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Ensaios-->Considerações sobre as conversões , segundo Willian James -- 08/01/2004 - 21:47 (Priscila de Loureiro Coelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Elementos para se entender as conversões que se dão no Brasil hoje,
segundo Willian James



INTRODUÇÃO

Para que se possa compreender melhor os elementos em questão, há que se estabelecer o que seja conversão. E como este pequeno estudo se faz em torno das idéias de Willian James, é lícito que se considere sua colocação como ponto de partida.
“Converter-se, regenerar-se, receber a graça, sentir a religião, obter uma certeza, são expressões que denotam o processo, gradual ou repentino, por cujo intermédio um eu então dividido, e conscientemente errado, inferior e infeliz, se torna unificado e conscientemente certo, superior e feliz, em conseqüência do seu domínio mais firme das realidades religiosas”.
No Brasil hoje vemos um número bastante expressivo de manifestações de conversões ou suposto “conversões”. Movimentos e “religiões” apropriando-se da responsabilidade das mesmas.
Passamos a analisar este fato, sob a luz das reflexões de Willian James.

COMO E EM QUE SITUAÇÃO OCORREM AS CONVERSÕES

Nosso autor elucida que segundo qualquer tratado de Psicologia, as idéias, metas e objetivos de um homem formam diversos grupos e sistemas internos, relativamente independentes uns dos outros. São elas que norteiam as escolhas e condutas, interesses e desenvolvimento de habilidades, do ser humano.
Essa conjuntura é mutável. O que provoca as mudanças é o modo com que se altera a excitação emocional. Coisas que hoje são vitais e quentes para nós hoje, amanhã poderão tornarem-se fria. Pode-se dizer que o desejo e a volição pessoais transitam através da energia dinâmica que compõe a estrutura de idéias, metas e objetivos. Assim estabelece-se que pode haver uma oscilação no interesse emocional. Temos então o eu oscilante e dividido. Quando ocorre a mudança e nesse caso, se a mudança for religiosa ocorre o que chamamos de conversão, sobretudo se operar por meio de uma crise, isto é, subitamente.
Willian James refere-se ao centro habitual de energia pessoal,como o lugar quente da consciência de um homem, como o grupo de idéias a que ele se consagra, e pelo qual trabalha.
As diferenças são significativas entre os conjuntos de idéias centrais e periféricos para o homem.
Assim, dizer que um homem está “convertido” significa que as idéias religiosas, anteriormente periféricas em sua consciência, assumem agora o lugar central, e que metas religiosas formam o centro habitual de sua energia.
Segundo o autor, não se pode estabelecer com precisão como exatamente a excitação muda de lugar no sistema mental do homem e por quê metas periféricas passam a ser centrais em determinado momento.
Uma nova informação, adquirida seja como for, tem um papel acelerador nas mudanças; e alenta mutação de nossos instintos e propensões, sob o “toque inimaginável do tempo” exerce enorme influência.
As ocasiões emocionais, sobretudo as violentas, são extremamente eficazes em precipitar rearrumações mentais. As emoções que chegam de forma avassaladora e explosiva raramente deixam as coisas como a encontram.
É colocado em suas considerações elementos distintos na conversão e suas relações com as vidas individuais.
Vê-se que há pessoas que jamais serão convertidas em sua vida, sejam quais forem as circunstâncias. As idéias religiosas jamais se tornarão o centro de sua energia pessoal. São pessoas que talvez sejam incapazes de imaginar o invisível, ou então não possuem a capacidade de vicejar na linguagem devocional, vertendo a energia que brota de dentro de uma suposta fonte.
Há também pessoas que apresentam deficiência na sensibilidade religiosa, algo que parece ao autor, bem mais profundo.
Tudo isso se supõem pode um dia ser alterado e não se pode afirmar categoricamente a impossibilidade de ocorrer uma conversão, mesmo nos casos considerados como absolutamente improváveis.
Baseado em estudos do professor Starbuck, Willian James comenta os dois tipos de conversão denominados por este citado professor de tipo volitivo e tipo de renúncia de si.
No tipo volitivo a mudança regenerativa, geralmente gradual, consiste na edificação, peça por peça, de um novo conjunto de hábitos morais e espirituais. Mas há sempre pontos críticos, em que o movimento progressivo parece mais rápido. Um fato psicológico evidenciado nos estudos do referido professor. Nossa educação em qualquer campo prático faz-se aparentemente, por safanões e sobressaltos como acontece com nossos corpos físicos.
No tipo de renúncia de si, observa-se que “é forçoso que a vontade pessoal seja abandonada”.
Willian James coloca a seguinte questão: Há duas coisas na mente do candidato à conversão: a primeira, o inacabamento ou erro presente, o “pecado”, de que ele tanto anseia por escapar; e a segunda, o ideal positivo que ele ambiciona levar a cabo.
Em quase todos nós, o sentido do erro presente é uma peça muito mais distinta de nossa consciência do que o é a imaginação de qualquer ideal positivo que podemos colimar.
Na maioria dos casos, com efeito, o “pecado” monopoliza quase exclusivamente a atenção, de modo que a conversão é “antes um processo de lutar para livrar-se do pecado do que de forcejar por alcançar a retidão”.
O espírito e a vontade conscientes de um homem, na medida que se esforçam por atingir o ideal, visam alguma coisa apenas vaga e imprecisamente imaginada. Não obstante, durante todo esse tempo, as forças do mero amadurecimento orgânico dentro dele se encaminham para o resultado prefigurado, e os seus esforços conscientes vão largando aliados subconscientes nos bastidores, os quais, à sua maneira, trabalham pela rearrumação; e a rearrumação para a qual tendem todas essas forças mais profundas é, sem dúvida, definida e diversa da que ele conscientemente concebe e determina.
Starbuck parece por o dedo no ponto nevrálgico da questão, ao dizer que exercitar a vontade pessoal é ainda viver na região em que o eu imperfeito é a coisa mais enfatizada. Onde, ao contrário, as forças subconscientes assumem o comando, é mais provavelmente o eu melhor que dirige a operação.
“A extremidade do homem é a oportunidade de Deus” pensamento teológico que explica essa idéia.
“Quando o novo centro de energia pessoal fica incubado subconscientemente por tanto tempo que está pronto para florir, tire as mãos, é a única palavra para nós; ele precisa desabrochar sozinho!”.
Segundo Willian James, a Psicologia e a Religião estão em perfeita harmonia neste ponto, pois ambas admitem a existência de forças aparentemente fora do indivíduo consciente, que lhe redime a vida.
A religiosidade, segundo James, deve ser vista a partir de seu componente emocional e não desde seu lado intelectivo (que existe) e socioinstitucional (que condiciona o desenvolvimento concreto de cada caso individual). Ele estudou minuciosamente a conversão e a crise mística, ambas marcadas antes pela afetividade até certo ponto não racional que pela razão.
Chegou a conclusão de que são emoções poderosas que podem transformar por completo os rumos da vida de uma pessoa, redimensionando-os inteiramente, de modo imprevisto e rápido, mas muitas vezes, duradouro. O que explica as conversões rápidas ou lentas “é uma simples peculiaridade psicológica o fato de, na conversão instantânea, estarmos na presença de sujeitos que já possuem um caminho andado de trabalho mental subconsciente, do qual as experiências evasivas podem irromper com veemência, fazendo vacilar o equilíbrio da consciência primária”.
Como bom filósofo pragmático, James concentra seu interesse na experiência direta e imediata do religioso. A fé religiosa necessita ser submetida a uma avaliação empírica de sua validade psicológica e humana. Sua veracidade não é uma questão metafísica e sim de ponderação dos efeitos que ela provoca. O princípio de aferição da veracidade psicológica dessa experiência pervasiva é o mesmo que se usa na ciência: sua fecundidade teórica e aplicativa.

CONCLUSÃO

O que temos então é que a conversão se dá quase sempre, no meio de uma exacerbada excitação emocional ou perturbação dos sentidos, e se estabelece uma divisão, num piscar de olhos, entre a vida antiga e a nova.
A conversão desse tipo, segundo o autor, é uma fase importante da experiência religiosa, e por isso deve ser estudada criteriosamente.
Segundo Willian James, que se vale de diversos e atípicos casos para ilustrar os conceitos que se pode abstrair a partir da religiosidade, podemos concluir sem que paire dúvidas, que a conversão é um processo legítimo, que se dá através de alterações emocionais, e que ao ocorrer provoca transformações no convertido. Algo novo acontece e modifica o íntimo do indivíduo que a experimenta, provocando nele a sensação de tornar-se parte integrante da Divindade.
Parece haver uma seqüência lógica que se desenrola independente da vontade consciente do indivíduo. A conversão em si é instantânea.
Há uma distinção entre algumas religiões e seitas, que definem a maneira de lidar e interpretar a conversão. No catolicismo, bem como em segmentos Protestantes mais comuns, não se observa atenção ou importância ao imediatismo da conversão.Para elas os rituais, os procedimentos rotineiros da religião são o bastante.
No entanto outras religiões e seitas perceberam este detalhe e nele trabalham com muita atenção, observando a instantaneidade como característica da experiência em si.
Fica bem claro ao estudarmos os casos citados neste estudo que quem passa pela experiência da conversão tem a clara noção de que experimentou um milagre e algo que não é natural.
Vamos, através do caminho percorrido pelo autor, compreendendo determinadas características afetivas e emocionais que se alteram quando se dá a conversão.
Podemos citar quatro características que nela se expressa:

1- Observa-se um sentimento de entrega total, um desligamento de toda e qualquer preocupação, o que provoca um sentimento de paz e harmonia. E a convicção da graça da “salvação”, da “libertação” dos entraves que aprisionam o interior do indivíduo em questão.

2- Há a sensação de perceber verdades que antes desconhecia. Aparentemente há uma certa lucidez que se manifesta e invade a mente do convertido.


3- Há uma percepção nova das coisas. Como se o cotidiano se transformasse e através dos sentidos, que se mostram aguçados, pela própria natureza da experiência, ganhasse nova conotação. A novidade parece mesclar o que antes era rotina, atraindo a atenção do convertido.

4- Por fim surge o êxtase. Um sentimento de plenitude, de quase euforia que faz com que o convertido tenha nova perspectiva da vida, novas metas e altere em alguma medida seu comportamento.

Podemos então concluir, que a conversão se dá através de crises e que acarreta,
sem sombra de duvida, uma alteração na conduta de quem vivencia a experiência.
No entanto a transitoriedade ou permanência da experiência da conversão precisa ser considerada com redobrado zelo.
Importante, e bem frisado pelo autor, é o fato desta experiência mostrar ao ser humano, mesmo sendo de modo fugaz, o potencial, o ponto culminante de sua capacidade espiritual, sem que se leve em consideração a duração da mesma.
O autor que se baseou em diversos casos, afirma que na grande maioria foram permanentes, e que mesmo nos casos em que não seja, há algo que ficará para sempre, após esta experiência.
A conversão é, portanto, uma experiência religiosa que pode e deve ser estudada pela psicologia, para ser melhor compreendida.


Priscila de Loureiro Coelho
Consultora de Desenolvimento de Pessoas
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