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Ensaios-->Dicas para quem pretende visitar uma aldeia indígena. -- 19/01/2007 - 09:21 (Giovanni Salera Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DICAS PARA QUEM PRETENDE VISITAR UMA ALDEIA INDÍGENA

Basicamente, existem quatro grupos de pessoas que visitam as milhares de aldeias espalhadas pelo Brasil. O primeiro grupo é formado por pessoas que moram em locais próximos às aldeias e que tem uma relativa familiaridade com os indígenas. Dessa forma, essas pessoas são convidadas pelos próprios índios para participarem de festas, de rituais, para jogar futebol ou simplesmente para uma pescaria. O segundo grupo é formado por pessoas ligadas aos veículos de comunicação (repórteres, jornalistas, escritores etc.) que vão às aldeias para fazer documentários em vídeo ou matérias que são veiculadas em revistas e jornais. O terceiro grupo é composto por integrantes de Igrejas e ONGs (Organizações Não Governamentais) que desenvolvem trabalhos de apoio e assistência aos povos indígenas. O quarto grupo é formado por estudantes, professores e pesquisadores que têm como objetivo a realização de levantamentos e pesquisas técnico/científicas.
Esse texto é dirigido especialmente ao quarto grupo (acadêmicos e pesquisadores), mas, certamente, muitas dicas e sugestões aqui presentes podem ser úteis a qualquer pessoa.
A primeira e, com certeza, a mais importante recomendação que dou para quem pretende desenvolver um trabalho em uma área indígena é: “busque orientações junto à FUNAI (Fundação Nacional do Índio)”. Você deve estar ciente que a FUNAI é o principal órgão federal vinculado aos povos indígenas e, portanto, é imprescindível a observância de todas as suas recomendações e exigências. No Site da FUNAI (www.funai.gov.br) você pode encontrar uma série de informações, como por exemplo sobre a exigência de diversos documentos (currículo, atestados de vacinação etc.). E, por isso mesmo, esse texto não tratará de abordar essas questões. Aqui, pretendo apresentar uma série de dicas e recomendações que, ao longo do tempo, fui acumulando e que, conforme acredito, podem auxiliar no planejamento e desenvolvimento de um trabalho junto aos índios.
As dicas e recomendações aqui tratadas estão agrupadas em duas partes: a primeira se refere à elaboração da proposta de trabalho e a segunda que trata dos preparativos para ida e permanência na aldeia.
No momento da elaboração de sua proposta de trabalho (Projeto de Iniciação Científica, Monografia, Dissertação de Mestrado etc.), converse com pessoas que já visitaram a aldeia ou a área indígena que você pretende ir.
Busque algumas informações básicas sobre a organização do grupo e seu histórico de contato. Para isso, visite Sites e escritórios de instituições afins, tais como: ISA (Instituto Socioambiental), CTI (Centro de Trabalho Indigenista) e Museu do Índio.
Procure saber se existem gramáticas e dicionários disponíveis na língua do grupo. O conhecimento de alguns termos básicos da língua local pode facilitar, especialmente nos primeiros contatos.
Às vezes, a análise da proposta de trabalho e sua conseqüente autorização por parte da FUNAI demora muito, portanto é aconselhável que você apresente a sua proposta de trabalho (e todos os demais documentos exigidos!!!) em um prazo adequado para que todos os trâmites burocráticos transcorram satisfatoriamente. Dependendo do enfoque do trabalho (objetivos da pesquisa, metodologia empregada na coleta de dados, tempo de permanência em campo etc.) e de particularidades do grupo indígena em questão, a FUNAI pode solicitar que você faça ajustes em sua proposta, o que poderá atrasar a emissão de sua autorização.
Existem pessoas que não planejam adequadamente seu tempo e costumam deixar tudo para última hora. Algumas pessoas, logo que protocolam a proposta junto à FUNAI, acham que já podem começar a coletar os dados de sua pesquisa. Mas, sem dúvida alguma, esse não é o procedimento correto. Você só deve iniciar a sua coleta de dados após ter cumprido todas as recomendações e exigências do órgão indigenista.
Na fase de elaboração do projeto, muitos estudantes e pesquisadores costumam fazer uma primeira visita à área indígena. Isso, certamente, é um procedimento que acaba ajudando bastante na proposta da pesquisa. Essa primeira visita é importante não só para dar subsídios na elaboração do projeto, mas também serve para que o proponente tenha um contato com os índios. Vale lembrar que, antes da FUNAI, a comunidade decide se quer ou não receber o pesquisador. Se a comunidade indígena não tiver interesse na execução da proposta, a FUNAI não dará a autorização. Mas, todos devem estar cientes que essa primeira visita não deve ser utilizada para coleta de dados. A coleta de dados só deve iniciar quando a comunidade estiver de acordo com a proposta e a FUNAI tiver emitido a autorização.
Ao fim dessa primeira etapa, com o projeto aprovado e a autorização em mãos, começam os preparativos para a execução da proposta de trabalho.
Ao preparar sua bagagem para viagem, se possível, não leve caixas e nada muito volumoso. Preferencialmente, só leve consigo o que puder carregar.
Mesmo se você pretende ficar apenas poucos dias, leve algumas peças de roupa a mais. Caso você não possa sair da aldeia conforme planejado, você não estará despreparado.
Seja discreto! Lembre-se de nunca ir à aldeia carregando jóias, relógios e outros apetrechos. Isso pode atrapalhar você na compra de artesanato de palha e cerâmica. Sugiro também que você leia a polêmica PORTARIA IBAMA nº 93, de 7 de julho de 1998, especialmente em seu artigo nº 29, e o MEMORANDO FUNAI nº 99, de 20 de maio de 2004, que tratam da comercialização de artesanato indígena com partes de animais silvestres (penas, dentes, ossos etc.).
Caso queira comprar alguma coisa, leve o dinheiro sempre em pequenas cédulas, pois, em geral, a troca de dinheiro na aldeia é difícil.
Logo no início do trabalho ou a cada nova visita, você pode precisar de uma “nova autorização verbal” de algum representante, como por exemplo do cacique ou do pajé. Estar sempre em constante contato com as lideranças da comunidade, informando os procedimentos e etapas do trabalho podem auxiliá-lo, evitando problemas e desentendimentos.
Especialmente nos primeiros dias, procure não andar sozinho pela aldeia. Ande em companhia de um indígena ou de alguém que compreenda a língua nativa. No caso de algum incidente, você não estará sozinho. Além disso, com uma companhia familiarizada com a comunidade, sua integração será mais fácil.
Mesmo que na sua proposta de trabalho esteja bastante claro quais os métodos de coleta de dados, especialmente no que se refere ao registro de imagens (fotografias e filmagens), não tire fotos ou filme pessoas e suas coisas particulares (casa, artesanato, animais, comida etc.) sem pedir autorização ao proprietário. No caso das crianças, sugiro que você peça autorização aos pais ou responsáveis.
Em geral, os índios tomam banho várias vezes ao dia e não gostam que visitantes fiquem olhando ou fotografando os banhistas.
Logo nos primeiros momentos, não queira sair correndo para a coleta de dados. Gaste um pouco do seu tempo conhecendo o local e as pessoas. É normal que no início você seja uma atração, uma grande novidade na comunidade. Isso, dependendo da situação, pode atrapalhar um pouco sua coleta de dados, como por exemplo, na realização de entrevistas e na aplicação de questionários. No início, fale pouco, ouça e observe mais. Deixe que a comunidade se familiarize com sua presença. Com o passar dos dias, você se tornará uma pessoa invisível, o que, conforme acredito, representa o momento ideal para o início da coleta de dados.
Evite beijos e abraços. Muitos grupos indígenas não costumam se tocar para se cumprimentar, mas, em geral, o aperto de mão pode ser utilizado sem problemas. Caso não utilize, não será uma ofensa ou descortesia. Se preferir, você pode somente olhar, acenar com a mão ou cabeça e dar um sorriso.
Cada comunidade possui um ritmo específico e uma organização própria. Em vários grupos indígenas, a divisão dos espaços nas casas, dentro e ao redor da aldeia segue relações de gênero e/ou de faixas etárias. Em locais assim, existem ambientes que são freqüentados apenas por homens e outros apenas por mulheres. A observação desses aspectos deve ser levada em conta por quem quer ter um convívio harmônico.
Outro aspecto extremamente importante e que varia muito entre os diversos grupos indígenas trata-se da sazonalidade das diferentes atividades (temporadas de caça, preparo da roça, tempo de colheita, rituais, casamentos etc.). Vale lembrar que, em geral, não há um calendário único para todas as aldeias de uma mesma etnia. Isso tudo deve ser visto no planejamento das visitas. A definição do cronograma de visitas deve corresponder ao calendário próprio da aldeia em questão.
Lembre-se que a comida para muitos grupos indígenas tem um caráter muito especial, às vezes ela é considerada sagrada. Em algumas situações, quando você for convidado a comer alguma coisa, você não poderá recusar a comida, pois, caso isso ocorra, eles podem se ofender. Existem vários situações em que você pode recusar algum alimento, tais como: (1) se sua religião ou tradição o proibi de comer, como no caso da carne vermelha para os vegetarianos; (2) se você estiver grávida ou amamentando e (3) em situação de luto por algum parente ou amigo próximo. Várias comunidades indígenas possuem tabus alimentares como esses. E quando uma pessoa se recusa a comer um determinado alimento numa situação dessas, isso é facilmente entendido pelos índios.
Se algum acidente acontecer, um corte no dedo ou um arranhão, provavelmente, eles poderão oferecer um remédio ou tratamento natural. Caso você tenha uma dor de cabeça ou dor de estômago, eles também podem querer tratá-lo com medicamentos naturais. Isso tudo, é lógico, dependerá do seu grau de entrosamento dentro da comunidade.
Deixe os preconceitos de lado e seja bem humorado. Esteja disposto a experimentar novas situações e vivências com bom humor, pois dessa forma seu convívio na aldeia será bem melhor.
Quero lembrar que nenhuma dessas dicas deve ser encarada como regra geral e imutável para todos os povos indígenas. Elas são apenas recomendações e conselhos. Em cada grupo indígena pode haver particularidades e situações específicas. O melhor é estar sempre preparado para viver momentos diferentes e buscar ver o lado positivo de cada situação nova. E lembre-se que uma coisa que você deve deixar em casa são os preconceitos e o desrespeito às diferenças.

Gurupi – TO, Dezembro de 2006.

Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
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