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Erotico-->8. GASPAR APRENDE AS LIÇÕES -- 13/01/2003 - 12:06 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O curto período de permanência no hospital fez com que Gaspar sentisse o nível de cooperação que deve existir entre os homens, para que todos possam ter sucesso nos empreendimentos. Não colocava os pensamentos sob esta forma, mas ia compreendendo a fraternidade existente entre as pessoas, muitas interessadas em saber se ele se encontrava bem, se havia recebido os remédios, se estava agasalhado, se precisava de alguma coisa.

A contínua presença de Antunes lhe dava o apoio moral de que necessitava para manter-se em contato com os familiares, estes, sim, ausentes, não comparecendo sequer nos dias de visita.

Aceitava a rejeição como contingência do fato de ser lerdo, de não ter o mesmo vigor do irmão nem das irmãs, que eram capazes de entender e de praticar o que os pais lhes pediam. Contudo, lembrou-se diversas vezes do fato de estar reconhecendo as letras, sabendo compor as palavras e as frases. Isso tudo muito intuitivamente, que a cabecinha estava pesada e aturdida pela fraqueza e pelo efeito sedativo dos medicamentos.



Devo abrir importante parêntese, para responder a prováveis leitores curiosos pelo fato de estar o narrador tão ao corrente da vida intelectual e sentimental do petiz. Bastar-lhes-á que diga que este narrador, simplesmente, tem acesso aos mecanismos psíquicos de alguns seres encarnados, por força de vibrar no mesmo diapasão, ainda mais por se encontrar investido das funções de “protetor”? Para que não se equivoquem a respeito do sentido dessa palavra, esclareço, desde logo, que não sou o que vulgarmente se denomina de anjo de guarda. Exerço papel de orientador espiritual, muito mais interessado em discutir, durante as horas de sono do meu amigo, o que vai sofrendo durante a vigília. Ao mesmo tempo, cumpro as tarefas escolares que são determinadas por meu orientador “didático”, na “Escolinha de Evangelização”. Como são várias as personagens deste enredo, somos em igual número no serviço de assistência, de sorte que temos a possibilidade de trocar idéias e oferecer os conhecimentos próprios, para elucidação de fatos que ocorrem por força de pregressos acontecimentos. Não fosse por essa colaboração “evangélica”, por assim dizer, não teríamos a oportunidade de bem orientar as pessoas no campo dos relacionamentos.

Hão de perguntar se este autor é único ou se cede a pena aos demais componentes do grupo. Até aqui tenho trazido ao público encarnado todas as notícias do drama. Sempre, no entanto, após haverem sido apreciadas pela equipe. Futuramente, se for do interesse do narrado, à vista de contingências imprevisíveis nesta altura dos ditados, não me aborrecerei de passar a tarefa a outras mãos, para que se configure a real solidariedade que tanto nos prega o Mestre Miguel, à luz dos ensinamentos cristãos.



Posto a par das expectativas missionárias de seu encarne, sugeridas em capítulo anterior, Gaspar, no etéreo, ia concatenando os fatos, à medida que valorizava as dificuldades psicomotoras ou motrizes de seu organismo corpóreo. Sabia que ofendera aqueles mesmos seres em outras vidas, utilizando mal as habilidades, com que desenvolvera especiais recursos na aplicação às artes pictóricas.

Mas não alcançava compreender exatamente o que ocorrera no passado, esquecido das respostas dos seres a quem deveria destinar suas atenções sentimentais, para o enleio de amor a que a convivência obriga, quando existe interdependência. Supunha, porque sentia a forte rejeição dos familiares, que houvera entre eles algo muito grave, a ponto de oferecer resistência intuitiva. Teria sido um erro a deformação motora? Não estaria aí, justamente, o foco irradiador das vibrações negativas?



Volto a interromper o fio da narração, para afirmar que o escrito almeja ser muito simples e informativo, nada trazendo de diferente do que se encontra nas obras basilares do Espiritismo. Contudo, a simplicidade não é preceito universal, dado que a própria existência é complexa, a ponto de oferecer mistérios para os seres mais inteligentes encarnados na Terra. Sou obrigado a levar os leitores a “O Livro dos Espíritos”, onde se registrou essa dificuldade e a necessidade de os amigos do plano espiritual só fornecerem dados de acordo com o grau evolutivo dos terrestres. Aqui acentuo a obrigatoriedade do desenvolvimento moral, como fundamento imprescindível para o progresso dos espíritos. E isso não se irá alcançar se o indivíduo dedicar-se inteiramente aos estudos filosóficos, esquecido de que tem ou teve pais, irmãos, filhos e demais parentela. Em outros termos, o homem se reúne em grupos, por força da própria natureza e por necessidades cármicas.

Penso que pus os pensamentos de maneira absolutamente clara, óbvia até para as pessoas menos “civilizadas”, como suspeitava Antunes, no capítulo precedente.



Gaspar, pois, aprendia as lições, pelo exemplo vivo dos médicos e demais funcionários do hospital. E pela influenciação negativa dos familiares.

Um dia em que Antunes se mostrara particularmente afetivo, dando-lhe bombons e outras guloseimas, inclusive levando-lhe dois ou três livrinhos de evangelização infantil, os quais se recomendavam no Centro Espírita, Gaspar o abraçou, chorando, incapaz de traduzir em palavras os sentimentos que o possuíam.

— Que é isso, querido?! Você não vai morrer. Os médicos estão fazendo de tudo pra mandarem você de volta bem melhor que antes. Você vai ver que até a subnutrição crônica...

Antunes suspendeu a linha de pensamento.

“Subnutrição crônica seria conceito assimilável pela cabecinha oca do menino quase analfabeto? Acho que as pessoas tendem a falar difícil quando não têm total domínio dos assuntos. Se o médico estivesse aqui, talvez dissesse fraqueza, dor nas pernas, falta de vontade de fazer as coisas... E dizer que eu estava censurando Kardec e os Espíritos de Luz que o instruíram. Imbecil!...”

— Tio Antunes, eu não quero ir na escola.

— Depois a gente conversa. Enquanto isso, vá lendo os livrinhos que estou trazendo. Você vai ver que as historinhas são sobre crianças iguaizinhas a você, isto é, cheias de problemas, incompreendidas pelos pais e pelos professores. Aí você vai encontrar as soluções...

“Negativo! Converso com o menino como se ele fosse gente adulta. No entanto, as lições do Evangelho ele consegue aprender. Bem que o pessoal no Centro fala que dentro das crianças está o mesmo espírito que habita os mais velhos. É só uma questão de desenvolvimento físico e mental.”

Gaspar gostava de ouvir o “tio”, porque sentia em suas palavras o respeito a sua integridade espiritual. Ele o considerava uma verdadeira pessoa. Gente como qualquer outra. Não vinha com aquela conversa miúda das professoras, cheia de “-inhos” e “-inhas”:

— Filhinho, seja bonzinho!... Fez a liçãozinha?...

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