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Contos-->BRAVA GENTE -- 16/12/2002 - 09:02 ( Alberto Amoêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na casa de pedaços de portas e janelas, sacos plásticos, papelão, pálida e sem cor sobre o rio da ponte do galo, às cinco da manhã levantava D. Maria de Nazaré, acordava Luisinho seu filho mais velho de doze anos prá ir pegar jornal e vender, Mundico já nos seus 8 anos completos ontem, vendia saco no ver-o-peso, junto com Juninho que vendia chopp e os demais, Marina de 3 anos, Elza de quatro, Higino de sete, Ronaldo de seis e Katinha, a bebe de 1 ano, ficavam sob a responsabilidade de Joana D’ arc, que tinha nove anos., após ia ao fogão e fritava unha de galinha, de caranguejo e de carne, fazia para o outro dia chopp de Q.suco, nos sabores de groselha e abacaxi que ao amanhecer deixava na geladeira da vizinha, onde metade ela os vendia para si, como pagamento do uso da geladeira.
Todos aparentemente encaminhados nos seus afazeres do dia, entrava e saia uma Sra. morena, fransina, de estatura mediana, vestindo um vestido feito de remendos de roupas, com um lenço azul na fronte, carregando sozinha, na cabeça aquela tina de roupas até próximo ao único bico de água. E que com outras senhoras enfileiradas lavava e discutiam sobre o dia, versavam suas intimidades, as vezes sorriam e se esbaldava de alegria, as vezes chorava quando as mãos pesadas do marido as surravam ou lamentavam paixões e despedidas, quando eles as abandonavam, o caso de D. Maria de Nazaré.
Quando chegava o meio dia, o arroz , o feijão com jabá já estava feito, sua filha mais velha seu braço direito, junto com o seu filhos mais velho que da rua ainda voltavam. Quando os meninos chegavam, tomavam banho, almoçavam e quem estava na idade ou quem conseguiu vaga na escolas Santo Afonso, Augusto Monte Negro ou José Alves Maia, saiam contente para o futuro, apesar dos pés em sandálias e a única muda do uniforme, com cadernos de folhas de papel ao maço e um lápis Fabe Castel preto comprados no seus Bené.
D. Maria colocava Katinha prá dormir em sua redinha, enquanto deitava na maior delas com Marina e Elza, cantava canções de roda e quase que pega pelo sono via suas filhas adormecerem. Lentava passa roupa enxuta, entregava nos bangalôs e quando voltava, ia direto à máquina de costura enxuliar, remendar ou inventar, ou completar alguma costura previamente encomendada. Seus cabelos embranqueciam, seus olhos pesavam, seu cansaço acostumava e às horas passavam...o tempo e o vento...
Noutro dia a mesma macha, alguns pormenores, como a face de um novo candidato ao governo que os militantes afixavam nas portas e janelas, daquelas palafitas sem avisar, sem pedir permissão ou qualquer coisa do gênero da educação e assim se conheciam aqueles homens, suas promessas bonitas, que inclusive, vinha do alto de um palanque, com gente bela e sorridente, bem vestida que noutra oportunidade não foram vista pôr lá, a não ser pela TV. E pregavam com veemência uma solução ou a descoberta da esperança para os problemas de moradia, de água encanada, de escolas, de um programa para ajudar famílias carentes, de desemprego e que noutro dia com certeza sendo o candidato deles, tudo iria mudar. Todos estavam lá Sr. Bené, as outras lavadeiras, D. Zulmira, dona da Geladeira e D. Maria de Nazaré não podia faltar. Quando tudo terminou, os comentários foram gerais, camisas, viseiras e tanta outras coisas que geravam empolgação.
As eleições passaram, o candidato feito governo só se via pela TV, aquele que apertou tantas vezes as mãos de D. Raimundinha, carregou no colo a Tetê e até beijou a vovô Rosa, pôr tantos dias andou em nossas estivas, bebeu café na xícara de beiço quebrado e em nossas palafitas riu a valer com nossas histórias sem graça e quando nossas crianças faziam-no xixi em suas calças.
- É verdade, seu Bene foi lá pedir emprego para o Júlio, esperou uma semana e nem se quer ofereceram-no uma xícara de café. Como se não bastasse, sobre a foto das eleições passada, colocaram-nos um aviso de retirada, pois sobre o rio não podemos mais ficar, vão nos jogar para o Maguari. Tão longe ficara do colégio dos meninos e quem não tem terá que pagar ônibus, como será meu Deus !? suspirou com lágrimas nos olhos D. Maria de Nazaré à D. Zulmira.
- Ora preta, no fim do ano passado, o Sr. Antônio e a Jaci tiveram seu único filho morto pela velocidade excessiva de um irresponsável, fomos aos políticos, fomos à polícia, fomos ao governador, mas o pai do rapaz que atropelou é Dr. e o que aconteceu foi que a justiça mandou esperar, enquanto a dor ameniza com os dias. Sem falar que o Sr. Getúlio, Sr. Evandro e Terezinha, no enxugamento da folha do governo, foram para rua e estão ai, a vida continua, todo o País está assim, nada podemos fazer nada, eles são grandes e eles que se entendam. Só não quero Miricutinha! É perder o capitulo final de Terra Nostra; sem falar que amanhã 22 de abril o Brasil comemora 500 anos, vai cantar o gato do Daniel, Zeze de Camargo, Leandro, Xuxa e tantos outros. Ademais amanhã sempre será um novo dia, enquanto tivermos braços e pernas poderemos trabalhar de qualquer coisa. E se Deus quiser, Nossa Senhora de Nazaré ajudar as coisas vão melhorar. Dizia D. Zulmira.
Noutro dia sob um sol escaldante, os homens pobres de outros bairros á serviço do governo vieram tirar aquelas famílias da ponte do Galo, houve resistência e a polícia, inclusive policiais que moravam lá, bateram em idosos, crianças, mulheres e a força conseguiram retirar os cidadãos.
É o progresso, diz a ordem. É o Brasil, mãe de tantos negros, pobres e índios, diz a nação.
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