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Artigos-->CINCO VOZES EXEMPLARES -- 27/02/2002 - 23:56 (José Inácio Vieira de Melo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CINCO VOZES EXEMPLARES





José Inácio Vieira de Melo*







A poesia contemporânea produzida em Alagoas – como em todo país – é marcada pela diversidade, pelo individualismo. Cada poeta buscando seu estilo, aperfeiçoando sua voz, mas sem deixar de comungar do bem maior: a beleza. É dentro desse ambiente diverso que a antologia "Artesanias da palavra" (GrafMarques, 2001) reúne cinco dos mais significativos poetas alagoanos da atualidade: Arriete Vilela, Gonzaga Leão, José Geraldo W. Marques, Otávio Cabral e Sidney Wanderley.

Na avaliação de Gerana Damulakis, crítica literária responsável pelo prefácio da obra em questão, os poetas participantes “São vozes que têm em comum o alcance de um mesmo nível; nada mais”. Mais adiante complementa: “A maturidade da vivência poética une-os e pesa bastante. Mas o conjunto não tem a intenção de generalizar o canto; eles não almejam um rótulo comum, (...). São cinco vozes exemplares, dada a exímia forma com a qual fazem poesia.”





"Artesanias da palavra" inicia com os poemas de Arriete Vilela, poetisa nascida em Marechal Deodoro, em 1949. Membro da Academia Alagoana de Letras publicou livros de contos e poemas, sendo Para além do avesso da corda (1980) a sua estréia. Fantasia e avesso, já na quarta edição, foi adotado, por três anos, no vestibular da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Fica logo evidenciada a presença da infância em seus versos, tanto como reminiscência: “Na infância, eu gostava de observar a avó fazendo renda na almofada de bilros.”, como, também, na construção lírico-amorosa: “Ah, as tentações chegam com ares de uma infância/ que embarcou no trem, diante dos teus olhos desatentos,”.

Na poesia de Arriete Vilela as palavras têm cheiro de pitanga, como no poema “Tua palavra”: “Tua palavra de pitanga madura,/ lua vermelha esmagada em minha mão,/ mesclou de amargos amores o legítimo/ linho branco em que mãe, avó e bisavó bordaram/ um fatídico destino poético”.





Gonzaga Leão é o segundo poeta da coletânea. Nasceu em União dos Palmares, em 1929, e estreou com A rosa acontecida (1955); Casa somente canto/Casa somente palavra (1995) é o seu último livro publicado. Participou da antologia 14 poetas alagoanos (Org. Valdemar Cavalcanti – 1974) e tem alguns livros inéditos, dentre eles O sonho e seus objetos e Vôo quase pássaro.

Gonzaga Leão apresenta, nos seus poemas – quase todos sonetos – o apuro técnico, o primor da forma. Em boa parte das composições a temática explorada é o mar: o mar como mote para os devaneios, para os vôos desse poeta quase pássaro. Encerra a sua participação com o exemplar soneto “Sonho marítimo 3”, em que canta: “Estamos sós. Levíssimos. Parados/ no tempo. A noite é plana. O céu um lago/ vítreo de peixes límpidos e estáticos.// E esquecidos sonhamos. Demorados/ na presença do mar paralisado/ nas ondas sem rumor dos teus abraços.”





José Geraldo W. Marques nasceu em Santana do Ipanema, em 1946. Publicou três livros de poemas: Os Luisíadas (1972), Não sei quantas vezes adeus (1974) e Cactos temporários (1999), sendo esse último adotado no vestibular da UFAL. Os poemas presentes em Artesanias da palavra foram escritos durante o período em que foi Professor Visitante da Universidade de Évora, Portugal, em 1999.

José Geraldo parece um Pero Vaz de Caminha às avessas. É a partir de sua chegada a Portugal que inaugura a tessitura de suas missivas poéticas, dando notícias de si e do Quinto Império ao monarca distante; o primeiro poema esclarece o que foi dito: “Poderia dizer-vos que o tempo está lindo (bem o conheceis): azul é o vento que enruga (e enxuga) esta manhã de mágoas e máguas. (...) Por enquanto, escrevo esta carta e guardo-a – na gaveta da minh’alma. Talvez um dia...”

Sua poesia é caracterizada por engenhosidade e poder de reconstrução, o poema “cantiga para ninar joão maurício (com elementos emprestados de pessoa, baudelaire e paco ibañez)” é um claro exemplo: “...farei versos cor-de-roça/ para iluminar-te o destino/ de lírios dálias e trigos!”





Na seqüência, aparece Otávio Cabral, que nasceu em Pilar, em 1948. Ator e Professor de Literatura Dramática na UFAL tem vários livros publicados, dentre eles O negro e a construção do carnaval no Nordeste (Org. com Luiz Sávio de Almeida e Zezito Araújo – 1996) e O trágico e o épico pelas veredas da modernidade (2000). Estreou na poesia com Concerto em dor maior para choro e orquestra (2000).

Os poemas escolhidos por Otávio Cabral deixam patente a sintonia temática e a admiração que nutre pelo poeta João Cabral de Melo Neto. Logo no primeiro poema, intitulado “Manhã” – dedicado a Sidney Wanderley – traz a questão social: “De que serve o poema ao homem/ Se lhe sobra a palavra fome/ E lhe falta a palavra vida?”; na parte final, do citado poema, apresenta um parêntese com uma intertextualização de “Tecendo a manhã”, do poeta pernambucano, e conclui: “Para lembrar a esse homem/ como se inventa a manhã”.





O poeta Sidney Wanderley, nascido em Viçosa, em 1958, é quem encerra a coletânea. A sua estréia se deu com Poemas Post-Húmus (1991), em seguida publicou Nesta calçada (1995), Quisera ter a beleza que (1997), Na pele do lago (1999) e Desde Sempre (2000). Foi, ao lado de Fernando Sérgio Lyra, idealizador e coordenador da coleção “Viventes das Alagoas”, que publicou poetas como Jorge Cooper e Antonio Aurélio de Morais.

Apesar de ser o mais novo, dentre os poetas que compõem o livro, tem uma poesia marcante, tanto por sua densidade e poder de síntese, quanto pelo humor e pela ironia. Em poemas como “A velha”, percebe-se sua maestria: “Com suas mãos nodosas e crispadas/ pelas dores da artrite malfazeja,/ ela colhe, uma a uma, as torradas/ coloridas do sol tênue da manteiga./ E após ter sua fome atenuada,/ remigra para dentro de si mesma.”

Alguns dos poemas são hai-kais, e têm uma sutileza singular, a exemplo de “Cacos”: “Não o mundo que se espatifou./ Apenas a criança que o mira/ através da vidraça trincada.” Sidney Wanderley termina a antologia com o sugestivo “Poema número último” em que exprime o seu desejo de poeta: “Aspiro a criar um deus que crie um mundo/ onde o silêncio, menos que uma palavra,/ seja a única atitude imaginada.”





Conforme afirma Affonso Romano de Sant’Anna na orelha de Desde sempre, de Sidney Wanderley, afirmação que pode ser estendida aos demais participantes dessa obra poética: “É uma alegria perceber que a poesia se revigora fora desse eixo Rio-São Paulo, que promove nomes balofos e não dá espaço a valores maiores como é o seu caso.”

"Artesanias da palavra" cumpre, portanto, a sua função, que é a de revelar um panorama da poesia que tem sido produzida em Alagoas. Poesia essa que não deixa a desejar e que impõe sua presença, por sua qualidade e diversidade, entre o que há de melhor no gênero.







*José Inácio Vieira de Melo é poeta, autor dos livros Códigos do silêncio (2000) e Decifração de abismos (no prelo).

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