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Erotico-->6. SURPRESA MUITO AGRADÁVEL -- 11/01/2003 - 08:19 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Depois de ir à casa de Cléber umas dez ou doze vezes, Antunes teve oportunidade de constatar, com muita alegria, que Gaspar estava aprendendo a ler. No início, parecia que o menor repetia de memória as passagens lidas, mas, uma vez, deixou claro que estava reconhecendo as letras e as frases, quando precisou repetir a passagem citada pelo improvisado mestre. Folheou o livro e apontou o trecho sem titubeios, indicando a linha exata em que começava.

— Meu filho, faça o favor de repetir o que aí está escrito.

E Gaspar, meio envergonhado, foi soletrando as sílabas, demonstrando que entendia o sentido das palavras e, mais ainda, que era capaz de compreender as idéias.

— Mas você não é retardado, coisa nenhuma! Quem disse que é incapaz de ser alfabetizado?

Cléber se admirou do fato e se calou, a ver aonde iam dar as coisas. Não queria acreditar que o irmão pudesse ter alguma esperteza naquela cabeça avoada, ele que nunca pudera escrever ou desenhar nada que fosse o mais simples possível.

Antunes quis tirar a prova, abriu o livro ao acaso e pediu ao jovenzinho que lesse um trecho desconhecido. Foi com dificuldades que chegou ao final da frase, mas pôde repetir, em seguida, tudo de novo, com muito maior desenvoltura.

— A senhora sabia que seu filho é bem capaz de ler o que bem entender?

— As professoras...

— Vamos deixar as professoras de lado. O menino está completamente alfabetizado. Precisa voltar já pra escola. Ele ainda está matriculado?

— No começo do ano, ele foi um mês, mas, como não fazia nada, a professora pediu pra que ficasse em casa. Estava começando a ser o palhaço dos outros.

— Pois é preciso dar maior atenção a ele. Segunda-feira, apesar de ter perdido uns dois meses de aulas, a professora vai ter de aceitá-lo de novo.

— Mas ele não sabe fazer um simples o, um i, um a...

— Vamos ver. Onde está o material da escola?

A malinha está abandonada embaixo da cama.

— Gaspar, vai buscar a mala, por favor. Vamos ver se o teu defeito está na escrita.

O menino voltou com muito medo. Antunes pegou o caderno amarfanhado, um toco de lápis sem ponta e pôs sobre a mesa.

— O apontador?...

— Me roubaram.

— Dá uma faca afiada ou uma gilete.

Depois de fazer a ponta no pedaço de lápis, o soldado pôs na mão do menino. Cléber observava curioso. Achava que nada sairia dali. De fato, Gaspar não se ajeitava para pegar o lápis adequadamente. A muito custo, Antunes colocou o apetrecho em sua mão e pediu para fazer uma bolinha. Não saiu nada que pudesse parecer com um círculo. O menino não conseguia fechar o traço, subindo e descendo a mão, descontroladamente.

— Pois aí está. É isso mesmo. A cabeça é boa mas a mão não obedece. É preciso consultar um médico especialista. A senhora vai fazer isso o quanto antes.

— Mas, Seu Antunes, o senhor não sabe que não temos recursos?

— Vão até o posto de saúde e contem o que se passa. Eles saberão o que fazer. Em todo caso, a professora tem de ser informada sobre a facilidade que o menino tem de leitura. Se a senhora não está disposta...

— Não é bem isso. As meninas não podem ficar sozinhas. Quem levava o pequeno à escola era o Cléber...

— Já entendi. É bem mais fácil deixar o retardado em casa, fazendo os serviços para o que está preso na cama. A escola não é longe.

— Ele pode ir sozinho.

— E quem conta à professora o que se passa? O seu marido, a que horas pega no batente?

— Ele sai muito cedo.

— Então, deixa comigo. Segunda-feira, ele vai estar no portão da escola meia hora antes da entrada. A que horas começam as aulas?

— Às sete.

— Pois às seis e meia estarei lá pra encaminhá-lo à professora. Por favor, arrume um lápis mais decente, um caderno novo e ponha uma roupa limpa no menino.

— Eu não quero ir...

— Como não quer ir?

— A professora não gosta de mim.

— Ela vai aprender a gostar e os teus colegas vão ter de respeitar a tua inteligência. Isso eu prometo, porque vou lá falar com eles todos. E se a diretora... Deixa pra lá. Vocês vão ver que tudo vai dar certo.

Cléber arriscou um palpite:

— O pessoal da escola me conhece. É só falar que eu quebro a cara de quem mexer com ele...

— Você quer dar uma de valentão e não pode nem se mexer na cama. Quero saber se fez as lições que eu trouxe e se leu os pontos que eu vou tomar agora.

— Não deu pra ler nada. A sala é muito escura. Minha mãe não quer acender a luz de dia...

— E a televisão, ficou desligada?

Antunes não via boa vontade em nada. Havia pesquisado na escola se havia alguém que quisesse levar as matérias para a recuperação do fujão, entretanto, os colegas mais chegados eram tão malandros quanto ele. Os bons não se estimularam a ajudar. As professoras também não quiseram contribuir. Uma delas, a de Português, marcou umas páginas no livro e escreveu uns temas para redações. E foi só. A de Matemática não achou como ensinar a distância o que o menino se recusava a aprender dentro da sala. Os demais fizeram comentários desabonadores, demonstrando que estavam bem aliviados com a saída do mandrião.

À vista da má vontade dos docentes e dos colegas, Antunes arrumou os livros e determinou o que deveria ser estudado. Mas, sábado atrás de sábado, não lograva fazer o jovem interessar-se pelas matérias. Notou que o menino era esperto e não apresentava deficiência orgânica que prejudicasse os estudos. Se tivesse problemas de visão ou de audição, poderia dar um jeito. Rebeldia por rebeldia, contudo, era muito mais difícil de contornar.

Enfim, só o fato de evitar que o pai o surrasse já era o bastante e isso o seu discernimento de espírita podia compreender à perfeição. Com a descoberta da inteligência do mais novo, então, seu contentamento redobrava.

“Vamos ver agora o que será possível fazer junto à professora.”

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