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Ensaios-->Memorial do Comunismo: Guerrilha do Araguaia, Licio Maciel -- 11/07/2007 - 16:06 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Guerrilha do Araguaia

Licio Maciel (*)

A Imprensa tem sistematicamente publicado versões fantasiosas e mentirosas de alguns combates e incidentes da guerrilha do Araguaia. São versões “por ouvir dizer”, escritas maliciosamente por quem não tem a mínima idéia do que seja um combate, muito menos na selva. Sem exceção, são todos eles, jornalistas de esquerda ou comunistas. Os de direita, desapareceram.

Nos combates e operações de busca de informações que tomei parte, relato o ocorrido com alguns comentários adicionais.

Se os poucos militares combatentes ainda vivos, participantes, se omitirem, ficará valendo a versão dos derrotados.

O Exército Brasileiro deu inúmeras e demoradas oportunidades para que eles se entregassem: o local foi descoberto em 1972 e só foi neutralizado em 1974. Com a descoberta das áreas dos três grupos, seria muito fácil, por exemplo, empregar a Divisão de Pára-quedistas para neutralizá-los em curto prazo. Mas isto não foi feito; foi adotada uma solução humana, demorada e, inclusive, mais arriscada para os militares. Muitas outras soluções instantâneas poderiam ter sido adotadas.

No início de 1974 inúmeras vezes foram lançados panfletos e transmitidas mensagens por megafone por meio de aeronave a baixa altura, concitando a que se entregassem, com a garantia de julgamento justo, tratamento humano e imparcial, etc. Não surtiu efeito; eles preferiram o confronto e assim aconteceu.

Dizem os bandidos, mesmo assim, inconformados com a derrota, que esta demora de eliminação do foco, foi por incompetência do EB. São fanáticos; a despeito da anistia e de mais de trinta anos já terem se passado, mantêm o mesmo ódio inicial contra o Exército particularmente.

Quando os militares chegavam na área, eles se escondiam em refúgios muito bem planejados e preparados, verdadeiras “tocas de onça”, à beira de um córrego de águas cristalinas, com muito conforto, ficavam dormindo. Só saiam quando não havia mais perigo e se vingavam em quem teve contato com os militares.

Hoje tentam tornar crível uma serie de mentiras, que sugerem aos moradores da área, com interesses pecuniários, que repetem. Mas contra fatos não há argumentos. O PC do B tem por emblema a foice e o martelo, além do próprio nome, partido comunista.

Todos os componentes do grupo militar da guerrilha, encabeçados por Zé Carlos (André Grabois), foram formados em terrorismo nos países comunistas. E, mesmo assim, querem convencer que lutavam contra a “ditadura”.

Já estavam no Araguaia, em treinamento, muito antes de 64, logicamente para tomar o poder, fosse qual fosse o regime.

1). A Descoberta da Grande Área

Pedro Albuquerque, preso pela Polícia em Fortaleza, CE, por vagabundagem (sem documentos), declarou ter fugido de um campo de treinamento de guerrilha localizado no Pará. Perguntado qual o efetivo em pessoal lá existente, respondeu que eram muitos, da ordem de trinta, num só destacamento.

Sobre a localização da área, informou que indo de Xambioá, subindo o rio Araguaia até Pará da Lama, pegando a trilha existente até o último morador, o campo de treinamento ficava além, a menos de seis horas de caminhada por uma picada. Recolhido ao xadrez, arrependido de ter falado e principalmente por saber que seria justiçado (como declarou posteriormente) pelos companheiros, tentou o suicídio, cortando os dois pulsos com uma lâmina de barbear. Foi salvo pela sentinela e levado para o hospital da Guarnição do Exército.

Remetido o depoimento para o CIE/ADF, foi providenciado o seu transporte imediato para Brasília, onde foi novamente interrogado, quando acrescentou outros dados (detalhes sobre o local, efetivo, armamento, nomes dos componentes, etc.).

Foi montada a operação de busca de informações, chefiada pelo Cel Torres e Maj Licio como comandante da equipe de busca, efetivo de dez homens da Brigada de Infantaria.

A grande área presumida foi bloqueada por tropa do Exército nos principais pontos da Trans-Amazônica (Marabá) e Belém-Brasília (Porto Franco/Tocantinópolis) e Araguaína.

A partir de Xambioá, subindo o rio Araguaia até Pará da Lama, antes da primeira corredeira, um dia inteiro de marcha pela trilha no sentido do Xingu. Partiram ainda escuro e no final do dia, já noite, chegaram até a casa do último morador, Sr. Antonio Pereira.

Na madrugada seguinte foi iniciada a marcha até os “paulistas”, indo o filho mais novo do Antonio Pereira como guia. Cerca do meio-dia, são avistados dois homens sem camisa sentados em tocos, no pátio de uma grande palhoça, e uma velha, conversando, descansando para o almoço. Os cachorros da casa começaram a latir e iniciamos a corrida para onde eles estavam. Conseguiram fugir para a mata, pois havia sido preparado um obstáculo entre a picada e as casas: eles aproveitaram um leito de rio seco, cheio de troncos que tornaram pontiagudos, a guisa de abatises, retardando a nossa aproximação.

Foi encontrada uma grande quantidade de documentos e manuais de treinamento militar, livros de doutrinação comunista, grande quantidade de uniformes, mochilas de lona reforçadas e costuradas com linha grossa, máquinas de costura industriais, armamento e munição, oficina de rádio bem aparelhada, com os instrumentos básicos para transmissão e recepção ( geradores de sinais na freqüência de HF e VHF, medidores, etc.), grande quantidade de instrumentos cirúrgicos, grande estoque de remédios os mais diversos, grande quantidade de bússolas portáteis, grande estoque de sacas de arroz em casca, feijão, milho, grandes plantações de macaxeira, jerimum, melancia, maracujá, melão, laranjas, limão, criação de galinha em cercados, porcos e animais silvestres aprisionados em chiqueiros, etc.

Estava, assim, descoberta a “grande área” citada por Marighella em seus documentos apreendidos.

A equipe retornou a Xambioá, tendo sido o relatório transmitido para o CIE/ADF por fonia via São Paulo pela estação de rádio de uma serraria.

No dia seguinte, o cabo Marra, da PM de São Geraldo, em frente a Xambioá, lado do Pará, vindo de canoa em companhia de um morador, Zé Caboco, apresentou-se ao Maj Licio informando que o morador se prontificava a levar a equipe até a casa da Dina, que era sua vizinha. Alguns moradores locais se aproximaram e um deles, piloto Pedro Careca, informou que poderia levar de avião alguns elementos até o castanhal da Viúva, cujo capataz, Sr. Victor, nos indicaria o caminho.

Quando a equipe (4 homens) chegou lá, o grupo da Dina já estava em fuga, avisado que fora pelos três elementos que fugiram anteriormente. Eram cerca de vinte pessoas. O cabo Marra e quatro soldados da PM se juntaram à equipe do CIE, pois tinham marchado a noite toda até lá.

Foi iniciada a perseguição, quando aparece repentinamente um “morador” de mochila às costas, chapéu de vaqueiro, revolver e facão na cintura; declarou se chamar Geraldo. Foi detido e deixado com o cabo Marra e soldados enquanto reiniciávamos a perseguição.

Pressentindo o avanço da nossa equipe, os fugitivos esconderam quase toda a carga que transportavam e passaram a progredir mais rápido, bons conhecedores que eram da área. A equipe destruiu a carga escondida, quando são escutados três tiros de fuzil vindos de onde estava o Cabo Marra com o Geraldo. Como já estivesse escurecendo e chovendo torrencialmente, dificultando a perseguição, mascarando as pegadas, foi resolvido voltar.

O Geraldo, mesmo algemado e com uma pesada mochila nas costas, tinha disparado em desabalada carreira pela mata, tentando fugir, quando foram dados três tiros de advertência. Novamente preso, com a chegada da equipe, se abrigam num mocambo de palha e o Geraldo tenta explicar que é morador da área e tinha tentado fugir porque estava assustado com tanta gente armada na mata.

Nada tendo sido achado de anormal em sua mochila, já estava para ser liberado. O chefe acatou as ponderações dos demais componentes da equipe e do prisioneiro, mas antes de soltá-lo resolveu fazer pessoalmente uma nova vistoria na mochila, tendo achado um tubo de alumínio, de pastilhas de remédio, contendo linhas finas de pesca e anzóis pequenos, típico material de sobrevivência. Ao perguntar alguns detalhes ao Geraldo, notou que ele estava ficando pálido e assustado. Retirado todo o material de pesca do tubo, foi avistado no fundo um papel pautado de caderneta. Era a mensagem do B para o C, em linguajar militar.

Geraldo, perante tamanha evidência, não teve alternativa e respondeu às poucas perguntas que lhe foram feitas. No verso de um papel de um pacote de cigarro, foi anotado, com um toco de lápis, o que declarou.

O preso era, sem sombra de dúvida, elemento importante da organização.

Cada vez mais aumentavam as surpresas. Mas era apenas a extremidade sul da “grande área”.

No dia seguinte, como combinado, o pequeno helicóptero de uma mineradora, vindo com o Maj Othon Cobra, ao qual foi entregue o Geraldo, sendo conduzido para Xambioá e, posteriormente, para Brasília, onde foi interrogado.

Conclusão: tratava-se do sub-comandante do grupo B, José Genoíno.

Graças aos militares, foi recolocado no bom caminho, após cumprir um curto período de prisão. Resta a dúvida se reconhecerá...

Triste notícia veio dias depois. Dois bandidos perseguiram e assassinaram à facadas o filho do Antonio Pereira, apenas por ele ter nos acompanhado poucas horas na mata. Destruíram uma família honesta, simples moradores afastados do mundo, no interior da mata. Tiveram que se mudar para Xambioá e a família foi se deteriorando, acabando, morrendo de desgosto. Nunca foi dada pelos bandidos uma nota de arrependimento, um pedido de desculpas à família do Antonio Pereira. Pelo contrário, encobrem o assassinato frio e perverso. Hoje distorcem a verdade dos fatos, são irrecuperáveis. Agora, na expectativa de uns trocados, os moradores, eles próprios, distorcem os fatos à gosto dos inquiridores.

Dizem, Pedro Albuquerque (o Jesuíno) e José Genoíno (o Geraldo), que foram torturados.

Primeiro, Pedro Albuquerque já tinha dado o “mapa da mina”; não havia motivo para torturá-lo. Confessou que tentara o suicídio por medo do justiçamento, pois conhecia bem os companheiros. Foi ponderado ao Gen Bandeira inclusive que não havia necessidade dele ir de guia. Fez um passeio pela mata, em quase três dias, completamente solto, livre, cumprimentado por alguns moradores, não tentou fugir. Nem mesmo durante a noite, quando dormimos nos abrigos do sítio do Antonio Pereira. Nem mesmo guarda foi estabelecida, pois não acreditávamos no perigo do “inimigo”.

Quanto a Geraldo, talvez a “tortura” a que ele se refere tenha sido a companhia de gente carrancuda e armada numa remota área desolada da Amazônia, como ele mesmo alegou para o fato de ter tentado a fuga. Principalmente depois de lida a mensagem que portava, do Osvaldão, do grupo B da Gameleira, para o Antonio da Dina, do grupo C. Não havia motivo, portanto, para torturá-lo. E está vivo até hoje, e muito vivo...

2). O combate com o grupo militar da guerrilha.

Num dos livros de Elio Gaspari, ele escreveu que o caso “Sônia” foi o episódio mais notável da guerrilha, distorcendo propositalmente os fatos e enaltecendo o fanatismo da “Sonia”.

Mais um erro grosseiro. O caso da Sônia foi, talvez, o mais inusitado, por se tratar de mulher. Mas o combate com o grupo militar da guerrilha foi muito mais importante, muito mais sangrento, tendo desmoralizado o movimento do PC do B: eles perderam em um único combate, 4 elementos dos mais importantes (um deles entrincheirou-se atrás de uma árvore e conseguiu fugir em desabalada carreira após cessado o tiroteio, pois estava sem arma na mão e ninguém atirou nele), todos com cursos na Albânia, Argélia, China e Cuba, etc. O que fugiu, soubemos depois, era o João Araguaia, desapareceu na mata.

Os bandidos ficaram desmoralizados e, na realidade, foi o começo do fim, até a morte do Osvaldão. Por este motivo, fazem pouco alarde do ocorrido, dizendo que foram emboscados, que estavam famintos, etc., embora saibam realmente o que aconteceu, uma vez que o que conseguiu escapar deve ter relatado o fato. Uma emboscada fica demonstrada impossível no caso, pois numa perseguição na mata não se sabe onde eles vão passar.

Tudo se originou no assalto a um quartel da PM, ao alvorecer de um determinado dia, pegando a guarnição de surpresa. Incendiaram todas as instalações, quartel, refeitório, almoxarifado, corpo da guarda, casa da estação de rádio, paiol, etc., levando todo o armamento (fuzís, revólveres), toda a munição e todo o fardamento, todo o dinheiro e material individual, agredindo com coronhadas, torturando e humilhando os militares, inclusive deixando todos de cueca. Uma ação audaciosa e reveladora da grande confiança que possuíam até então.

Deixaram um recado com o Tenente comandante do destacamento: “Que ninguém ouse nos seguir, pois agora estamos bem armados e o pau vai quebrar...”. E quebrou mesmo, mas para o lado deles, principalmente.

Foi iniciada a perseguição com o efetivo de um GC, comandado por Oficial do CIE (Maj Licio), ainda com o Quartel fumegando, dez horas após terem fugido.

Os bandidos, com a carga que levavam, deixavam batida nítida na mata e a velocidade de marcha era relativamente pequena devido ao peso da carga resultante do saque.

No terceiro dia da perseguição, a despeito das fortes e constantes chuvas, houve o confronto, cerca das 1500 hrs. Eles deram três tiros às 0600 da manhã, caçando porcos monteiros. Cercados os bandidos, foi dada a voz de prisão, obtendo como resposta um tiro dado por um deles que estava de vigia mais à frente e que não tinha sido visto. O revide foi inevitável, imediato.


Do nosso lado, um soldado com ferimento na perna, julgado a princípio que tinha atingido a femural e outro soldado com distúrbios psicológicos (vomitando seguidamente e aparvalhado).

Conforme combinado via rádio, os mortos e feridos e todo o material foram transportados para o sítio da Oneide e entregues ao PIC para a devida identificação e etc., uma vez que o local do combate não era identificado nas cartas. Foram 6 horas de marcha extremamente difícil, numa estreita trilha em plena mata, com os cadáveres, feridos e carga sendo transportados em muares que estavam abandonados pelos moradores, e que foram providenciados pelos guias (Luiz Garimpeiro e Antonio Pavão). A munição de fuzil foi destruída, jogada num buraco da mata.

Numa reportagem na imprensa, um mateiro afirmou que a tropa do Exército já chegava atirando.

Primeira mentira: os mateiros iam ficando para a retaguarda na iminência do confronto. Ficavam quietinhos lá atrás até o cessar fogo. Assim, não podiam ver os primeiros instantes após dada a voz de prisão. E sempre aprovei isto, claro.

Segunda mentira: como os bandidos estavam fardados, tendo o Zé Carlos o gorro de 2º Ten da PM do Pará na cabeça (caki com estrela vermelha), teria obrigatoriamente de ser dada a voz de prisão para certificar-se de quem se tratava, invariavelmente.

Terceira mentira: na área agiam vários grupos de combate, principalmente em reconhecimento, o que tornava imperiosa a identificação para não haver acidente entre tropas amigas. Jamais poderia haver precipitação no encontro na mata. E nunca houve, que eu saiba.

Se a intenção fosse realmente acabar com eles, de qualquer maneira, o João Araguaia não teria sido poupado; estava sem arma na mão e ninguém atirou nele.

O mais gritante de tudo, que anula a versão de já chegar atirando, é que seria muito mais fácil levar prisioneiros marchando algemados pela mata do que transportar cadáveres em lombo de muares. Dificilmente o local dos combates, em mata fechada, permitia o pouso de helicóptero. Inclusive, eles continuariam carregando as próprias cargas que roubaram. As informações que poderiam fornecer também eram de suma importância e foram perdidas, uma vez que o sobrevivente, muito ferido, não estava em condições de falar na manhã seguinte. Ele apenas deu o nome de cada um componente e da importância do grupo. Sofreu muito durante a noite e no caminho tendo chegado muito mal no sítio da Oneide, onde foi medicado e identificado.

Tanto no caso da descoberta do local da guerrilha, como em todos os demais, era dada a voz de prisão. Os três elementos avistados (dois homens sem camisa e uma velha) no final da trilha de Pará da Lama, e que escaparam fugindo para a mata, podiam ter sido alvejados facilmente, tal a proximidade a que chegamos, uns 80 metros.

O mesmo poderia ter sido feito com o “Geraldo”, que inclusive tentou fugir.
O Pedro Albuquerque está vivo, em Recife, só temendo o justiçamento por parte dos antigos camaradas de aventura.

O caso da Sônia demonstra de maneira insofismável este procedimento das patrulhas. Ela poderia ter sido alvejada mortalmente ao puxar a arma, mas foi preferido deixá-la ferida, após 6 sucessivas advertências.

3). Caso “Sônia”

Ela fazia parte de um numeroso grupo (depois confirmado, de dezoito subversivos do grupo A, do Paulo).

Estávamos seguindo o grupo na mata e, em determinado momento, a Sônia voltou inesperadamente, recebendo voz de prisão, repetida três vezes, e mais as advertências 'não faça isso', à medida que ela tentava sacar o revólver do coldre.

Após a terceira advertência, como ela continuava, já tendo a arma na mão, foi alvejada na perna e caiu. Fui rapidamente até ela e, enquanto procurava o revólver, lhe disse para ficar quieta que iríamos salvá-la.

Não achei o revólver no meio à densa folhagem, já com razoável escuridão na mata fechada. Tivemos que ir em perseguição ao restante do grupo de subversivos, que fugiu, atravessando um córrego e atirando em nossa direção.

Como anoitecia - a mata já ficando bem escura -, voltamos; atravessar o córrego seria expor-se muito ao inimigo.

Aproximando-me da Sônia, caída, ela abriu fogo, à queima-roupa, pois tinha
encontrado o revólver. Incontinenti, nossa equipe reagiu, alvejando Sônia
mortalmente. Caí desacordado e fui socorrido pelos meus companheiros.
Levei dois tiros, um no rosto e outro na mão; o Cap Curió que vinha atrás
de mim, foi atingido no braço.

No grupo de subversivos estava um garoto, morador da região, que relatou depois que eles tinham preparado uma emboscada, uma vez que estando eu sendo carregado numa rede armada entre um pau nos ombros de dois soldados, que passaram os fuzis para outros. Essas armas ficavam batendo uma contra a outra a tiracolo, o que fazia um barulho nítido de metal contra metal.

Este mesmo garoto declarou muitos anos depois que esteve no local 4 meses depois do incidente e viu os ossos ainda lá. Uma comissão séria que quisesse localizar restos mortais (se quisesse mesmo) já deveria ter ido lá. E por que nunca foram?

Pouco antes do local da emboscada, foi feita uma parada para descanso da equipe, reinando silêncio na mata, já noite. Tendo eles interpretado como se tivéssemos pressentido a emboscada, fugiram.

Teria sido uma dura experiência, para nós, devido à total surpresa.

Fui levado para a vila de São José, de lá para Marabá e, em seguida, para Belém, onde permaneci vinte dias para me recuperar, principalmente, da perda de sangue.

Depois, fui evacuado para Brasília, operado no Hospital das Forças Armadas para retirada do projétil. Operação delicada, pois o projétil estava alojado no pescoço, próximo à coluna e eu poderia ficar paraplégico. Após um mês, fui submetido a uma pequena cirurgia corretiva na feia cicatriz do rosto.

Três meses depois do incidente fui mandado de volta à área, já recuperado, aparentemente. Até hoje tenho seqüelas: perdi vários dentes, com a arcada abalada sem possibilidade de correção; fiquei completamente surdo do ouvido direito e uma sinusite crônica surgiu no rastro dos resíduos de chumbo deixado pelo projétil. O tiro na mão, por sorte, atravessou a palma, não tendo atingido nervo nem osso algum. Com Curió, o projétil atravessou o braço, sem maiores conseqüências. Diz Elio Gaspari que este foi o episódio mais notável da guerrilha, enaltecendo o fanatismo da Sônia, o que demonstra o pouco apreço que tem pela exatidão do que escreve.


(*) do Tenente-Coronel Reformado Licio Maciel. Relato aos companheiros da TURBRAN (AMAN 1952).



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