Usina de Letras
Usina de Letras
44 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62330 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10406)

Erótico (13576)

Frases (50711)

Humor (20055)

Infantil (5474)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140845)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6220)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Erotico-->29. AS NOVAS TAREFAS -- 27/12/2002 - 08:12 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Pareceu-me que o respeito da turma pelos mentores e professores havia crescido. Não havia displicência nas atitudes e todos nos organizamos na fileiras rapidamente, como para não perdermos nenhum momento do tempo disponível.

Mário assumiu a responsabilidade dos esclarecimentos:

— Queridos amigos, folgam os professores com o avanço da turma. Não se bateu recorde algum de desempenho, mas devo dizer que estes últimos três meses...

Honorato não estava presente, para que me pudesse explicar como é que alguns dias pudessem ter sido tão esgarçados. Aliás, não havia um só conselheiro. Tive tempo de observar que todos os colegas lá estavam. Éramos quarenta. Continuávamos quarenta. Oito fileiras de cinco.

Como se estivesse esperando que o grupo se ajustasse à informação, Mário retomou as explicações:

— ...estes últimos três meses foram de grande aproveitamento. Com certeza, a muitos deve ter parecido que o tempo medido não correspondeu à impressão da rapidez com que passou. Seres mais adiantados nos conhecimentos diriam que o decurso englobara muitos anos. Para Jesus, teria sido uma eternidade. Se alguém teve a real impressão de três meses, parabéns. Diríamos que está em compasso harmônico com o desenvolvimento exterior.

O Professor fez um gesto indicando os colegas e acrescentou:

— O corpo docente da “Escolinha de Evangelização” agradece a lembrança do convite para as reuniões deliberativas sobre a metodologia de ensino e sobre as atividades curriculares, entretanto, à vista do crescimento verificado desde a última sessão, recomenda que tais providências sejam esquecidas, por desnecessárias. Como veremos, as tarefas diversificar-se-ão, conforme o nível de conhecimentos dos alunos. Não podemos ignorar o fato de que existem os mais aplicados e os menos aptos. Iremos recompor os pequenos grupos, impedindo que se juntem os mesmos de novo, para que todos tenham oportunidade de conviver com todos.

Não posso dizer que houve “onda de desagrado”, mas pudemos sentir que muitos emitiram vibrações de insegurança. A impassibilidade dos docentes, contudo, obrigou os mais contrariados a se concentrarem nas razões que os levaram a rejeitar a idéia, sem considerar os objetivos maiores da instituição.

Eu não tinha motivos para me considerar diferente, mas aplaudi a determinação, interessado em participar do mesmo grupo do tenor Reginaldo. O que me deixou afetado negativamente foi a possibilidade de me encontrar face a face com o revolucionário Onofre.

Tendo avaliado as preferências dos alunos, Mário ponderou:

— Se estivessem no meu lugar, iriam atestar o fenômeno dos agrupamentos naturais. As suas auras puderam ser lidas, quanto às preferências e rejeições. Poderíamos elaborar o próximo sociograma diretamente pela vontade de todos. Contudo, havemos de seguir as diretrizes do curso, que determinam a associação dos integrantes da turma segundo padrões de adiantamento. Ao retornarem para os dormitórios, seguirão a numeração que lhes está sendo passada telepaticamente. À vista do resultado dos novos conjuntos, aposto que haverá surpresas agradáveis e desagradáveis. Alguém deseja observar?

Onofre, sempre Onofre, manifestou-se.

Mário lhe passou a palavra.

— Não tenho de reclamar das oportunidades de encontro, segundo o desejo do Professor...

Mário interrompeu:

— Pela ordem...

— Pela ordem...

— Não conta o desejo do professor. As normas estão estabelecidas e serão cumpridas. Não haverá revisão das regras, a menos que o grupo se manifeste solidariamente desfavorável.

Onofre não se perturbou. Sabia que Mário era capaz de resumir as opiniões pela leitura áurica e conformou-se:

— Perdoem-me o hábito de inculpar as pessoas. Vou ter de aprender a considerar as oportunidades de encontro pacientemente, até que os meus preferidos venham a formar comigo na mesma equipe. Obrigado.

— Há quem queira objetar?

Não me contive:

— Não quero, realmente, dizer o contrário do amigo Onofre. Mas vou oferecer um tópico de minhas experiências. Confesso que rejeitei o colega, quando pensei nele no meu grupo. Contudo, a idéia me espicaçou para o inverso, ou seja, opondo-me ao sentimento espontâneo, refletindo sobre o tema, percebi que, principalmente, deverei estar junto do instigador de revoluções...

A aura de Onofre exteriorizou ondas de satisfação pela descrição psíquica.

— ...para aprender a admirar e a respeitar o amigo. Diria corrigir-me pela sua influenciação ou corrigi-lo pela minha, mas não quero precipitar conclusões.

Mário cedeu a palavra a Reginaldo.

— Quero agradecer os eflúvios de aceitação da classe. Fico constrangido ao dizer que mais de noventa por cento dos colegas desejaram trabalhar comigo. Como sei? Mário me informou, para que pudesse avaliar o grau de desenvoltura social que adquiri. Espero fazer jus a tanta amizade.

À vista do desinteresse dos colegas pelo uso da palavra, o Professor reassumiu o comando:

— O próximo passo da turma será o atendimento moral de grupo ingressante. Farão o papel de conselheiros. Não se assustem, porque se trata apenas de oferecer os subsídios para a compreensão dos dizeres da cartilha.

Percebi arrepio de susto a varrer o ar do ambiente. Mário sorriu francamente:

— Perdoem-me a falta de jeito. São entidades que regressaram da Crosta recentemente, tendo permanecido bem pouco tempo no Umbral. Não há nenhum assassino ou suicida entre eles. São pessoas pacatas, sensíveis aos mandamentos do Mestre, algumas com conhecimentos superiores de teologia, de medicina, de física, de música. O que se espera dos instrutores é que conduzam as explicações para o campo do respeito às leis naturais, sem conflitos com arraigadas concepções mundanas. Isto nos traz a importância da presença aqui dos professores. Vocês, por certo, estarão desejosos de verem esclarecidas muitas dúvidas. É normal. Assim, abram espaço para os mestres, pois ficarão juntos, dois a dois: um mentor para cada aluno.

Não esperávamos por assistência pessoal. Pensávamos, conforme rapidamente nos informamos, que iríamos meditar, debater em pequenos grupos e reunir-nos em assembléia. A novidade era graúda.

Desconfiei, logo, de que os orientadores iriam testar as habilidades de cada um, para a aproximação do assistido ideal. E disse a Homero, antes de mais nada.

— Roberto, esteja certo de que não levaremos ninguém a deparar-se com tarefa superior à capacidade. O desempenho dos instrutores é responsabilidade de quem os indicar e isso nos torna cuidadosos. Prefere você o sistema de perguntas e respostas ou posso fazer digressão geral, respondendo aos incrementos de seus interesses?

Calei-me, a ver se conseguia transmitir que desejava que fosse devagar, no meu ritmo.

— Muito bem, o amigo irá defrontar-se com as dificuldades iniciais de quem se vê às voltas com mister desconhecido. Haverá período de adaptação em que o grupo simulará o aconselhamento doutrinário, imaginando as personalidades dos futuros orientandos. É tarefa lúdica, agradável, mas deverá ser levada a sério. Tenho-lhe a ficha, onde consta que o interesse por aprender é elevadíssimo. Sem ser indiscreto, há indicações para a monitoria, se vencer a etapa seguinte com perfeição. Dentre os da turma, foi o que melhor compreendeu a necessidade de silenciar, perante os obstáculos, aguardando que as soluções fluam do amor do Pai e o discernimento, da verdade. Futuramente, todos os alunos serão levados a redigir a respeito dos acontecimentos em que se envolveram durante o processo de aprendizagem, desde o resgate, nas Trevas. As presentes instruções deverão ficar registradas indelevelmente, para que resultem em indicação de experiências aos leitores, do ponto de vista de terem sido bem ou mal aproveitadas. Quanto a ser modesto ou imodesto, não dependerá do que escrever mas do nível de adiantamento do leitor beneficiado. Faça-o o mais tecnicamente possível, da mesma forma que se dedicar a ajudar o seu pupilo. Estou reconhecendo que o seu influxo de interesse não se prende ao temor de fracassar, perante o novo desafio. Quanto aos colegas, estão, pelo que sei, desenvolvendo tópicos muito diferentes, cada qual dispensando ao tema a atenção possível, segundo as personalidades. Eis a razão de estarmos dando instruções particulares. Assim que se reunirem, haverá troca de informações.

Homero notou que havia interrogações em meu espectro mental para as quais não poderia oferecer respostas. Mas esclareceu:

— O momento do reencontro com os familiares irá tardar um pouco. Sem desejar ser indelicado, espero que reconheça que o afastamento deles foi você quem provocou. Tal é a premissa da dor de todos os do grupo. Haverá tempo para dedicação extracurricular, em círculo diferente do encaminhamento redacional dos internados. Sugiro que busque ler as mensagens dos antecessores, adiantando as lições da terceira etapa. Se conseguir ler dinamicamente, absorvendo os pensamentos, discutindo-os racionalmente, poderá buscar as obras dos autores consagrados, levadas ou não ao conhecimento dos encarnados através dos processos mediúnicos. Esse será outro ponto importante a ser considerado programaticamente.

Homero fez uma pausa, enquanto eu meditava a respeito do que dissera a Onofre. Temeroso, gostaria de saber como lhe repercutira a atitude. E lhe pedia desculpas, por não saber conter-me, humilde.

— Roberto, a fase pela qual passam os do grupo não é propícia a que se tenha certeza das reações intelectuais, emocionais ou morais. Há nível de expectativa muito forte pela aprovação de todos os atos. De certa forma, os alunos, nesta altura, como que retrocedem à idade escolar, aspirando aos elogios e às recompensas dos mais velhos. Você deve meditar a respeito disso.

Lembrei-me do comportamento dos seis anos. Senti que persistia. Precisava livrar-me das cintadas, mas provocava recriminações ainda mais contundentes, apesar da lhanura de trato do mentor. Vi o quanto estava ele distante espiritualmente de mim e lhe agradeci a boa vontade, solicitando que me desse “passe” magnético para arrefecimento da perturbação.

Homero me olhou com ternura e disse:

— Fique em paz, irmão. Jesus está com os que querem, de coração, melhorar, para poderem contribuir. Não vejo dificuldade que não possa enfrentar e vencer, se mantiver o ritmo crescente de trabalho. Conte comigo, quando estiver liberado para a visita aos parentes e amigos. Deus nos abençoe a todos!

Quando devolvi os olhos para a sala, vi que estava quase deserta. Havia poucas duplas confabulando. Mário não estava. Lembrei-me do número do novo alojamento. Quem estaria à minha espera?

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui