estamos desanimados, embora estejamos tristes por não poder atender a todos”.

Amália se esforçava muito para atender ao grande número
de doentes que a procuravam no Dispensário:
“Eu mesma faço todo o trabalho aqui no ambulatório e na cozinha
para o trabalho da igreja... descaroço algodão para economizar com os doentes. Não poderia fazer mais economia, pois é uma verdadeira legião de doentes que vive batendo na porta do dispensário...”.

Também saía para atender pessoas doentes em lugares
distantes da sua sede de trabalho:
“Durante minha viagem chorei muito por ver a situação de miséria a que está reduzido o sertão. Inúmeras famílias passando fome... estive dias em Gameleira [apelido de Ibipetum] e não tive tempo nem para comer... mas não me esqueci de falar de Cristo um só momento”.

Em algumas cartas, a missionária Amália Ferreira Mota
externou lamentos:
“Se Deus não tiver piedade do mundo e de nós não sei como será...
não houve lameiro para plantar. Não encontrei arroz na feira... Só quem já viveu no sertão sabe o que significa não encontrar arroz para comprar. Significa que há muito tempo aquele mais lindo céu que Deus já fez recusa a esmola de uma nuvem, ao menos para fazer renascer a esperança no coração dos bravos filhos da terra”.

Mas externou também momentos de alegria, como na
ocasião em que começaram a chegar móveis novos para o
ambulatório: “... estou muito alegre porque o meu ambulatório está
parecendo ambulatório. Quando entro na sala penso que estou trabalhando aí no Rio... a sala toda branquinha”.

E a alegria de ajudar dezenas de crianças em sua chegada
ao mundo, cujas mães lhe davam a honra de escolher os nomes:
“... crianças pegadas por mim, dei-lhes nomes da Bíblia – Pedro,
Noemi, Samuel, Josué, Daniel, Isabel... Humildes filhos da ‘mulher do Paizinho’, da ‘senhora de Gentio do Ouro’, ‘da senhora do Garimpeiro’, ‘senhora do Retirante”.

A missionária Amália trabalhou em Paratinga, Ipupiara
e Itacajá. Em janeiro de 1960, recebeu a notícia de sua aposentadoria,
mas não se acomodou: “Que hei de fazer com a lei dos
homens?” – escreveu na ocasião – “não vou ficar sem trabalhar”.

Foi morar em Bom Jesus da Lapa (BA), onde continuou
a atender a todos quantos a procuravam, fazendo questão de
enviar seu relatório de trabalho para a Junta no Rio.
Missão cumprida, chegou a hora de partir.

Na noite de 25 de julho de 1971, Amália Ferreira Mota foi chamada pelo Senhor da vinha. Esta chamada, segundo as palavras de Myrthes Mathias– “a poetisa dos batistas brasileiros” – foi assim:
“Silenciosamente como vivera, agora sem que lhe incomodassem os
pés doentes ou o peso do corpo, Amália partira durante a noite para receber as boas vindas dAquele que a encontrara na praça da vida, ao cair da tarde, e a mandara para a vinha numa hora quando muitos se preparam para se recolher”.

Caro leitor, preste atenção nestas palavras de Amália, sobre
a verdadeira comunhão com Cristo:
“É pela oração que Deus em todos os tempos tem feito triunfar o seu
povo. Sei que é bem difícil manter uma comunhão perfeita com Cristo, mas sei que por meio desta comunhão e deste contato com o Senhor Jesus podemos obter forças e grande poder do Espírito Santo para realizar todos os nossos empreendimentos na causa do Mestre. Tenho tido essas experiências...”.


MISSIONÁRIA ENFERMEIRA ZÊNIA BIRZNIEK

Nasceu em Riga, capital da Letônia, no dia 11/11/1917.
Aos 3 anos de idade, fugindo das conseqüências da Primeira
Guerra Munidial (1914 – 1918), o Senhor a levou ao desejado
porto – a colônia leta de Palma, no interior de São Paulo, onde
viveu até os 15 anos. Em 1931, com 13 anos de idade, foi batizada
em Varpa, outra colônia de letos no interior paulista. Mudou-
se para São Paulo, capital, onde trabalhou num ambulatório
médico e concluiu o curso de enfermagem.

Admitida pela JMN, em janeiro de 1957, com 40 anos,
chegou à vila de Ipupiara – seu primeiro campo – para trabalhar
como enfermeira missionária junto à Igreja Batista local.

Em maio de 2008, com quase 91 anos de idade, D. Zênia
gentilmente atendeu nosso pedido e enviou-nos um testemunho
por escrito, relatando o trabalho que realizou em Ipupiara,
o qual será reproduzido a seguir.

“Eu, Zênia Birzniek, recém nomeada pela Junta de Missões
Nacionais – JMN, fui enviada a trabalhar em Ipupiara (BA) com a
Igreja, formando a liderança e auxiliando no crescimento e na área da saúde com o Dispensário. Depois de ter ido à Convenção das Igrejas Batistas da região, realizada em Bom Jesus da Lapa (BA), viajei até Morpará (BA) e lá esperei oito dias para chegar a Ipupiara, em cima da carga de um caminhão, numa madrugada de janeiro de 1957, à meianoite.
Mesmo cansada, observei aquele céu estrelado. Na manhã seguinte,
ao abrir a janela, vi o mesmo quadro que havia visto no dia do meu
batismo, aos treze anos, na Colônia de Letos em Varpa – São Paulo.
Um quadro muito lindo, cheio de flores, com aquelas montanhas azuis...
– senti que era a confirmação da minha chamada para o ministério e para trabalhar naquele lugar – Ipupiara.
Comecei o trabalho fazendo contato com o irmão Artur Ribeiro,
que além de vice-moderador, ocupava todos os cargos na Igreja. A situação da igreja era difícil, pois os irmãos não falavam na Rua sobre Jesus, nem faziam ‘ar-livre’ por causa do mau testemunho do líder. Ele e todos os homens da igreja usavam torrado; comecei a trabalhar nesta área e, depois de muita luta, todos largaram o vício. O irmão Artur Ribeiro resistia a minha liderança, por ser mulher, mas depois de um tempo à frente da Igreja, ele disse ao Pr. David Gomes, secretário-executivo da JMM à época, que ‘eu era uma grande bênção’.
De início, tinha na Igreja uma jovem que me acompanhava no
evangelismo, Ester Ribeiro. Ela me levou à casa de D. Antônia, que não podia andar, e a cada São João ela fazia uma promessa e ficava pior. Ela morava com uma filha. Um dia ela estava sozinha e com muita sede, olhava o pote e não podia andar, então ela fez uma promessa que se ela conseguisse andar nunca mais iria para a igreja católica, só para a igreja dos crentes.
Dois meses depois eu cheguei. Ela tinha fraqueza nas pernas por falta de vitamina B – 1. Comecei a fazer massagem nas pernas, aplicar injeção, dar comprimidos de vitamina B – 1 e também ler o Evangelho de João e orar com ela. Logo, poucas semanas, ela aceitou a Cristo e começou a andar em casa e a primeira viagem na rua, foi ir a Igreja Batista. Todas as pessoas que iam visitá-la falavam – ‘Mulher, você vai deixar a Igreja São João Batista para ir para a igreja dos crentes?’ Então ela dava esse testemunho,
e ficou firme em Jesus até a sua morte, segundo notícias que recebi depois de D. Ester e D. Lala.
Trabalhava no Dispensário e ajudava na Igreja. O Seu Artur,
como a igreja ficava muito tempo sem pastor, ele tomava conta da Igreja, se achando dono dela. Ele tinha todos os cargos, inclusive de tesoureiro.
Os irmãos não queriam mais contribuir. E Deus ajudou que conseguimos tirar aos poucos os cargos, o torrado e os irmãos voltaram a contribuir. Então a Igreja voltou a crescer. Depois de três anos a Igreja já estava normalizada. Tivemos conversões: O Irmão Aristides Antônio dos Santos com toda a família e Seu Joaquim Andrade com toda a família. Convidei o Pr. Pedro
Pereira do Nascimento para visitar, dar assistência e fazer batismos. Quando ele chegou, conheceu Ester Ribeiro Martins e se casaram. Ele continuou dando assistência.
Comecei a ir a Ibipetum, pregando o Evangelho. Um domingo ia
para Vanique, outro ia para Olho D’Água, Mata, Chi-quita e outros povoados que esqueci o nome. Achava que era em vão e não ia surtir efeito; mas depois soube que muita gente se converteu nesses lugares.
No final da década de 80, fui convidada para ir a Xique-Xique.
O irmão Claudionor me convidou para ir falar de Missões. Quando terminei, fui convidada a ir a Irecê, me hospedei na casa de uns irmãos e lá eu soube que todo o povo de Chiquita havia se convertido [É verdade,
oh glória!]. Eu fiquei alegre porque passei um ano inteiro indo lá. No começo, sozinha, e depois a D. Noca [avó da irmã Dora] ia ou pedia para o neto dela ir comigo.
Em Gameleira [apelido de Ibipetum], fiquei um mês antes de
viajar. E lá se converteu a tia da Ir. Alinda, esposa de Ir. Joaquim
Andrade. Maria Áurea estudou no SEC [Seminário de Educadoras
Cristãs, em Recife – PE] e ficou sete anos na Junta de Missões
Nacionais – JMN, depois saiu porque se casou, pois a Junta não aceitava missionárias casadas. Meu grande sonho era ter um filho de Ipupiara como obreiro.
Depois de seis anos eu fui embora e a Missionária Maria Leoni
Centeno Duarte assumiu o Dispensário e a Ruth Isabel, esposa do Pr. Pedro Evangelista, era a professora da Escola da Junta de Missões Nacionais, que foi criada pouco tempo antes da minha saída. Quebrou essa coisa de vergonha do Evangelho e passou-se a ter ‘ar-livre’, etc, e todos falavam do Evangelho”.

Em 1958, D. Zênia ajudou no custeio dos estudos de Fábio
Francisco Martins, então com 21 anos, e de Mário Ribeiro Martins, com 15 anos, na cidade de Xique-Xique, onde os dois
moraram com o Pr. Missionário Jonas Borges da Luz.

No ano seguinte, tendo Fábio desistido, ela continuou ajudando Mário a estudar, agora em Bom Jesus da Lapa, onde este morou com o Pr. Pedro Nascimento, Eliel Barreto e Bevenuto Ribeiro. De 1963 a 1965, ela proveu o sustento de Mário durante o curso clássico no Colégio Americano Batista Gilreath, em Recife.

De 1966 a 1970, continuou a ajudá-lo durante o curso de Bacharel em Teologia no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Esteve, inclusive, em sua formatura. Em 1972, ainda o ajudou a cursar o mestrado em teologia, quando defendeu a tese “O Radicalismo Batista Brasileiro”, sob a orientação do professor doutor Zaqueu Moreira de Oliveira.

Também ajudou no custeio dos estudos de Maria Áurea
Andrade, Rosa Maria Teles e Gizalva Alves Menezes.

D. Zênia recebeu carta de transferência da Igreja Batista em
Ipupiara, em 06/10/1963, para a Igreja em Natividade, norte de
Goiás (hoje Tocantins), onde trabalhou apenas dez meses.

Foi transferida de novo para Japaratuba, Sergipe, onde chegou no dia 22/05/1964, aos 47 anos de idade, permanecendo ali por longos anos, fundando igrejas e cuidando da saúde do povo. Depois, foi para Pacatuba e, por último, São José, ambos no interior de Sergipe, onde se aposentou em outubro de 1987, com 70 anos de idade e 30 anos de serviços prestados à Junta de Missões Nacionais.

Em 2007, para comemorar os cem anos de Missões Nacionais, a JMN editou o DVD “Celebrai a Jesus Proclamando Vida–100 Anos Fazendo Missões”, no qual são apresentados os testemunhos de vários missionários, inclusive o de D. Zênia. Nas vezes que assisti ao vídeo, suas palavras atingiram meu coração; não pude conter as lágrimas no momento em que fala da confirmação da
sua chamada missionária.

Ao ouvi-la, tenho a impressão de que o Senhor usou as açucenas brancas e roxas para lhe mostrar que o lugar onde deveria lançar a rede era ali mesmo, em Ipupiara.

A obra que a missionária Zênia realizou em prol da vida
espiritual e saúde do povo de Ipupiara, a meu ver, expressa o
amor de Deus por aqueles que haveriam de ser resgatados do
domínio das trevas e transportados para o reino do seu Filho
amado. Creio que o Senhor viu ali os seus remidos orando, confiando, esperando..., e enviou a sua serva para ajudá-los a pescar
homens no Jordão baiano.

Um dos moradores da Chiquita que havia escutado as
pregações de Dona Zênia e após muitos anos entregou sua
vida a Jesus foi Genésio Ribeiro dos Santos.
(MARTINS, Mário Ribeiro. Missionários Americanos e Algumas Figuras do Brasil Evangélico. Goiânia (GO): Kelps, 2007, p.355-356).

GENÉSIO RIBEIRO DOS SANTOS.

Genésio nasceu na Chiquita, em 22/06/1923, filho de
Adelino Ribeiro dos Santos e Maria Rosa da Cunha. Ele viveu
81 anos e 8 meses. Era considerado louco e perigoso, por isso
foi obrigado a viver preso a um tronco – sua perna ficava presa
dentro de um buraco feito no meio de duas barras de madeira,
uma sobreposta à outra, com cerca de três metros de
comprimento – por mais de cinqüenta anos!

No final dos anos 80, o Pr. Clóvis de Souza Nogueira
andou pregando o Evangelho na Chiquita (e continua até os
dias de hoje). Ele descreve a conversão de Genésio como um
fato marcante do trabalho batista em Ipupiara, conforme veremos
a seguir.

“Quando comecei a visitar o povoado de Chiquita, Genésio ainda
estava preso, isso há 16 anos atrás. Ao chegar lá, tive contato com todos os moradores e também com ele. Seu estado físico e espiritual era muito triste. Quando entrei no seu quarto-prisão e comecei a cantar um hino do Cantor Cristão, para minha surpresa, ele sabia cantá-lo também – era o hino 188 do C.C.
A partir daquele dia, continuei indo àquele povoado onde até hoje
temos uma congregação.
A pregação do evangelho naquele povoado trouxe libertação a muitas pessoas, mas a libertação de Genésio Ribeiro dos Santos literalmente o livrou do tronco também. Isso ocorreu numa tarde depois de alguns meses visitando o povoado. Genésio era irmão de Eduardo Ribeiro, que era casado com a irmã Isidora, mãe do irmão Hélio Ribeiro. No povoado, fizemos da casa da irmã Isidora nosso ponto de apoio, um ponto de pregação.
Um certo dia, pedi ao irmão Eduardo, que também havia abraçado
a fé e sido batizado, que nos permitisse tirar Genésio do tronco para
que pudéssemos caminhar um pouco com ele, o que nos foi permitido. Ele já havia saído do tronco muitas vezes, ora tirado pela família, ora por sua própria força. Dizem que quando estava irritado, ele arrastava aqueles dois pedaços de madeira, presos à perna, e os colocava fora da casa onde ficava. Tinha uma força descomunal! Nós o tiramos e após caminharmos juntos alguns metros, ele sentou-se muito cansado e disse que não conseguia
caminhar. Então nós o levamos de volta para o quarto e o colocamos no tronco, a pedido de seu irmão.
Noutro dia, fui à Chiquita à tarde para o culto da noite. Havia
chovido muito, então peguei um pouco de argila e levei para o Genésio, com o propósito de fazer junto com ele o nome de JESUS. Após cantar o hino que ele mais gostava, acompanhado de um violão, peguei aquele barro, modelei as letras J-E-S-U-S, afixei-as na parede do seu quarto e disse-lhe que, quando estivesse triste, irritado, ele olhasse para aquele nome e falasse assim: “Jesus, tem misericórdia de mim!”.
Alguns dias depois, voltei ao povoado, entrei no quarto-prisão e
logo ele foi me dizendo que o nome havia caído, e pediu-me que o afixasse novamente. Dessa forma, fui ganhando a amizade dele, e poucos dias depois ele já estava participando das reuniões.
Não era fácil pregar com o Genésio presente, pois durante todo o
culto ele repetia todas as minhas palavras como se fosse um eco.
Daí em diante, nunca mais ele colocou a perna naquele tronco, e
passou a participar normalmente das reuniões. Quando lhe perguntávamos se já havia entregado a sua vida a Jesus, ele respondia que sim. Eu creio que Jesus o converteu realmente.
Alguns anos depois, ele veio morar na cidade com seu irmão e sua
sobrinha Francisca. Morando na cidade, compareceu às reuniões da igreja muitas vezes, e nós também íamos em sua casa realizar cultos, dos quais ele participava cantando conosco. Ele viveu 81 anos. No dia do seu funeral (13/03/2004), realizamos um culto onde havia muitas pessoas. Ele foi sepultado no cemitério do povoado de Chiquita, lugar onde viveu praticamente
toda a sua vida preso num tronco. Lá está o seu túmulo, com um
desenho dele sentado com a perna no tronco, um versículo bíblico e o número do hino do Cantor Cristão que ele mais gostava de cantar – o hino 188'.

MARIA LEONI CENTENO DUARTE

Nasceu em Camaquã, Estado do Rio Grande do Sul, em
02/05/1926, filha de Cizino Duarte e Eduina Centeno. Foi
criada por João Vicente Centeno, irmão de sua mãe.
Estudou no CIEM – Centro Integrado de Educação e
Missões, no Rio de Janeiro.

Admitida como missionária pela Junta de Missões Nacionais, chegou em Ipupiara no final de 1962 para trabalhar como enfermeira no Dispensário Batista.

Sua transferência para a Igreja Evangélica Batista de Ipupiara
foi oficializada somente no dia 03/05/1964, em sessão presidida
pelo Pr. Pedro Evangelista de Souza, após a Escola Bíblica
Dominical, quando foi lida a carta de transferência concedida
pela Igreja Batista Central de Porto Alegre.

Creio que Dona Leoni foi enviada a Ipupiara para cumprir
um propósito divino. O tempo da sua missão no sertão baiano
configurou verdadeiro kairós em favor da vida e contra a morte,
pois dezenas de partos difíceis haveriam de ser realizados
durante a sua presença ali, e de fato, mui grande foi a obra
realizada pelas mãos desta enviada de Deus.

A missionária Maria Leoni Centeno Duarte foi transferida
da Igreja Batista de Ipupiara para a Igreja Batista em Ponta de
Areia, por carta concedida em 02/10/1974.

Atualmente com 82 anos, ela vive numa casa de repouso
em sua cidade natal.

RUTH IZABEL DE SOUZA

Nomeada pela JMN como missionária professora, em
28/01/1950, serviu em Tocantínia, norte de Goiás (hoje Estado
do Tocantins), dirigindo o ensino fundamental da Escola Batista
(1ª e 2ª séries), fazendo o trabalho de secretaria e também, a
partir de 1951, cuidando do internato feminino.

Enquanto não havia pastor, dirigia um ponto de pregação em Miracema (TO).

Em 1955, foi transferida para o Vale do São Francisco.
No ano seguinte, iniciou uma Escola em Bom Jesus da Lapa
(BA), onde teve apoio do casal Bevenuto e Lindaura Ribeiro.

Em 1962, chegou em Ipupiara, onde fundou a Escola
Batista da Junta de Missões Nacionais. No início, sentiu o peso
da agressão política, mas com o tempo a situação se
normalizou. Ficou responsável pela evangelização do distrito
de Ibipetum, onde alugou um salão e semanalmente dirigia um
culto de louvor a Deus.

Em 1964, a missionária Ruth mudou-se para Barra (BA),
onde conheceu o pastor missionário Pedro Evangelista de
Souza e se casaram, tornando-se cooperadora dele em seu
ministério.

A Escola de 1º grau fundada em Ipupiara pela missionária
Ruth, em nome da JMN, foi fundamental para a formação de
toda uma geração de crianças e adolescentes ipupiarenses, graças
ao ensino de qualidade oferecido pela instituição.

Com a saída da missionária Ruth, a JMN enviou, em 1966,
a missionária professora Débora Teixeira Pinto (após o
casamento, Débora Pinto Barros), que não apenas deu
continuidade às atividades da Escola, mas teve a feliz idéia de
homenagear sua antecessora, colocando o nome dela na
identidade da instituição, que passou a se chamar Escola Batista
Ruth Izabel de Souza.

Dona Ruth vive atualmente na cidade de Juiz de Fora,
Estado de Minas Gerais.

O documento acima contém o registro do meu 1º grau de
instrução concluído, mostrando a 1ª, 2ª e 3ª séries cursadas na
Escola Batista Ruth Izabel de Souza, entre 1973 e 1975.

Neste contexto, impende registrar o esforço empreendido
no início dos anos setenta pelo professor do Estado Nenildo
Andrade Leite, egresso da cidade de Barra (BA), para viabilizar a
oferta de ensino público gratuito em nível de 2º grau em Ipupiara.

Casado com a ipupiarense Edite Santos Leite, também professora do Estado, sua atuação foi fundamental para o êxito alcançado pelo município de Ipupiara com a criação e implantação do Ginásio São João Batista, em 1972.

De fato, por mais de duas décadas, o professor Nenildo Andrade Leite exerceu o magistério no âmbito do ensino público municipal, formando várias turmas de estudantes, sendo reconhecido na região por suas qualidades, sobretudo como diretor e professor de língua portuguesa.

DÉBORA PINTO BARROS

Nasceu em Cacimbinhas, Estado de Alagoas, em 08/05/
1941, filha de Germiniano Teixeira Pinto e Antônia Teixeira da
Silva. Fez o magistério (curso normal) no Colégio Batista
Alagoano, em Maceió (AL).

Trabalhou um ano como professora da Junta Evangelizadora de Alagoas na Escola Batista de Piaçabuçú (AL). Posteriormente, estudou no Seminário de Educadoras Cristãs – SEC, em Recife (PE), onde fez o curso de Bacharel em Educação Religiosa.

Membro da Igreja Batista de Cacimbinhas (AL), cujo pastor
era seu pai, que tinha sua mãe como cooperadora, foi admitida
como missionária pela JMN e enviada para Ipupiara em 1966.

Ela gastou dezessete dias para fazer a viagem de Cacimbinhas –AL, passando por Feira de Santana (BA) e Xique-Xique (BA),
onde ficou hospedada na casa da JMN, até chegar em Ipupiara.

A missionária Débora chegou à noitinha no caminhão
de Oscarino José dos Santos, conhecido como Oscazão. Conheceu
o seu primeiro aluno ainda na viagem: era Oscarino José
dos Santos Filho, muito conhecido por Cazim.

Este a deixou na casa do pastor Pedro Evangelista e Dona Ruth, e no dia seguinte ela foi para a casa de Seu Getúlio e Dona Solina, casal de crentes que não gerou filhos e que – segundo ela conta –
“tinha um sonho de ter uma filha e colocar o nome de Débora. Eles se tornaram realmente meus pais até a morte”.

Ela gentilmente atendeu nosso pedido e fez um relato do
trabalho realizado em Ipupiara; segue reproduzido na íntegra:
“Ipupiara deve muito aos batistas brasileiros, quando ninguém
conhecia a cidade pelo nome, nós batistas já sustentávamos o “Dispensário e a Escola”. Naquela época só nós tínhamos o compromisso de sustentar a educação aí. Depois de muitos anos é que tudo foi se modificando e chegando educadores. Em algum período a Escola Batista era a única instituição educacional da região que tinha pessoas formadas e capacitadas para trabalhar. A Escola teve uma influência benéfica na cidade.
Eu e Leoni íamos a pé para sítios para fazermos cultos ao ar-livre. Eu tocava, D. Luzia também. E assim, o evangelho foi sendo propagado, todo dia era feita a devocional nos dois horários em que a escola funcionava.
Eu fazia visitas a cada aluno que faltava, e nunca nos esquecemos
das datas comemorativas. Fazíamos pic-nic com toda a escola, dia
das mães, pais, natal, semana da criança, tudo era bom, sem maldades.
Era gostoso ver a participação dos alunos na igreja e o entusiasmo
como cantavam o Hino Nacional. Hoje, eu agradeço a Deus porque
tenho certeza que a semente plantada cresceu, e muitos dos nossos alunos são fiéis servos de Deus em suas igrejas, inclusive em Ipupiara. Débora Pinto Barros”.

Dona Débora exerceu o magistério por seis anos como
missionária professora da JMN em Ipupiara. A Junta naquele
período enviou três auxiliares para a Escola em datas diferentes:
Terezinha Oliveira, Dorotéia Lima de Souza e Eliene Lima de
Araújo.

Além delas, trabalharam para a Escola como ajudantes
Eunice Ribeiro Martins, Milton Alves de Souza, Maria do Carmo,
Maria da Glória, Maria Zélia Gomes Martins, entre outros.
Sem nenhum exagero, pode-se afirmar que os ipupiarenses sempre
nutriram por Dona Débora muito amor e respeito.

Em 1972, ela deixou o convívio da “família baiana”, retornando
para seu Estado natal, Alagoas. Ficaram as doces recordações
dos momentos felizes proporcionados aos alunos pela digna
professora, juntamente com sua companheira Maria Leoni.

Momentos como os saudosos pic-nics que as duas gostavam de promover nas “Três Coroas”, um oásis de sombra embaixo de três frondosas quixabeiras, às margens da estrada de chão entre a sede de Ipupiara e o distrito de Ibipetum, como também
na planície das salinas do Olho D’água, um lugar belíssimo
e quase inexplorado à época, em pleno coração da caatinga.

Todavia, Dona Débora também viveu momentos de tristeza
em Ipupiara. Além de professora missionária da JMN, ela
participava ativamente dos trabalhos da Igreja Batista local,
juntamente com sua colega enfermeira Maria Leoni, inclusive
influenciando na eleição para escolha do moderador e demais
cargos da diretoria.

Naquela noite fatídica de 3 de dezembro de 1969 – noite em que a unidade dos batistas chegou ao fim de maneira lamentável – elas estavam lá. Tinham convicção de que a razão estava com o moderador Aristides, e ergueram a voz contra o octogenário ancião Artur Ribeiro, quando houve troca de desaforos de parte a parte.

O esplêndido magistério exercido durante seis anos à
frente da Escola Batista Ruth Izabel de Souza é que mantém
viva a lembrança que guardamos de Dona Débora. Seu carisma
marcou profundamente toda uma geração de crianças e jovens,
gente que hoje reconhece o quanto lhe foi benéfica a educação
promovida pela excelsa professora.

DIVISÃO ENTRE OS BATISTAS DE IPUPIARA

“Irmãos, rogo-vos em nome de nosso Senhor Jesus Cristo que entreis em acordo quando discutirdes, e não haja divisões entre vós; pelo contrário, sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer”. 1 Coríntios 1.10.

Infelizmente, o rogo do apóstolo Paulo formulado aos irmãos
de Ipupiara em 1Coríntios 1.10 foi em vão, pois a despeito de terem conhecimento dele, houve divisão entre os irmãos.

Tudo começou na sessão realizada no dia 7 de dezembro
de 1968, quando a Igreja Evangélica Batista de Ipupiara elegeu
Aristides Antônio dos Santos e Timóteo Pereira de Novais para
os cargos de moderador e vice-moderador, respectivamente,
para o ano de 1969, conforme registrado na Ata nº 412.

A eleição dessa diretoria teve a mobilização das missionárias
Débora Teixeira Pinto e Maria Leoni Centeno Duarte.

Estas obreiras da JMN vinham mantendo um posicionamento crítico em relação ao predomínio que Artur Ribeiro dos Santos exercia por mais de trinta anos sobre os trabalhos da igreja, em razão das práticas administrativas na igreja e do envolvimento político-eleitoral do irmão, atitudes que as missionárias entendiam serem contrárias aos princípios que norteiam a vida das igrejas filiadas à convenção batista brasileira.

Evidentemente, o líder dos pioneiros batistas tinha queixa
contra as missionárias e pretendia vê-las afastadas dos trabalhos
da igreja, o que não conseguiu junto ao moderador Aristides Antônio
dos Santos. Este, pelo contrário, considerava importante o
trabalho delas e dava-lhes apoio.

Irresignado, o diácono Artur Ribeiro dos Santos, juntamente
com alguns membros que lhe eram mais chegados, realizaram uma sessão no dia 28 daquele mesmo mês de dezembro de
1968, presidida por ele, na qual elegeram uma segunda diretoria,
tendo o próprio Artur Ribeiro dos Santos como moderador,
o que ocasionou a existência ao mesmo tempo de duas
diretorias para reger os trabalhos da Igreja Evangélica Batista
de Ipupiara durante o ano de 1969.

A justificativa dada para a realização desta segunda eleição
é que a primeira sessão teria sido marcada para o dia 28 de
dezembro de 1968, da qual os membros teriam sido notificados,
mas que Aristides Antônio dos Santos, convencido pelas
missionárias, teria antecipado em mais de duas semanas, sem
que houvesse tempo hábil para notificar a todos da nova data.

Diante da dualidade de diretoria, o moderador Aristides
Antônio dos Santos houve por bem sugerir à igreja que convidasse
o pastor Jonas Barreira de Macedo Filho, homem sensato,
muito bem preparado, de reconhecida sabedoria entre os batistas
brasileiros, que na época pastoreava a Igreja Batista em
Ibotirama, para vir aconselhar a igreja e ajudá-la a encontrar uma
solução para o problema.

Feito o convite, ele atendeu e esteve reunido com a igreja
em sessão extraordinária no dia 13 de janeiro de 1969 para resolver
a questão. A sessão contou com a maioria de trinta e um
membros.

O pastor Jonas Barreira de Macedo Filho “fez uma linda
exposição bíblica” – escreveu Jeremias Ribeiro dos Santos, o
escriba que lavrou a ata – e pediu que quatro irmãos espontaneamente
se dirigissem ao pai celestial em oração. Oraram os irmãos
Artur Ribeiro, Moisés Novais, Cleusa Matos e Umbelina
Ribeiro de Araújo.

Na seqüência, o Pr. Jonas conclamou a igreja a depender
exclusivamente do Espírito Santo e prosseguir coesa, unida na
jornada que lhe é proposta: “a conquista de almas para o reino
celestial”. Então o homem de Deus sugeriu como solução para
o problema a continuidade da diretoria de 1968 [eleita em
07/12/1967], ou seja, tornar sem efeito as duas malsinadas
eleições de dezembro de 1968.

Acolhida a sugestão, Artur Ribeiro propôs, Adão Martins
apoiou, e todos os trinta e um presentes aprovaram. A diretoria
ficou assim constituída: Aristides Antônio dos Santos –
moderador; Timóteo Pereira de Novais – vice-moderador;
Jeremias Ribeiro dos Santos – 1º secretário; Almerinda Ribeiro
Sousa – 2ª secretária; Solina Amorim Sobrinha – tesoureira;
Artur Ribeiro dos Santos – superintendente, etc.

Por fim, o pastor Jonas Barreira de Macedo Filho, presidente
da sessão, deu por encerrados os trabalhos e ainda fez
uma oração, “rogando aos céus a continuidade dos trabalhos desta igreja e a fraternidade cristã entre os irmãos” [Ata nº 427, de 13/01/
1969, lavrada por Jeremias Ribeiro dos Santos, secretário].

Entretanto, durante uma tradicional reunião de oração
de quarta-feira à noite, dia 3 de dezembro de 1969, a discórdia
veio à tona e um grave conflito aconteceu entre o grupo das
missionárias e o liderado por Artur Ribeiro. Houve desaforos
de parte a parte, atraindo a presença de uma grande quantidade
de pessoas que queriam assisitr às cenas incríveis que estavam
acontecendo no templo da igreja batista.

Pelo grupo do diácono Artur Ribeiro dos Santos, a justificativa
dada para o tumulto que ocorreu naquela noite de “reunião de oração” é a seguinte: “Na aproximação da época de
escolher a diretoria para 1970, resolveu-se que a assembléia-geral anual seria novamente a 28 de dezembro [de 1969], como de costume. Mas, na quarta-feira, 3 de dezembro, durante a reunião de oração costumeira, sem submeter à vontade do plenário presente, o moderador Aristides Antônio dos Santos antecipou a data das eleições de 28 para 6 daquele mês, sem tempo hábil para que os irmãos residentes fora da sede fossem avisados. Alguns irmãos protestaram pública e livremente, gerando daí grave conflito entre o grupo liderado pelas missionárias e o liderado pelo
diácono Artur Ribeiro dos Santos” [trecho de declaração transcrita
no livro 1 da Primeira Igreja Batista Independente de
Ipupiara, em 08/02/1970].

Naquela noite fatídica de 03/12/1969, o diácono Artur
Ribeiro dos Santos expulsou do templo os irmãos Aristides
Antônio dos Santos, Débora Teixeira Pinto e Maria Leoni
Centeno Duarte, e dali em diante o grupo por ele liderado
assumiu a posse e o controle do patrimônio da Igreja Evangélica
Batista de Ipupiara: templo, com terreno anexo murado;
casa de residência pastoral, com quintal murado; prédio para
escola, com terreno anexo murado; cemitério murado e outros
bens móveis.

Os membros em sua maioria saíram da igreja, em solidariedade aos expulsos, e juntos passaram a se reunir no salão do dispensário batista.

O Pr. Pedro Evangelista de Souza, homem sábio, obreiro
experiente e aprovado por Deus, conhecia bem a natureza do litígio
que assolava a unidade dos batistas ipupiarenses. De Central
(BA) fora ele trazido para conduzir os irmãos na busca da tão
almejada reconciliação entre os dois grupos discordantes.

No dia 07/12/1969, às 14 horas, no salão do dispensário batista, ele dirigiu a sessão extraordinária da Igreja Evangélica Batista de Ipupiara, na qual foi aprovada a constituição de uma comissão para entender com o irmão Artur Ribeiro dos Santos. A comissão foi composta pelos irmãos Fábio Francisco Martins, Timóteo Pereira de
Novais e o pastor Pedro Evangelista de Souza.

A comissão apresentou seu relatório à igreja, que entendeu serem inaceitáveis as exigências feitas por Artur Ribeiro dos Santos [conforme registrado na ata nº 437 da sessão extraordinária de 7/12/1969, lavrada por Maria Neide Monteiro, secretária ad hoc].

Em 08/12/1969, o grupo liderado por Aristides Antônio
dos Santos reuniu-se em sessão extraordinária, no salão do
dispensário batista, ocasião em que decidiram conceder carta
de transferência aos irmãos que se solidarizaram com Artur
Ribeiro dos Santos, quais sejam: Salomão Ribeiro dos Santos,
Jeremias Ribeiro dos Santos, Moisés Pereira de Novais, Guiomar
Ribeiro Martins, Mirian Ribeiro Martins Novais, Durval Ribeiro
dos Santos e Odete Moura Ribeiro, bem como ao próprio
Artur.

Também decidiram nomear uma comissão composta
por Aristides Antonio dos Santos, Getúlio Ribeiro Barreto e Adão Francisco Martins, a fim de reaver o patrimônio da igreja que estava em poder de Artur Ribeiro dos Santos e seus liderados [conforme registrado na ata nº 438 da sessão extraordinária de 8/12/1969, lavrada por Maria Neide Monteiro, secretária ad hoc].

De igual sorte, esta comissão também não teve êxito. Estava consumada a divisão entre os irmãos batistas de Ipupiara.

O grupo liderado por Artur Ribeiro dos Santos, que ficou
em poder do templo e demais bens da igreja de origem, instituiu a Primeira Igreja Batista Independente de Ipupiara.

Os irmãos que se tornaram membros dessa igreja são: Artur Ribeiro dos Santos, Moisés Pereira de Novais, Salomão Ribeiro dos
Santos, Odete Moura Ribeiro, Jeremias Ribeiro dos Santos,
Guiomar Ribeiro Martins, Jovelina Ribeiro, Durval Ribeiro dos
Santos, Isbela Martins dos Santos, Mirian Ribeiro Martins
Novais, Zenilde Ribeiro, Almira Barreto Martins, Rasma Ossis
Leite, Antônia Francisca Pereira, todos da sede, mais doze
membros residentes nos povoados, constando ao todo vinte e
seis no rol de membros.

Em 05/01/1970, os membros acima citados, sob a presidência
de Artur Ribeiro dos Santos, decidiram compor a diretoria
da Primeira Igreja Batista Independente de Ipupiara para o
ano de 1970, que ficou assim constituída: Artur Ribeiro dos Santos
– moderador, Moisés Pereira de Novais – vice-moderador;
Salomão Ribeiro dos Santos – 1o secretário; Durval Ribeiro
dos Santos – 2o secretário; Mirian Ribeiro Martins Novais –
tesoureira; Jeremias Ribeiro dos Santos – superintendente da
EBD.
(Nesse ínterim, no dia 07.01.1970, faleceu de ataque cardíaco, na Praça Principal de Ipupiara, depois de fazer um sermão evangélico Adão Francisco Martins, com 55 anos de idade).

Em sessão realizada no dia 08/02/1970, o moderador
propôs que fosse comunicado à Junta de Missões Nacionais e
à Convenção Batista Sertaneja o desligamento daqueles membros
dos dois órgãos, em caráter irrevogável. Na mesma sessão,
em que estava presente o pastor Cassimiro Machado Neto,
a ele foi lançado o convite para pastorear a igreja, o que foi
aceito imediatamente, “ficando certo que sua vinda seria apoiada pela 1a Igreja Batista em Brasília, a qual faria um convênio com a Igreja Batista Independente de Ipupiara, aceitando algumas condições impostas pela mesma”.

Em junho de 1970, a Primeira Igreja Batista Independente
de Ipupiara filiou-se à Convenção Batista Nacional.

No dia 27 de setembro de 1970, o pastor Cassimiro Machado
Neto pediu afastamento definitivo da igreja, e o fez por
motivos pessoais. Daí em diante, a igreja passou a ser pastoreada
interinamente, durante algum tempo, pelo pastor Elias Brito Sobrinho.

Embora a igreja estivesse formalmente filiada à Convenção
Batista Nacional, de fato não havia interação entre as duas
instituições.

No dia 04/11/1990, o pastor Odêncio Rodrigues dos
Santos – que então pastoreava a Igreja Batista Renovada de
Xique-Xique/BA, filiada à Convenção Batista Missionária do
Brasil – aceitou o convite feito a ele para pastorear a igreja
interinamente.

Em 11/04/1991, a igreja também se filiou à CBMB. Em 12/02/1995, sob o pastorado de Sérgio Pereira Nascimento, o nome da igreja foi modificado para Igreja Batista Renovada, nome que possui atualmente.

O grupo liderado por Aristides Antônio dos Santos e
Timóteo Pereira de Novais deu continuidade aos trabalhos da
Igreja Evangélica Batista de Ipupiara, realizando suas reuniões
no salão do dispensário batista, até que fosse concluída a construção
do novo templo na Praça Santos Dumont, o que ocorreu
em setembro de 1970.

O nome desta igreja passou a ser Primeira Igreja Batista de Ipupiara, sempre filiada à Convenção Batista Brasileira.

Em 10/07/1973, uma comissão formada por seis pastores
– Pedro Pereira do Nascimento, João Eduardo da Silva,
Clóvis Lopes de Sousa, Henrique Marinho, Antônio
Martins da Silva e mais um cuja rubrica não permite
identificá-lo – compareceu a um encontro com Artur Ribeiro
dos Santos numa sala do prédio da Rua Rui Barbosa.

Tinham em mãos a escritura pública do conjunto de imóveis
registrada no cartório competente, em nome da Primeira
Igreja Batista de Ipupiara. Propuseram-lhe a devolução
amigável do imóvel, a fim de que a Escola Batista Ruth
Izabel de Souza voltasse a funcionar no lugar de costume, deixando de pagar aluguel pela casa particular que vinha ocupando.

Ele recusou o acordo proposto e disse estar disposto
a resolver a questão no âmbito do Poder Judiciário.
Com esse teor, uma declaração conjunta foi lavrada pela
comissão de pastores, em 10 de julho de 1973.

IGREJA MOVE AÇÃO CONTRA ARTUR
RIBEIRO

Em 16/08/1973, a Primeira Igreja Batista de Ipupiara,
por seu procurador Belmiro Sampaio, moveu uma ação de reintegração de posse contra Artur Ribeiro dos Santos, perante o
juízo cível da comarca de Brotas de Macaúbas, com jurisdição
sobre o município de Ipupiara, em busca de provimento judicial
que lhe reintegrasse na posse do imóvel situado na Rua Rui
Barbosa, com área de 504 m², no qual estão construídos o templo
onde a igreja se reunia, um edifício onde funcionava a Escola
Batista Ruth Izabel de Souza, e uma casa para residência
pastoral. Imóvel registrado no cartório de registro de imóveis
daquela comarca, livro 3 – D, fls. 90 e 91 – v.

Como meios de prova, juntou escritura pública registrada
no cartório competente, declaração conjunta firmada por
seis pastores, e arrolou sete testemunhas: Arlindo Almeida,
Natanael pedreiro, Frederico mecânico, Jorge alfaiate, Timóteo
Pereira de Novais, Aristides Antônio dos Santos e Abelardo
Pereira da Costa.

Em 29/09/1973, por intermédio de seu procurador
Adelísio Saldanha Souza, Artur Ribeiro dos Santos contestou a
ação. Em sede preliminar, alegou que “o réu deverá ser absolvido de
instância porque, sendo casado e versando a ação sobre direitos relativos a bens imóveis, não requereu a autora a citação da mulher do réu”.

Antes de adentrar o mérito, a defesa esboçou um histórico.
Aduziu que em 1923 o réu e sua consorte, Solina Ribeiro Barreto,
retornaram ao seu torrão natal – antiga vila de Jordão, hoje cidade
de Ipupiara – convertidos à religião cristã na Igreja Batista de Barra do Rio Grande.

Aos brados de que protestantes deveriam ser mortos, conseguiram trazer ponderável número de fiéis a professar
a religião que pregavam.

Em 1932, ajudados por inúmeros companheiros, começaram a construir o prédio em questão, para nele fixar residência e também utilizá-lo, secundariamente, como templo e escola de evangelização. “Decorridos vários anos, começaram a aparecer batistas de seitas religiosas outras, mas com um ponto comum de identificação: a crença em Cristo [sic!]”.

A nova seita pregada, querendo se identificar com aquela já arraigada na consciência do povo cristão de Ipupiara, em verdadeiro sincretismo, esses novos evangelistas passaram a se apresentar como únicos portadores das palavras da verdade e da fé. “A esta altura dos acontecimentos, sem que o réu tivesse qualquer ciência, foi surpreendido com a presente ação possessória, e mais surpreso ainda ficou quando tomou conhecimento de que a autora, na
tentativa última de lançar uma pá de terra sobre a seita apregoada pelo réu, ou remeter ao Rei de Belzebu os seus seguidores, conseguiu... registrar como propriedade dela o prédio objeto da lide e residência do réu [sic!]”.

No mérito, a defesa aduziu que o réu teve a posse do imóvel
em questão por mais de trinta anos, sem obstáculo nem oposição
de quem quer que fosse, tendo assim adquirido o direito
de propriedade sobre o mesmo, por força de usucapião. “Por
isso que vem de argüir como defesa a prescrição aquisitiva da propriedade imobiliária, interpretação jurídica essa já reduzida em Súmula do Supremo Tribunal Federal”.

Em 29/04/1974, o juiz de direito Antônio Rodrigues Barbosa
prolatou a sentença. Ele se convenceu de que a citação foi
inválida porque a autora deixou de requerer a citação da mulher
do réu, e extinguiu o processo sem resolver o mérito. “Hei por
bem julgar extinta a presente ação de reintegração de posse, que move a Primeira Igreja Batista de Ipupiara contra Arthur Ribeiro dos Santos, com fundamento nos dispositivos legais invocados, independentemente do julgamento do mérito. Em virtude disso, condeno a Autora ao pagamento de honorários de advogado que fixo em 10% sobre o valor da causa”.

A audiência para leitura e publicação da sentença foi
marcada para o dia 09/05/1974, às 14 horas, na sala de audiências
daquele juízo, no edifício da prefeitura municipal de Ipupiara.

Artur Ribeiro dos Santos faleceu às duas horas da manhã
do dia 22 de setembro de 1979, aos 91 anos, 6 meses e 15
dias. Estudantes, crianças e jovens de Ipupiara realizaram um
desfile pelas ruas da cidade, em homenagem ao líder municipal
que havia lutado tenazmente pela autonomia de seu povo e
que partia naquele dia para a morada eterna. Ele foi sepultado
num jazigo construído ao lado do templo da Igreja Batista renovada,
onde sua esposa posteriormente também o foi.

EVANGÉLICOS EM IPUPIARA E REGIÃO

A par das duas igrejas batistas, atualmente a Assembléia de
Deus e a Adventista do Sétimo Dia também assistem na cidade.

Segundo dados fornecidos pelo Ministério de Apoio com Informação, o percentual de evangélicos em Ipupiara em 2000 foi
de 6,85%, contra 88,96% de católicos. Naquele ano, a população
foi de 8.541 habitantes.

Ipupiara é a cidade com o maior percentual de evangélicos
da região, conclusão que se deduz dos números apresentados a
seguir.

Em Brotas de Macaúbas, o percentual de evangélicos é de
1,36% para 97,04% de católicos. Em Gentio do Ouro, essa relação
é de 2,68% para 89,73%. Em Barra do Mendes, 3,24% para
85,23%. Em Morpará, 4,48% para 87,84%. Em Oliveira dos
Brejinhos, 4,14% para 93,13%. Em Ibotirama, 6,35% para 88,87%.
Em Barra, 6,05% para 86,30%. Em Seabra, 4,85% para 87,75%.

Aqui uma ressalva se faz necessária quanto ao percentual
de católicos verificado nas referidas cidades. Dentre essas pessoas
que se dizem católicas e que aparecem nas estatísticas oficiais,
muitas delas, em verdade, não podem ser consideradas
católicas apostólicas romanas, pois embora freqüentem cerimônias
realizadas na igreja romana, como casamentos e batizados, de fato elas não participam de ritos obrigatórios exigidos pela religião, como ir regularmente à missa aos domingos.

O que as leva a responderem aos perguntadores que são católicas provavelmente é a vergonha de assumirem publicamente
o fato de não terem religião, sentimento compreensível
neste caso, por se tratar de pessoas simples do interior sertanejo.


OS BATISTAS DE IPUPIARA NA ATUALIDADE

IGREJA BATISTA RENOVADA.

A Igreja Batista Renovada é dirigida atualmente pelo pastor
Adelso Durães, que nasceu em Ipupiara, é casado com a irmã
Adailza Durães de Souza, e foi batizado na própria igreja pelo
pastor Odêncio Rodrigues dos Santos. Atuou em diversas áreas
da igreja antes de chegar ao pastorado. Para ser consagrado ao
ministério pastoral, passou por um período de preparação por
seis meses.

Em sessão extraordinária, a igreja decidiu por voto
secreto solicitar a sua ordenação à Convenção Missionária Batista
do Brasil. Avaliado por um concílio examinatório em Xique-
Xique (BA), foi aprovado para o ministério.

No ato de consagração do Pr. Adelso, realizado no
templo da Igreja Batista Renovada, tomaram assento o Pr.
Odêncio Rodrigues dos Santos, presidente da 8ª Regional
da Convenção Batista Missionária do Brasil, Pr. Walter
Quirino Filho, Pr. José Gonçalves dos Santos, Pr. Gilson
Lopes, evangelista João Pereira, missionária Marina Cerqueira
e missionária Quézia M. dos Santos.

A igreja compõe-se atualmente (2008) de cerca de cento
e vinte irmãos alistados no rol de membros, sendo que além
desses existem cerca de oitenta “congregados”, isto é, pessoas
que freqüentam regularmente a igreja, mas que ainda não se
submeteram ao batismo, condição indispensável para se tornarem
membros.

A igreja mantém congregações na cidade de Morpará
(BA), no povoado de Pajeú, pertencente ao município de
Xique-Xique (BA), e no povoado de Gregório, município de
Gentio do Ouro (BA).

PRIMEIRA IGREJA BATISTA.

A Primeira Igreja Batista é dirigida atualmente pelo pastor
Clóvis de Sousa Nogueira, que nasceu na cidade, é casado com a
irmã Eliene Sodré de Andrade Nogueira e foi batizado nesta igreja.
Antes de ser ordenado ao ministério pastoral, foi evangelista por muitos anos, e exerce o cargo de moderador desde agosto de
1994.

Em 16/04/2003, a igreja enviou carta convidando os pastores
da Associação Batista do Oeste – ABO para formarem um
Concílio Examinatório com vistas à ordenação do então
evangelista Clóvis de Sousa Nogueira ao ministério pastoral.

Em 23/05/2003, reuniram-se em uma das salas da Primeira
Igreja Batista em Ipupiara os seguintes pastores da ABO, a fim de formarem o Concílio Examinatório: Cloves Lopes de
Souza (Riachão das Neves e Formosa do Rio Preto, interino),
Djalma Alves Silva (PIB em Luís Eduardo Magalhães), Ivan de
Souza Carvalho (Esperança em Barreiras), Agostinho Lima de
Souza (Esperança em Barreiras), Francisco Geraldo de Oliveira
(Frente Missionária Oliveira dos Brejinhos), João Eduardo da
Silva (PIB em Ibotirama), Ubirajara Gilvan de Souza Santos (PIB
em Barra), Hélder José de Magalhães (Frente Missionária em
Morpará), Paulo Eufrasino da Silva (PIB em Xique-Xique) e
Pedro Pereira do Nascimento (jubilado).

Na seqüência da reunião, o concílio foi formado pelos seguintes pastores: Cloves Lopes de Souza (presidente), Ivan de
Souza Carvalho (examinador), Djalma Alves Silva (secretário) e
os demais como membros.

Após ser examinado em diversas questões, o irmão Clóvis de Sousa Nogueira foi aprovado. No culto da noite, o orador foi o Pr. Paulo Eufrasino da Silva. Em assembléia extraordinária, a igreja, por unanimidade, ratificou o pedido para que o Pr. Clóvis de Sousa Nogueira assumisse o pastorado da mesma.

A igreja compõe-se atualmente (2008) de cento e cinqüenta
irmãos alistados no rol de membros, sendo que além desses existem
cerca de cem “congregados”, isto é, pessoas que freqüentam
regularmente a igreja, mas que ainda não se submeteram ao batismo,
condição indispensável para se tornarem membros.

A igreja mantém congregação na cidade de Brotas de
Macaúbas, nos povoados de Bela Sombra e Chiquita, ambos
pertencentes ao município de Ipupiara, além de manter pontos
de pregação em diversos povoados do município.

Coopera com a obra missionária no âmbito municipal,
estadual, nacional e mundial, por intermédio das juntas missionárias da convenção batista brasileira. Participa do Programa de Adoção Missionária – PAM, cooperando com os missionários que atuam em Botswana (África) e em outros países, por intermédio de adotantes do mesmo programa.

IPUPIARA NA ATUALIDADE

Neste início do século XXI, a oferta de serviços de saúde
e educação no município de Ipupiara, sem dúvida, é muito
melhor do que fora no meado do século XX, quando as
missionárias batistas para lá foram enviadas e com amor ofereceram
suas vidas em sacrifício vivo a Deus, suprindo as carências
dos ipupiarenses.

Ensino gratuito é oferecido na sede por escolas públicas
mantidas pelo município. A Creche Mãe Venina atende crianças
do Berçário, Maternal e Jardim, e o Colégio Municipal de Ipupiara
oferece cursos de Educação Infantil e Fundamental. Em funcionamento nos povoados, vinte e cinco escolas municipais também oferecem cursos de Educação Infantil e Fundamental.

Além disso, o Colégio Estadual Democrático Castro Alves,
em funcionamento na sede, oferece o curso “Formação Geral”
de nível médio.

Em nível superior, o pólo da Universidade Aberta do
Brasil – Pólo UAB Ipupiara, com instalações modernas, oferece
o curso de Matemática, efetivado pela Universidade Federal
da Bahia, cuja primeira turma, com vestibular já concluído,
terá início em 2009. E ainda funciona na sede a Universidade
Norte do Paraná – UNOPAR, com oferta dos cursos de Pedagogia
e Letras, cujas aulas são transmitidas via satélite.

Na área da saúde, observa-se que o município fez uma
verdadeira revolução, sobretudo quando se compara a realidade
atual com a situação vivida no passado.

Construiu o Hospital Municipal Guilhermino Pereira
Machado, com vinte e quatro leitos, centro cirúrgico, sala de
parto, duas salas para urgências, sala de pequenas cirurgias e
sala para higienização.

Dotado de equipamentos para ações de baixa e média complexidade, o hospital funciona com um diretor clínico (médico), diretor administrativo, dois médicos plantonistas, enfermeira-chefe, seis auxiliares de enfermagem, técnico de esterilização e diversos funcionários burocráticos.

Mantém dois Postos de Saúde da Família – PSF na sede,
onde um funciona com clínico geral, enfermeiro, dois auxiliares
de enfermagem, odontólogo e auxiliar, sete agentes comunitários
de saúde, recepcionista e agente de limpeza. Já o outro
funciona com clínico geral, enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem, psiquiatra (o número de doentes mentais é altíssimo),
fisiatra, farmacêutico, recepcionista, cinco agentes comunitários
de saúde e agente de limpeza.

Ainda mantém um PSF no distrito de Ibipetum, com
clínico geral, enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem,
odontólogo e auxiliar, nove agentes comunitários de saúde,
recepcionista e agente de limpeza. Esta equipe também assiste
a outros quatro Postos de Saúde da Família mantidos em povoados
próximos entre si: Pintada, Bela Sombra, Sodrelândia
e Riacho das Telhas.

O problema mais grave que os cidadãos ipupiarenses
enfrentam nos dias atuais é a falta de acesso à justiça na cidade
onde vivem. Isto porque o município ainda não conseguiu ver
instalada a sua Comarca, quando já se passaram 50 anos de
emancipação.

Vale dizer, o Poder Judiciário ainda está muito distante do
cidadão ipupiarense que eventualmente precisa recorrer a ele.

Apesar das imensas dificuldades, a comunidade de
Ipupiara evoluiu de uma pequena vila para uma linda e promissora
cidade, eis que iluminada pela luz do Evangelho de Jesus Cristo.

À GUISA DE CONCLUSÃO

Queridos irmãos,
“Sem vacilar, mantenhamos inabalável a confissão da
nossa esperança, pois quem fez a promessa é fiel. Pensemos
em como nos estimular uns aos outros ao amor e às boas obras,
não abandonemos a prática de nos reunir, como é costume de
alguns, mas, pelo contrário, animemo-nos uns aos outros, quanto
mais vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10.23-25).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, Carlos. Milagre na chapada: Romanceiro da
Chapada Diamantina. São Paulo: Scortecci, 2005.
BARBOSA, Celso Aloísio; AMARAL, Othon Ávila. O Livro
de Ouro da CBB: Epopéia de fé, lutas e vitórias. Rio de Janeiro:
JUERP, 2007.
BÍBLIA SAGRADA. Almeida Século 21. São Paulo: Vida
Nova, 2008.
BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de
24 de fevereiro de 1891.
BRITO, Itamar Sousa. História dos Batistas no Piauí – 1904
– 2004 – Um Século de Lutas e Vitórias. Rio de Janeiro:
Juerp, 2003.
CHAGAS, Américo. O chefe Horácio de Matos. Salvador:
EGBA, 1996.
COSTA, Erivelton Santos. Revitalização Urbana da Cidade
de Ipupiara (BA). Palmas (TO), 2002. Monografia (Graduação)
– Arquitetura e Urbanismo, Universidade do
Tocantins.
CRABTREE, Baptistas do Brasil, I. Citado por OLIVEIRA,
Zaqueu Moreira de. Perseguidos, Mas Não Desamparados:
90 anos de perseguição religiosa contra os batistas
brasileiros (1880 – 1970). Rio de Janeiro: JUERP, 1999.
FERREIRA, Jurandyr Pires. Enciclopédia dos Municípios
Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1958, v. XX, Bahia A–L.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26.ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995.
MARTINS, Mário Ribeiro. Coronelismo no Antigo Fundão
de Brotas. 2.ed. Goiânia (GO): Ed. Kelps, 2004.
MARTINS, Mário Ribeiro e MARTINS, Filemon Francisco. Dicionário Genealógico da Família Ribeiro Martins. Palmas
(TO): Ed. Kelps, 2007.
MARTINS, Mário Ribeiro. Missionários Americanos e Algumas
Figuras do Brasil Evangélico. Goiânia (GO): Kelps, 2007.
________. Quem foi Artur Ribeiro. Obtido via internet
Acesso em: 18/02/2008.
MATHIAS, Myrthes. A Pátria para Cristo. Rio de Janeiro.
Nov/Dez de 1971.
OLIVEIRA, Zaqueu Moreira de. Perseguidos, Mas Não
Desamparados: 90 anos de perseguição religiosa contra os
batistas brasileiros (1880 – 1970). Rio de Janeiro: JUERP, 1999

ANEXO I
Quarenta irmãos que receberam
cartas demissórias da Igreja de Barra
1 – Solina Ribeiro Amorim G
2 – Dioclides Alves da Silva
3 – Maria Ribeiro Barreto
4 – Jovelina Pereira de Andrade
5 – Antônio Ribeiro dos Santos
6 – Jovelina Ribeiro Martins
7 – Alice Ribeiro Barreto
8 – Ana Rita Barreto
9 – Arcanja Martins da Silva
10 – Jovelina Francisca Martins
11 – Marcolina Pereira Novais
12 – Isabel Ribeiro Barreto
13 – Genésio Ribeiro dos Santos
14 – Adelino Pereira Novais
15 – Sophia Martins
16 – Lionarda Martins
17 – Adão Francisco Martins
18 – Laurentina Martins
19 – Guiomar Martins
20 – Josué Martins de Almeida
21 – Petronília Martins de Almeida
22 – Izadora Maria da Cruz
23 – Alfredo Ribeiro dos Santos
24 – Donata de Souza Ribeiro
25 – Durvalina da Cunha Ribeiro
26 – Carmozina de Souza Ribeiro
27 – Carolina de Souza Ribeiro
28 – Gasparino Ribeiro dos Santos
29 – Gasparino Francisco Martins
30 – Claudemiro Alves Pereira
31 – Lindaura Ribeiro Santos
32 – Maria Ribeiro Barreto
33 – Antônio Ribeiro
34 – Anna Rita
35 – Manoel Ribeiro Primo
36 – Bevenuto Ribeiro dos Santos
37 – Jovelina da Cunha Ribeiro
38 – Tertuliano José da Cunha
39 – Djanira Ribeiro
40 – Artur Ribeiro dos Santos

CONTATO COM O AUTOR
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