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Ensaios-->José Eduardo Agualusa e o Vendedor de Passados -- 08/08/2007 - 10:54 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Vendedor De Passados

Autor: http://pt.shvoong.com/books/1619825-vendedor-passados/

O romance, escrito por José Eduardo Agualusa e publicado em 2004, é uma imensa sátira política e social da Angola atual.

Em O Vendedor de Passados, Agualusa conta a história de Félix Ventura, um albino que tem como profissão inventar passados gloriosos aos seus clientes.

Em um enredo que mistura 'antigamentes' fictícios com realidades não menos verossímeis, o leitor acompanha o drama de uma osga que convive dramaticamente com as lembranças da sua encarnação humana, a insistência de um homem em perseguir e validar o passado comprado, e a agitação constante mas sutil de uma Luanda habitada por valas de lixo, por loucos e por elites que o são por engano.

Uma idéia perigosamente interessante, extravagante, misteriosa... que mistura as metáforas e analogias com o Mundo Natural.

Povoado de personagens pitorescos como a osga, um assombro, sempre atenta a tudo e a recordar o tempo em que era humana.

Temática

No livro também surge um tema caro à literatura universal: a meta-literatura. Por exemplo, contar a história de um escritor. Meta-literatura um tanto alterada em O Vendedor de Passados, porém presente. O ofício de criar histórias e personagens de Félix Ventura para seus clientes é em muito similar ao de um escritor.

O tema recorrente do autor está presente também nesse romance: a história de Angola, sua herança de Portugal e a relações existentes entre todos os países ligados por esse idioma comum, a língua portuguesa.

Enredo

Nesta história, um albino morador de Luanda, capital de Angola, elabora árvores genealógicas em troco de pagamento. Uma atividade um tanto quanto estranha exercida por um esquisito personagem principal - o vendedor de passados falsos, chamado Félix Ventura e uma lagartixa que, na verdade comanda toda a narrativa.

Esta, uma osga, espécie de lagartixa, vai contar como um negro albino, Félix Ventura, fabrica histórias de vida para seus clientes, ou seja, cria uma genealogia de luxo para quem o contrata.

São prósperos empresários, políticos e generais da emergente burguesia angolana que têm um presente e um futuro próspero, mas falta-lhespassado que não seja comprometedor. E arquitetar esse passado é uma empreitada no qual, o personagem principal Felix se encarrega.

Dois seres, um albino e uma osga (lagartixa), vivem à sombra e compartilham vivências, sonhos e criações. A osga busca na sua pretérita vida humana, vestígios de outra reencarnação, a fim de compreender suas emoções e reconhecer os vestígios literários e a sua aguçada percepção.

A Osga tem um nome. É chamada de Eulálio por Félix, o homem que vende os passados. E ela ela quem vai narrando a história.

O albino, Félix Ventura, busca a realização de um presente para si alicerçado nos alfarrábios que lhe serviram de berço.

A relação da osga (Eulálio) com a sua casa é visceral. A osga percebe sua respiração, penetra-a em busca do útero 'O corredor é um túnel fundo, úmido e escuro, que permite o acesso ao quarto de dormir...' A casa é o seu universo possível e seguro, distante dos campos minados de Angola, onde são revelados os segredos e fantasias que criam o presente para os que buscam novos passados. Também é o ambiente protegido para o resgate da vida de Eulálio, um ser comum que viveu quase um século na pele de homem sem se sentir inteiramente humano e que agora se lamenta desses quinze anos com a alma presa ao corpo de lagartixa.

Felix está muito bem nessa empreitada, leva uma vida razoavelmente confortável até que uma noite essa rotina é rompida com a chegada de um estrangeiro, fotógrafo de guerra, que quer um passado completamente novo. De preferência que seja uma identidade angolana. Com o nome recente, José Buchmann, e uma fajuta e fabulosa árvore genealógica, passa a buscar os personagens a fim de confirmar sua existência fictícia.

José Buchmann procura o seu passado e, à medida que vai sendo criado por Félix Ventura, o encontro com algumas situações surpreendem com a possibilidade da coincidência com o absurdo.

A busca de sua suposta mãe, a aquarelista norte-americana Eva Mullher, a narrativa do corredor cheio de espelhos e de sua povoada solidão no apartamento em Nova Iorque, a aquarela encontrada e o anúncio de sua morte na Cidade do Cabo, tudo vai colorindo e recheando essa nova identidade.

Entre uma venda de passado e suas implicações, são apresentados os problemas de uma osga (fugir de lacraus, e refrescar-se do calor) e seus sonhos. E temos ainda que contornar o problema de um narrador animal que age como um ser humano sem uma nítida compreensão animal do mundo.

A lucidez da osga é admirável: A única coisa que em mim não muda é o meu passado: a memória do meu passado humano. O passado costuma ser estável. Está sempre lá, belo ou terrível, e lá ficará para sempre.

Sua mãe, de Eulálio, aparece em seus sonhos (memórias da vida humana), fala sobre a realidade e o sonho e aconselha: Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolha os livros.

Outra passagem interessante e que nos chamam a atenção: os inúmeros seres que precisam de uma trajetória para legitimar as máscaras que vestem demonstram como os personagens históricos são imortalizados com passados maquiados, enfeitados de fatos falsos, numa ficção memorialista.

Numa das biografias forjadas, Félix se destaca ao criar para um de seus clientes um livro de memórias de um Ministro (A vida verdadeira de um combatente), que credita a este cliente, homem público, um conjunto de fatos notáveis para confirmar o personagem idealizado e contextualizado com as suas pretensões futuras.

Contudo, o aparecimento do mendigo Edmundo Barata dos Reis, comunista assumido, ex-agente e ex-gente nas palavras do próprio, cria novos rumos para a narrativa.

Os personagens e seus duplos convergirão para um desfecho inusitado, consagrando a narrativa vertiginosa e poética de José Eduardo Agualusa.

Temos também, para complementar, uma trama de amor: Félix Ventura, vendedor de passados, apaixona-se por Ângela Lúcia, mulher que gosta de fotografar nuvens.



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