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Ensaios-->10. NA HORA DA MORTE -- 17/02/2004 - 07:00 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Jesus estava pregado à cruz. Sabia que nada mais obteria da vida para si. Estertorava. Os seus algozes lhe administraram com esponja um tanto de vinagre. E expirou. Naquele instante supremo, elevou o pensamento aos Céus e pediu ao Pai perdão para os humanos, pois, segundo ele, não sabiam o que faziam.

Em Ezequiel (18:1-32), lemos as responsabilidades dos seres humanos, aliás pessoais e intransferíveis, mesmo que de pai para filho ou vice-versa.

Era justo julgar os judeus, que o acusaram e que obrigaram os romanos a executarem-no segundo as bases hebraicas do direito, como ignorantes de seus deveres, isentos de culpa, inocentes perante Deus e os homens, na medida em que Jesus dizia não saberem o que estavam fazendo? Derrogar a responsabilidade de quem leva alguém ao patíbulo, à forca, ao cutelo, à guilhotina, à cadeira elétrica, à câmara de gás ou ao pelotão de fuzilamento, é certo, quando o que se faz se escuda em aparato legal organizado, de acordo com os preceitos estatuídos e aprovados pela população?

Onde ficaram as ordenações contidas nos ensinos de Ezequiel e dos demais organizadores dos direitos e deveres do povo de Israel? Que raiva pessoal contra o Senhor foi alimentada na alma do povo, para que clamasse pela destruição da figura do Mestre, como se inimigo fora e não um dos que nasceram sob as marcas do judaísmo pátrio e religioso? De que males era ele possuidor que pudesse oferecer perigo à estabilidade da nação hebréia?

Na lei mosaica inscrevera-se: “Vocês não matarão”, não tirarão a vida ao homem ou a seus descendentes, sem que seja por legítima defesa. Que alegação houve para se culminar com a morte de Jesus no topo humilhante da cruz, ao lado de ladrões, estes sim perniciosos à sociedade, mas igualmente preserváveis pela lei do decálogo mosaico?

Os homens de então estavam convencidos de que o Senhor vinha para derrogar a lei, embora tivesse afirmado o contrário. Quem fora capaz de ouvir a palavra do Messias, perdida em confusão de idéias falaciosas a respeito de transcendentais perigos de destruição do templo e de reconstrução em três dias?! Como se dava crédito ao que se dizia a respeito dos poderes miraculosos de Jesus, uma vez que corria que era capaz de curar os doentes e de levantar os mortos de suas sepulturas, estabeleceu-se o pânico entre a multidão, atribuindo-lhe outros fabulosos poderes de destruição e de reerguimento, em bases novas, da civilização judaica.

Temia-se pela propriedade, pela religião, pelo povo, como se o homem de Nazaré pudesse, com um pugilato de galileus, promover sedição tal que desalojaria os judeus do poder e afastaria até os romanos para plagas distantes, instalando-se nova diretriz governamental que tornaria o povo escravo e incendiaria o poderoso invasor de ódio e sentimento de vingança. Dizia-se que, por Jesus querer enfrentar a vida e a morte, levaria toda a população ao desbaratamento completo do que ainda lhe restava e que não fora confiscado pelos representantes do imperador romano.

Mal equilibrados nessa instável balança política, não tendo segurança quanto ao que se podia esperar do invasor, o povo acreditou estar em perigo e não titubeou em eliminar esse temor, executando aquele que lhe parecia factível de ser destruído.

Que se devesse enfrentar o mal externo era suficiente para ocupar a mente dos que se mantinham no poder, à custa de muita concessão e de muita perversão moral. Conta-se que os pais ofereciam as filhas e filhos espontaneamente, para preservarem parte das propriedades. Por que não sacrificariam um ser estranho, que lhes invectivava os vícios, que os instigava para a morigeração, que os induzia ao respeito ao poder do inimigo, dizendo-lhes que Deus oferecia muitas moradas aos filhos, temerosos de terem de desalojar-se daquelas em que habitavam?!

Jesus era-lhes um estranho que vinha dizendo coisas espantosas a respeito da vida e da morte. Enquanto milagreiro e benfeitor do povo, era admitido. Como reformador dos hábitos e das leis, era o perigo em potencial. Não invadira, à chegada a Jerusalém, o templo e de lá não expulsara os vendilhões, em nome de um deus desconhecido, a que chamava de seu pai?!

Eis caracterizado o espírito que obrigou Jesus a entregar-se aos soldados romanos e que assustou tanto aos discípulos que estes se espalharam, temendo pela própria sorte. Jesus se viu sozinho, ao desamparo de todos, mas protegido pelo Pai. Daí sua força moral para pedir a ele que perdoasse o povo, porque, dizia, “não sabiam o que faziam”.

Do ponto de vista material, realmente, podemos perceber que o Filho do homem não tivera tido oportunidade de estender as suas idéias junto à população hierosolimita, embora na cidade se concentrasse, à época das festividades pascais, multidão de estrangeiros, muitos dos quais inteiramente alheios à pessoa de Jesus, de quem, no máximo, tinham ouvido falar pela momentosa ocorrência de sua perseguição e julgamento.

Alguns que por ele tinham sido atendidos e que poderiam falar em seu favor se encontravam sob áspero domínio do medo. Os mais íntimos achavam-se confortados pela palavra do Senhor, segundo a qual, em breve, todos se encontrariam de novo e adentrariam o reino de Deus. Esses amigos, simpatizantes e apóstolos resumiam sua reação em ternas e sofridas orações, desarvorados, contudo, diante do que rogar para produzir o efeito que melhor se coadunasse com a situação do Mestre. Os familiares eram impotentes. Os mais influentes ou não intentaram falar em favor do réu ou não foram sequer admitidos à presença dos juízes, os quais julgavam com premeditação, tendo previamente determinado a culpabilidade do acusado, sem direito a defesa.

O representante do povo romano, Pôncio Pilatos, ao analisar as peças do processo, não encontrou culpa que justificasse qualquer condenação e chamou Jesus à sua presença para interrogá-lo, mas este só fez ver a ele que o mundo não pertence aos homens mas sim a Deus e que este é que teria direito sobre o filho, não possibilitando qualquer atitude de salvação da parte do magistrado romano. Este ainda ofereceu a possibilidade do perdão, mas o povo liberou Barrabás da prisão, preferindo sacrificar o Cristo e predispondo o romano a lavar as mãos, o que significava claramente que o sangue de Jesus era o de um inocente pela convicção de seu juiz, o que atribuía aos judeus total responsabilidade pela execução da sentença de morte.

Eis-nos diante do dilema inicial: teria razão Jesus em considerar o povo judeu ignorante do que estava fazendo? Do ponto de vista material, vimos que não. Do ponto de vista moral, também não, pois não se aplicava a lei do perdão, nem sequer se lembrava da recomendação mosaica. E do ponto de vista espiritual?

Este é o ponto em que se fundamentou o pedido crístico. Jesus sabia que o homem não tivera ainda oportunidade de crescer espiritualmente, no sentido de compreender as leis básicas do amor a Deus e ao próximo. Em seus “Salmos”, os judeus viam na figura do Senhor o deus dos exércitos, o deus particular do povo hebreu, o deus capaz de destruir os inimigos e de proteger os seus filhos da destruição. Naquele instante, sobretudo, o inimigo estava dentro de casa e impunha ao vencido a ignominiosa condição de servidor, pois tudo o que ocorria, apesar de certa magnanimidade e permissividade própria de povo cansado de batalhar, incidia em mais derrotas sob todos os pontos de vista, não se preservando mesmo a unidade religiosa, pois muitos eram obrigados a abjurar da fé tradicional para adotar as divindades romanas.

Era de pura vergonha o estado psicológico do povo judeu. Como iria preocupar-se ainda com a palavra de Jesus para reformulação integral de suas vidas? Jesus trouxera o amor como fundamento de sua pregação; não aquele descrito pela lei e pelo culto israelitas, mas o amor a um deus de perdão, a um deus de todos os homens, ao Criador supremo do universo, para quem todos deveriam voltar-se finalmente, se quisessem a verdadeira felicidade, que não é deste mundo.

Se o homem de então merecera a vinda de Jesus para salvá-lo, é óbvio que não estava ainda apto para a redenção. Para integrarem em seu modo de ser os ensinamentos de Jesus, exigir-se-ia deles bem maior poder de concentração mental em torno dos ideais cristãos. Não havia, sob este ponto de vista, como deixar de considerar os homens inteiramente isentos de culpa pela crucificação. Assim, se cada um obteve de Deus o perdão para seu deslize cármico, teve também de sofrer as conseqüências por sua responsabilidade diante da lei que deixou de ser aplicada.

Durante o restante de suas vidas, puderam refletir a respeito do que fizeram e muitos tiveram oportunidade de compreensão e arrependimento de seus atos, à vista da divulgação dos ensinos evangélicos. Outros ainda hoje não atinaram com a sua falha de julgamento e exigem o cumprimento da parte do Pai do pedido de Jesus, achando que não foram culpados pelo crime de sacrificar um inocente. Muitos obtemperam diante das acusações que suas consciências lhes propõem e se refogem no conceito da ignorância, de modo que ainda mais chafurdam na viciação deletéria de julgar preferível desconhecer a verdade para argumentar com os libelos da ignorância, esquecidos de que o próprio Jesus lhes ofertou a diretriz de vida capaz de retirá-los de seu charco de ilusões.

Eis, bom amigo, chegada a hora de tirarmos algumas conclusões morais de tudo o que explanamos. Mas nós não iremos fazê-lo por você. Cada caso é um caso e cada leitor nosso deve saber exatamente em que refolho d alma se esconde o seu próprio drama diante das palavras de Jesus agonizante. Vamos, sim, pedir-lhe, com modéstia e humildade, que ore pelos irmãos que até hoje não entenderam a sua responsabilidade diante da sociedade e diante de toda aplicação da lei.

Hoje, os costumes estão muito diferentes daqueles que presidiram ao procedimento dos judeus, mas ainda perduram os fatos de que as leis são aprovadas por representantes do povo e que todo povo tem o governo que merece e que deseja. Se é bem verdade que a maioria pode ter escolhido outro que não seja o candidato de nosso leitor, também é fato que é preciso lutar para que os hábitos mudem e isto cada qual pode fazer no âmbito de sua influenciação.

Vamos tentar compreender a vida sob o ponto de vista espiritual, para que sejamos inteiramente responsáveis por tudo o que façamos. Se é verdade que o pai não transfere a responsabilidade de seus crimes ao filho, também não podemos olvidar que tudo de bom que pudermos oferecer ao nosso semelhante pode representar sementinha que, se bem cuidada, germinará, crescerá, produzirá folhas e frutos, os quais serão de utilidade para muitas outras pessoas, de forma que, se a nossa responsabilidade é intransferível, o é também todo ato bom que fizermos, o qual será contado a nosso favor.

Oremos, por isso, também para que nós mesmos compreendamos a necessidade de obrar segundo os valores evangélicos, para que o sacrifício do Cristo não se tenha dado em vão para nós.

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