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Erotico-->9. CRESCEM OS MALES -- 14/01/2003 - 08:04 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Antunes pertencia a grupo de soldados encarregados da segurança ostensiva das vias públicas, caminhando a pé, sempre de dois em dois, observando os desocupados e os suspeitos. Atendiam a ocorrências de furtos praticados em meio às grandes aglomerações, onde as corta-bolsas e os mãos-leves agiam descaradamente, sob rigoroso esquema de campana.

Ao topar com grupo de ladrõezinhos pés-de-chinelo, desses que roubam carteiras, para cheirarem o pó maldito ou absorverem a fumaça do “crack”, foi atingido por dois disparos. O companheiro tombou sem vida, em poça de sangue. Ele nem tempo teve de disparar. Os meliantes, possivelmente menores de idade em estado de alucinação, desapareceram pelas ruas próximas, porque haviam provocado exatamente os que lhes davam cobertura, mantendo a população tranqüila, pela aparência de poder que a instituição militar passava,

As pesquisas das implicações policiais chegariam bem perto de alguns soldados mancomunados com os infratores, mas este aspecto não nos move o interesse narrativo. O fato é que Antunes, antes de Gaspar receber alta, estava impedido de se locomover, tendo os projéteis atingido o fêmur da perna direita e o tórax, sem gravidade.

Não tendo como visitar Gaspar no hospital, solicitou a um dos companheiros de farda que empregasse um pouco de tempo para deixar o pequeno sossegado e a família prevenida quanto ao fato de estarem os irmãos sem o seu amparo.

— Deixa comigo. Vou acertar as coisas da melhor maneira.

Dizer, disse, sim, com ênfase, para garantia da confiança do amigo. Fazer foi história que não se contou. Assim, Gaspar ficou entregue aos cuidados profissionais dos enfermeiros e médicos e sua família se manteve na crença de que o soldado estava velando por ele.; Cléber foi largado à própria sorte.

Após uma semana de abandono, vamos dizer assim, Gaspar foi devolvido ao lar, inesperadamente, necessitado ainda de cuidados médicos. A ambulância levou uma enfermeira dedicada, cuja tarefa principal era alertar a família para os riscos pendentes, uma vez que, se falhassem as doses exatas dos remédios, poderia a moléstia recrudescer.

A mãe pôs as mãos na cabeça e a boca no mundo:

— Agora são dois pra serem tratados! Eu não vou dar conta de tudo!

Fez questão de levar a moça até o local em que jazia o outro, para mostrar o seu estado de inanição. O ambiente tresandava acre odor de podridão.

A enfermeira sentiu que as coisas não estavam corretas. Perguntou pela receita, verificou quais os medicamentos em falta e se assegurou de que os antibióticos estavam suspensos. Cléber ardia em febre.

Não encontrando recursos familiares para a assistência ao infeliz, deixou o mais novo e carregou o mais velho, obrigando a mãe a acompanhá-lo, providenciando para que as meninas fossem abrigadas pela vizinha.

— A que horas chega o seu marido?

— Só à noite, lá pelas oito ou nove.

— Então, a senhora vai escrever um bilhete, dizendo pra ele ministrar os remédios.

Para ter a certeza de que o recado chegaria ao destino, recomendou muito à vizinha que vigiasse a casa:

— A senhora vai dar os remédios de acordo com a receita. Ele acaba de tomar todos eles. Daqui a quatro horas, tem de tomar de novo.

— Mas vai demorar tanto...

— Não estou dizendo que a mãe não estará aqui. Se ela não tiver voltado, a senhora cuida do garoto. Está certo?

— Vou fazer o possível.

— Muito obrigada.

Um bom entendedor teria observado que a promessa era tão-só formal. Mas Gaspar prestara muita atenção em tudo e, na hora certa, tomou os remédios sozinho. E o fez de novo, quatro horas depois.

Enquanto isso, Cléber era internado com infecções generalizadas nas duas pernas. Foi necessário remover o gesso, observando-se que degeneravam os tecidos. Gangrena úmida, sem tirar nem pôr. Recomendava-se a amputação de ambas as pernas, logo abaixo dos joelhos.

A mãe não quis autorizar a operação. Queria que avisassem o pai. Hora e meia mais tarde, chegava o funcionário público, trazido em viatura policial. Vinha assustado, porque os “pê-emes” não souberam dizer o que se passava. Ao tomar conhecimento do estado lamentável da criança, voltou-se contra a mulher e contra o policial ausente, acusando os dois de desleixo, com palavras de baixo calão. Contido pelos policiais, foi encaminhado ao consultório do ortopedista, para os esclarecimentos legais. Contudo, recusou-se terminantemente a assinar a autorização.

Foi acionado o promotor público, para a petição à vara competente, a fim de que um juiz togado assumisse a responsabilidade do ato cirúrgico.

Entrementes, os médicos desafiavam a sorte e preparavam o menino, encaminhando-o para a sala de cirurgias. Como, porém, sempre existe quem não queira correr riscos, chegou ao conhecimento da administração do hospital que estava em vias de realizar-se operação não autorizada.

Às oito horas da noite, o pai foi convencido, pela evidência das radiografias e pelo aspecto repugnante das pernas, a deixar que as cortassem fora. Era mais um motivo para beber.

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