Aceso no almo ardor, que a mente inflama,
(de frio tremente, agora um leve manto)
Vivo de Amor, de Amor suspiro e canto
(qual bela rosa seu perfume emana)
Na face agora o riso, agora o pranto,
(vezes caminho e só paro na cama)
De árvore tua, oh Febo, eu cinjo a rama
(que foi armada e posta para o santo)
Prego a doce moral, na voz da fama,
(e ter no céu lugar que me garanto)
Meu nome pouco a pouco aos céus levanto,
(ter sofrimento como quem só ama)
Mas a turba vil que abato, anseio e espanto,
(torne feliz meu viver sacrossanto)
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Urde em meu dano abominável trama
(aquele instante feito de verdade)
Réu me delata de hórrida maldade
(e o povaréu que nas ruas me aclama)
Projecta aniquilar-me o bando rude
(e forte fico com maturidade)
Envolto na letéia escuridade
(posto a ventura que e mim não se alude)
Que falsa idéia, oh zoilos, vos ilude?
(cheios de mal, mostando uma bondade)
Furtai-me a paz? Furtai-me a liberdade?
(e fica em mim como solicitude)
Fica-me a glória, fica-me a virtude.
(busca incansável atrás da igualdade)
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