ACHTUNG BABY (U2)
1989 - no encerramento da fulgurante turnê Joshua Tree, Bono diz á platéia que a banda pararia por um tempo 'para sonhar tudo de novo'. O U2,maior banda de rock da década, estaria se separando?
1991: o mundo assiste, estarrecido, ao lançamento de Achtung Baby, novo CD do U2. Ou seria de outra banda? Nada ali lembrava o velho e bom U2 dos tempos de War, Joshua... Mas os tempos também haviam mudado...
Faixas:
ZOO STATION: 'estou pronto para lutar, estou pronto para o gás lacrimogêneo, estou pronto para o novo'. As primeiras linhas sintetizam o espírito do disco. Uma nova banda, novos temas, para um novo tempo. Sem sonhos ingênuos, mas cheia de ironia e bom humor. A guitarra de The Edge reverbera em estática, o som é abafado, Bono parece cantar com um saco na cabeça. Mas a música soa excelente, contagiante. A banda coloca a popularidade a prêmio na busca por novos caminhos. E ganha a parada.
EVEN BETTER THAN THE REAL THING: Muito senso de humor e ironia, coisa que o U2 anterior não mostrava (pelo contrário). A letra, que perpassa o caráter complexo e multifacetado dos dias pós-modernos que correm, é cínica até não poder mais, os riffs manhosos são bem agradáveis...A tecnologia é o mote da canção.
ONE: obra-prima de delicadeza, tanto na melodia quanto na letra. O U2,esquecendo um pouco a ironia do disco, mostra que ainda sabia fazer músicas cativantes. Bono, inclusive, fez aqui um de seus vocais mais sublimes.
UNTIL THE END OF THE WORLD: o enterro definitivo do velho U2,que queria salvar o mundo com seus hinos cristãos (Gloria,Pride, 40)...O som sujo, abafado, lembra Bowie na 'trilogia de Berlim'. A letra narra uma perturbadora conversa de Judas com Cristo...É a melhor música do disco e, talvez, da carreira da banda. Um desafio agradável.
WHO S GONNA RIDE YOUR WILD HORSES: o baixo aparece como um trovão. A letra, passional e melancólica, evoca imagens lindas como 'caminhe para um lugar onde o vento chama por seu nome'. Sublime mais uma vez, os vocais são até impiedosos, de tão delicados.
SO CRUEL: belíssima aparição de órgão no início. O que parece ser apenas uma sofrida balada se revela depois uma obscura e misteriosa canção sobre sexualidade, fetiches etc. O U2 surpreende de novo.
THE FLY: Hard Rock de garagem, coisa atípica na carreira da banda. Riffs excelentes...
MYSTERIOUS WAYS: batidas circulares, envolventes, saem do sintetizador de Brian Eno, junto com as melhores guitarras do disco. Canção de sotaque oriental, fala sobre a dança do ventre e, mais sutilmente, sobre adolescência e a euforia de viver. Nota 10.
TRYING TO THROW YOUR ARMS AROUND THE WORLD: Mais calminha, com alguns elementos eletrônicos menos pronunciados. Uma respirada depois da montanha-russa de ironia e sexualidade das músicas anteriores.
ULTRA VIOLET (LIGHT MY WAY): mais temas ligados á tecnologia, com fortes doses de ironia na letra...O resultado final soa quase Glam-rock, de tão cínico.
ACROBAT: a menos interessante do disco, derivada dos riffs e efeitos de sintetizador das músicas anteriores.
LOVE IS BLINDNESS: catarse pura. Uma balada petrificante de tão triste, reforçada pelo clima de lamento que inicia a música. Solidão, desequilíbrio passional, as emoções tentando evitar se afogar num mar de perdas...outra obra-prima desse excelente disco.
Só uma observação: um dos 3 grandes discos dessa década no rock (a ver, os outros dois são Nevermind, do Nirvana e OK Computer, do Radiohead).O velho U2 era bom...esse é perfeito.
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