A Geração Cesariana
Os jovens estão apáticos. Refiro-me aos jovens bem jovens, aqueles a quem chamamos de adolescentes. Eles olham para o mundo e parecem dizer: “Pode ser depois?”. (Será que é assim mesmo que acontece? Estou cada vez mais desconfiado de que, talvez, eu esteja entrando num tipo de envelhescência e, por conta de questões hormonais anormais, esteja com o metabolismo, a paciência e o tempo reduzidos. Pode ser.) Vou mudar a declaração então: minha percepção é de que os jovens andam apáticos.
Não vejo o mínimo sinal de insatisfação neles. Também não capto indícios de satisfação. Não está bom. Nem está ruim. Nem. Um marasmo de domingo à tarde cobriu a existência deles. Tente desafiá-los com o futuro: “É longe ainda”. Tente animá-los com as conquistas quase sólidas do presente: “Não tenho nada com isso”. Tente mostrar que... desista. Algo afetou a juventude de nossos jovens.
Juventude é lugar e hora de dizer ao mundo que tudo está errado, que é preciso mudar. É tempo de fazer de um jeito novo, rebelar-se. Ah, desculpe-me! Isso é coisa de um passado heroico. Coisa de nossos pais e avós que precisaram pegar em armas ou em mastros de alguma bandeira para conseguir realizar certos sonhos. Já era. Coisa fora de moda: armas, bandeiras, sonhos. “Para quê? Pode ser depois?”.
Talvez seja o fastio que a facilidade impõe. Sei que parece injusto com a vida e com a história lamentar que – sim, sou ingênuo! – o mundo é melhor hoje do que era há 30 anos. Claro, a puberdade segue sendo uma fase difícil. O físico, as emoções, o social, tudo muito intenso. Em outros aspectos, no entanto, a vida do menino e da menina, em tempos de estabilidades, é mais simples do que já foi, pois está previamente decidida. Tão decidida que eles, talvez intuitivamente, percebam que não há como lutar nem contra o que lutar. Será que devemos piorar tudo? Quem sabe, em meio a certos transtornos, a moçada e a rapaziada resolvam berrar um pouco.
A culpa é nossa, homens e mulheres, adultos. Como tivemos uma vida mais dura, achamos que o melhor era facilitar as coisas para nossos filhos. Contra a aridez do passado, um presente só de oásis. As facilitações começaram já na hora do parto. Pais, médicos, mídia e todo mundo defende sempre as vantagens do parto natural. Na hora de por os filhos no mundo, no entanto, faz mais de trinta anos que a opção é sempre a cesariana. Porque é mais fácil, porque é menos assustador, porque é mais barato.
Se negamos aos nossos filhos a violência natural e o necessário trauma de um parto natural – PLOC! – , como esperar que eles não sejam apáticos quando crescem? A vida não é um desafio para eles desde o primeiro suspiro. Em vez de os darmos à luz, demos, facinho, a luz para eles. A geração cesariana prefere esperar até que alguém ou algo abra a barriga do mundo. Quem sabe assim, alguma mudança nasça.
Jefferson Cassiano é professor e publicitário. Ocupa a cadeira 31 da Academia Ribeirãopretana de Letras
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