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Ensaios-->25. PEDRO NEGA JESUS -- 03/03/2004 - 06:42 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Logo após ter sido o Mestre levado preso, Pedro ficou por perto para conhecer o resultado do julgamento, pronto para acolher de volta o Cristo libertado. Antes, porém, que o galo cantasse pela segunda vez, conforme nos relata Marcos, o principal dentre os apóstolos negou conhecer o Mestre por três vezes:

E logo cantou o galo pela segunda vez. Então Pedro se lembrou que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, você me negará três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar. (Mc., 14:72.)

Problema fácil de resolver é a configuração da previsão realizada por Jesus. Conheceria ele o futuro para poder, com tanta precisão, vaticinar o acontecimento? Não precisaria de tal poder divinatório. Jesus, em sua missão sagrada da salvação da humanidade, não estava, evidentemente, só. Havia imensa legião de espíritos superiores a ampará-lo, segundo as ordens do Pai. Diante de Pedro, arrogante e pretensioso ao tempo de sua inexperiência de doutrinador, Cristo deslumbrou ensejo de ensinamento oportuno. Foi, então, que deu a entender que conhecia os eventos futuros, prognosticando os atos da negação.

O que ocorreu, na realidade, foi o amparo das forças espirituais que o acompanhavam, que açodaram a mulher, por via intuitiva, despertando-a para a acusação do apóstolo nas circunstâncias conhecidas. O mesmo se deu mais duas vezes e eis que o galo cantou para lembrar à consciência culpada as palavras do Mestre. Fazer o galo cantar não foi preciso, pois a natureza deu curso a sua ação. A que foi preciso atentar foi ao tempo em que as atitudes se desencadeariam, para dar a evidência necessária para que Pedro acreditasse que Jesus estivesse investido de superiores dotes espirituais.

Teria Pedro percebido a verdade da situação em que se viu envolvido ou, simplesmente, acreditou Jesus capacitado para ler o futuro do destino dos homens? Agora isto não nos importa, realmente, porque sabemos que edificou, como havia prenunciado o Senhor, a igreja do amor e do sacrifício, pela lealdade levada às últimas conseqüências.

Ao despertar para as verdadeiras intuições do Mestre, chorando copiosamente, conforme o relato evangélico, teria Pedro compreendido que a negação ao testemunho estava embutida na promessa que fizera de prosseguir com o roteiro de ensinamentos, de acordo com a solicitação que recebera do divino Pastor? Teria sido por isso que não se deixou envolver no processo movido contra Jesus, evitando, por conseguinte, que fosse transformado em veículo de acusação ou, ao invés disso, em cúmplice e, portanto, companheiro na execução da pena de morte?

Estas excogitações, nesta altura de nossa civilização tão eivada de tecnologias e de mecanismos eletrônicos, era de computadores, de mísseis teleguiados, de ódios e de fome como nunca dantes se viram, podem repercutir na mente de desavisado leitor como extemporâneas e susceptíveis de críticas. Mas que outros roteiros poderemos sugerir às humanas criaturas, para sua devida e organizada evolução rumo ao bem eterno, senão o de perscrutar as razões íntimas que levam ao conhecimento da alma e os intrincados relacionamentos com o etéreo que conduzem à apreensão do conhecimento do universo, da vida e da existência? Todas as preocupações humanas que citamos estão relacionadas ao campo da matéria, mas, se formos capazes de bem entender o nosso espírito, teremos surpreendentes soluções para todos os problemas.

Pedro estava envolto por espessa aura de ignorância, de medo, de preocupações pueris diante de suas responsabilidades. Precisava Jesus, finalmente, demonstrar-lhe conhecimento íntimo do refolho mais escondido de sua personalidade. A revelação se deu por via da projeção no futuro de atitude absolutamente previsível diante dos fatores da personalidade à mostra para a acuidade mental do Senhor. Nem precisou do amparo dos amigos da espiritualidade para entender os conflitos que agitavam a alma a Pedro. Desencadeou, então, pelo meio revelado nos Evangelhos, suas reações psicológicas à vista da conflagração cármica estabelecida em âmbito cerebral, onde o conhecimento do próprio procedimento, sob o amparo das reações emotivas fundamentadas no reconhecimento da verdade, da fé, da confiança, se aliaram para erguer a muralha da esperança de dignificar o depósito das responsabilidades que lhe foram atribuídas. Assim se deu o entrechoque das diversas disposições mentais para a conseqüência que todos conhecemos da superior deliberação de cumprir os desígnios do Senhor.

Ficaria a dissertação incompleta se não lembrássemos ao caro leitor a necessidade de se colocar agora na condição de apóstolo na expectativa de ouvir o galo cantar. Não vamos estender-nos demoradamente na pregação de que todos devamos testemunhar em favor do Cristo, pois só a Pedro é que se permitiu negá-lo, à vista do risco de se perderem as disposições evangélicas de que se encarregara. Quanto a nós, diante da única missão de salvar nossas pobres almas, não poderemos jamais furtar-nos ao compromisso cármico de aquisição das virtudes excelsas do evangelho de Jesus, tudo realizando antes que, simbolicamente, o galo cante ao dealbar de novo dia espiritual, às vésperas de nossa morte. Façamos, desde já, de tudo para cumprir os desígnios da espiritualidade superior para a presente encarnação, para o que devemos prosseguir em nossa leitura atenta dos textos sagrados das Escrituras, no sentido, sempre e sempre, de descobrir a intenção última de cada trecho.

É para essa interpretação que estamos tentando contribuir. Como gostaríamos de obter sucesso!



Aproveitando o ensejo deste discurso a respeito do apóstolo Pedro, queremos registrar oportuno esclarecimento a respeito de tópico de “Marcos” relativo ao aprisionamento do Cristo. Leiamos a passagem:

Nisto um dos circunstantes, sacando da espada, feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha. (Mc., 14:47.)

Dentre os evangelistas, somente João afirma ter sido Simão Pedro o autor da agressão (Jo., 18:10) e somente Lucas assegura que Jesus curou a ferida (Lc., 22:51).

Como interpretaria o caro leitor essa momentânea revolta de um dos parceiros do Senhor? Teria razão em ter sacado da arma para atingir ao enviado do sumo sacerdote, portanto, a alguém que meramente cumpria determinação legal? Não teria ficado exposto às forças policiais aquele que tão afoitamente agiu? Como teria sido a reação do policial hoje, diante do ato de violência, a ponto de se cortar ao coitado a orelha direita? Acredita com Lucas que Jesus tenha pensado a ferida, em demonstração inequívoca de superior poder de cura mediúnica ou pode o Mestre ter somente executado simples curativo?

E quanto ao fato de ter sido atribuída a ação a Pedro tão-só por João, como o digno leitor interpreta o silêncio dos demais evangelistas? Teriam conhecido por tradição que houve luta, havendo resumido a contenda em simples atitude de desagravo? Se tivesse sido realmente Pedro o autor do impensado gesto, não teria ficado marcado e, portanto, mais facilmente reconhecível para o testemunho que se lhe pediu na madrugada daquele mesmo dia? Não se pode vislumbrar aí certo indício de inverossimilhança?

Este é um dos acontecimentos bíblicos que vão permanecer envoltos em mistério, pois não há real interesse em se descobrirem as circunstâncias da prisão do Messias. Fato relevante no episódio é a afirmação que todos registram, quer na forma de comentário do autor, quer por via de reprodução de fala de Jesus, de que, sem a prisão, o martírio não se daria e as Escrituras não se cumpririam. Eis o trecho:

Disse-lhes Jesus: Saíram vocês com espadas e cacetes para prender-me, como a um salteador? Todos os dias eu estava com vocês no templo, ensinando, e não me prenderam; contudo, é para que se cumpram as Escrituras.

Então, deixando-o, todos fugiram. (Mc., 14:48-50.)

Inicialmente, ressalte-se a covardia que invadiu os ânimos dos amigos em contraste com a serenidade do Senhor diante de seu destino. Tire daí o amigo leitor as conseqüências que quiser, principalmente relativas à insegurança dos sentimentos de que estavam possuídos os primeiros seguidores, à hora em que a revelação ainda não se concluíra. Vejam-se, bem ainda, as incertezas concernentes às verdades reveladas pelo Senhor mas não argamassadas com as luzes do conhecimento da plenitude do evangelho. Que contraste com o denodo e o desassombrado procedimento dos mártires dos séculos seguintes!

Mas voltemos à necessidade do aprisionamento para que se desse curso aos prognósticos bíblicos. Teria Jesus realmente afirmado que se cumpririam as Escrituras? Não poderia ter ocorrido inserção do trecho, à vista da necessidade de fazer crer aos leitores que Jesus era a real personificação do prometido Messias? Que garantias podemos ter da evidência da verdade, quando sabemos que todos os evangelistas podem ter-se inspirado em relatos tendenciosos, acrescentando-os às sagradas intuições que lhes chegavam da parte dos espíritos de luz?

Como se pode notar, quando o assunto não tem verdadeiro valor em si, transformamos a dissertação em apanhado de perguntas e remetemos o leitor à decifração dos mistérios. Para nós, a simples observação das palavras do Senhor ao longo de sua peregrinação e a configuração das verdades morais e espirituais nelas contidas são suficientes para acreditarmos que Jesus realmente nos deu a chamada segunda revelação, tendo anunciado, inclusive, o advento do Espírito de Verdade e, com ele, o Consolador. Minúcias como a que acima ocupou o nosso tempo podem perfeitamente representar perda de oportunidades de reflexões a respeito de temas mais importantes.



Cotejando esta segunda parte da dissertação com a primeira, cremos, terá o leitor a oportunidade de bem discernir o nosso intento de demonstrar como se deve efetuar a leitura e o que se deve rejeitar do texto sagrado. Em suma, o que representa o acidental, o acessório, o secundário, o circunstancial, deve, eventualmente, ocupar o espírito do leitor para despertar-lhe a sagacidade em perceber a natureza do relato. Ao contrário, o que for essencial, fundamental, básico, central, deve constituir-se em elemento para o qual dediquemos o melhor de nosso esforço de concentração, o que nos ensejará a possibilidade do superior conhecimento da verdade. Contudo, mesmo assim, há necessidade de desenvolvimento da acima referida acuidade mental, de modo que sejamos capazes de bem interpretar os textos, facilitando-nos a aceitação dos princípios do kardecismo, com os quais deveremos estar bem familiarizados para penetração a fundo no conhecimento evangélico.

Oremos para que todos sejamos capazes dessa proeza.

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