Eu só queria dizer uma coisa:Hoje eu decidi me esquecer de vez por aí.
Mas antes que alguém tente julgar meu direito a jogar minha vida fora,saibam que estou planejando fazer
isso de forma figurativa,e não definitiva.Afinal,você como eu sabe que há ainda muitos patrulheiros
ideológicos por aí,mesmo nessa sociedade "democrática" em que todos podem manifestar suas convicções
livremente sem medo de serem censuradas.Já vou dizendo que não se trata de um testamento,pelo menos como se
conhece um.Pode ser uma nova forma de dizer "até logo" para si mesmo.
Ainda hoje estranho essa minha mania de sempre estar escrevendo para alguém, mesmo quando escrevo estas
linhas num caderno já meio embolorado e amarelado que carrego comigo desde que o comprei há muitos
anos atrás,nem me lembro quantos.Acho que tudo ficou mais claro desde que encontrei aquele outro velho caderno
(note o quanto me incomodo em dizer a palavra "diário",o porquê é você quem pode pensar)já perdido no tempo.
Assim como ele me fez voltar as atenções para esse meu velho companheiro,também me fez refletir sobre uma
coisa fundamental:quando a gente escreve,a gente sempre parece querer que alguém leia aquilo.Não importa se
estaremos vivos para testumunhar como alguém vai mergulhar em nossa existência,mas quando colocamos nosso
pensamento ordenado em algum texto escrito,a gente inconscientemente (talvez,nunca se sabe)espera que algum
dia dêem atenção ao nosso pensamento ali descrito.
Bom,claro que não fui eu quem bolou essa idéia.Eu li isso num livro dum pensador que nem sei o nome.Como aqui
não se paga direito autoral,afinal a informação aqui está colocada para uso pessoal,nem me importo em querer
pesquisar qual é a fonte,isso não é problema meu.Tenho mais com que me preocupar.
Mas,voltando ao ponto de onde comecei,volto a colocar minha vontade de me esquecer por aí.Sim,hoje escolhi
remexer o baú do meu passado para depois jogar tudo pela janela.Essa coisa de valorizar o passado nunca,NUNCA mesmo
fez parte da minha essência,mesmo que por várias vezes tenha dito o contrário.Me contradizia para buscar minha própria
essência,com a intuição.Talvez não seja a melhor maneira,mas foi a que escolhi.
Eu sempre valorizei o presente,sempre me preocupei em colocar o que estava se passando comigo no exato instante em que
vivia tal fato.Nem o passado,nem o futuro.Para mim,só o agora.
Por isso decidi deixar tudo isso que construí para trás,para outro talvez reconstruir a si mesmo.Meu apartamento
de tantos encontros e desencontros,meu serviço no escritório cheio de segurança e gente conformada,meu velho amor
o qual não consigo tirar da cabeça,afinal ninguém é perfeito,meus amigos que já não me ligam mais,enfim,é a hora de
parar de insistir em querer rever qualquer coisa que tenha feito ou deixado de fazer para tentar construir algo
novo.
Ah,o "novo",essa palavra tão mal usada,tão maltratada,quando será que vão chegar a seu real significado?Enquanto
isso,te vejo esquecida no meio da falta de experiência em que vivemos,sempre pensando te alcançar,mas nunca no seu
sentido original...
Parando um pouco com os devaneios,penso que a partir daqui minha trajetória não interessa nem mesmo a mim.O que
vou fazer da minha vida passa a ser responsabilidade de algo ou alguém que está além de mim.Por isso,entrego toda a
minha vida,passada,presente e futura,ao Senhor Acaso,com seu senso de direção da vida e experiência na condução de tantas
vidas humanas,apesar de sinceramente não confiar muito nele.Não sei o que ele pode fazer da minha vida,também não é minha
obrigação saber.Só o conheci há pouco tempo atrás para poder entender totalmente suas intenções,mas mesmo assim confio
minha vida a partir de hoje a Ele.Só espero que não lance isso tudo a qualquer pessoa sem antes uma leitura atenta do que lhe
entreguei,ele talvez seja o primeiro externo a mim a ler estes escritos.
É melhor esquecer de tentar explicar qualquer situação que vivi da maneira que todos entendem.Cansei de tentar fazer isso.
Se não guardei fotos de recordação,pena.Se não me preocupei em eternizá-los nomeando cada um dos personagens da minha vida,
azar.Eles só vão existir enquanto estiverem na minha recordação.A partir de hoje nem esse trabalho irão me dar.Cansei de tentar
carregar todo esse mundo em minhas costas,já estou cansado do velho,estou cansado de tudo isso,parece que nada disso me serviu
para alguma coisa realmente edificante para mim.Vou apagar tudo e todos da minha já tão falha e descuidada memória.Virarei a página
e todos eles virarão história,num capítulo da enciclopédia dedicada talvez aos pequenos personagens que não contribuiram com seu
próprio tempo,tentando tirar o pouco de luz e vida que estava á sua volta.Sem mais choramingos.A partir de hoje,eles também irão
deixar de existir.E ponto final.
Te vejo lá na outra vida.
Até a próxima.
