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Artigos-->O LEGADO DE UM CONJUNTO CORAL DE CÂMARA: KLAUS-DIETER WOLFF -- 02/01/2012 - 11:10 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


 



O LEGADO DE UM CONJUNTO CORAL: KLAUS-DIETER WOLFF



 



L. C. Vinholes



 



Mais uma vez, artigo de autoria de Samuel Kerr chama minha atenção pela importância que tem como documento que reúne informações precisas a respeito de um coral que desenvolveu atividade pioneira na vida musical de São Paulo, sobre seu regente e, ainda, sobre um festival de missas do qual participaram músicos e instituições de destaque diretamente relacionadas à música sacra nas primeiras décadas da segunda metade do século passado.



 



Sobre o autor, professor, mastro e organista Samuel de Moraes Kerr, fiz sucinto registro por ocasião da divulgação, em novembro de 2011, do artigo A Pró-Arte, a Escola Livre de Música e os Cursos Internacionais de Férias de Teresópolis, por ele produzido em novembro de 2004, que se encontra à disposição na minha página neste site.



 



O novo artigo de Samuel Kerr é o que tem como título o mesmo que utilizo acima e que foi publicado, em julho de 2004, no periódico semestral Caixa Expressiva, Ano 8, Nº 15, páginas 8 a 11, da Associação Brasileira de Organistas (ABO). O coral é o Conjunto Coral de Câmara com atividades iniciadas em 1951, três anos antes das comemorações do IV Centenário de São Paulo; e o regente é Klaus Dieter-Wolff, também violinista e cantor, que muito fez pela divulgação da música medieval e renascentista entre nós.



 



Com relação à minuciosa abordagem do artigo de Samuel Kerr sobre o Conjunto Coral de Câmara, o Festival de Missas de 1954 e o postumamente homenageado Klaus-Dieter Wolff, permito-me registrar que, além de Samuel, Klaus e o organista Paulo Herculano, nele encontramos os nomes de Sandino Hohagen, Henrique Gregori, Isaac Karabtchevsky, Diogo Pacheco e Roberto Schnorrenberg, todos eles ex-alunos da Escola Livre de Música da Pró-Arte, que freqüentaram a classe de regência do professor Koellreutter, sendo que os três últimos, juntamente com Damiano Cozzella, também citado, fizeram parte do corpo docente da Escola. Igualmente pertencendo ao corpo discente desta instituição são Terezinha Saraiva e Marília Pini, das classes dos professores Alexandre Schafmann e Johannes Olsner, respectivamente, violino e viola. Schnorrenberg e Gilberto Tinetti chegaram a dirigir a Escola.



 



Quanto ao Movimento Ars Nova, mencionado no artigo em apreço, vale registrar que o Diário de São Paulo de 20 de novembro de 1954, p.3, em artigo intitulado Ars Nova, H. J. Koellreuter, tornou pública, pela primeira vez, a declaração de princípios desse movimento que vinha assinada por Carmen Dolores Barbosa, Dilza de Freitas Borges, Maria José de Carvalho, Alfredo Mesquita, Diogo Pacheco, Gianni Ratto, Klaus-Dieter Wolff, Samson Flexor e Willys de Souza Castro.



 



No que diz respeito à primeira apresentação da Paixão de Heinrich Shütz, segundo S. João, em 11 de abril de 1954, referida no artigo de Samuel Kerr, o Conjunto Coral de Câmara tinha a seguinte composição: Angela La Rocca, Antonieta Moreira Leite, Britt-Marie Herilin, Ignez Peralva Costa, Maria Aparecida Jorge, Miriam La Rocca, Regina A. de Souza (sopranos), Inga Paues, Magda Fenyves, Regina Melillo de Souza, Rosemarie Lüthold, Terezinha Leite (contraltos), Henrique Gregori, Louis Arnulphy, Luiz Carlos Lessa Vinholes, Milton Petri (tenores), Alfredo H. Alves, Isaac Karabtchewsky, Klaus-Dieter Wolff, Munir Mussamra e Sandino Hohagen. Sob a regência de Klaus, os personagens foram interpretados por: Pacheco (Evangelista), Alfredo Alves (Jesus), Vinholes (Pedro e Pilatus), Karabtchewsky (Servo) e Marie Herlin (Serva). Na segunda parte do programa, dirigida por Sandino Hohagen, foi ouvida a Missa “La Bataille”, de Clement Jenequin, do século XVI. Klaus voltou na terceira parte, toda ela dedicada à música gregoriana e renascentista com obras de anônimos dos séculos XII e XIII e outras de autoria de Fra Savonarola, Josquin des Pres, Giovani Palestrina e Gregor Alchunger.



 



Finalmente, aproveitando a oportunidade que a internet oferece, decidi reapresentar o texto assinado por Samuel Kerr para permitir às novas gerações melhor conhecerem aspectos importantes das atividades musicais nos anos 1950 e 1960 e do papel marcante desempenhado pela Escola Livre de Música da Pró-Arte, sob a renovadora orientação pedagógica de seu diretor-fundador H. J. Koellreutter.



 



Os itálicos encontrados no artigo são acréscimos de datas que me permiti fazer com o aval do autor do artigo.



 



A seguir o texto de Samuel Kerr:



  



Há 30 anos morria Klaus-Dieter Wolff, Em São Paulo. Em que pese a oportunidade de lembrar uma data redonda, não acho gratificante começar um artigo lembrando de falecimentos. Seria melhor lembrar de assuntos que ajudem a perpetuar viva a memória das pessoas e identificar o legado de suas ações. Assim, recorrendo ainda a datas redondas, proponho nos reportarmos ao ano de 1954, quando, em São Paulo, foi realizado um Festival de Missas coordenado pelo professor Hans Joachim Koellreutter (1915-2005), com a participação de vários corais da cidade, entre eles o Conjunto Coral de Câmara fundado por Klaus.



 



Quando a Escola Livre de Música propõe à Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo a realização de um Festival de Missas, dentro da programação dos festejos do IV Centenário da cidade, o Conjunto Coral de Câmara já tinha 3 anos de atividades e já havia apresentado, no começo do ano, em primeira audição contemporânea a “Paixão Segundo São João”, de Shütz, na Capela do Colégio São Luis, iniciando uma tradição que iria marcar a vida do Coral pelas apresentações a cada ano, no Domingo de Ramos, de uma Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, musicada por um compositor conforme o texto de um dos quatro Evangelistas.



 



Recordarmos essa programação do Conjunto Coral de Câmara iniciada em 1954, assim como o Festival de Missas, acontecimentos de 50 anos atrás, vai nos permitir levantar aspectos da vida musical de São Paulo que talvez possam interessar aos leitores organistas, bem como, agradecer à Caixa Expressiva, a oportunidade de registrarmos fatos que comemorem os atos de músicos e os seus legados.



 



O Festival de Missas



 



O Festival de Missas mobilizou vários corais da cidade, distribuídos em 7  apresentações em 4 igrejas no período de 24 de outubro a 7 de novembro de 1954, precedido de uma conferência do professor Koellreutter, realizada no dia 23 de outubro na Escola Livre de Música, focalizando o conteúdo e a forma das obras que seriam executadas e, em cada apresentação foi distribuído um texto coma biografia dos compositores e uma breve análise das obras feita pelo compositor e arranjador Damiano Cozzella, na época professor da Escola.



 



 A Escola Livre de Música havia sido criada em 1952 e já revelava ao meio musical de São Paulo uma dinâmica nova no ensino da música sob a liderança do prof. Koellreutter, dinâmica essa refletida na idealização desse Festival de Missas: um grande painel da música sacra ocidental que fazia soar desde o Canto Gregoriano até a produção musical do Século XX, incluindo a música de um compositor residente em São Paulo, na época, Furio Franceschini (1880-1976).



 



--o--



 



A oportunidade de reunir em um Festival obras destinadas ao uso litúrgico deve ser explicada por algumas circunstâncias. Na década de 1950, a Missa Cantada, com suas partes fixas postas em música pelos compositores, era prática usual nas Igrejas Católicas que, ainda distantes do Concilio Vaticano II (11.10.1962 a 08.12.1965), não só recitavam o texto da Missa em latim como tinham seus corais, que dispostos na galeria a eles destinada junto ao órgão e em cima do pórtico das igrejas, participavam das chamadas Missas Cantadas.



 



Dessa forma, a Escola Livre de Música, ao propor a realização do Festival de Missas, estava atenta a uma prática musical viva que envolvia seus alunos no conhecimento do repertório existente e relacionava o estudo da música com o fazer musical. Desse Festival participaram vários grupos musicais não penas com seus repertórios de Missas, mas também apresentando obras contemporâneas, como a Missa de Stravinsky, cantada pelo Madrigal da Escola livre de Música sob a regência de Hans J. Koellreutter.



 



Outra circunstância que gerou a oportunidade do Festival foi a reunião de Missas que haviam sido apresentadas durante o ano, a começar pela Missa Natalina especialmente escrita pelo maestro Furio Franceschini para a consagração da Catedral de São Paulo, no dia 25 de janeiro, data da abertura das comemorações do IV Centenário da cidade. Foi cantada pelo Coral da Arquidiocese de São Paulo, sob a regência do Padre João Lírio Talarico e acompanhada ao órgão pelo organista Romeu Fracalanza (1917-2008). Essa Missa foi cantada liturgicamente no encerramento do evento, na Igreja de Santa Efigênia e ali, Romeu Fracalanza tocou ao órgão Walcker. A primeira apresentação dessa peça aconteceu na Catedral, no inicio do ano, com o órgão emprestadopelo maestro Furio Franceschini para a solenidade de inauguração da Catedral, pois o órgão da Catedral não ficara pronto em tempo para a cerimônia.



 



Outra Missa que já havia sido apresentada e que constou da programação do Festival foi a Missa La Bataille, de Clément Janequim, cantada pelo Conjunto Coral de Câmara no Domingo de Ramos, na Capela do Colégio São Luis, sob a regência, não do Klaus-Dieter Wolff, seu regente titular, mas de Sandino Hohagen. No Festival, essa Missa foi apresentada na Basílica de Nossa Senhora do Carmo, ao lado da Missa em Dó Maior K-115, de Mozart, cantada à capela pelo Madrigal da Escola, sob a regência de Koellreutter.



 



Em junho, o Coral Paulistano já havia apresentado, em concerto, na Igreja de Santa Cecília, a Missa de Réquiem (1876) do Padre José Maurício Nunes Garcia, sob regência do maestro Miguel Arquerons (1910-c.1970), cabendo o acompanhamento ao órgão ao organista Romeu Fracalanza. A repetição dessa Missa, no Festival, aconteceu na mesma igreja, no dia 3 e novembro e Fracalanza fez soar mais uma vez o órgão Gothold Budig que naquele ano de 1954 completava 40 anos da sua inauguração. Do programa constava também a Missa Carminum, de Heinrich Isaak, cantada pelos alunos da Escola Livre de Música, regidos por um outro aluno, Isaac Karabtchevsky.



 



E mais uma Missa, a Missa Pontifichalis, de Lorenzo Perosi, que já constava do repertório do Coral Paulistano, foi programada par ser apresentada liturgicamente no domingo, dia 31 de outubro, na missa das 10 horas, na Igreja de Santa Efigênia. O regente foi o maestro Arquerons e o organista, mais uma vez, foi Romeu Fracalanza.



 



A abertura do Festival na Basílica de Nossa Senhora do Carmo, no dia 24 de outubro, destacou o Canto Gregoriano praticado pelo Coro das Carmelitas, ensaiado por Dom Candido Padim (OSB) em atuação litúrgica, conforme o calendário eclesiástico, cantando a Missa do XIX Domingo depois da Santíssima Trindade, segundo o Missal Carmelitano. Todas essas circunstâncias fizeram do Festival um sucesso!



 



Acrescentando-se ainda que, para ampliar a abordagem musical, H. J. Koellreutter preparou com o Madrigal da Escola a Missa Notre Dame de Guillaume de Machault (século XIV), solicitou ao maestro Arquerons que apresentasse também uma missa de Tomas Luiz da Vitória com o Coral Paulistano e propôs ao Klaus-Dieter Wolff que ensaiasse com os cantores  do Conjunto Coral de Câmara a Missa ad Fugam, de Giovanni Perluigi da Palestrina.



 



E cantavam uma “Paixão” a cada ano ...



 



Naquela época, em São Paulo, o Coral Paulistano já existia há 18 anos e era o único coral profissional em meio a tantos corais amadores ligados às escolas e igrejas, cantando repertórios de canções cívicas, folclóricas e religiosas. Nesse cenário, o Conjunto Coral de Câmara surgiu como um coral amador independente e com um repertório especial, cantado em várias línguas e dedicado a músicas pouco escutadas, principalmente de compositores europeus renascentistas. Esse conjunto buscava criar um som ainda não escutado, que desafiasse o estudo e que valorizasse o trabalho vocal bem cuidado.



 



Klaus era um cantor e sempre esteve atento à produção vocal dos seus comandados. Seu interesse pelo estudo da música, aliado a sua formação católica, o conduziu ao estudo do Canto Gregoriano e ao estudo da polifonia vocal surgida ao longo da história da Igreja Cristã. Sob sua condução, o Conjunto Coral de Câmara tronou-se não apenas um intérprete sensível do repertório sacro, disponível até para funções litúrgicas (pré-conciliares), mas também um grupo atento ao não litúrgico, ao profano, como se dizia. E mais, interessado em divulgar a música bonita que procuravam fazer, sem compromissos institucionais.



 



Por isso, porque não aproveitar o repertório musical, especialmente coral, de grande valor artístico, criado para o calendário litúrgico cristão e apresentá-lo nas igrejas na forma de concerto? E no espaço acústico das igrejas, no tempo sugestivo de meditação proposto pela Quaresma, pela Semana Santa!



 



Concertos em igrejas católicas eram, em São Paulo, na maioria das vezes, concertos de órgão. E aconteciam na galeria do coro. Algumas vezes, e concertos promovidos pela Pró-Arte, os bancos eram virados de costas para o altar principal para que o público, sentado na direção de onde vinha o som, tentasse olhar o organista.



 



Um concerto de coro também devia partir da galeria, onde o coro sempre estaria colocado na arquitetura das igrejas. E foi lá que o Conjunto Coral de Câmara posicionou-se para apresentar na Igreja do Colégio São Luis, e pela primeira vez em São Paulo na forma de concerto, na Semana Santa de 1954, a música de Schütz para o relato da Paixão de Cristo segundo o evangelista São João. Com as transformações pós-conciliares, nos anos 1960, os concertos/paixões começaram a acontecer no altar, a não ser que a partitura pedisse o acompanhamento ao órgão.



 



Em 1955, a Paixão Segundo São João, de Schütz, foi repetida e o concerto, que aconteceu na capela do colégio “Des Oiseaux”, apresentou uma primeira parte com obras de Orlando Di Lasso, Rosselli, Martini e Victoria sob a regência de Henrique Gregori. Diogo Pacheco foi o Evangelista e os papeis de Pedro e Pilatus foram cantados por Claudio Petraglia. O evento foi anunciado como “Concerto de Música Sacra Renascentista” e mereceu crítica no Diário de São Paulo, assinada por Koellreutter que o considerou  “de indubitável valor artístico”. O Colégio “Des Oiseaux” situava-se na Rua Caio Prado, em enorme terreno das madres francesas (onde também funcionava a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Sedes Sapientiae e o Instituto de Psicologia dirigido por madre Cristina) hoje transformado em estacionamento.



 



Em 1956, o Conjunto repetiu a Paixão Segundo São João, mas acrescentou ao programa a primeira audição contemporânea em São Paulo de outra obra de H. Schütz, composta para as Sete Palavras de Cristo na Cruz. Maria José de Carvalho e Dilza de Freitas Borges cantaram as parte do Evangelista. Diogo Pacheco interpretou Jesus (além de ser o Evangelista na Paixão) e Klaus foi o regente. Esses quatro músicos formavam o Quarteto Vocal do Movimento Ars Nova, movimento por eles liderado, destinado à divulgação da música medieval e renascentista e da música contemporânea em São Paulo. Esse registro histórico revela outro nome importante: Gilberto Tinetti, o organista tocando o baixo contínuo de As Sete Palavras!



 



As Sete Palavras foi repetida em 1957, no dia 14 de abril, na Capela do Colégio São Luis. Completavam o programa, uma Sonata da chiesa, de Corelli, e a Missa Ad Fugam, de Palestrina, que havia sido cantada no Festival de Missas. A sonata foi interpretada por Rosemarie Lüthold e Terezinha Saraiva (violinos), Marilia Pini (viola), Alfredo Lüthold (cello) mas desta vez o organista foi Padre Roberto Godding S. J.



 



Em 1961, a Paixão escolhida foi a que o compositor alemão do fim do sec. XVII, Johannes Georg Kuhnhausen, escreveu para a narrativa da Paixão de Cristo conforme o Evangelho de Mateus, para coro, solista e órgão. O Evangelista foi Wolfgang Bruhn, Jesus foi interpretado por Zuingilo Faustini e o organista foi Paulo Herculano Gouvêa. Foram três apresentações em São Paulo e, pela primeira vez, o Conjunto Coral de Câmara desceu à cidade de Santos para apresentar a Paixão na Basílica Menor de Santo Antonio do Embaré, o que passou a fazer todos os anos seguintes. Klaus estava se aproximando do compositor santista, Gilberto Mendes, que começava a esboçar o movimento musical Ars Viva naquela cidade. Willy Correa de Oliveira, que era colaborador no jornal A Tribuna de Santos, escreveu um texto em forma de entrevista para apresentar o Conjunto e seu regente, texto publicado na edição do domingo 2 de abril. O concerto aconteceu no dia 8 de abril pela iniciativa de Silvia Mendes, com apoio da Congregação das Famílias Cristãs, patrocinadora da viagem do Conjunto.



 



No dia 11 de abril, em A Tribuna, na seção Artes e Artistas, Willy Corrêa de Oliveira comentou que “o acompanhamento do órgão por Paulo Herculano Gouveia, demonstrou que o Brasil já conta com organistas de grande classe. Não foi um acompanhamento, foi uma participação direta na interpretação”.



 



A apresentação em São Paulo aconteceu no Santuário N. S. de Fátima, no dia 26 de março e mereceu uma crítica no jornal O Estado de São Paulo, na edição do dia 18: “Pouco a pouco vem o Conjunto Coral de Câmara introduzindo o hábito de execução periódica de obras desse gênero. Seria mesmo interessante que fizesse um dia uma espécie de ‘retrospectiva’ com apresentação das obras até agora dadas. O canto em conjunto não está mesmo em nossa índole e somente à força de tenacidade e teimosia é que tais resultados aparecem... Por isso é admirável como o Conjunto Coral de Câmara se mantém sempre em atividade...”



 



E para comemorar os 19 anos de atividades, o Conjunto Coral de Câmara importou da França, naquele ano de 1961, a partitura da Messe dês Piroguiers, da compositora Barat-Pepper, baseada em melodias e ritmos africanos e escrita para coro, órgão e percussão, inspirada nas idéias que estavam anunciando a chegada do Concilio Vaticano II. Uma primeira audição revolucionária foi apresentada liturgicamente na Missa das 11 do Santuário N. S. de Fátima, no dia 26 de novembro. Uma comemoração plena de significados. O organista foi Paulo Herculano,



 



Prêmios, gravações, um vasto repertório de música coral além de 11 Paixões, entre elas duas Sete Palavras. Em 1974, no dia 6 de abril, Klaus faleceu, enquanto o Conjunto Coral de Câmara se apresentava na Capela do Colégio São Luis cantando a Paixão segundo São Mateus com música do Padre José Maurício Nunes Garcia, sob a direção de Roberto Schnorrenberg (1929-1978).



 



E agora, caminhando em “flash back”...



 



Mario de Andrade (1893-1945), no Diário Nacional de 15 de dezembro de 1930, chamava a atenção para o fato de os teatros e salas de concertos paulistas não possuírem órgãos, o         que qualificava de “precariedade inconcebível pra uma cidade que se diz musical”. No final da década de 1930, a Prefeitura de São Paulo adquiriu um órgão elétrico Hammond para o Teatro Municipal, comprado na Casa Hammond, lá no Largo Paissandú, recomendado por músicos como (João de) Souza Lima (1898-1982), Miguel Arquerons e Angelo Camin (1913-1986). O órgão de tubos italiano da fábrica Tamburii, que lá existe agora, foi inaugurado em 1969.



 



Em 1949, um Concerto Beneficente reuniu, no dia 7 de outubro, no palco do Tetro Municipal de são Paulo, o tenor Assis Pacheco e os Corais da Igreja Nossa Senhora do Brasil e da Congregação Mariana de Senhoras do Colégio São Luis, acompanhados pelo organista Miguel Izzo e pelo jovem pianista Gilberto Tinetti, sob a regência de D. Lilly Wolff. O programa todo dedicado à música sacra, tinha como destaque, além da atuação de Assis Pacheco, a apresentação do Stabat Mater de G. Pergolesi para vozes femininas que foram acompanhadas por piano e órgão, em redução de orquestra orientada por Miguel Izzo. Gilberto Tinetti, ainda se lembra que, na repetição do concerto, na Igreja Nossa Senhora do Brasil, o acompanhamento foi feito só com órgão (também um Hammond) e que Miguel Izzo solicitou sua participação no segundo teclado para destacar algumas melodias em solo.



 



O relato deste episódio no final do artigo só é justificado por impulsos de emoção ao lembrar de Miguel Izzo acolhendo o jovem Tinetti com o seu carinho de mestre; ao identificar entre as solistas cantoras como Carmem Dulce Marcondes Machado e Celina Sodi, possivelmente alunas de D. Lilly; ao avaliar o respeito de Assis Pacheco pelo trabalho da regente, aceitando participar de um concerto sob sua direção; e ao identificar, nesse concerto, ecos da vivência musical que Padre Walter Mariaux promovia no Colégio São Luis, onde os alunos Klaus-Dieter Wolff e Gilberto Tinetti atuavam na orquestra sob sua regência (Klaus, spalla dos segundos violinos e regente substituto, e Tinetti, pianista e solista) e onde D. Lilly Wolff regia o coro feminino da Congregação Mariana.



 



Klaus-Dieter Wolff era naturalizado brasileiro. Nascido na Alemanha, em Frankfurt am Main, no dia 7 de março de 1926, chegou ao Brasil com seus pais, em 1936.



 



Sua formação musical começou em casa, com sua mãe, Lilly Wolff, o que determinou o seu perfil de músico como cantor (baixo) e líder coral, e o que o encaminhou a estudar com H. J. Koellreutter e a aperfeiçoar-se com Kurt Thomas.



 



Em 1951, Lilly Wolff anunciou, entre os cantores do Coral da Igreja Nossa Senhora do Brasil e entre seus alunos de canto, que seu filho Klaus estava organizando um coral. A primeira reunião foi na residência da família Wolff, lá na Rua João Moura, em Pinheiros, no dia 15 de novembro, data que marcou o início do Conjunto Coral de Câmara. Rosemarie Lüthold e Gilberto Tinetti estavam presentes. Tinetti amigo do Klaus desde os tempos do Colégio São Luis, e Rosemarie, cantora do coral de D. Lilly, foi especialmente por ela recomendada, assim como Jacyra Pires de Carvalho. A reunião não foi só de estruturação, mas uma primeira música já foi ensaiada, escolhida dentre o repertório renascentista, marcando o estilo do regente.



 



Foi assim que o Conjunto Coral de Câmara iniciou sua trajetória que durou quase três décadas. Conhecendo um pouco do legado desse grupo e do seu regente podemos reconsiderar a ressalva inicial deste artigo e celebrar a passagem de 30 anos da morte de Klaus-Dieter Wolff.

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