O mar como a poesia não é para ser explicado mas...
Descalcei meu tamanquinho e pisei devagar na areia, com o cuidado necessário, afinal quem poderia me garantir que eu não 'estava pisando nos meus sonhos'?
Sentir a massagem da areia nos pés descalços é a mesma sensação que tenho no momento em que a tua mão na minha pele fica de um jeito macio, ainda não em frenesi, mas já ultrapassando o limiar do tímido delicado.
É um pequeno antegozo.
E eu nesse encontro único, começo a travar diálogos com o mar:
-Querido em vi tuas ondas com as cristas douradas noutro dia, porque hoje você está tão cor de prata?
-É o sol, responde-me ele, quase com desdém.
-O sol?
- Então agora porque te vejo verde esmeralda?
-É quando brinco de apaixonado, me responde ele.
Vou ficando seduzida pelas ondas e suas mutações.
Invento um balé desajeitado.
Mas as ondas me carregam suaves como que em braços de anjos, perco o pé e fico leve. Já sei bailar.
No momento exato me entrego ao mar.
'Me cobre de sal e orgasmo.
Me leva de volta. Possua meus sonhos e meu corpo.
Me cubra a cabeça, me encha de beijos que são de ninguém, mas agora são meus.
Me encha as narinas, os ouvidos os olhos do teu gozo sem fim de se desmanchar eternamente na areia e depois me engana que a sua espuma branca renasceu e virou outra onda:
Nova e amante!
No meu retorno, deito na areia, cochilo o sono bom do depois do amor, ouvindo canções do fundo, bem fundo do oceano.
Acordo, calço os tamancos e piso na vida.