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Erotico-->31. PRELIMINARES -- 29/12/2002 - 07:31 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sem a constante presença de Honorato, ganhava mais tempo para estudos particulares. Se o instrutor me poupou muito trabalho de pesquisa, também me inibiu a desenvoltura. Claro está que, anteriormente, não tinha condições emocionais para percorrer a biblioteca. Por isso, não reclamava mas sentia pontinha de mal-estar, vendo tantos companheiros liberados para...

Suspendia as reflexões sentimentais, diante do impasse da falta de perspectivas. Que temas primordiais me chamariam a atenção, se sabia o catecismo de cor? A base teológica, doutrinária ou filosófica estava estabelecida. Não punha dúvida em que tudo o que se registrara na cartilha era fundamental e verdadeiro. Quando estava ministrando os rudimentos da redação aos infelizes recentemente recolhidos do Umbral, me veio a idéia de estudar a linguagem literária. Pobre professor, ou melhor, mestre-escola, não lera obras importantes. Ficara em dois ou três romances naturalistas e, assim mesmo, deixando de lado as longas descrições, querendo saber logo como se desenrolava a ação, dedicando-me às partes mais “cruas”, mais “verdes”, para estímulos não propriamente estéticos.

Assim que me vi livre da atribuição noturna, dirigi-me ao centro de estudos, para saber como poderia realizar o aprendizado.

A pessoa encarregada do encaminhamento dos novatos deu-me prospecto da organização do departamento e me atribuiu um número de código, para as consultas. Não havia sala de leituras. O consulente digitava os números e letras correspondentes à obra de interesse e a recebia, dez segundos depois, no setor de entregas. O que me surpreendeu foi o fato de que poderia receber livro impresso, simplesmente, ou disquete, para introduzir no computador que todos possuíamos nos alojamentos, ou fita, para que a obra se reproduzisse na tela da televisão, que também tínhamos.

A maior parte das obras poderia ser apreciada do ponto de vista do autor, ou seja, a representação mental vinha impressa no disquete, em diferentes versões, segundo as edições revistas. Quase todas, conforme esclarecia o texto, continha a lição definitiva, redigida no plano espiritual, onde se informavam as razões das emendas.

Não esperava tanto. Queria algo técnico, como se fosse possível ensinar alguém a ser escritor. Não encontrei na relação nada que se assemelhasse ao que supunha ser o bê-á-bá da literatura. Também não queria obras alentadas sobre a história da escrita literária.

Estava para desistir, quando, ao final das instruções, havia importante anotação:

“Se o consulente não encontrou o que desejava, acione a tecla ‘ajuda’.”

No painel em que se encomendavam as obras, encontrei o botão assinalado. Acionei-o. Quase imediatamente, apareceu-me solícita entidade, propondo-se a ajudar-me. Expliquei o que desejava. Sem dar resposta verbal, acionou o aparelho e me fez sinal para que aguardasse.

Enquanto esperava, olhei ao derredor. Havia vários colegas de turma retirando obras. Sorriram para mim mas não se detiveram para prosear.

Chegou a encomenda. Era uma fita. Título: “A Arte de Escrever em Dez Lições”. Julguei que houvera engano, que a obra era elementar demais. Em todo caso, aprendera a calar e a julgar somente após verificar os fatos. Não fora assim que Mário introduzira o sentido do conhecimento, com aquele pozinho azul?

No dormitório, coloquei a fita no aparelho e preparei-me para assistir a monótono filme a respeito das técnicas de como mergulhar o protagonista em crise vital. Entretanto, a apresentação do conteúdo foi surpreendente. Em rápida sucessão de imagens, mostraram-se dezenas de escritores, quando crianças, a ensaiarem as observações do mundo. Havia os que sofriam, os que se divertiam, os que gozavam, os que se angustiavam, os que demonstravam insatisfação, os que fantasiavam, os que imergiam no universo das palavras, os que devoravam as obras que lhes caíam à mão e, principalmente, os que meditavam sobre os acontecimentos. O filme cortava para o centro nervoso do cérebro e demonstrava que, nos indivíduos propensos à literatura, havia muito maior riqueza de ligações eletromagnéticas, no setor da inteligência relativo à fluência e à lógica verbais. Demonstrava-se, em seguida, como é que os escritores desenvolveram os temas escolares em comparação com os alunos comuns. Quando não estava fortemente incentivado, por não me reconhecer aluno especial, a projeção foi em busca de outras encarnações, evidenciando que os seres mais equipados para a literatura tinham experiências diferentes, em campos outros das atividades humanas. Essa fase das evocações terminava analisando o interesse como fator primordial, para que os indivíduos começassem o trabalho de aquisição dos elementos fundamentais da arte de escrever. Em seguida, passava dez exercícios de redação, que deveriam ser elaborados no computador pessoal, para serem enviados à central de estudos. Dava dez dias de prazo, exigindo que se redigisse um texto por dia.

Quis prosseguir assistindo ao que se continha na fita, mas estava bloqueada. A informação que li considerei por demais curiosa:

“O interesse em aprender a redigir deve passar pelo interesse em redigir. A fita oferecerá a segunda lição somente após ter você cumprido os exercícios. Com o resultado dos trabalhos, receberá a chave para prosseguir. Deus nos ajude a encontrar o nosso caminho! Obrigado.”

— Ora essa! Se eu soubesse escrever, não procuraria aprender!

A pequena reflexão me deixou profundamente envergonhado. Veio-me à mente a cartilha. Lá se registrava o conceito essencial do progresso:

“Todos os seres atingirão a perfeição, contudo, precisarão trabalhar para isso em todos os setores existenciais, aperfeiçoando os sentimentos e ampliando os conhecimentos, segundo as leis cármicas.”

Desde algum tempo, vinha meditando a respeito do que poderia saber Jesus, para exercer a atribuição de mentor galáctico. Se o instituísse como alvo a atingir, talvez falhasse pela pequenez de meu espírito. Sendo assim, tentei estabelecer escala de seres superiores. Não consegui, pois, além dos professores, de Maciel e de Honorato, não tinha idéia exata do que seriam as entidades de luz, os mensageiros do Alto, os anjos guardiães, os serafins, os querubins...

Liguei o computador e redigi parte de minhas memórias: “De como interpretei mal o meu poderio sobre a vida e me suicidei.”

Nessa primeira redação, busquei concentrar-me na estupidez de quem se vê acima das leis, acima do bem e do mal, plenipotenciário do Senhor, com direito de matar e de morrer. Insisti em que fizera tudo para deixar a viúva com remorsos e concluí enfatizando as dores conscienciais que me arrastaram para as Trevas.

Havia a possibilidade de refazer o texto. Cortei quase todas as frases. Não me satisfiz com a primeira edição. Queria castigar o estilo. Não tinha, todavia, recursos fraseológicos, ainda mais quando me faltavam os termos apropriados e apelava para as palavras assemelhadas, dando sentido metafórico às expressões para retratar os pensamentos.

Examinei os parágrafos e determinei-me a não encaminhar a primeira tentativa. Podia guardá-la na memória do computador, para trabalhar mais tarde sobre o texto.

Cansado e desapontado, deitei-me, orando ao Pai que me perdoasse, por ter sido presunçoso. Lembrei-me de Honorato. Se o padrinho estivesse presente, não me teria deixado dar tamanha cabeçada. Enfim, não perdera tempo, pois fora capaz de julgar quão frágil era no setor literário. Prometi empenhar-me nos estudos. Ao encerrar a prece, solicitei forças para contribuir com o desenvolvimento da prima Leocádia. Foi aí que observei que a perspectiva do serviço não me produzira qualquer preocupação. No campo da cartilha, sentia-me seguro. Graças a Deus!

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