homem amado, recordo cada pedaço de ti,
teu riso e ternura, madrugada adentro,
essa delicadeza no tratar o amor,
tua paixão pura e doce,
teu encantamento.
são fragmentos do teu amor que umedecem meu dia,
é tua voz distante que alimenta minha esperança
de que possas retornar a ti.
homem amado, não creio que possas recordar
quem eras, o menino alegre, destemido,
que me acompanhava os beijos e poemas.
lembro-te guerreiro que só eu percebi amedrontado,
frágil, aumentando o cuidado que minha alma deu,
ao acolher-te em tua doçura e alegria criança.
homem amado, tuas feridas de hoje me atormentam
- não há o que possa fazer.
há em mim uma agonia que se disfarça em brinquedo
para que não me carregues ao teu abismo
porque cercada eu ficaria imóvel.
penso em roubar-te ao mundo que hoje te encurrala,
levar-te ao teu centro de ternura
para que recuperes tua alegria,
mas não tenho a vara mágica da fuga.
homem amado, tua música corporal intensa,
teu desejo de felicidade, tua descoberta infantil, diária e renascente,
tornou-se em desespero.
é tudo como a bruxa tomando tua luz,
uma voragem imensa e você tristonho,
sem saída.
homem amado, que dor a minha, da minha alma e pernas, de meu verso e beijo,
que te ouve sem poder alcançar-te,
que quer responder ao teu amor sem poder dar-te a dimensão da ressonância que há em mim.
enlouqueces de solidão e dor todos os dias
e nada posso além de afogar-me em agonia.
então me toma a mão a minha deusa,
então me vem a rosa radiante,
então me vem a aurora diária para salvar-me do teu abismo.
homem amado, meus deuses me dizem:
é outro o teu caminho.
não me penses cruel.
é que vejo tudo,
além de tudo,
eu sei e vejo as sombras.
por sabê-las, não me é dado o direito à loucura
que seria compartilhar contigo a escuridão.
há teus motivos e tua sina,
só a ti é dada essa batalha.
tentando, estarei perdida.
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