TRATADO SOBRE A HARMONIA
Do livro “MITRA” de J.B.Xavier
Um dia você aprenderá que a paz e o conflito são faces da mesma moeda. Uma se nutre da outra; uma não existe sem a outra. Qualquer uma que viesse a ser soberana, desequilibraria a natureza do universo, que ao contrário do que sua doutrina prega, não é regida pelo uno, mas pelo dual. A paz interior que você sente, não é,como você pensa, a chegada ao fim da linha da compreensão universal, isto é, ao Absoluto. Sua visita a este território apaziguado é sua chegada à zona intermediária entre a paz e o conflito, o que os místicos costumam chamar de 'Ponto Zero'. o 'lugar da não-ação', a 'Quietude Universal' a 'Quietude perpétua', o 'Ponto Neutro', ou, como dizem os budistas, o Nirvana, que em sânscrito significava 'A extinção da Chama Vital.'
Entretanto, todas as escolas esotéricas ou exotéricas, cabalísticas, místicas ou de mistérios, científicas ou tântricas concordam que o conflito e a paz seguem paralelas, e como na geometria, um dia elas se encontram no Absoluto, que por sua vez, tal como na definição geométrica, encontra-se no infinito e não pode jamais ser alcançado ou mesmo visualizado. Elas concordam que o Universo nasce do Uno, mas é governado pelas duas forças basais que nele se originam: a Paz e o Conflito. Então A sapiência do Absoluto por ter encontrado a harmonia do universo através deste artifício simples - a contraposição dessas duas forças basais, - é, por si só, encantadoramente sedutora, pois que, colocando as coisas umas em relação às outras, ele deixa que a depuração entre elas aconteça de maneira natural e auto-reguladora. Como para o Absoluto, o tempo não existe - aliás, sequer existe para os humanos, pois ele não passa de uma abstração inventada pelo engenho humano para regular os ciclos de suas vidas - essa auto-regulação tem ao seu dispor toda a eternidade. Não a eternidade fluídica que nos acostumamos a formatar em nossas limitadas mentes, imaginando-a fluindo do passado para o futuro infindavelmente, mas a eternidade do não-estar, a eternidade do apenas-ser. Para além dessas duas forças, presentes em todas as manifestações do universo - do micro ao macrocosmo - não nos é dado ver. Seria ridículo, se não fosse patético, uma tentativa humana de escapar ao efeito dessas duas forças, pois se não estamos sob o efeito de uma, estaremos necessariamente sob o efeito da outra. O estado de não-paz e não-conflito simultâneos - o ponto zero - a que me referi há pouco, não é gerador de ação, portanto ele é um início e um fim em si mesmo. Ele não se modifica e não modifica nada. Ele apenas é! Mais patético ainda é a pretensão humana não só de chegar ao Absoluto, mas também de alterar nele a emissão dessas duas forças basais, ou seja, de alterar a própria natureza do Absouto. Devido aos defeitos congênitos de nossa própria natureza humana, chamamos de evolução a algumas capacidades que desenvolvemos mais que outras espécies de vida orgânica, e nos colocamos alguns degraus evolutivos acima delas, numa escala de evolução inventada por nós próprios. Então, à primeira vista, nós, os humanos, apesar da evolução a que nos atribuímos - ou por causa dela - estamos desorganizando a natureza das coisas, espalhando o caos e caminhando celeremente para a extinção da própria vida. Tão ingenuamente como uma criança de tenros anos, seguimos mentindo para nós mesmos, impacientes e ansiosos por vermos os fins dos ciclos que modificam comportamentos e redirecionam nossa insanidade, tornado-nos menos mortíferos para nós mesmos! Pobre vaidade humana, travestida de ensinamentos milenares, pseudo-ciências e poderes voláteis - eufemismos que utilizamos através dos milênios para abrandar um pouco nossa insana necessidade de nos sentirmos deuses!
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