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Artigos-->UM POUCO DA HISTÓRIA DE PAISAGEM MURAL -- 14/10/2011 - 18:49 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


UM POUCO DA HISTÓRIA DE PAISAGEM MURAL_edn1" name="_ednref1" title="">[i]



 



L. C. Vinholes



 



Como é tradição, um compositor quando escreve música para um poema, geralmente conserva o título que o poeta deu ao seu trabalho. Assim aconteceu com uma das minhas primeiras composições dodecafônicas quando, em 1955, compus para quarteto de cordas para o poema Paisagem Mural, de Lilyan Schwartzkopff;



 



Com relação a esta composição ocorreram vários fatos que, por serem sérios uns e curiosos outros, merecem registro.



 



De Paulo da Costa Franco, diplomata, gaúcho de muita leitura com quem servi em períodos em Tóquio e Assunção, recebi o recorte do Caderno B, do Jornal do Brasil, de 28 de outubro de 1970, com o artigo “Os compositores do futuro”, da coluna Música assinada pelo crítico Renzo Massarani. O recorte trás, manuscrito, apenas: “Parabéns! P. Franco”.



 



No terceiro parágrafo do referido artigo, Massarani dá a seguinte informação: “No Rio, Henrique Morelenbaum, ensina composição na Escola de Música, não conheço os métodos, mas parece que abriu as portas aos tempos modernos. Segunda-feira passada, quatro dos seus alunos apresentaram os primeiros resultados: R. Tacuchian, no Canto do Poeta, alterna ao infinito um A barulhento e monótono a um B pianíssimo; Guilherm Bauer, em Inconsciente (não: é o título da obra…) volta atrás até Webern; L. C. Vinholes apresenta uma página concisa e interessante, Paisagem Mural. Mas H. David Korenchender, em In Memorian Pacis, cria algo mais, uma obra moderna com forma, lógica e até conteúdo; na certa teria impressionado mais se o barítono tivesse ajudado a compreender as partes faladas, ditas entre um vocalizo e outro. Minhas previsões dariam êste moço carioca de 1948 como o mais dotado dos quatro”.



 



Quando conheci Lilyan em 1954, no Curso Internacional de Férias de Teresópolis, ficamos amigos e companheiros inclusive na ida à Pedra do Sino, em uma das segundas-feiras de folga para os participantes. Lilyan sabia de cor suas poesias e as recitava com exemplar maestria. Paisagem Mural é o título da segunda de três partes, da coletânea homônima, editada em 1954 pelos Irmãos Pongetti, do Rio de Janeiro. Os poemas desta segunda parte são numerados de XII a XXXVII e o que inicia usando esse título é o de número XXIX.



 



Quando ouvi Paisagem Mural, perguntei se ela permitiria que eu o usasse em uma das minhas próximas composições. Ela concordou e dois anos depois o trabalho estava pronto. Naquele mesmo ano, pela primeira vez ouvi falar em Pedro Xisto, tio de Lilyan, poeta pernambucano residente em São Paulo que viria a ser um dos meus maiores e melhores amigos.



 



Para compor Paisagem Mural, para voz e quarteto de cordas, utilizei a técnica dodecafônica que estudava sob a orientação de H. J. Koellreutter que, naquele mesmo curso de Teresópolis, me havia convidado para com ele trabalhar em São Paulo, na Escola Livre de Música da Pró-Arte, da qual era diretor-fundador. Minhas aulas eram dadas geralmente no final do período da tarde depois de terminado o expediente da Escola, pois eu era, ao mesmo tempo aluno, secretário particular e auxiliar na Secretaria. Minha última aula com o professor Koellreutter aconteceu exatamente no dia em que fui mostrar a partitura final de Paisagem Mural. Dois pontos chamaram a atenção de Koellreutter que vinha, há umas três semanas, acompanhando o surgimento da obra. O primeiro diz respeito à necessidade de alterar a afinação do segundo violino para atender a uma exigência composicional. O segundo foi o compasso final onde modifico a ordem das notas na série dodecafônica que utilizei. Koellreutter queria que eu, por estar em uma fase de aprendizagem, fizesse uma correção modificando o que estava escrito e mantendo a ordem das notas da série. Passada uma semana, voltei a ter aula e levei o trabalho assim como havia feito, sem atender a recomendação recebida. Expliquei que havia tentado mas que nenhuma das soluções encontradas me satisfazia sob o ponto de vista de composição. Aí veio uma das maiores surpresas que tive em toda a minha vida e justo vinda de quem eu aprendera a admirar tanto, admiração esta que, apesar dos pesares, nunca diminuiu. Koellreutter continuou a exigir que a modificação fosse feita. Eu disse que não acreditava ser possível modificar, porque senão não seria o que eu desejava. Koellreutter não teve dificuldade em advertir-me de que se não fizesse a correção eu não teria mais aulas com ele. E foi exatamente isto o que aconteceu. Continuei a colaborar com o mestre,  pessoalmente e no trabalho da Escola, mas nunca mais nos encontramos como aluno e professor. Sempre fomos os mesmos amigos do início da década de 1950, talvez mais amigos ainda depois de tantas experiências. Koellreutter nunca mencionou meu nome quando se refere aos seus alunos de composição. Mas quando fomos contemporâneos em Tóquio em 1974, ele Diretor do Instituto Goethe e eu Adido Cultural da Embaixada do Brasil, convidou-me para compor uma música para o programa que apresentaria no auditório do seu Instituto, inclusive com a primeira audição do seu Tanka. Minha peça para voz e conjunto de instrumentos Tempo-Espaço VIII foi ouvida pelo mesmo público em 19 de setembro daquele ano.



 



A peça Paisagem Mural sempre mereceu atenção de intérpretes, crítica e público. Transcrevo o que Armando Catunda, na Tribuna de Santos, em 21 de outubro de 1978, escreveu quando comentava o programa do XIV Festival de Música Nova: “…é uma música composta segundo os princípios do dodecafonismo. Inicialmente, expõe pelos instrumentos uma série que em seguida é retomada pela voz: com texto de Lilyan Schwartzkopff, essa peça surpreende pela beleza e concisão”.



 



Voltando ao início desta história e contrariando o que escreveu Renzo Massarani, lastimo não ter sido colega de Ricardo Takuchian, Guilherme Bauer e David Korenchender - compositores que aprendi a apreciar a medida em que conhecia suas obras -, pois em nenhum momento fui aluno do meu contemporâneo Henrique Morelenbaum.




 






_ednref1" name="_edn1" title="">[i]Artigo inédito escrito em janeiro de 1980.




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