Quando vejo novamente a iminência da guerra, quedo-me em dor diante da incapacidade humana de viver em paz. Fere-me a alma saber que a natureza humana – em alguns momentos tão sublime – pode animalizar-se ao ponto de destruir em massa seus semelhantes, plantando o ódio onde poderia haver amor, semeando a aniquilação, onde poderia haver o renascimento. Nesses momentos de melancolia e decepção com minha própria espécie, uso a arma de que disponho: meus versos.
AS FLORES DAS COLINAS
J.B.Xavier
18-01-2003
Quando havia campos verdes,
Vales, rios em profusão,
Meninas em alegria
Deixavam o coração
Nas lindas flores que nasciam
Nas encostas das colinas...
Eram sonhos de futuros
Felizes, enamorados,
Lindos sonhos de meninas...
Transformando-se em mulheres
Casaram-se com seus amores,
E ainda colhiam flores
Nas encostas das colinas...
Eram sonhos de família,
De casa linda, mobília,
Com filhos em profusão...
E então com seus maridos
Tal como quando em meninas
Deixavam o coração
Nas flores lá das colinas...
Depois eles foram embora,
Embarcados em navios,
Já não havia mais rios
De lágrimas para chorar...
Foram à guerra distante,
Para além do horizonte,
Lá onde o céu toca o mar...
E sombras tristes desceram
Sobre os vales, sobre os rios,
Machucando o coração
Hoje triste das meninas
Que deixam uma oração
Nas flores lá das colinas...
Finalmente eles voltaram,
Não tantos quantos partiram...
Alguns na guerra tombaram,
Para sempre emudecendo
O riso de suas esposas,
Cujas filhas, já meninas
Hoje vão até as colinas
Com muitas flores na mão
Entre lápides saudosas,
Lá elas vão deixando
As flores e o coração...
* * *
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