Plana no escárnio, com asas e garras abertas,
Sobre o mar petrificado, plúmbeo, da vida que sou.
Rapineira, aguça os olhos e verga o dorso,
Para num bote tragar o que por aqui sobrou.
Verga o tempo, vagando no escárnio,
Com impulsão nas asas da mentira e do ultraje,
Esganiçando ao vento, uma após outra, miragens dementes.
E como o corvo, saltita de cadáver em cadáver,
Atacando com o furor da maldição que constrange.
Vaga no escárnio, rapinando, sentimentos aguçados.
E o que vê nascer do excremento – e o que ele vomita – é como a lança que ao guerreiro excita.
No vôo que rasga o vento,
Bicarra pavorosamente aberta,
Arranca os olhos, que do alto disparam
Para o encontro do solo.
Plana no escárnio.
Rega a mentira.
Cultiva a rapina,
Vergando o tempo
Até o próximo
Surgir no excremento.
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