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Artigos-->WAGNER E NIETZSCHE - A POLÊMICA CONTINUA! - Parte IV -- 01/03/2002 - 19:47 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WAGNER E NIETZSCHE - A POLÊMICA CONTINUA

J.B.Xavier





PARTE IV



No capítulo anterior vimos que a polivalência do talento de Richard Wagner dificulta a classificação de seu gênio. Neste, veremos como se formou esse caleidoscópio de talentos e como Nietzsche tentou esfacelá-lo.



Para que se tenha uma idéia da originalidade do talento de Wagner, lembro que o gigante da ópera alemã não conseguia escrever música operística sobre libretos de outrem, sendo necessário que ele mesmo os escrevesse. Não poderia ter feito coisa mais certa, pois seus enredos sobre a mitologia alemã são simplesmente de tirar o fôlego!



Admirador de Weber, Mozart e Beethoven, o jovem Wagner, que procedia de uma família de comediantes, e que por força da própria profissão, levava uma vida aventurosa, cedo percebeu que a Alemanha não tinha uma linguagem musical teatral própria, e que, o que existia, era o modelo italiano, como aliás, no resto da Europa.



O que Wagner fez pela ópera alemã só encontra paralelo no que fez Verdi pela italiana. Entretanto, é preciso que se compreenda que a mesocracia da época, tinha na ópera seu porta voz, o que faria com que esse gênero musical adquirisse uma forte influência nacionalista.



Se Meyerbier, que com sua pompa fazia a “Grand’ópera” denuncia a decadência da França, Wagner, a exemplo de Verdi, pretendia criar a ópera alemã com sentimento alemão! Queria que ela fosse sentida, compreendida e degustada pelo povo alemão, e os exemplos disso são TRISTÃO E ISOLDA, LOHENGRIN e OS MESTRES CANTORES.



É necessário, portanto, que se visualize Wagner em seu tempo, e, de lá, olhar para o futuro, séculos à frente! Mas isso é coisa difícil de fazer, devido à extemporaneidade de sua obra. É preciso vê-lo num contato estreito com o teatro, com o palco, e vivendo um nacionalismo exaltado. Se não for assim, a ótica fica distorcida e será ainda mais difícil entender sua personalidade.



Aí reside dois dos mais freqüentes erros cometidos pelos analistas wagnerianos: Ou eles tentam pensar Wagner aprisionando-o em seu tempo, ou tentam pensa-lo com o raciocínio moderno e atual.



Nenhum dos dois procedimentos abrange Wagner completamente, porque em muitos aspectos, sua maneira de pensar ainda está no futuro, mesmo para nós, passageiros do século XXI, que estamos prestes a pousar em marte!



O palco emprestou a Wagner seus modos histriônicos, e sua linguagem e talentos incomodavam a todos quantos se sentissem ensombrecidos por sua figura. As críticas desciam a pormenores acabrunhantes:



Não era Wagner aquele músico coberto de dívidas, que a todos pedia ajuda, sem que pudesse ao menos apresentar as garantias de rendimentos regulares? Não era esse mesmo pedinte que aparentava um “status” que nunca possuíra, e que tinha o guarda-roupas lotado com mais de vinte roupões de seda?



Era esse mesmo, sim senhores! E mais! Quando pedia à sua criada os tecidos, faixas e perfumes que costumeiramente usava, portava-os com todo o luxo dos pormenores.



Richard Wagner sentia-se chamado para uma missão titânica. Modificar, ou ainda, instituir uma nova ordem de valores no teatro musical alemão! Por essa ousadia, foi acusado por Nietzsche – e ainda o é atualmente pelos críticos musicais de plantão – de introduzir em sua obra, muito do seu cotidiano. Nietzsche, no limite da acidez contra Wagner, disse que ele fazia, em suas criações, um espelho de si mesmo.



Por uma questão de compromisso com a verdade, é preciso que se diga que a própria vida de Wagner foi uma constante representação. Seus valores morais foram moldados pelos valores morais volúveis do teatro, e, graças à sua fidelidade aos seus ideais, é-nos possível hoje, ouvir os maravilhosos acordes de sua música acrobática.



Um dos maiores “crimes” de Wagner, foi, como Beethoven - aliás, inspirado nele – nunca ter se rendido à “tirania” branca dos ricos senhores que haviam enclausurado a criatividade portentosa de outros gigantes da música, como Mozart, Haydn ou Bach. Só Deus sabe o que outras maravilhosas músicas desses criadores estaríamos ouvindo hoje, se esses senhores “benevolentes” tivessem deixado fluir o rio da criação desses músicos monumentais.



Mas esses mecenas, em troca da segurança financeira que esses compositores buscavam e precisavam, fê-los criar obras que nada tinham a ver com suas naturezas. Violentaram a força criadora desses grandes mestres, fazendo-os dedicar-lhes os frutos de seu gênio.



Wagner, nesse quesito – a liberdade de criação – foi muito além de Beethoven, que já havia ousado bastante - e abominou a aristocracia, e as vaidades do alto clero, quando estes tentavam interferir em seu trabalho. Agradava-o mais os gigantes da interpretação, Lizt e Paganini. Ambos foram os maiores intérpretes que o mundo já conheceu, em seus instrumentos, respectivamente, piano e violino. Admirava-os por terem conseguido libertar-se da escravidão das algemas sociais.



Wagner antecipou a figura do “rebelde com causa”. Obviamente tal rebeldia na música, tão repentinamente apresentada à sociedade, tomou-a de assalto, e só viria a se repetir um século mais tarde, com o advento do Rock’Rol. Depois dele, a música nunca mais seria a mesma, e talvez tenha sido ele a raiz do surgimento da música enigmática de Stravinsky e outros compositores modernos.



Para Nietzsche, tal mudança nos rumos da cultura alemã não poderia passar em brancas nuvens. Era intolerável que apenas um homem, no espaço de uma vida apenas, ousasse tal feito!



Já Wagner, por ter plena consciência de que não era um instrumentista excepcional, decidiu vencer pela composição, mas isso já é assunto para o próximo capítulo.



Até lá!!

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