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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Uma Palestra com HITLER - 1932 -- 03/10/2003 - 17:52 (((((EU SOU DO SUL))))) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma palestra com Hitler
Março de 1932
_______________________________________________________

Adolf Hitler entrou na arena. Oito mil homens e mulheres ergueram-se, perfilaram-se, levantando os braços na saudação fascista. Os gritos de Viva Hitler! encheram as paredes do Circus Krone e foram respondidos em eco por uma multidão que se comprimia nas ruas de Munich.
Nove anos atrás nesse mesmo circo ouvi Hitler falar. Havia tentado atrair as multidões por meio de todos os artifícios imagináveis, mas a metade das cadeiras que enchiam o recinto do circo estava vazia. Hoje em dia todos os salões da Alemanha, por maiores que sejam, são pequenos para conter os auditórios de Hitler. Nove anos atrás vi uma rajada de metralhadoras da Reichswehr dissolver as colunas de Hitler que marchavam na Odeons Platz para derrubar o governo. Hoje, uma rajada de votos levou Hitler às proximidades do poder.
Hitler discursou no Circo. Era um evangelista que falava às multidões ao ar livre, o Billy Sunday da política alemã. Seus prosélitos se agitavam com ele, riam com ele, sentiam com ele. Com ele apupavam a França. Com ele, vaiavam a República. Os oito mil adeptos que ali estavam eram os instrumentos com que Hitler tocava a sinfonia da paixão nacional.
Dez, doze, quinze, vinte milhões de alemães completam a orquestra de Hitler através do Reich. Ninguém pode calcular o seu número precisamente, mas os tons ameaçadores de sua provocação tem criado uma atmosfera de pânico no Continente.
Hitler, evangelista, podia descobrir uma nova religião. Hitler, ator, podia dominar todas as platéias. Hitler, orador, podia fazer uma revolução.
Doze anos atrás Hitler planejou uma revolução. Fundou com sete homens o Partido Nacional-Socialista. Nove anos atrás tentou levar a cabo esta revolução. Foi para a cadeia. Ficou esquecido por alguns anos. Hoje em dia Adolf Hitler, com quarenta e três anos de idade, filho órfão de um funcionário da alfândega austríaca, senhor de um passaporte temporário da polícia, homem sem pátria, que nem mesmo é cidadão alemão, Adolf Hitler, ajudante de arquiteto e decorador de interiores, o soldado que nunca chegou a ir além do posto de cabo no exército alemão, Adolf Hitler, o ridicularizado porta-estandarte de um putsch mal-sucedido - esse mesmo Adolf Hitler é o herói que tem milhões de adoradores, é a ameaça que a Europa teme. Hoje ele fez a sua revolução, e quer venha ele a ser o próximo chanceler, quer continue como líder do maior partido alemão da presente era, a era do desafio da Alemanha, há de ter o seu nome.
Na era de Hitler o capital americano que está empregado na Alemanha e que monta a um total de três bilhões de dólares deixou de ser um problema meramente financeiro. Tornou-se um fator primário na política da Europa. Os homens de negócio americanos perguntam: “Que acontecerá se Hitler subir ao poder?” O Departamento Americano de Estado não está menos interessado no caso. Até hoje Hitler nunca se tinha exprimido abertamente e especificamente a respeito do caso preciso: “O que acontecerá aos interesses americanos na Alemanha se eu tomar conta do governo?” Ontem, por uma hora e meia, Hitler discursou no Circo Krone na presença de oito mil homens e mulheres. Ao falar, estava se dirigindo à Alemanha. Hoje, por outra hora e meia, Hitler, numa entrevista que me concedeu, analisou sua atitude para com a América e para com os capitais americanos que estão em jogo na Alemanha. Desta vez estava se dirigindo aos Estados Unidos.
Sob uma máscara mortuária de Frederico o Grande, a quem Oswald Spengler chamou “o primeiro nacional-socialista”, Hitler, sentado, desenvolveu um programa que pode dar que pensar aos homens de negócio da América. A primeira parte do
programa, contudo, era agradável.
“- O capital americano que está empregado na Alemanha ficará mais seguro debaixo do governo nacional-socialista do que debaixo de qualquer outro governo, - declarou Hitler. - Eis aqui quatro razões: Primeiro, porque somente debaixo de um
governo nacional-socialista a Alemanha se livrará das dívidas políticas que hoje tornam impossível para nós o pagamento de nossas dívidas particulares. Segundo, porque somente debaixo de um governo nacional-socialista será possível atingir estabilidade nas relações com a França. Terceiro, porque somente debaixo de um governo nacional-socialista a Alemanha se recusará a entrar em acordos que não pode cumprir. Quarto, porque somente debaixo de um governo nacional-socialista se poderá evitar o comunismo na Alemanha.”
Hitler era um hóspede gentil. Ele mesmo, com um sorriso encantador, tinha ajustado a cadeira do visitante. Vestia roupa preta, camisa branca, colarinho semi-flexível e gravata preta. Hitler dava a impressão dum artista ou de um ator. Os seus cabelos, abundantes como os de um moço, mais ou menos longos e lisamente penteados, distinguia-o da grande maioria dos alemães que, ou são realmente calvos, ou tosquiam os cabelos para fazer calvícies artificiais... O bigode de Hitler, grosso, rente e estreito, cobria um lábio superior longo, céltico, a característica que dá às suas feições, quando em repouso, um ar de melancolia. O rosto rosado e o branco de seus olhos escrutadores e brilhantes eram indício de saúde. O líder nacional-socialista recem tinha chegado de Berchtesgaden; estava cheio do ar da montanha e cheio de confiança.
- Estamos resolvidos, - falou Hitler - a reembolsar até o último cent o capital que tomamos emprestado da América. O desejo de pagar nossas dívidas particulares é igualmente forte e inabalável entre todos os alemães, com exceção dos bolchevistas. Mas, considerando a questão do pagamento de nossa dívida à América, devemos estabelecer uma grande diferença entre o capital dessa dívida, o seu juro e a sua amortização. Asseguro-lhe que ninguém tocará no capital. Cada pfennig desse capital será reembolsado. Mas a questão de como será reembolsado depende de nossa capacidade para pagar. Esses empréstimos foram feitos sob a pressão das reparações. A necessidade de pagar as nossas dívidas políticas nos forçaram a assumir esses compromissos particulares. Assim, é verdade que pelo menos 75 por cento dos empréstimos são uma forma de reparações proteladas.
Foi esse o grande perigo que houve no levantamento de tais empréstimos, no estrangeiro. A transação importou na comercialização das reparações.”
Hitler tinha começado a falar vagarosamente, em tom de palestra, com os olhos fixos no interlocutor. Depois de um momento a rapidez de seu discurso cresceu, sua voz assumia um tom oratório; Hitler inclinou-se para a a frente, gesticulou livremente, pôs o olhar num ponto indefinível e falou como se se dirigisse às massas. Uma pergunta quebrou o encanto; as mãos eloqüentes de Hitler se aquietaram; reapareceu o sorriso amável.
- Se os senhores repudiam as reparações, se consideram as dívidas particulares como uma forma escondida e adiada do pagamento das reparações, porque então reconhecem as dívidas particulares?
- Reconhecemos as dívidas particulares a despeito de todas essas considerações porque pretendemos no futuro continuar a manter as relações internacionais. Somos compelidos e estamos mesmo resolvidos a reconhecer e pagar as nossas dívidas
particulares, - a não ser que cortemos as amarras que nos prendem ao resto do mundo, ou que estejamos dispostos a adotar o princípio bolchevista de repúdio à propriedade particular.
Mas o juro sobre esses empréstimos foram estabelecidos a uma taxa determinada pelas circunstâncias sob as quais os empréstimos foram feitos. Isto significa que a Alemanha fez esses empréstimos com o fim de cumprir as condições impostas nas
reparações. Sob tal pressão contratamos empréstimos com juros a uma taxa exorbitante. É claro, toda a gente vê que estas taxas são agora economicamente intoleráveis. Porquanto é do interesse das nações credoras como também das nações devedoras que algum arranjo novo se faça por meio do qual as taxas de juro sejam reduzidas a um nível suportável e os pagamentos das amortizações sejam de tal modo que possamos atender a eles.
Não pense por isto que pretendamos por meio de um decreto governamental reduzir as taxas de juros sobre empréstimos estrangeiros. Nada pretendemos fazer com respeito ás nossas dívidas particulares estrangeiras, a não ser que entremos em um acordo com os credores, expor-lhes as condições da indústria alemã, declarar que se as presentes taxas de juros se mantiverem a estrutura econômica e industrial da Alemanha sofrerá um abalo, e se ela sofrer um abalo não poderemos conseguir dinheiro; diremos isto e proporemos um acordo razoável a respeito das taxas. E, faça o favor de notar - conclui Hitler com um gesto de sua mão de artista, de dedos fortes, - que no caso não se trata apenas do dinheiro americano, mas também do sangue alemão”.
Hitler é um artista. A famosa Casa Marrom, quartel-general do Partido Nacional-Socialista, palácio de 100 quartos, - num dos quais nos achávamos a palestrar - é criação de Hitler. Ele próprio desenhou sua decoração interior, desde o emblema da suástica nos vidros das janelas até as colgaduras das paredes da sala de recepção. O edifício é de gosto irrepreensível. Ali no seu escritório de tamanho moderado, todo atapetado, a escrivaninha de Hitler tinha ao lado uma cabeça de Mussolini de bronze, em tamanho natural; nas costas da cadeira de Hitler havia um retrato de Frederico o Grande, e na parede oposta uma gravura que representava uma batalha em Flandres. Numa mesa redonda no centro via-se uma estatueta representanto um gigante acorrentado - A Alemanha escravizada.
O homem que milhões de alemães consideram como o libertador esperado continuou a falar em negócios:
- A posição da Alemanha hoje com relação às suas dívidas estrangeiras me recorda a posição que ela ocupava durante a guerra. O governo levantou 160 bilhões de marcos dos empréstimos internos de guerra. Estes empréstimos tinham um juro de
aproximadamente 5¹/2 por cento. Isto significava um serviço anual sobre esses empréstimos de aproximadamente nove bilhões de marcos. E todo o orçamento do Reich naquele tempo era somente de cinco bilhões de marcos. Imagine só o que significava isto. Isto significava que os nove bilhões tinham que ser levantados por meio de uma carga de impostos perfeitamente insuportável, uma carga que o povo não podia suportar, ou então que as dívidas tinham que ser solucionadas pela inflação. Foi
o que aconteceu. Entretanto, não é possível para nós suprimir nossa dívida estrangeira atual mesmo que o quiséssemos fazer pela inflação. Também não é possível para nós pagar os juros a taxas que foram fixadas num momento de coação. A única solução procurar um acordo com os nossos credores para reduzir o juro, e quanto mais razoável for este acordo mais seguros ficarão os capitais americanos na Alemanha.
Posso garantir que onde quer que os senhores tenham taxas altas de juro - taxas de oito, dez, quatorze, e eu até sei de alguns empréstimos feitos a dezessete por cento, isto significa que o risco dos empréstimos é grande. Por outro lado, é verdade que a simples existência dessas altas taxas de juros tornaram maior o risco. Estou convencido de que se os credores da Alemanha não tivessem exigido juros tão altos, a condição presente da economia germânica não seria tão má como é. Estou convencido também de que os seus banqueiros internacionais hão de cedo compreender que a Alemanha, sob um governo nacional-socialista, é um lugar seguro para o emprego de capitais, um lugar tão seguro que taxas de juros de mais ou menos três por cento sobre os empréstimos serão prontamente concedidos.”
O ajudante de Hitler, o Dr. Ernst Franz Segdwick Hafstaengl, chefe de imprensa de Hitler, estava tomando algumas notas furtivamente. O dr. Hafstaengl remou com os calouros de Harvard e com a tripulação da Universidade, foi diretor do Deutsche
Verein e gozou da amizade do presidente Eliot. Sua mãe, Catharina Segdwick Hein, era americana, filha do general de brigada Wilhelm Heine, do Fifth Army do Potomac. Era prima do general John Segdwick, famoso comandante de Gettysburg, que foi morto em Spottsylvania. O estúdios de arte do pai do dr. Hafstaengl eram famosos em Nova York, Londres, Paris, Roma, Berlim e Munich. E o dr. Hafstaengl conhece toda a gente de ambos os lados do Atlântico, fala todas as línguas e é o melhor diplomata que Hitler tem a seu serviço.
As notas que estava escrevendo eram nada mais que precaução que Hitler tomava contra as idéias e palavras que lhe pudessem ser falsamente atribuídas.
- Assim sendo, - continuou Hitler, - os senhores podem pegar de seus livros e mostrar-nos que nós lhes devemos tanto e tanto, e juridicamente somos obrigados a pagar. Isto no domínio da teoria. Mas quando um dos principais fabricantes de tecidos
da Saxônia mete uma bala nos miolos, como um acaba de fazer, por não poder pagar suas dívidas, os senhores podem ficar certos de que a questão para ele foi verdadeiramente prática. Nenhum credor tem interesse em que seu devedor se suicide.
Nem uma nação pode se suicidar. A Alemanha não vai se suicidar. A nova Alemanha, sob o nacional-socialismo, vai ficar de pé como um verdadeiro homem honrado, resolvida a pagar todas as suas dívidas particulares até o limite extremo de suas possibilidades.
“As dívidas foram contraídas para pagar as reparações. Considero que teria sido muito melhor para nós que a França tivesse mandado dez mil gendarmes para a Alemanha a fim de tentar cobrar as reparações. Seria isso muito melhor do que se a
Alemanha pedisse dinheiro emprestado para fazer os pagamentos. Que poderia a França conseguir com esta tentativa de cobrança à força? Não teria conseguido nada. E se ela torna a fazer idêntica tentativa há de recolher precisamente o mesmo resultado - nada. Deixemos a França ocupar o território que quiser... ela logo há de ir embora. Qualquer tentativa de ocupação da Alemanha significaria a completa anulação do Tratado de Versailles.”
Perguntei:
- Em vista destas circunstâncias não acha o senhor que do ponto de vista do interesse nacional da América, foi um engano da parte dela ter feito estes empréstimos à Alemanha?
Hitler deteve-se por um instante e refletiu. A sua resposta, que traduzia claramente a sua opinião, foi decisiva:
- Eu só posso dizer que do nosso ponto de vista germânico é verdadeiramente uma sorte que a América agora tenha o mais direto interesse em preservar a Alemanha contra um ataque que iria por em perigo todo o capital americano que se acha
empregado na Alemanha. Porque o senhor pode estar certo de uma coisa: se os franceses fizerem alguma tentativa para assaltar a Alemanha afim de obter o pagamento das reparações, a América terá que por três grandes cruzes nos seus lançamentos do capital aqui empregado. O sistema econômico alemão está preso por um fio de seda. Se o senhor juntar à carga um sabre francês, ele virá abaixo com estrépito.”
- Que os senhores esperam que a América faça no caso da França se abalançar a uma invasão? - inquiri.
- Eu espero que a América procure por todos os meios possíveis proteger os interesses que tem aqui.
Hitler falava com rapidez. Continuou:
- Eu espero que a América não somente tome medidas teóricas como também medidas práticas para proteger seus interesses. Espero de um lado que a América por motivos puramente econômicos faça o possível para evitar um movimento que venha a destruir o seu capital que está empregado na Alemanha; por outro lado espero também que, por motivos políticos, motivos que dizem respeito à balança de poder, que a Inglaterra e a Itália tratariam também de evitar esse movimento.
Espero que os Estados Unidos finalmente compreendam que a existência continuada de um tratado como o de Versailles, que pode permitir que esse mesmo movimento se realize quatorze anos após a guerra, é um tratado prejudicial aos
interesses da América, e que esse tratado deve finalmente ser retificado.”
- Mas a América não assinou o Tratado de Versailles, - objetei.
- Não importa. A recusa da América à assinatura do Tratado de Versailles não a alivia da responsabilidade que ela tem pela conclusão da guerra.
“Fui soldado na guerra e estou convencido de que sem a participação dos americanos do lado dos Aliados nós teríamos seguramente vencido. Mas tivéssemos ou não tivéssemos vencido, foi um erro da América ter entrado na guerra. O mundo,
tomado como um todo, e a América inclusive, teriam ficado em muito melhores condições. Quase todas as grandes guerras, exceto a última, cessaram pela intervenção de uma potência neutra. Menos a guerra entre Roma e Cartago, - acrescentou. Mas
agora que a América entrou na guerra e ficou responsável pelo seu resultado, é seu dever moral participar do proteladíssimo acordo; e isso é também uma necessidade. Deixemos que venham os franceses. Se todo o peso dos Estados Unidos caísse na
balança, Paris não poderia manter-se. Não ousaria também continuar nas tentativas de tirar-nos dinheiro à força. E uma vez que a França estivesse outra vez fora, a conferência que se seguisse poderia finalmente trazer uma paz estável para a Europa.
- Então o senhor considera possível um entendimento franco-germânico?
Hitler replicou:
- Considero-o debaixo de duas condições. A primeira é que o governo dos nacional-socialistas na Alemanha substitua o governo atuale reestabeleça na Alemanha a honra e a dignidade do país. A segunda condição é que a França cesse de nos
considerar uma nação de segunda classe. Enquanto os parisienses insistirem em ver boches nos alemães, não será possível nenhum entendimento entre as duas nações.
“Os franceses - exclamou Hitler, - na verdade tem medo. Houve um tempo em que Napoleão chegou a vir a Berlim e ainda mesmo assim a Alemanha levantou-se outra vez. Mas a França de hoje não é a França de Napoleão e a Alemanha de hoje não é a Alemanha de Iena e Auerstädt. 1932 não é 1806.
“Sim, os franceses estão com medo, - mas de que tem eles medo? Eles tiraram de nós tudo quanto era possível tirar. Nossa frota de guerra, nossa frota mercante, nossas colônias, nosso território, nossas mercadorias, nossas terras, nossos bens móveis, tudo! A única coisa que não nos puderam tirar foi os nossos sessenta e seis milhões de habitantes.
- Se este medo que a França tem da Alemanha até agora foi o principal responsável pela falência de todos os acordos tendentes a criar um entendimento entre as duas nações, o senhor acha provável que esse medo da França diminua se o senhor
subir ao governo? - perguntei.
Hitler refletiu por um momento.
- Admito, - respondeu -, que a única possibilidade de conseguir a estabilidade das relações franco-alemães virá quando um governo nacional-socialista na Alemanha tornar claro aos franceses que eles devem finalmente, de uma vez para sempre,
renunciar mesmo á fantasia, ao mais remoto sonho, que alguns deles ainda tem, de que é possível pela força, pela violência, pelo assalto, arrancar algo mais da Alemanha. Quando eles abandonarem esta mentalidade psicopática do vencedor, quando eles tiverem abandonado esta fantástica idéia, então, e somente então, será possível para ambas as nações tratar uma com a outra. Eu ainda espero que haja depois de tudo franceses suficientemente inteligentes para compreender que o que digo é verdade. Também espero que haja franceses suficientemente inteligentes para compreender que é um sonho insano imaginar que eles podem destruir a Alemanha. Quando este sonho tiver desaparecido, a primeira condição para o restabelecimento da estabilidade das relações na Europa se terá cumprido”.
Hitler, falando sobre a França, é um Hitler diferente.
Não havia sinal do burguês em que muitos acreditaram que ele se podia transformar se subisse ao poder. Hitler, falando da França, era o impetuoso agitador de outras horas.
Perguntei-lhe:
- O senhor acha que é necessário para os Estados Unidos libertar a França de seu débito para com a América antes que a França liberte a Alemanha das reparações?
- Pelo contrário, - respondeu Hitler - considero esse procedimento altamente objecionável. A conseqüência seria que a França haveria de dizer: “Agora que nos livramos de nosso débito para com a América talvez cancelemos as reparações, mas
não antes que tenhamos obtido mais outras concessões políticas da Alemanha”. Os franceses estariam neste caso em condições de tentar novas extorsões políticas na Alemanha, com maus resultados para todos os que estivessem interessados no assunto.
Se por outro lado, sob um governo nacional-socialista, a Alemanha repudia as reparações, isto cria para a França a necessidade de tomar uma iniciativa para a regulamentação de suas dívidas para com a América”.
Por motivos completamente diversos, a posição de Hitler nesta altamente importante feição das relações da América com a Europa era muito semelhante à de Washington.
Interroguei Hitler a respeito dos ataques editoriais da imprensa nacional-socialista às casas americanas Woolworth, que existem espalhadas em grande número por muitas cidades da Alemanha.
- Não deixaremos que as relações teuto-americanas dependam de casas comerciais... - observou Hitler com uma centelha de humor. - Mas, seriamente, a existência de tais empreendimentos é um encorajamento para o comunismo. Eles
representam a concentração de capital que Marx ensinou ser condição para a vinda do comunismo. Eles destroem muitas existências pequenas. Portanto, nós não os apoiaremos; mas pode ficar certo de que seus empreendimentos deste caráter na
Alemanha serão tratados precisamente como o serão os empreendimentos alemães similares”.
- Mas seu partido declara especificamente que todos os estrangeiros que estão na Alemanha serão colocados debaixo de uma legislação especial, - objetei.
- Sim, - respondeu Hitler, - mas isto não significa que a propriedade estrangeira na Alemanha venha a estar sob leis especiais. Pelo contrário, eu lhe asseguro que os capitais estrangeiros empregados na Alemanha gozarão da plena proteção das leis alemãs na base dos tratados presentes e futuros entre a Alemanha e vários países. Certamente não será tomada contra empresas americanas nenhuma medida que não seja tomada também contra as empresas alemãs. Cito o exemplo da fábrica Opel, de Ruesselsheim, que é da propriedade da General Motors. Consideramos muito mais vantajoso para a Alemanha ter esta fábrica para fazer os seus automóveis do que importar este artigo; porque se fazemos automóveis aqui na Alemanha os operários alemães ganham trabalho e os materiais alemães são empregados na indústria e no comércio. A questão das casas Woolworth é assunto absolutamente diferente”.
Desde os débitos inter-aliados até o caso das casas Woolworth tínhamos tocado que quase todos os assuntos que diziam respeito diretamente aos interesses americanos na Alemanha. Estávamos perto do busto de Mussolini. Perguntei a Hitler se conhecia o líder italiano.
- Nunca tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.
Hitler despediu-se com um sorriso cordial.
Saímos, passando pelo elevador elétrico privado que liga o segundo andar em que Hitler recebe, com seu gabinete particular de trabalho, no terceiro andar.
O que Hitler tinha prometido era que o capital americano na Alemanha estaria seguro. O que ele tinha profetizado era que o governo nacional-socialista insistiria sobre uma redução das taxas de juros, e sobre um prolongamento dos prazos de
amortização dos empréstimos.
Alguns empreendimentos americanos, como as casas de venda a varejo, parece hão de passar muitas dificuldades quando Hitler subir ao poder. Mas o que Hitler tinha a dizer de mais importante podia ser analisado no seguinte paradoxo:
Primeiro, foi um crime para a Alemanha ter pedido dinheiro emprestado ao estrangeiro, porque isto somente significou que ela convertia as reparações em dívidas particulares. Segundo, foi ao mesmo tempo muito bom que a Alemanha tivesse feito empréstimos externos, porque o interesse da América na Alemanha agora torna improvável que os franceses tentem obter pela força o pagamento das reparações.
Acontece que o Partido Nacional-Socialista está dividido em dois campos, dentro das linhas desses dois argumentos de Hitler que se contradizem. E o primeiro dos campos não somente acredita que as dívidas particulares são outra espécie de
reparações mas também acredita que as dívidas particulares devem ser repudiadas com as reparações. Hitler também afirma com igual veemência que as dívidas particulares devem ser classificadas como formas escondidas de reparações, donde se conclue que seu repúdio por elas é claro. Mas Hitler afirma que, por motivos de conveniência, é melhor para a Alemanha pagar as dívidas particulares à América. Ao mesmo tempo declara especificamente que espera que os Estados Unidos intervenham ativamente contra a França se a França tentar invadir a Alemanha para tirar-lhe o dinheiro das reparações. E se a América não intervier e a França invadir a Alemanha, então, garante ainda Hitler, ela deve dar como perdidos os seus capitais empregados no território alemão.
A opinião de Hitler de que as dívidas particulares devem ser pagas sem dúvida há de controlar a política de seu partido, se este partido subir ao poder. Hitler poderia ter dificuldades para manter esta opinião em face dos seus mais radicais líderes se, subindo seu partido ao governo, a França tomar medidas drásticas contra a Alemanha e a América não intervier. A este respeito, entretanto, como em muitos outros aspectos, o Partido Nacional-Socialista não difere tão largamente da maioria da opinião alemã, uma vez que os alemães que se acham muito afastados do partido de Hitler declaram que sua pátria não poderá pagar nada se a França ocupasse alguma parte de seu território.
Ninguém expressou com mais clareza do que Herr Hitler as condições da intrincada “complicação estrangeira”, que a América encontrou desde que as nossas tropas deixaram o solo francês. Queiram os capitalistas ou não queiram, cerca de três
bilhões do capital americano “tomou parte” numa pendenga européia muito mais séroa do que qualquer dos “enredos” sul-americanos que tanto tem incomodado o seu State Department.
A ocupação francesa da Alemanha por causa das reparações parece uma possibilidade perfeitamente remota neste momento. Mas esta possibilidade parece muito menos remota à luz do debate sobre o desarmamento.
Quando Hitler acabou o seu discurso no Circus Krone, uma voz forte de tenor gritou: “Alemanha!”
“Desperta!” - respondeu num só grito a multidão.
Outra vez: “Alemanha!”. E outra vez: “Desperta!”
Pela terceira vez o grito soou. A congregação estava cantando o responsório da sua liturgia nacional.
A América deveria ter escutado os “Viva Hitler!”, do meeting alemão do Circus Krone...

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Retirada do Livro “Alemanha: Fascista ou Soviética?”, p.248,

de autoria do jornalista norte-americano H. R. Knickerbocker,

editado pela Livraria do Globo em 1932.
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