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Contos-->BRAVA GENTE II -- 16/12/2002 - 09:04 ( Alberto Amoêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Vindo de Pontas de Pedra, interior do Pará, muito bem recomendado pôr seus pais, Pedro Celso de Alcântara, com seus sete anos de idade veio com a finalidade de estudar na cidade e hospedou-se na casa do Sr. Dr. Antônio Sales, desembargador, que morava na Av. Nazaré esquina com a Sêzerdelo, bem em frente à praça da República.
No primeiro momento Afonso foi matriculado no colégio Gentil, ia às aulas. Tudo parecia caminhar bem, mas em seis meses o desembargador morreu e D. Celina mulher de pose e posses, que não apreciava as virtudes do marido, tomou as rédeas da casa que pôr sinal era bem grande. Afonso então com oito anos, foi elevado a categoria de empregado; e a ordem era só comia quem trabalhava. O menino passou de hospede a empregado, ninguém sabia o paradeiro dos pais ou dos parentes todas as cartas enviadas não tinham respostas . Entretanto a nova fase não esperava e logo começou. Rasparam-no sua cabeça pôr causa dos piolhos e todos os dias aos berros da governanta D.Stefani acordava meio estonteado, exatamente às três da matina. Labutar, labutar... limpava e encerrava a casa, lava os pratos do almoço e só ia almoçar e estudar o A.,B,C e D quando, D. Felicidade, guardava-lhe as sobras e se dispunha a ajudá-lo.
Tardes e tardes às lágrimas, ora de saudade, ora de tristeza, na grata felicidade, literalmente felicidade, de um dia poder sair dali e quem sabe ser um doutor como o Sr. Augusto, que freqüentemente estava na casa adorando a viúva. Entretanto foi surpreendido, numa bela e ensolarada manhã, não tinha sido acordado às três e o sol nasceu, o sino da igreja invadia o Domingo e o silêncio parecia acobertar sussurros, risinhos e gemidos, vindo do quarto da D. celeste. Não havia café na cozinha, Não tinha D.Stefani que quase todo o santo dia o batia e D. felicidade aquela senhora, pobre, gorda de pele negra e amiga foi mandada embora. Nas pontas dos pés, com uma trouxa de roupas, as portas e o muro não foram bastantes fieis prá impedir aquela fuga.
O dia todo andou Pedro, sem rumo, sem destino, sob sol, sob chuva e pensamentos variados...logo se perdeu.
Aos dez anos de idade, mal sabia ler, rapaz de boa índole e de boa família do interior, foi convencido pelo meio que a vida, que era feita de bons sonhos, agora era de pedras e realidade. Passou fome, apanhou bastante e até atentaram contra sua masculinidade, aquele menino inocente, conheceu a dor e o ódio. Se envolveu com outros pequenos de rua e na praça, conheceu a cola de sapato na garrafa de água mineral, a maconha, e. sua escrita matinal grafitagem, sua língua era gíria do subúrbio da cidade. Junto com uma gang de seis meninos com idade média de oito anos, já assaltava, já estuprava outras menininhas .
Aos doze anos foi preso, mandado pro reformatório, duas semanas lá e já estava solto, foragido, conseguiu uma arma e no primeiro assalto solitário matou um senhor de quarenta anos por um relógio.
Pela segunda vez preso já era respeitado e pelo crime cometido, amenizado no colo da lei, mãe de pátria angustiada. Não demorou tornou a fugir, passou tempo; já aos quinze assaltou um ônibus, assassinou a sangue frio o motorista e o cobrador, na fuga foi atirado, preso, foi fotografado e na última página a manchete já pregava-o como o terror da cidade.
Enquanto a maior idade não chegava ele continuava a dar trabalho...liderou uma rebelião na FEBEM, tocaram fogo nos colchões, fizeram reféns e outra vez conseguiu fugir sem direção.
Os furtos aconteciam freqüentemente, a droga era companhia decente e os amigos, e as crianças, e a prostituição, e a miséria...nascendo paralelo ao soneto dos senadores; líderes a engalfinham-se, a trocarem farpas; e nas assembléias e os tribunais que fazem companhia as CPIs, que num surto de moralidade e imoralidades, expõem o País a vergonha, ao testemunho de um Paraíso de homens irresponsáveis, a mais um capitulo triste de nossa história.
Já com seus dezesseis anos deu-se com um bacana, que tinha vida sexual dupla, aprendeu a ler, afastou-se dos meninos de rua, começou a vestir-se de outra maneira, chamava muitos palavrões, sabia tudo de arrombamento, sabia tudo de estupramento, de assaltar um ônibus....e contava tudo ao Ivan, que ouvia atentamente e procurava ajudá-lo. Apresentá-lo a outros rapazes amigos e aos poucos tomava outro rumo.
Descendente de negro e índio tinha um gênio difícil, teimoso, mas ainda tinha uma boa índole, passava o dia e a noite preso no apartamento, assistia TV e o mundo da janela que dava pra rua com muitos carros, fios, prédios, muita gente passando e poucas árvores arborizando.
Morou com esse rapaz um ano e seis meses, ainda era viciado, dizia sempre que tinha na mente o dia que iria largar, próximo da maior idade outra vez abandonou o lar.
Só com a roupa do corpo, na madrugada, enquanto seu amigo dormia, furtou-lhe a chave, fez um bom bilhete e partiu sem deixar rastro.
Queria ir ao interior, não sabia o rumo do seu lugar e perguntando num terminal rodoviário de Belém, fez amizade com um taxista que o adotou e o levou prá sua casa pôr aquela noite e que até hoje de lá não o largou. Sabe-se que deixou o vício, tornou-se pedreiro, estudou na escola normal, formou-se e foi ao Rio de Janeiro se especializar. Aproveitou e assistiu no maracanã Flamengo e Vasco. Deu saudades e voltou. Na volta foi a primeira vez à Ponta de Pedras, já com seus vinte e nove anos, encontrou apenas seus dez irmãos, se emocionou, contou sua história e ninguém acreditou.
Pedro Celso de Alcântara agora é professor e ensina o primeiro grau sob os métodos Paulo Freire na escola fundada pôr seu bisavô. Por lá conheceu Maria Teresa e encantou-se tanto pela moça que na semana que vem vai ao altar, mandou passagem ao seu pai adotivo e vive dizendo que seu filho ao nascer jamais ira a capital estudar sem que ele esteja por perto, pois pessoalmente quer ir mostrar sua foto no jornal da época e a terra na qual conseguiu proferir independência .


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