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cronicas-->A Festa da Usina IV -- 22/09/2002 - 00:27 (Rodrigo Contrera) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por Rodrigo Contrera

Acontecia que o Contrera continuava a perambular naquele ambiente barulhento, esfumaçado e atulhado de gente (em suma, o inferno) em busca de um mísero canto tranquilo. Quem já se perdeu em uma grande cidade latino-americana qualquer sabe bem a sensação que é não poder parar e menos ainda descansar um segundo sequer. Era assim que o Contrera se sentia. Obrigado a circular.

Mas não é que o salão tinha saída? Pois é.

Essa tal de saída, descoberta pelo Contrera, consistia em portas de vidro corrediças que davam para uma piscina olímpica (ulalá) ladeada de enormes palmeiras. Dezenas de cadeiras de praia espalhavam-se em volta da piscina e, embora nelas houvesse não poucas pessoas deitadas, não era assim tão mal até mesmo para o Contrera, que jamais gostou muito de água. Ao menos por lá daria para respirar, pensou.

Sem esquecer seu copo de guaraná sempre vazio (ó garçom!), acomodou-se então em uma cadeira bem no canto, sempre à espera. Aguçou então o olhar, e o que viu?

Ao longe, deitados, de short um, de sunga os outros, lá estavam os tão conhecidos José Pedro Antunes, ou ZPA, o Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior, o Lúcio Jr, ou Juninho, e o Bruno Freitas, há tanto tempo sumido. Lá estavam eles a trocar confidências, a jogar confetes fora, a passar o tempo.

Não pareciam discutir, os três. Mal pareciam conversar, na verdade. O José Pedro estava com um livro em alemão na mão direita, enquanto o Lúcio segurava um outro livro, sobre Glauber Rocha, na esquerda. O Bruno não segurava livro algum, mas todos uma càmera fotográfica com a qual tentava extrair alguns closes mais ousados das várias garotas que desfilavam em volta de todos os três.

Distante de tudo e de todos, o Contrera até cogitou em se aproximar dos três colegas. Mas algo o deteve.

Fato é que o Contrera nunca soube muito bem o que por vezes o atraíra a certas conversas e o afastara de outras. Suas lembranças esparsas eram estranhas. Nunca conseguiu descobrir como entrava em certos debates. Quando se metia a recordar, lá estava ele, no centro dos debates, questionando ora sério ora cínico. Surpreendia-se quando colegas diziam lembrar-se de suas atuações em seminários ou debates abertos ao público. Alguns deles temiam-no inclusive. Disso ele sempre soubera o porquê. Pois o Contrera sempre gostara do cheiro do sangue, do odor da vítima prestes a ser abatida.

Agora, porém, nada o conduzia até lá. Nada tinha a falar. Não quisera jamais sentir-se obrigado a de nada participar, por que agora haveria de ser diferente? Assim como evitava gente famosa que por vezes encontrava na rua, agora evitava gente conhecida que talvez nunca mais visse em pessoa. Paciência.

Meteu-se a pensar se, afinal de contas, os colóquios à la Domingos não seriam mais atraentes, tirante o ambiente, a opressão e a falsa noção de consenso. Não podia mais responder. Se por um lado irritava-no demais todo aquele falso esforço em discutir que na maioria das vezes mal conseguia ir além de colocações vagas e tautológicas, do tipo "X jamais irá melhorar se Y for menosprezado pelo poder público", o Contrera sentia-se subir às paredes com todo aquele dialogar diáfano de pseudo-intelectuais conformados que se contentam em trocar figurinhas como se fossem crianças de volta ao ginásio. Ora, me poupem.

Ficou então sentado, o Contrera. Sem nada mais a fazer, decidiu tirar um cochilo. O tempo bom e uma sombra providencial eram suas únicas armas frente a lassidão e a falsa ação. Quem sabe um dia alguém aparecesse. Quem sabe. Melhor seria dormir.

© Rodrigo Contrera, 2002.
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