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cronicas-->Renascido -- 26/08/2002 - 21:01 (Poeta Paulistano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Faço aniversário em março, mas passarei a comemorar também o dia 7 de agosto como data de nascimento. A partir de hoje. Não foi bem um nascimento, mas um renascimento. Nada como sentir-se vivo. Nenhuma sensação se compara ao sangue correndo nas veias, ao mundo observado pelos olhos nem aos sons captados por nossos ouvidos. Uma porção de sentidos.

Nunca fui muito dado a essas reflexões. Mas eu nasci de novo. Meu corpo é puro como o de um bebê. É bom saber que as pessoas olham pra mim e nada enxergam além. Uma prova de que eu não sou uma alma sem corpo. Ser um corpo sem alma não compensa, mas não estou aqui para julgar. Vamos celebrar, vamos comemorar. A vida é um estado de espírito.

Relaxe! Eu não tenho religião. Não estou aqui para pregar nem convencer ninguém de nada. Quantas negativas neste texto. Preciso ser mais positivo. Tudo por causa de um cruzamento. O farol verde sinaliza a via livre. Eu vinha por esta quando aquele filho-da-puta atravessou o sinal vermelho e quase me acertou. Ele merece o xingamento.

Nada de centímetros. Nossos carros estiveram a milímetros do choque. Dizem que nessas horas toda a nossa vida passa como um flash por nossos olhos. Outros garantem que uma luz surge sobre o local, mas ninguém sabe se foi para te salvar ou para te levar daqui.

Porra, eu tomei aquele susto todo, quase morri, xinguei o cara do Tempra até não poder mais, fiquei branco, perdi a voz, comecei a tremer e outras coisas mais para não ter sido salvo por ninguém? Não podia ser.

Vamos aguçar a memória. Eu havia ido almoçar na casa da minha mãe. Quando voltava para casa, parei na locadora e aluguei um filme. Esquece. Essa só contaria se eu tivesse batido. Bati porque parei na locadora. Nada disso. Quase todos os faróis estavam verdes. Poucos vermelhos no caminho. Isso é raro em São Paulo. Parece até que a CET faz de propósito.

Então eu entrei naquela rua, uma via secundária. Prefiro as ruas mais calmas às grandes avenidas. Tudo livre. Ninguém na minha frente. Eu ia no gás. Do nada, um Escort sai de uma garagem, bem na minha frente. Sou obrigado a reduzir a velocidade e passar pelo lado. O motorista, um homem grisalho de cavanhaque, pede desculpas. Contrario meu hábito e não xingo o cara. Retribuo o cumprimento. Mas isto não durou mais que um segundo. Que influencia teria?

Retomo a aceleração. Mais um farol verde. Cem metros depois outro farol, no cruzamento com uma grande avenida, também verde, nem ameaçou ir para o amarelo. Mas então vem o filho-da-puta. Cruza o farol vermelho. Vamos bater! Eu juro que vi a porrada. íamos. Primeiro, ele ia me acertar no meio. Depois da freada, eu o acertaria no meio. Puxo o freio de mão, meu carro vai de lado e passa ralando, por menos de um fio de cabelo.

Meus reflexos estão em dia. Consigo desviar. Salvo minha vida. Não vi anjos, não vi luz. Meu coração dispara. Eu grito, alto para que ele possa ouvir. Ah, o filho-da-puta ouviu meus xingamentos. Tenho certeza de que ouviu. Cheguei a desejar que ele se espatifasse num poste, desde que se matasse sozinho. Mas não sou rancoroso e desisti da idéia.

Eu ainda tremo. Dois caras de uma funilaria estão sentados na calçada. Eles me olham, incrédulos. "Foi por pouco", comenta um. "Você está bem?", pergunta o outro. Minha voz não sai. Não consigo falar. Só consigo fechar os olhos e pensar. Paro o carro. Desço. Nenhum arranhão. Eu estou vivo? Parece que sim. Um cara que estava parado no farol e viu o quase-acidente encosta e pergunta se está tudo bem. Faço um sinal afirmativo com a mão.

Devagar, volto pra casa e começo a pensar, pensar, pensar. Preciso fazer de novo aquele caminho, parar e agradecer ao cara do Escort por me salvar. Uma fração de segundos. Deve ser coisa do meu anjo da guarda. Obrigado, mais uma vez.
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